A Relação da Astrologia com a Psicologia II

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Luiz Carlos Teixeira de Freitas

Traços Estruturais de Personalidade

Os traços estruturais da personalidade global compõem o que pode ser chamado tipo psicológico e merecem, por parte da pessoa, um minucioso trabalho de “gerenciamento” ou “administração” de suas formas de manifestação.

Isto é: já que tais traços estarão sempre presentes no psiquismo daquele indivíduo, pois fazem parte de sua estrutura psíquica mais profunda e não são em si positivos nem negativos, o desafio é aprender a lidar com suas formas de manifestação de modo mais adequado do que até então.

Imagine alguém que nasça portador de um psiquismo naturalmente mais extrovertido do que introvertido; esta pessoa deve ser reforçada a prestar mais atenção aos seus conteúdos internos, pois facilmente percebe o que está no meio ambiente e crê estar de posse de todos os dados necessários para uma correta avaliação da situação, sem perceber com clareza o que lhe anda “por dentro” em sentimentos, pensamentos e sensações. Já alguém predominantemente introvertido atua ao contrário: lidando com situações objetivas principalmente a partir do que identifica em seu próprio mundo interior, dada a maior facilidade em dirigir a consciência para o seu campo de referenciais internos, com frequência exagera ou diminui a importância real do objeto ou do evento externo por mal perceber o que está ocorrendo no meio ambiente.

Pode ser alguém predominantemente intuitivo (muitos planetas em signos de Fogo): então, percebendo com extrema facilidade o que os outros querem ou sentem, crê que todos têm a mesma facilidade de percepção e poucas vezes fala de si mesmo. Esta pessoa deverá ser reforçada a dizer de si à exaustão, correndo o risco de parecer óbvia — pois, pelo menos, terá então a certeza de o outro estar ciente do que lhe passa por dentro. Mas se for uma pessoa com a função intuição pouco desenvolvida, terá de ser reforçada a não demandar tão excessivamente repetidas manifestações explícitas de carinho, consideração ou respeito por parte do meio ambiente, pois provavelmente ela é que não consegue perceber com facilidade e julga não recebê-las.

Pode ser alguém com predominância de função sensitiva (muitos planetas em signos de Terra) e, dada a facilidade com que se conecta com os próprios núcleos internos de estabilidade, deverá ser reforçada a rever a posição frequente de autossuficiência presumida que a faz abrir mão de aspectos mais difíceis da realidade para não ter de engolir sapos. “Eu não preciso disto”, é sua afirmação constante, ao contrário de quem tem esta função pouco acessível à consciência: este segundo caso indica alguém que crê necessitar tanto de pontos externos de suposta estabilidade (conta bancária, emprego, rotinas do dia-a-dia, certa relação pessoal etc.), que acredita que se desequilibrará se abrir mão deles, mesmo quando não a satisfaçam.

Ou talvez seja uma pessoa com predominância da função intelectiva (muitos planetas em signos de Ar) e tenha uma extrema facilidade de transformar em raciocínios tudo com o que se envolve; se por um lado isto costuma apontar o autodidata por excelência, em geral sugere a necessidade de aprender a utilizar mais vezes outras funções da consciência (até porque a função pensamento é excessivamente valorizada em nossa cultura). Se, entretanto, a pessoa tiver escasso acesso a esta função da consciência, o que por si só muitas vezes gera uma vaga “sensação de burrice”, ela deve ser reforçada a avaliar mais objetivamente o seu desempenho intelectual, pois pode estar se considerando menos competente do que realmente é.

Pode também ser um indivíduo que tenha enorme facilidade de se conectar com o mundo através de sua função predominantemente emocional (muitos planetas em signos de água): com frequência ele acredita estar tão à mercê dos próprios sentimentos, que prefere manter-se à distância de situações de forte envolvimento emocional. Mas se a carta astrológica natal oferecer indicativos de uma dificuldade maior em conscientizar os próprios sentimentos, ele deve ser reforçado a não entrar em situações nas quais a forte emoção é o único suposto benefício: é que ele preferirá tal tipo de situação, pois um sentimento intenso pode ser percebido com muito mais clareza, seja agradável ou desagradável e mesmo quando nada mais a situação tenha a lhe oferecer.

Da mesma forma, mas de modo acentuado, a pessoa poderá apresentar em sua carta astrológica natal o que é chamado um Grande Trígono, seja ele de Fogo, Terra, Ar ou Água (um triângulo equilátero formado por três ou mais planetas localizados em signos de um mesmo Elemento e que mantêm entre si respectivas relações angulares de 120º): isto indicará no psiquismo do indivíduo uma marcada predominância da função simbolizada por aquele Elemento (Fogo/intuição, Terra/sensação, Ar/pensamento e Água/sentimento), merecendo uma breve discussão e um aprendizado sobre como atuar na vida também a partir das outras funções da consciência.

A carta astrológica natal pode indicar um acúmulo de planetas em signos Cardeais e apontará uma pessoa para quem uma alta taxa de desgaste físico-muscular é fundamental todo o tempo, dada a facilidade de reposição de energias a serviço das atividades orgânicas e mentais: tanto mais ela tenha um dia-a-dia sedentário, mais ela se sentirá tensionada, irascível e impaciente, pronta para explodir; se o acúmulo for de planetas em signos Fixos, um estável núcleo interno de autocentramento se transformará com facilidade em obstinação e teimosia, merecendo minuciosa avaliação quando necessário; e se o acúmulo for de planetas em signos Mutáveis, uma natural inclinação a se envolver em tarefas partilhadas facilmente inclinará a pessoa a frequentemente aceitar tarefas que são dos outros, com base num impulsivo “pode deixar que eu faço”.

Por fim, o balanceamento yin e yang da carta astrológica natal (quantidade de planetas em signos yin e yang, bem como a localização, por signo, do Sol, da Lua e do Ascendente) indicará ao astrólogo clínico a natural inclinação da pessoa em privilegiar na vida as funções do hemisfério cerebral direito ou do esquerdo, responsáveis, respectivamente, pelas funções yin e funções yang da psique. É que todos os seres humanos possuem ambos os tipos de função em seu psiquismo (que prefiro denominar yin ou yang e não “femininas” ou “masculinas”, pois não se trata de sexualidade) e depende da maior inclinação natural em utilizar um ou outro agrupamento de funções o fato de a pessoa ser mais “feminina” ou mais “masculina” em sua forma geral de lidar com a vida e consigo.

Este é um aspecto fundamental a discutir com o cliente, quando necessário, já que nossa cultura exige de homens e mulheres papéis sociais excessivamente rígidos e diferenciados, podendo provocar severas dificuldades de construção de autoimagem positiva em quem se diferenciar naturalmente das atitudes e dos papéis sociais esperados de seu sexo biológico.

Funções

Imagine, então, por exemplo, um homem que possua uma carta astrológica natal mais yin do que a média dos homens de seu meio ambiente cultural: ele se mostrará desde bebê bem mais emocional, mais intuitivo e mais sentimental do que o modelo masculino de sua cultura, podendo acreditar-se afeminado ou inseguro de sua própria masculinidade; em contrapartida, suponha uma mulher que apresente uma carta astrológica natal mais yang do que o modelo feminino valorizado por seu meio ambiente cultural: desde bebê ela se mostrará mais racional, mais agressiva e mais lógica do que o modelo feminino de sua cultura, podendo acreditar-se masculinizada ou pouco feminil.

Casos como estes, se não bem entendidos e aceitos internamente, podem levar a pessoa ao comprometimento de sua autoimagem e até mesmo a severos desequilíbrios hormonais, com pesados problemas de hipófise, tireoide e gônadas (componentes básicas do sistema endócrino envolvido com a produção de hormônios masculinos e femininos e com a definição de traços sexuais secundários como a distribuição de pelagem ou de massa corporal e o timbre de voz, entre outros).

Traços Conjunturais de Personalidade

Já os traços conjunturais da personalidade global, sempre derivados de modelos precocemente apresentados pelo meio ambiente à criança, devem merecer outra estratégia de resolução: ao invés de apenas aprender a “gerenciar” ou “administrar” uma real característica pessoal, o indivíduo deve se dispor a se reprogramar emocionalmente, gradativamente desmobilizando as matrizes inconscientes de comportamento que foram condicionadas pelos modelos feminino, masculino e relacional atuados em sua casa natal.

Porque tais matrizes sempre afetam o desempenho global do indivíduo, cobrando um alto preço em praticamente todas as áreas de atividade pessoal, da afetividade à espiritualidade, da manifestação criativa à sensualidade, do desempenho intelectual a uma vivência mais plena da sexualidade.

Retomemos o raciocínio que explica a origem das matrizes inconscientes de comportamento de uma pessoa: nascida com inclinação natural a determinadas formas básicas de comportamento, devido a seu tipo psicológico altamente individualizado (todos os seres humanos, por mais diferentes que pareçam, portam traços básicos análogos de constituição psicossomática, característicos da espécie), a criança imediatamente passa a conviver com um determinado modelo de pai e de mãe, fruto de como ambos estão naquele momento de sua vida, da qualidade de sua inter-relação pessoal e do tipo de relação que mantêm com a criança.

Será do percebido no comportamento global paterno e materno que a criança estruturará aquilo que a Psicologia chama de imago materna e imago paterna, as imagens parentais básicas formadas durante o período infantil, associadas às emoções e sentimentos da infância e posteriormente reprimidas no inconsciente.

Mais adiante, iniciada a sua socialização (escola, amiguinhos de folguedo, parentes de idade análoga, companheiros de interesses etc.), a criança estará vivendo experiências que farão ressoar as memórias emocionais da primeira infância, reafirmando-as e acreditando que sempre será assim; gradativamente nela se instala um certo fatalismo imobilista, pois sem o saber a pessoa selecionará, dentro do conjunto geral de situações possíveis no meio ambiente, aquelas que mais de perto ecoem as cenas da primeira infância (no que diz respeito ao conteúdo emocional e sentimental lá vivido), tentando compulsivamente reviver tipos de emoção e sentimento análogos aos que eram vividos na casa original.

Se a criança é uma menina, quando adulta utilizará o conteúdo de sua imago materna para modelar inconscientemente a própria autoimagem, utilizando o conteúdo de sua imago paterna para pré-definir o tipo de homens de que se aproximará e o tipo de relações que terá com eles; se for menino, dar-se-á o inverso.

A única forma de romper este ciclo vicioso (eu-atraio-situações-que-me-produzem-sentimentos-parecidos-com-os-vividos-na-minha-casa-de-infância, como-forma-de-eu-me-certificar-de-que-a-realidade-natural-é-esta, com-isto-me-reforçando-a-buscar-mais-uma-vez-situações-com-este-contorno-por-toda-a-minha-vida, mesmo-que-eu-me-diga-não-querer) é reviver as emoções e sentimentos originalmente vivenciados e, desta forma, se livrar das cargas emocionais e afetivas que atuam compulsivamente a partir do inconsciente, roubando da pessoa o controle consciente sobre o seu próprio comportamento.

Para isto, o indivíduo praticamente não tem outra alternativa a não ser realizar algum tipo de trabalho de autoconhecimento e modificação interna, visando identificar quais modelos de comportamento lhe foram apresentados (as formas de pensar, sentir, querer e agir) e, destes, quais conscientemente deseja manter em sua vida atual; então, e visando responder a algumas das principais questões que a pessoa vem se fazendo, a análise clínica de sua carta astrológica é recurso precioso.

Peço a você também que recorde um conceito básico de psicologia tantas vezes mencionado até aqui: nenhum fenômeno psíquico tem uma origem única, nenhum comportamento humano é motivado por uma causa apenas. Da mesma maneira, nenhum aspecto da dinâmica ou da estrutura de personalidade identificado por uma carta astrológica natal deriva de apenas um, e só um, de seus componentes.

Por esta razão a análise clínica de uma carta astrológica natal deve contemplar sempre a totalidade da carta, já que as situações possíveis podem ser reforçadas ou atenuadas por outros dados da mesma carta, que o astrólogo clínico identificará e analisará num amplo contexto.

Por que minha Autoestima vive tão abalada?

Não são poucas as pessoas que se queixam de uma sensação vaga e imprecisa de abalo de autoestima, mesmo quando são bem sucedidas em seus múltiplos papéis; isto em geral as coloca numa roda-viva de necessidade de se afirmar, por mais que tenham sucesso, não lhes permitindo descanso nem momentos de relaxamento maior.

Quando, por exemplo, em uma carta astrológica natal o Sol da pessoa recebe uma Conjunção, Quadratura ou oposição de Saturno, desenvolve-se dentro dela, desde a primeira infância, uma pesada sensação de estar fazendo algo errado ou censurável pelo simples fato de existir; este dado também nos informa que provavelmente o pai desta criança exigia dela um rígido desempenho global, na mesma medida em que fora dele exigido, não dando à criança oportunidade de desenvolver uma postura interna de otimismo e crença na vida e em si mesma.

Como resultado, estruturou-se nela um vigoroso superego, razão pela qual no futuro, mesmo quando pudesse ou desejasse, sempre carregaria a pesada sensação de “estar sendo vigiada” e poder ser alvo, a qualquer momento, de pesadas acusações de incapacidade (as casas astrológicas envolvidas relatarão em detalhes a intensidade da cobrança e as áreas de atividade mais diretamente penalizadas).

Outras vezes, esta sensação de autoestima abalada provém de outra história: se a carta da pessoa mostrar uma Quadratura entre Marte e Lua, pode-se ter verificado uma pesada rejeição materna à gravidez e, como consequência, desde a fase intrauterina a criança foi obrigada a conviver com pesados sentimentos de rejeição pelo simples fato de existir. Pior ainda se esta mesma carta apresentar uma quadratura ou oposição entre Plutão e Marte: muito provavelmente a mãe tentou um aborto ou ao menos desejou ardentemente efetivá-lo, instalando no psiquismo do feto pesadas ameaças de morte, além dos sentimentos de rejeição.

Outra carta astrológica natal poderia mostrar o Sol recebendo uma quadratura de Marte, num cenário doméstico (indicado por outros dados) no qual o pai não está feliz consigo mesmo; se é carta de uma mulher, muito provavelmente este pai desejava um filho e rejeitava pesadamente a filha “pela simples razão dela ser mulher”.

Aliás, se a carta astrológica natal é de uma mulher, quaisquer ataques à Lua ou a Vênus (quadraturas e oposições de Marte, Saturno, Júpiter e Urano, ou Lua e Vênus em quadratura ou oposição entre si) abalam vigorosamente sua noção interior de feminilidade e, por consequência, sua autoestima (posto que ela se identifica externamente como mulher, mas internamente não confia em si mesma); por sua vez, se a carta é de um homem, quaisquer “ataques” contra o Sol, Marte e mesmo Júpiter podem instalar sentimentos análogos em relação à própria masculinidade.

Isto para não falar de sentimentos derivados da pressão do meio contra a vivência de algum dos traços estruturais de personalidade: por exemplo, imagine uma menina que desde cedo se perceba “mais moleque” do que suas amiguinhas e, graças a isto, já que nossa cultura não aceita que uma menina tenha comportamento mais guerreiro, julgue-se incompetente em sua feminilidade. Ou um homem que desde garoto se recuse a jogos de maior agressividade e seja repetidamente acusado de “frescura”. Ambos poderão desenvolver pesados sentimentos de inadequação sexual, atuados através da homossexualidade ou através do exagero compensatório de seus papéis sociais femininos e masculinos, respectivamente.

Por vezes, basta que a pessoa tenha se identificado em demasia com a figura parental do mesmo sexo e, caso a carta astrológica natal nos garanta, tal figura tenha sido uma “perdedora”: muito provavelmente, quando adulto este indivíduo carregará pesados sentimentos de ser também um perdedor.

As situações são inúmeras, as causas são sempre complexas e não se esgotam em um ou outro aspecto apenas da carta astrológica natal; o importante, na verdade, é que você poderá entender as razões de tais sentimentos e, de posse deste conhecimento, trabalhar no sentido de alterar o conjunto de memórias inconscientes que os mantêm.

Assertividade: O que fazer para poder dizer não?

Esta é outra questão central para muita gente: a dificuldade em fazer valer a própria opinião, dizendo sim quando tenha vontade ou negando se assim lhe parecer adequado.

Toda criança, desde os primeiros dias de sua vida, busca manifestar ao meio ambiente seus desejos pessoais mais íntimos, sejam eles quais forem; desta maneira, exercita a própria assertividade, afirmando para os outros o que quer ou não, num treino da futura força de vontade: à medida que se manifesta abertamente para o meio ambiente e percebe os efeitos desta manifestação, sendo aceita ou não e sendo punida ou recompensada, ela vai aprendendo a lidar com a própria força de vontade, aos poucos desenvolvendo um sistema de autorregularão e vindo a se tornar o que costumamos chamar um adulto equilibrado e firme.

Entretanto, se desde pequena sua possibilidade de manifestação assertiva é barrada, quer através de pressão excessiva do meio, quer em função de punições que receba em demasia, esta criança vai como que se acovardando, presa da suposição interna de nunca ser conveniente expor-se e a seus desejos.

Obviamente isto produz na criança pesados sentimentos de raiva — em última instância, sempre derivados de manifestações de si mesma que não puderam se expressar — e, por isto, quando tem oportunidade ou a pressão interna se torna insuportável, ela estoura em manifestações de agressividade incontida.

Passando a daí por diante manifestar um perfil de “gangorra de passividade-pancadaria”: com frequência e inexplicavelmente hesita em se manifestar, mesmo quando é preciso ou tem todo o direito, para em outros instantes dar vazas à própria assertividade em manifestações desproporcionais de afirmação de si mesma (crueldade impositiva, agressões físicas desnecessárias, voluntarismo infantilizado, desavenças constantes etc.).

Não que a criança precise crescer num mundo onde não haja limites à sua vontade ou desejos; aliás, isto mais adoece que ajuda, na verdade. O necessário é que o meio ambiente seja equilibrado no estabelecimento de limites à possibilidade dela se manifestar, ajudando-a a lidar adequadamente com a própria assertividade e gradativamente levando-a a estabelecer regras adequadas de convívio entre si mesma e os outros.

Mas basta um Marte em Capricórnio, por exemplo, ou uma conjunção, quadratura ou oposição de Saturno a Marte para que a carta astrológica natal de uma pessoa possa nos apontar uma primeira infância onde as suas manifestações de assertividade eram sempre pesadamente contidas, eventualmente até mesmo punidas com excessivo rigor (quadraturas e oposições), fazendo com que a criança se intimidasse e retivesse no inconsciente a suposição de que toda figura de autoridade está contra ela, em princípio. Futuramente, o convívio com pais, professores, chefes, autoridades e superiores de qualquer natureza se transforma em pesado conflito, pois sua suposição inconsciente é a de que “tentarão mais uma vez, como tantas, bloquear sua iniciativa, força de vontade e busca de satisfação de desejos”.

Por falar em iniciativa, este quadro piora muito se esta mesma carta astrológica natal mostrar um Ascendente ou Sol em Áries ou um Marte ou Áries proeminente: arrojo e iniciativa, traços naturais e profundos de seu psiquismo, provavelmente foram desde cedo excessivamente abafados, merecendo um delicado trabalho futuro de liberação e recobro de espontaneidade para uma mais fácil atuação em situações que exijam manifestação de si mesma e de sua vontade.

Não nos esqueçamos de que, num caso como este, e em outros tantos, a regra continua válida: presa da suposição de que toda figura de autoridade impedirá sua manifestação de vontade própria, a pessoa termina agindo de forma a produzir este comportamento nas pessoas que a rodeiam ou a atrair para seu convívio pessoas que tenham este perfil impositivo — para mais uma vez reviver os profundos ressentimentos que guarda em seu inconsciente desde a infância e se certificar de que a única forma de garantir espaço no mundo é a “pancadaria”.

Outras vezes, todavia, a dificuldade maior está em assumir e expor sentimentos, estejam eles de acordo ou não com a outra pessoa com quem se relacione; é o caso de alguém que sente dificuldade em manifestar amor ou compreensão, mesmo em situações nas quais tal expressão é desejada e até esperada! Aí, temos outro desenho interno, o qual não necessariamente indica um comprometimento de assertividade; tanto é assim que, em situações de baixa tonalidade emocional, esta pessoa se afirma com facilidade e claramente expõe o que deseja, pensa ou quer, na defesa de seus projetos e espaço pessoal.

Casos como estes costumam derivar muito mais da existência de impedimentos na primeira infância contra a espontaneidade emocional da criança, levando-a futuramente a ponderar em demasia a manifestação de todo sentimento ou emoção — muitas vezes a ponto de até mesmo perder contato consciente com eles e viver com frequência o que poderia ser chamado de indiferenciação emocional: “o que estou vivendo agora? será afeto ou tesão? raiva ou medo? indiferença ou cautela?”.

Da mesma forma como com a assertividade, a criança necessita expor ao meio suas diferentes vivências internas emocionais ou sentimentais, para reconhecer-se a si própria através de suas emoções ou sentimentos expostos e, ao mesmo tempo, estabelecer laços afetivos com os que a rodeiam; se o meio ambiente à sua volta, porém, é demasiadamente impeditivo às suas manifestações emocionais, às vezes por uma moral excessivamente estreita, sentida como hostil, outras vezes pela dificuldade dos adultos de expressarem livremente as próprias emoções, sentindo-se desafiados pela naturalidade infantil e se mostrando, então, refratários, a criança desde muito pequena aprende que não deve expor espontaneamente o que sente: medo, alegria, tristeza, ansiedade ou outro natural sentimento qualquer.

Ela se recolhe dentro de si mesma, no máximo extravasa com seus brinquedos, irmãos ou coleguinhas e futuramente, quando não houver mais brinquedos ou a troca de emoções com outras pessoas e se tornar “responsável” demais (por envolver papéis sociais adultos), ela gradativamente perderá contato com os próprios sentimentos; instala-se nela um perfil melancólico e depressivo, descrente da possibilidade de ser feliz emocionalmente e superado apenas em momentos onde “fortes emoções” (geralmente as “proibidas”) parecem lhe devolver a alegria de viver.

Quase sempre este quadro é encontrado na primeira infância de uma pessoa cuja carta astrológica natal apresente uma Lua em Capricórnio ou um Saturno em qualquer aspecto com a Lua (a força dos bloqueios originais dependerá do aspecto observado): a casa privilegiava o dever (“primeiro o dever, depois o prazer”), punia ou pelo menos impedia as manifestações emocionais infantis mais espontâneas (“comporte-se desta forma”, “você não deve sentir isto” ou “uma criança boazinha não reage assim”) e atuava de forma a manter sob severo controle quase qualquer possibilidade da criança de reagir segundo suas próprias emoções ou sentimentos.

Se a carta astrológica natal apresentar uma Quadratura ou oposição de Marte à Lua, quase certamente a agressão física (às vezes sádica, se também houver aspectos de Urano envolvidos) acompanhava este quadro geral de impedimentos à livre emocionalidade infantil; e se Mercúrio estiver oposto ou quadrado à Lua, quase com certeza a criança era pesadamente levada a nem manifestar verbalmente o que sentia (lavar sua boca com sabão ou passar pimenta na sua língua são típicas manifestações cruéis desta última possibilidade).

Vários podem ser os indicativos astrológicos de tal quadro de bloqueio emocional em função das experiências de primeira infância, levando a pessoa a buscar parceiros ou parceiras (para as mais diferentes relações) que apresentem o que é chamado pela psicologia de forte labilidade emocional (do latim labile, transitório, passageiro, instável): oscilação excessiva nas próprias manifestações emocionais, tendência a “ver dramas em tudo” e exageros frequentes em reações, como única forma de viver a intensa emocionalidade que está bloqueada no inconsciente e precisa de estímulo externo para ser liberada.

À medida que esta pessoa possa reviver as cenas primárias (as cenas de primeira infância) que estiveram ligadas aos bloqueios emocionais e, assim, se livre das memórias desagradáveis associadas a estes momentos, ela recupera a possibilidade de manifestar mais livremente o que sente e ser, portanto, mais espontânea emocionalmente; isto é um trabalho que dificilmente chega a seu término sem ajuda especializada (terapia, por exemplo), dada a delicadeza dos aspectos envolvidos, mas deve ser encarada, por quem sinta tal dificuldade, como tarefa central na reconstrução de si mesmo.

Hans Erni (né en 1909) – Signe du Zodiaque – le Scorpion

Como Lidar Bem com minha Afetividade?

Estabelecer e manter relações afetivas é atribuição psíquica ligada ao que Vênus simboliza; então, todo comprometimento de Vênus em carta astrológica natal de uma pessoa nos indicará dificuldades em viver ou manifestar a própria afetividade.

Imagine uma criança cuja mãe manifestava uma acentuada labilidade na manutenção de laços afetivos: alternava amigos com a mesma facilidade com que trocava de roupa, oscilava excessivamente nas suas formas de manifestar afeto para familiares ou mesmo para a criança, eventualmente apresentava diferentes e seguidos parceiros afetivos com o correr do tempo e assim por diante; provavelmente esta criança cresceu com a mensagem inconscientemente gravada de que o “normal” é ser oscilante demais em seus próprios laços afetivos ou que o ideal é viver seus afetos como num carrossel de cavalinhos: sobe um, desce outro, desce um, sobre outro, numa interminável, repetitiva e desgastante melodia.

Este é o quadro mais possível, se na carta astrológica natal de uma mulher vemos uma Quadratura entre Júpiter e Vênus, ou entre Vênus e Urano; mas se outra carta feminina nos mostrar o Sol conjunto a Vênus, ou mesmo Vênus em Libra e em algum aspecto com o Sol, o quadro é outro e totalmente distinto: esta segunda mulher provavelmente sente uma necessidade tão intensa de ser satisfeita afetivamente, dada a excessiva prática de sedução paterna recebida na primeira infância (por ser a primeira filha, por terminar sendo o instrumento do pai de produzir ciúmes na mãe ou por haver uma genuína atração afetiva ou mesmo sensual entre pai e filha, entre muitas situações possíveis), que por mais que receba afeto nunca se encontra satisfeita.

Vênus em oposição ou quadratura com Marte já pode nos indicar uma pessoa com forte tendência de buscar parceiros sexuais que não atendam às suas necessidades afetivas, pelo fato de que o lar de primeira infância esteve sempre absorvido em pesados sentimentos de insatisfação afetiva; como consequência, a pessoa buscará frequentemente quem não a satisfaça, como pretexto para reviver o que muito cedo sofreu.

Já um homem cuja Vênus receba um forte aspecto de Netuno idealiza a tal ponto a imagem de mulher, sempre buscando afetos de “dimensões cósmicas” (pelo atributo netuniano emprestado à sua imagem inconsciente feminina), que mulher alguma estará à altura do que ele julga necessitar. Em geral, tal quadro decorre da imagem excessivamente idealizada de mulher que a mãe desta criança impingia no lar de primeira infância (muitas vezes até como forma de escamotear aspectos de si mesma tidas por ela como inaceitáveis), nem que para isto ela se enganasse (ou mentisse) com frequência; futuramente, este homem tenderá a buscar mulheres com claros traços de “atriz engajada numa personagem sedutora” (quer mentirosa, quer somente enganada sobre si própria, mas sempre muito mais voltada a desempenhar papéis do que ser si mesma), as quais serão responsabilizadas por ele pela constante insatisfação afetiva sentida.

E se a Vênus da pessoa sofre uma quadratura ou oposição de Saturno na carta astrológica natal, o que podemos inferir de sua primeira infância é um quadro doméstico no qual repetidas vezes a criança foi afastada de seus objetos de afeto (a boneca predileta que ficou velha e foi jogada fora, um cachorrinho que sujava o carpete e por isto foi mandado embora, o travesseiro que a acompanhava desde muito pequena e foi dado ao filho da empregada ou até mesmo os amigos que mudavam ou a deixavam e nunca mais apareciam); ao mesmo tempo, vemos um lar marcado por profundos sentimentos de desconfiança afetiva, quer por ciúmes excessivos de lado a lado, quer por efetivos episódios de traição de confiança afetiva.

Como resultado, desenvolveu-se um adulto com intenso sentimento de que “gostar é o primeiro passo para perder”, razão pela qual se inclina a não se envolver afetivamente de forma genuína (tentando poupar-se, assim, da dor de uma perda, que fará ecoar em seu inconsciente as marcas das inúmeras perdas havidas) ou, perigosamente, a se envolver afetivamente apenas com situações, objetos ou pessoas que “está na cara, serão perdidas”.

Este tipo de carta astrológica natal costuma indicar com frequência o indivíduo que exige excessivas garantias afetivas, mas não oferece nenhuma, ao mesmo tempo em que sofre de profunda carência: qualquer afeto recebido nunca é vivido como afeto verdadeiro, dada a massa de suspeitas, e por isso nunca sente estar vivendo uma relação genuína ou duradoura mesmo quando isto é possível. Obviamente, ele atrai ou é atraído por pessoas que mantenham tal estado de coisas, junto às quais o pesado sentimento de dúvida, a dolorida insatisfação afetiva e a quase total impossibilidade de confiança apenas são reforçados.

Às vezes me dá uma Sensação de Burrice

Já esta questão — a qual, por não “doer emocionalmente”, muitas vezes passa relativamente despercebida — vem de outro tipo de cenário doméstico.

Você deve se lembrar que vimos anteriormente o conjunto de atividades intelectivas, ou aquilo que Jung chamava de “instinto de reflexão”, como uma característica típica da espécie humana; este instinto está na base do surgimento do sistema intelectual-cognitivo de qualquer pessoa, responsável por sua possibilidade de conceber alternativas mentalmente, atribuir-lhes valores lógicos distintos e trabalhar para viabilizá-las ou evitá-las.

Sem a capacidade de pensamento, a qual em última instância é papel deste sistema, nada do que o ser humano já realizou teria sido possível; provavelmente nem teria havido vivência grupal com o grau de sofisticação que o ser humano apresenta, quando comparado às outras espécies, pois a troca de informações foi fundamental para isto se dar.

Pois bem; quando durante a primeira infância o meio ambiente se abate sobre a possibilidade de a criança utilizar adequada e espontaneamente o seu sistema intelectual-cognitivo, responsável por apreender racionalmente o que ocorre à sua volta, cogitar, expor verbalmente ao meio as dúvidas e conclusões que tenha e, das respostas obtidas, tornar a pensar sobre o mundo e as questões que este mundo provoca, o adulto que emerge deste cenário costuma carregar pesadas dúvidas sobre a própria competência intelectual, manifestadas futuramente em inexplicáveis lacunas de conhecimentos (os “brancos de memória”), frequentes dúvidas sobre a qualidade ou validade de qualquer produto mental seu ou mesmo comportamentos muito oscilantes entre fases de estudo compulsivo e momentos de grande desinteresse por qualquer aprendizado.

Para exemplificar, imagine uma criança crescendo numa casa onde vê pouca, ou nenhuma, possibilidade de se exercitar intelectualmente; isto não depende do nível de escolaridade dos adultos da casa, mas, sim, do grau de receptividade que eles manifestem aos pensamentos da criança. Ela pergunta, conclui, levanta questões e desafia as opiniões dos adultos: se for bem aceita, dentro dos limites de seu ainda pequeno conjunto de referenciais de mundo, se sente reforçada a continuar perguntando e afirmando, buscando alargar estes referenciais; sendo mal aceita, contudo, aos poucos vai abandonando as atitudes de expor o próprio pensamento, visando evitar as humilhações e o sentimento de não ter importância que são produzidos por reações como “criança só pensa bobagem”, “você nunca sabe o que diz”, “criança não conversa com gente grande” e até mesmo “não fique falando sem parar, isto incomoda a gente”.

Em geral, a carta astrológica natal de uma pessoa que com frequência é vítima de pesados “sentimentos de burrice” (nem que habilmente mascarados em excessiva loquacidade) indica alguma ligação entre Saturno e Mercúrio. É que toda forma de livre – pensar da criança foi seguida de algum tipo de punição ou desconsideração, o que a fez fugir constantemente deste tipo de experiência e mais tarde pagar o preço da dúvida sobre as próprias capacidades intelectivas — sempre assimiladoras do meio ambiente e expositoras de si mesma ao meio.

Futuramente, sem conhecer as razões de tais comportamentos, ela se sente inexoravelmente atraída por pessoas cultas e inteligentes (e às vezes nem o são, tanto assim), embora em meio a estas mesmas pessoas sinta uma imensa timidez em expor o que pensa ou levantar questões; afirma-se pouco à vontade para lidar com questões mais abstratas, dizendo preferir os aspectos práticos da existência, embora inveje profundamente quem consegue se desenvolver intelectualmente; torna-se tagarela “por compensação”, visando esconder dos outros o profundo sentimento de burrice que a abate, ao mesmo tempo em que desenvolve um comportamento frequentemente chamado de “duas caras”, dada a dificuldade em manter qualquer opinião quando é desafiada a fazê-lo.

Além disto, como decorrência destas experiências de primeira infância, muito provavelmente esta pessoa se comporta com os outros como se não fosse nunca entendida, mesmo quando isto não ocorre, sendo ríspida ou dogmática em demasia em suas opiniões, “para impedir que rejeitem a priori o que ela tem a dizer”. Graças a isto reproduz situações que confirmam suas suposições inconscientes moldadas quando criança, dificultando a comunicação com os outros mas os acusando pesadamente por isto.

Desbloqueando os sentimentos doloridos que estiveram por muito tempo ligados ao ato ou ao fato de se expressar, esta pessoa poderá resgatar uma maior tranquilidade em se comunicar com os outros e em expor ideias, ampliando sua possibilidade de convívio e de crescimento pessoal.

Sou ou não uma Pessoa Criativa?

Nossa cultura há muito tempo tenta nos convencer de que criatividade é somente a manifestação de “absoluta originalidade”, em geral mais diretamente ligada a alguma área artística específica (pintura, escultura, música, dança, literatura, cinema, fotografia, teatro etc.), com isto garantindo que ninguém tente criar a própria vida.

O dominicano e pensador italiano Giordano Bruno, por exemplo, foi queimado pela Santa Inquisição em fevereiro de 1600 por denominar o ser humano de homus homini faber, isto é, o ser que se faz a si mesmo: com isto, ele contrariava o pensamento da Igreja Católica no sentido de que o homem havia sido feito por Deus e, por isto, não poderia nunca transformar a si mesmo.

É que em todas as épocas, e através das mais variadas formas, tentou-se limitar a criatividade humana por uma única e simples razão: o indivíduo criativo termina sempre por expor sua própria maneira de ser e agir no mundo, afastando-se em alguma medida do que o grupo acha adequado e conveniente; assim, para manter estável e previsível qualquer estado de coisas, como forma de melhor controlá-lo, as manifestações de criatividade pessoal sempre tiveram de ser impedidas ou, no mínimo, vigiadas.

Acontece que a criança, assim como a essência humana, não tem qualquer compromisso natural com o estabelecido ou sistematizado pelo outro ou pelo coletivo; desta forma, ela busca (re) construir o mundo à sua própria maneira e vontade, segundo suas necessidades e inclinações individuais, sempre que possa. Para isto, tenta redispor os elementos do mundo, rearranjá-los em nova forma, descobrir novas funções para os objetos já existentes e até mesmo revirar-lhes as entranhas, à busca de compreensão do porquê das coisas.

Ela desmonta brinquedos, investiga processos, fabrica utensílios, renomeia objetos e monta novos cenários com coisas velhas do dia-a-dia, participando ativamente de alguma (re) construção do mundo; além disto, quando é naturalmente dotada de alguma capacidade artística específica, ela toca, pinta, desenha, esculpe, escreve ou compõe.

Se bem aceita, desenvolve um “saudável espírito inventivo”, motor de toda descoberta original e iniciativa vital à possibilidade de criar alternativas; se mal aceita ou punida por isto, ela recua em seu impulso criador e inventivo e se transforma em “rebelde” ou “sonhadora”, única forma socialmente definida para manter-se inovando.

Só que criar sempre implica estar à busca do novo, sempre algo ainda não manifesto e além do já convencionado. Uma tênue promessa vislumbrada no futuro, mas desejada agora mesmo. Um “futurível”, ou “possível no futuro”, mas sempre um futuro que se torna presente na criação da própria coisa, fato ou ato.

Criar, em suma, é refazer a vida, a si mesmo e ao outro, a partir da percepção (ou do desejo) de algo que pode ser diferente do que aqui — ou ali — está.

Para esta possibilidade servem os impulsos transpessoais da psique humana, sempre voltados a um momento além do presente, a um lugar distante do aqui ou a uma forma distinta da existente, como vimos em Urano, Netuno e Plutão. Assim, quando uma pessoa apresenta em sua carta astrológica natal aspectos destes planetas com seus planetas pessoais, saiba sempre que algum projeto verdadeiramente criativo está em curso dentro dela (mesmo que ela não saiba ou tenha sido reprimida em suas primeiras tentativas de fazer diferente).

E o que sua carta mostra, sobre as condições de primeira infância?

Sua criatividade foi bem aceita? Ou ela era obrigada a manietar a busca do novo para evitar as punições que se sucederiam a qualquer inovação? Papai manejava bem seu próprio impulso criador, ou de tanto inventar mais complicava do que equilibrava a vida familiar e com isto ensinava à criança que não se deve criar de forma produtiva? Mamãe aceitava que os outros, ou ela mesma, fossem criativos, ou vivia resmungando contra qualquer novidade?

A carta astrológica natal de uma pessoa nos mostra um sextil entre Marte e Netuno? Ou um trígono entre Vênus e Urano?

Ou ainda Netuno em trígono com Vênus e ao mesmo tempo com o Sol? Estes são apenas alguns exemplos, mas certamente esta pessoa é genuinamente criativa e necessita de apoio até mesmo em suas reais vocações artísticas (as casas astrológicas e os signos envolvidos indicarão a especialidade da manifestação criativa artística, da fotografia à redação, da pintura à poesia, do raciocínio inventivo à vocação para dança).

Mas se sua carta também indica um Saturno em quadratura com Sol ou uma Lua em oposição com Marte, saiba que muito provavelmente a criatividade da criança foi pessimamente aceita: ela foi acusada de devaneadora ou de rebelde, inclinando-se na adolescência ou fase adulta à bebida ou ao consumo de drogas, tentando através disso suavizar o contato com uma realidade sentida como extremamente desagradável desde cedo.

Outra carta astrológica natal indica um sextil entre Vênus e Mercúrio ou um trígono entre este e Plutão? Esta pessoa certamente tem reais vocações para redação de textos em geral e, se ainda receber um aspecto de Netuno, talvez para poesia, romance e ficção.

Netuno está em conjunção com a Lua na casa V? Seguramente esta é uma pessoa com raros dotes dramatúrgicos, destas de marcar uma geração de produção teatral.

O Sol e o Mercúrio de um homem estão em sextil com seu Urano, ao mesmo tempo em que este planeta faz trígono com Saturno? Provavelmente ele tem raros dotes de genialidade administrativa ou mesmo para engenharia mecânica e de projetos, dependendo dos outros dados que a carta natal ofereça à análise clínica.

E pode se tratar de um sextil ou trígono entre o Marte e o Mercúrio de uma mulher: com bastante certeza ela consegue por rapidamente em prática o que intelectualmente concebe, de forma produtiva.

Mas se Mercúrio e Urano estão em conjunção, quadratura ou oposição na carta astrológica natal de uma pessoa, o que poderia ter sido uma mente genialmente intuitiva terminou por ser excessivamente dispersa e improdutiva, dado o padrão acentuado de verbalização excessivamente difusa que prevalecia na casa de primeira infância, onde todos falavam de tudo ao mesmo tempo; esta pessoa terá de aprender a se concentrar, desenvolvendo a habilidade de manter-se atenta, antes de utilizar produtiva e constantemente sua inteligência superdotada e muito rápida.

Assim como, se Netuno está em quadratura ou oposição com Mercúrio, o padrão intelectual global do indivíduo foi sempre demasiadamente distante da realidade objetiva do dia-a-dia; enquanto ela não aprender a canalizar a estupenda criatividade verbal e imagética que possui para atividades realmente produtivas, este “desligamento da realidade” permanecerá.

São estruturas psíquicas potenciais como estas, simbolizadas na carta astrológica natal do indivíduo, as mesmas que muitas vezes são abafadas na casa de primeira infância em nome de uma rigidez ou de um ideal profissional almejado pela família; como resultado, no meio da vida a pessoa dá uma guinada profissional e ninguém entende nada, ou a pessoa passa a vida inteira infeliz em sua “escolha” de carreira.

Se ser criativo é construir o próprio conjunto de alternativas, a pergunta que sempre fica no ar quando se discute esta questão é: você tentou? Gostaria de tentar?

Ou você sempre foi cúmplice da castração praticada contra sua própria criatividade, em nome da conformidade, do bem-estar geral e da falsa aceitação pelos outros?

Zoo 1

Minha Sensualidade me Satisfaz?

Sensualidade deriva do latim sensuale, “relativo aos sentidos”, e em termos de vivência psíquica diz respeito às experiências de prazer e bem-estar obtidas através dos sentidos: olfato, audição, tato, visão, paladar e cinestesia. O termo, assim, não tem a ver obrigatoriamente com sexualidade ou genitalidade, como muita gente pensa, a despeito da sensualidade ter um papel bastante ativo no exercício da sexualidade.

São vivências sensuais o prazer produzido por um aroma especial, o sentimento induzido pelo som de uma certa melodia, a sensação produzida por um leve roçar de mãos no dorso, o deleite provocado pela visão de uma cena de rara beleza, a satisfação sentida com o sabor de um bom quitute ou até mesmo o bem-estar produzido por um vagaroso espreguiçamento; mas como tais experiências não raras vezes invadem o terreno da sexualidade, não por outra razão os amantes de todas as épocas sempre revestiram suas situações amorosas com os mais diversos odores, sabores, cores, músicas e experiências táteis ou de movimentos.

Na astrologia, o símbolo central de sensualidade é o planeta Vênus e, assim, a situação geral deste planeta na carta astrológica natal (colocação por signo e casa astrológica, e aspectos que faz) será examinada pelo astrólogo clínico para entender como a pessoa lida (e foi ensinada a lidar) com a própria sensualidade.

Com isso voltamos ao princípio psicológico geral: além da forma natural de um certo psiquismo lidar com cada uma de suas potencialidades, o meio ambiente sempre influi na forma geral em que esta potencialidade se manifestará, através de condicionamentos. Assim, para exemplificar, uma pessoa nascida com Vênus em Touro (signo de Terra) possui como dado natural uma vigorosa sensualidade corporal, a qual se manifesta desde muito cedo; já uma outra, nascida com Vênus em Gêmeos (signo de Ar), terá sua sensualidade muito mais voltada para experiências estéticas de contemplação.

Entretanto, se o indivíduo teve sua sensualidade pesadamente restringida pelo meio ambiente, como um Saturno em quadratura com Vênus nos indicaria — ao apontar um lar original no qual as manifestações físicas de carinho e prazer, como dar colo, abraçar, ficar de mãos dadas, praticar afagos mútuos ou fazer cafuné eram proibidas, vigiadas ou “deixadas para o momento certo” —, que qualquer situação futura de sensualidade trará à tona a massa interna de proibições inconscientes e gerará um grande mal-estar ou desconforto, manifestando-se em atitudes refratárias e de desconfiança excessiva, também tidas como frígidas.

Mas poderia ser o pai a lidar mal com a sensualidade, fosse a sua própria, fosse a de mulheres sobre as quais tinha controle: um Saturno em oposição a Vênus na carta astrológica natal de uma pessoa não poucas vezes nos indica um pai sufocando pesadamente todas as manifestações de sensualidade em casa, através de censuras e restrições excessivas ao uso de saias curtas, decotes, cosméticos, joias ou adereços, inclusive de posturas corporais e expressões gestuais ou verbais. Se esta pessoa é uma mulher, provavelmente no futuro ela terá acentuada dificuldade em lidar bem com a própria sensualidade, reprimindo-a ou a exagerando (como forma inconsciente de garantir aos outros e a si mesma não ter problemas nesta esfera), e atraindo para seu convívio homens que não lidam bem com a própria sensualidade e reproduzem as atitudes sufocantes de seu primeiro modelo masculino; se esta pessoa é um homem, todavia, deverá seguir de perto os passos do próprio pai, aproximando-se de mulheres fortemente sensuais para poder abafá-las com pesadas proibições, em nome de ciúmes ou desconfiança exagerada.

Já um Marte em quadratura ou oposição com Vênus, em outra carta, nos sugere que esta pessoa “coleciona” parceiros que não a satisfaz sensual ou sexualmente: se o prazer sexual existe, não há prazer sensual e vice-versa. É que ambas as necessidades internamente se opõem, em função de marcas emocionais da primeira infância (um dos pais, ou ambos, a carta natal definirá sempre, não gostava da própria sexualidade ou da vida sexual que tinha), e sua única opção, enquanto não rever o próprio inconsciente, é terminar encontrando parceiros com este perfil.

Nos casos específicos de mulheres, o eventual desconforto inconsciente com a própria sensualidade poderá inclusive ter drásticas consequências: uma carta astrológica natal feminina na qual se veja a Lua em quadratura com Vênus indica um psiquismo inconsciente no qual habitam profundos ressentimentos contra o fato de ser mulher e, por isto, atua sobre o organismo, expondo-o excessivamente a problemas na área ginecológica e no sistema reprodutivo; cólicas menstruais demasiadamente doloridas, oscilação frequente na periodicidade da menstruação, severos desequilíbrios hormonais no ciclo hipofisário-gonádico, grande vulnerabilidade a invasões bacterianas e fúngicas na vagina ou colo do útero, facilidade de desenvolver cistos e tumores na região (especialmente se houver um Plutão envolvido neste aspecto) e propensão inconsciente para histerectomias e remoções ovarianas, especialmente na menopausa.

Já um homem com este aspecto em carta astrológica natal tenderá a se envolver marcadamente com mulheres com tais problemas orgânicos — de clara base emocional, aliás, como muitas disfunções.

Finalmente, entre infinitos casos, dada a possibilidade de arranjos múltiplos do psiquismo individual, pode se tratar apenas de uma “voracidade sensual” que não encontra satisfação nas práticas mais comuns de troca de carinho e afago. Uma pessoa que tenha em sua carta astrológica natal Netuno em conjunção, quadratura ou oposição com sua Vênus, por exemplo, certamente exige do meio ambiente uma satisfação sensual excessiva, muitas vezes portando o perfil da “sedutora compulsiva” ou do “sedutor sempre insatisfeito”. Este aspecto, quando ocorre, costuma indicar ao astrólogo clínico a existência de um imenso e genuíno potencial estético e de fantasias conjugado com as necessidades sensuais da pessoa, ao mesmo tempo em que um meio ambiente infantil no qual muita culpa foi agregada ao exercício de uma sensualidade mais liberada (como as fantasias da pessoa sempre a fizeram desejar); enquanto este indivíduo não lidar com a culpa que sente em liberar suas fantasias, buscando parceiros mais ousados ou com sensualidade mais exuberante, ao mesmo tempo em que canalize para funções estético-criativas artísticas o potencial netuniano que possui, o quadro de constante insatisfação sensual se manterá.

Por que o Prazer Sexual me dá Culpa?

Já o comprometimento do prazer sexual — por impossibilidade de vivê-lo ou somente culpa que o atenua — pode ou não derivar de algum comprometimento da sensualidade; verdade que em muitos casos basta um Vênus mal colocado na carta astrológica natal, como vimos acima, para apontar severas dificuldades da pessoa em viver a própria sexualidade, dada a proibição inconsciente interna contra os aspectos sensuais vitais a um mais pleno prazer sexual.

Contudo, em muitos casos pode se tratar de fenômeno distinto, mais diretamente ligado a outros aspectos da história do indivíduo.

Você se recorda quando discutimos a existência da pulsão sexo-agressiva, frisando que uma de suas especializações, a assertiva, leva a pessoa a manifestar a sua própria vontade e que a outra, a sexual, a permite manifestar seu impulso de conquista do objeto de desejo; um parceiro sexual desejado ou o próprio prazer?

Pois é: uma criança que desde sempre é pesadamente impedida de manifestar sua assertividade, termina apresentando fortes bloqueios contra sua sexualidade mais ativa; então, basta o meio ambiente ter induzido intensos sentimentos de culpa ou inadequação no inconsciente da criança em relação a manifestações da vontade pessoal, para futuramente ela se ver com frequência privada de potência sexual (se homem) ou prazer sexual (se mulher).

Imagine uma carta natal astrológica na qual haja uma quadratura entre Marte e Lua; o meio ambiente infantil desta pessoa quase com certeza impunha uma severa separação entre bem-estar emocional e sexualidade (tais os conflitos entre sexualidade e amorosidade vividos por um dos pais), levando a pessoa a futuramente sentir-se infeliz quando vive sua própria sexualidade ou a não conseguir ter prazer com quem a acolhe amorosamente.

Se esta dinâmica está instalada no psiquismo inconsciente de uma mulher, provavelmente desde sua adolescência ela só encontra parceiros que eram gentis, amorosos e acolhedores, mas não satisfaziam suas genuínas necessidades sexuais; ou, ao contrário, terminava só se envolvendo com “garanhões”, verdadeiros atletas do sexo, mas incapazes (ou incompetentes) em oferecer-lhe apoio emocional e carinho genuínos; como resultado, como poder viver plenamente o prazer que sua sexualidade poderia oferecer-lhe, dada a infelicidade emocional que sempre acompanhava o sexo? Já se trata-se de um homem com este dado, seguramente ele vem atraindo para seu convívio mulheres com dinâmica análoga à sua imago feminina, como forma inconsciente de reviver o já presenciado na casa de primeira infância.

Outras vezes a carta astrológica natal indica um homem tão apegado afetivamente à mãe que não se permite viver a própria sexualidade com alguma mulher (caso clássico e já até caricato de um forte complexo de Édipo, muitas vezes explicitado em carta natal masculina por Vênus em conjunção com a Lua ou com Marte); e em outros casos a dificuldade pode derivar diretamente do clima excessivamente culposo em relação à sexualidade, o qual vigorava na infância e a carta natal desvendará.

Neste sentido, suponha uma casa na qual o pai manifestava uma religiosidade extrema, mantendo uma estrutura moral excessivamente estreita, daquelas que “vê pecado até em tudo” (provável fruto da grande dificuldade em lidar de forma adequada com a própria sexualidade, a qual terminava também por extravasar através de um comportamento sedutor e licencioso fora das vistas públicas). Provavelmente uma filha não podia andar de roupas íntimas em casa, todas as namoradas de um filho seriam taxadas de prostitutas e em cada esquina do mundo o pecado estaria à espera: como suas crianças poderiam futuramente, quando adultas, viver a própria sexualidade sem culpa?

Este quadro é bastante possível, por exemplo, numa carta astrológica natal com Sol e Vênus conjuntos, ambos em quadratura com Netuno; ou com Marte e Netuno conjuntos, ambos em oposição ao Sol.

Dados que o astrólogo clínico verá e, dentro do conjunto global de símbolos que a carta astrológica natal oferece, apresentará ao seu cliente e trabalhará com ele (ou ela), enfatizando a necessidade de um bom processo de reavaliação interna para se livrar da culpa e readquirir a possibilidade de viver mais plenamente o próprio prazer sexual.

Espiritualidade: Realidade ou Ilusão?

Antes de entrarmos neste delicado — e por vezes espinhoso — assunto que é o da espiritualidade, deixe-me explicar o que quero dizer com tal termo. E, para isto, começarei por dizer o que não é espiritualidade, no sentido em que eu a entendo aqui.

Não estou mencionando a religiosidade beata barata, que se basta em rituais litúrgicos sem nenhum significado interior; não se trata de nenhum conjunto rígido de normas morais ou de comportamento e convivência, como se algumas fossem mais corretas ou sagradas do que outras; não significa despersonalização fanatizada, em nome de seja lá o que for; não decorre de algum desequilíbrio emocional, como se crê alhures: “o prazer que Regina encontra na igreja é fruto de sua neurose” ou “o que leva Roberto a meditar é a vontade de fugir”; e menos ainda diz respeito a alguma reação de revolta contra algum estado de coisas, “que não anda muito bem”.

Ao contrário, falo da possibilidade humana de superar os limites do ego e de sua percepção sempre parcial da realidade, permitindo-se mergulhar na vivência de outro tipo de pensamentos, sensações e sentimentos e superar a insegurança que se dá pela suposição de sermos isolados, cada um de nós, em sua pequena concha de objetos — utilizando a expressão do estudioso da comunicação Umberto Eco, para se referir ao pequeno mundo que cada um constrói em torno de si e para si, a partir apenas do que percebe e valoriza.

De acordo com William James, uma “coisa” na consciência é sempre um produto do “reparar nisto e ignorar aquilo”; em outras palavras, nossa atenção, desde o início de nossos dias de vida terrestre, destaca partes do todo em que vivemos e lhes atribui uma existência tida como separada, descontínua, com um certo valor específico.

Porque, como ensina o psicólogo norte-americano Ken Wilber, “a única maneira que tem o pensamento de lidar com estes pedacinhos de atenção restrita é arrumá-los numa ordem linear. Claro está que se o mundo for cortado num número vasto de fatiazinhas, essas fatias não poderão ser engolidas ao mesmo tempo… Como toda gente sabe, não podemos sequer pensar em duas ou três coisas ao mesmo tempo sem sermos jogados numa confusão paralisante; e, assim, com a finalidade de introduzir alguma medida de coerência e ordem, o processo do pensamento, com a ajuda da memória, estende esses pedaços separados de atenção ao longo de uma linha que ele cria com esse propósito, quase da mesma maneira com que estas palavras estão arrumadas em linhas tipográficas”.

“Em outras palavras — continua ele —, o tempo nada mais é do que a maneira sucessiva de que se vale o pensamento para encarar o mundo. Mas pelo fato de vermos habitualmente a natureza deste modo linear, sucessivo e temporal, logo chegamos à manifesta conclusão de que a natureza segue numa linha, do passado para o futuro, da causa para o efeito, do antes para o depois, do ontem para amanhã — ignorando completamente o fato que a suposta linearidade da natureza é, toda ela, um produto da maneira com que a encaramos”.

Todas, absolutamente todas, as ideias religiosas de todas as épocas e em todas as regiões do mundo afirmaram coisa parecida, quer falassem explicitamente ou não de Deus, exigindo um tipo de compreensão que desafia o ego e indicando que a Realidade — não a “que veremos um dia, após a morte”, mas a da qual fazemos parte neste exato momento — está além de todas as nossas definições pelo simples fato de conter em si mesma o passado, o presente e o futuro, o ontem, o hoje e o amanhã, “todas as coisas ao mesmo tempo” e “coisa nenhuma em si”.

Diz o pensamento budista, por exemplo, que no Dharmadhatu, ou Reino da Realidade, “cada coisa inclui simultaneamente todas as coisas em perfeita completação, sem a menor deficiência ou omissão, em todos os momentos. Ver um objeto, portanto, é ver todos os objetos, e vice-versa”; em sentido análogo, o teólogo italiano São Tomás de Aquino (1225-1274) lembrou que “Deus não se move de maneira alguma e, portanto, não pode ser medido pelo tempo; tampouco existe antes ou depois nem já não existe depois de haver existido, nem pode ser encontrado n’Ele nenhuma sucessão, mas tem a totalidade da sua existência simultaneamente; e essa é a natureza da realidade”.

Porque todas as coisas e todos os processos da vida, na realidade e para o inconsciente mais profundo, ainda não pessoalizado, ocorrem sempre no agora absoluto.

Dentre vários cientistas contemporâneos, ensina o físico Erwin Schroedinger que “o presente é a única coisa que não tem fim e que, “por mais inconcebível que pareça à razão comum, nós – e todos os outros seres conscientes como tais – somos tudo em tudo. Daí que a nossa vida, a vida que estamos vivendo, não seja apenas um fragmento da existência inteira, mas em certo sentido, o todo“. O dominicano Meister Eckhart escreveu no século XIII que “falar sobre o mundo como tendo sido feito por Deus amanhã ou ontem seria disparatar. Deus faz o mundo e faz todas as coisas neste presente agora.

Além disto, ao nível da realidade última, o que chamamos de realidade não tem forma definida, não possui identidade própria e não se contrapõe a nada porque não há “alguma verdade” a contrapor: é, como Jung descreve o self (o arquétipo totalizador da psique e portador da totalidade desta mesma psique), um complexio oppositorum, isto é, um complexo formado de oposições e paradoxos que não se excluem nem se completam, embora convivam e vivam juntos, já que são, cada um e todos, a mesma e única realidade multimanifestada.

Após o ego se constituir é que “fatias” desta realidade absoluta se tornam entidades supostamente individualizadas, graças aos “pedaços de atenção” a que William e Wilber aludiam acima; por isto, sempre se disse que a única forma de efetivamente conhecer o “reino espiritual” é superar a impressão da existência de coisas particularizadas.

Santo Agostinho (354-430) declarou que “se qualquer um, vendo Deus, concebe alguma coisa em sua mente, isso não é Deus, mas um dos efeitos de Deus”; neste sentido, também temos o Êxodo, no Velho Testamento: “Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra”; Jesus Cristo, no Evangelho de São Tomé, afirmou: “Eu sou a Luz que está acima de todos eles, Eu sou o Todo, o Todo veio de Mim e o Todo chegou a Mim. Racha um pedaço de pau, Eu estou ali; ergue a pedra e ali Me encontrarás”. O Katha Upanishad, texto sagrado Vedanta hindu, diz que “o Espírito, conquanto Uno, assume novas formas no que quer que viva. Ele está dentro de tudo e também está fora. Há um Soberano, o Espírito que está em todas as coisas, que transmuda Sua forma em muitas. Somente os sábios que O vêem em suas almas conhecem esta alegria”.

Uma alegria — ou regozijo, como a chama a teologia católica — que permite ao indivíduo ultrapassar os limites estreitos de sua personalidade individual, sem abandoná-la entretanto, fundindo-se no todo do qual sempre fez parte; esta personalidade individual é fundamental à manifestação do todo, e só por isto existe, mas deve e pode ser transcendida, para vivências numa dimensão psíquica em que sua existência se relativiza.

Na esteira desta hipótese, o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) afirmava que “se o antes e o depois estão ambos no mesmo Agora, então o que aconteceu há dez mil anos seria simultâneo com o que está acontecendo hoje, e nada seria antes ou depois de qualquer outra coisa. Nesse caso, tudo estaria em qualquer coisa, e o universo num grão de painço, só porque o grão de painço e o universo existem ambos no mesmo tempo.

Noção também retomada pela ciência atual: de acordo com o físico Sir James Jeans, “os fenômenos podem ser indivíduos carregando existências separadas no espaço e no tempo, enquanto na realidade mais profunda, além do espaço e do tempo, podemos todos ser membros de um corpo”.

Então, lembrando que esta aparente separatividade pode ser transposta, o pensador hindu Ramana Maharshi nos consola: “Na verdade não existe razão para seres desgraçado e infeliz. Tu mesmo impuseste limitações à tua natureza de Ser infinito, e depois choras por seres uma criatura finita. Eis por que digo: conhece que és realmente o Ser infinito, puro, o Eu absoluto. És sempre esse Eu e nada senão esse Eu. Por conseguinte, nunca poderás realmente ignorar o Eu, tua ignorância é mera ignorância formal”.

Obviamente, tal possibilidade humana requer trabalho, e bastante trabalho, pois as barreiras do ego contra sua superação são muito resistentes: ele gradativamente deve alargar suas fronteiras internas, a ponto de abrigar em si mesmo uma realidade que na verdade o supera.

E para tanto, como nos recorda o Sutra Lankavatara, um dos textos principais do Budismo Zen, “por meio da fala podemos entrar na verdade, mas as palavras não são a verdade. A verdade é a compreensão de si mesmo experimentada interiormente pelos sábios através de sua introvisão não-dual (separativa) e não pertence ao domínio das palavras, da dualidade ou do intelecto”.

Porque, de acordo com o teólogo cristão Paul Tillich, “no limiar dos mais fundos e últimos abismos deparasse-nos a revelação de que a nossa experiência está contida nas profundezas da própria Vida Divina. Mas nesse ponto reina o silêncio, pois nenhuma linguagem e nenhum conceito humano podem expressar tal experiência”.

Entende-se, então, porque tal experiência só é possível através das funções transpessoais da psique, simbolizadas em uma carta astrológica natal por Urano, Netuno e Plutão, as únicas funções psíquicas que nos permitem ultrapassar os limites das convenções pessoalizadas de pensamento, sentimento e poder do ego e nos permitem atuar dentro de um nível de consciência que abarca a todos os outros num verdadeiro espectro de níveis de realidade.

Um nível de consciência que, na visão otimistamente realista de Ken Wilber, “não é difícil de descobrir nem está sepultado no fundo da psique. Ao contrário, está muito próximo, muito perto e sempre-presente. Pois a Mente não é, de forma alguma, diferente de nós, que seguramos este livro na mão. Num sentido muito especial, com efeito, Mente é o que, neste momento, lê esta página”.

“Vejamos agora — nos convida ele em seu livro O Espectro da Consciência — se conseguimos desenredar o sentido especial de tudo isto”.

Urano, como já vimos, é a “oitava superior” de Mercúrio e, assim, simboliza a capacidade da psique humana de pensar a realidade além da forma comum e dos modos habituais do ego: o “pensamento uraniano” é composto de flashes de intuição que resumem em conceitos condensados conclusões às quais chegaríamos apenas lentamente com as funções egóicas (se chegássemos) e, portanto, está na base de traços de genialidade atemporal. Esta função é a que permite ao indivíduo conceber realisticamente a possibilidade de pertencer a todo o universo, presente, passado e futuro, independente de sua manifestação neste aqui particularizado, ao mesmo tempo em que permite a vivência de um acentuado sentimento de uniqueness, palavra em inglês que, mal traduzida, significa “com a qualidade de ser único” dentro deste mesmo universo.

Por isto Urano, a Mente Impessoal, também indica sempre a busca de modelos totalmente originais de realidade, seja ela qual for (conceitual, sexual, afetiva, relacional, etc.).

Quando Urano faz aspectos com planetas pessoais, imprime fortemente estas qualidades às funções egóicas por eles simbolizadas. Assim, se uma carta astrológica natal nos mostra Mercúrio em quadratura com Urano, a pessoa apresenta um padrão extremamente rápido de pensamento, o que a leva a frequentemente dispersar-se, mal concluir frases e dificilmente terminar um raciocínio, pois já está um pouco à frente do que pensava naquele momento; como consequência, manifesta-se todo o tempo ansiosa e pode até mesmo carregar pesadas dúvidas sobre sua instabilidade mental ou sobre sua produtividade intelectual, já que raras vezes percebe o início, o meio e o fim dos próprios processos de pensamento.

À medida que canalize adequadamente esta função, através de exercícios de plena atenção (concentração prolongada do foco mental e visual em objetos pequenos, seja uma chama de vela, um copo de água ou um ponto pintado na parede) e de atividades regulares que requerem concentração (modelagem cerâmica, montagem de jogos ou miniaturas), e se disponha a checar a veracidade de cada insight que tenha, a pessoa gradativamente suaviza este padrão de velocidade excessiva em tudo que pensa ou fala, podendo utilizar de forma criativa o imenso poder intelectual (fortemente intuitivo) que possui.

Já um Urano em oposição com Marte, em outra carta astrológica natal, nos aponta uma compulsiva necessidade de ser original em todas as manifestações de sexualidade e de força de vontade, razão pela qual muito provavelmente esta pessoa carrega uma raiva descomunal acumulada em seu inconsciente: raros são os lares que permitem à criança ser efetivamente original, especialmente no nível de originalidade que Urano simboliza, e não por esta razão tal tipo de aspecto Urano/Marte com frequência se encontra na carta natal de psicopatas (se confirmado por outros dados): impedido de manifestar seu desejo sexual ou sua vontade pessoal, e compelido pela função transpessoal uraniana a ultrapassar as barreiras do superego, o indivíduo desrespeita os mais mínimos limites da realidade do outro, impondo-se do jeito que der.

Esta pessoa deverá gradativamente “se autorizar” a manifestar a própria raiva, até mesmo em circuitos marciais, bem como a genialidade criativa conceitual que em muitos casos possui (se outros dados da carta astrológica natal confirmarem tal possibilidade); ao mesmo tempo, deverá se permitir superar os limites convencionais de moral e comportamento associados à sexualidade, pois em todo envolvimento sexual estará inclinado a manifestar-se criativamente: novas posições, horários e locais incomuns, alternância ou simultaneidade de parceiros.

O segundo planeta transpessoal, Netuno, nos indica a possibilidade humana de viver sentimentos de forma absolutamente impessoal, muitas vezes abrindo mão das próprias necessidades pessoais ou atribuindo a algo ou alguém o poder romântico de gerar tais sentimentos. É que Netuno representa o princípio de relacionamento ou valorização afetiva impessoal ou transpessoal, derivado do sentimento indistinto de todas as coisas terem um valor afetivo intrínseco pelo simples fato de pertencerem a um todo muito maior do que o abrangido pelos valores pessoais humanos.

Quando Netuno, o Sentimento Impessoal, faz oposição com a Lua na carta astrológica natal de um homem, por exemplo, ele tende a atribuir a qualquer mulher com quem se envolva contornos excessivamente romantizados, o que o faz se afastar dos seus reais atributos pessoais (bons ou maus); como consequência, a vida se torna um suceder de ilusões e desilusões, tal como as estórias de trovadores nos relatam, iniciado com a mãe (primeira figura feminina externa) e prosseguindo com namoradas, amigas, primas, etc. Este homem terá de trabalhar arduamente no sentido de abandonar tais fantasias, à custa da perda de ilusões e do (para ele) dolorido contato com a realidade, para evitar que tal possibilidade se transforme em causa necessária e suficiente de pesados ressentimentos por constantes “mentiras” na esfera amorosa: preso de sua suposição inconsciente, ele vê em qualquer mulher o que deseja e, depois, a acusa de tê-lo enganado (o mesmo raciocínio pode ser aplicado em Netuno/Sol, na carta astrológica de uma mulher).

Já Netuno em conjunção com Mercúrio nos indica uma pessoa com rara capacidade de percepção paranormal da realidade, fundindo-se afetivamente com os outros a ponto de realmente “saber os seus pensamentos” — e muitas vezes se confundido por não identificar quem está pensando o quê em dado momento, se ele ou o outro. Tais pessoas com frequência acreditam ouvir vozes e até mesmo (a carta natal nos indicará esta possibilidade) ver cenas, em manifestações ainda tidas em nossa cultura como loucura ou indício de forte desequilíbrio emocional.

Já Netuno em conjunção, quadratura ou oposição com Marte costuma atribuir à pessoa a característica de insaciabilidade sexual, (ninfomania nas mulheres, satirismo nos homens). Tal insaciabilidade, fruto da busca inconsciente de vivências de afetividade transpessoal em experiências sexuais, com frequência leva o indivíduo à dificuldade em se estabilizar afetivamente, caso o parceiro não apresente disponibilidade sexual equivalente.

Quando, no Hinduísmo, a escola ioga tântrica preconiza o desenvolvimento da sexualidade como uma fórmula espiritual de contato com a divindade no momento do orgasmo — não concebida e nem aceita pela consciência coletiva ocidental, fortemente impregnada da moral restritiva jesuítica —, é do “uso” desta função transpessoal que se fala.

De qualquer forma, Netuno empresta às funções simbolizadas pelos planetas pessoais características (sempre coletivas) de forte imaginação criativa estética e grande receptividade sentimental afetiva; desta forma, o indivíduo que apresenta aspectos deste planeta sobre seus planetas pessoais deve ser instado a expandir sua possibilidade pessoal de viver afetos em limites máximos, como única forma de deixar de esperar que outras pessoas lhe ofereçam tal possibilidade. Tal expansão, entretanto, costuma escapar aos limites mais estreitos de uma relação pessoal (salvo raríssimos casos) e deve então ser buscada em outras atividades: artes plásticas, música, teatro, dança, romance, poesia, práticas espirituais, etc.

Finalmente, o último planeta transpessoal: Plutão. Como vimos atrás, a “oitava superior” de Marte nos indica o poder máximo da psique de criar e recriar a si mesma, neste ato criando e recriando o mundo (ao menos, o mundo que constrói para si), vindo dos estratos mais profundos do inconsciente e atuando de forma avassaladora sobre todos os demais impulsos humanos.

Quando Plutão, símbolo deste Poder Impessoal, faz aspectos com os planetas pessoais de um indivíduo, com facilidade esta pessoa pode se deixar convencer de que tal poder pertence a ela; posto que o poder é uma das contingências da existência e toda vida é profundamente marcada por momentos em que o poder pessoal deve se manifestar na defesa do espaço, da vontade e do desejo do indivíduo, em tais momentos o poder impessoal arquetípico simbolizado por Plutão pode contaminar esferas mais pessoalizadas e atribuir-lhes uma dimensão não raras vezes dilatada ao absurdo.

Imagine uma carta astrológica natal que apresente o Sol em aspecto com Plutão: em todos os momentos da vida em que tal pessoa tiver de fazer valer sua própria identidade, este poder poderá assumir o controle sobre o seu comportamento; evidentemente, o tipo de aspecto existente e os demais dados da carta natal mostrarão ao astrólogo clínico o quanto esta pessoa tem resistido a esta dinâmica e em que medida tal poder tem-lhe sido efetivamente útil.

Porque quando se trata de aspectos mais desafiadores, podemos ter pela frente uma pessoa com marcados traços paranoico-persecutórios (vendo uma ameaça em cada esquina ou um conspirador em toda pessoa, dada a atribuição de contornos míticos às pessoas com as quais se relaciona, como sempre acontece com uma função transpessoal que contamina o ego), um acentuado perfil de megalomania (momentos de delírio de poder, nos quais a pessoa acredita ser capaz de enfrentar qualquer desafio) ou mesmo uma violência impositiva de suas vontades, da qual ela raramente tem controle.

Apenas para citar alguns exemplos, e mais uma vez recordando que um só dado nunca é suficiente para informar a totalidade do perfil psicológico de alguém, aspectos de Plutão com Vênus costumam indicar um modelo inconsciente de envolvimento afetivo obsessivo, aspectos com Marte podem sugerir uma assertividade e sexualidade não poucas vezes maiores do que a estrutura egóica e superegóica da pessoa está disposta a assumir; aspectos de Plutão com Lua em geral apontam um núcleo amoroso ciumento e manipulador (para melhor controle do objeto amoroso) e aspectos de Plutão com o Sol muitas vezes assinalam a existência de forte carisma pessoal, derivado de um “magnetismo hipnotizador” capaz de arrastar multidões por uma causa — ou ao desespero.

Mas Plutão é vital para que a possibilidade de “morte” seja uma constante na vida da pessoa que tem este planeta realçado em sua carta astrológica natal: não a morte física, a dissolução do aglomerado molecular a que nós nos habituamos chamar de corpo, mas a morte do atual estágio de vida, rumo a um estágio mais energizado ainda, como no caso da lagarta que morre para virar borboleta.

Assim como os estágios de larva e casulo têm de ser abandonados, na vida da borboleta, no ser humano o ego tem de ser transcendido através de sua morte, ocasião na qual as velhas formas de personalidade podem ser abandonadas, em proveito do crescimento global da psique e da atualização de potenciais que sempre lá estiveram e apenas não tinham espaço ou possibilidade de manifestação.

A isto muitas filosofias e escolas religiosas aludem quando mencionam, sugerem ou enfatizam a “morte do ego”: não se trata de dissolução do ego, o que para a psique seria o colapso total, mas sua transcendência e superação, quando o ego volta a ser apenas mais um dos componentes deste estranho fenômeno que é a mente humana, forma individualizada de manifestação da mente universal.

Por isto os principais momentos de manifestação de conflitos entre o Poder Impessoal (envolvido com a regeneração integral da psique) e o Poder Pessoal (envolvido apenas com os objetivos da personalidade) são sempre vividos pela pessoa como depressão profunda (para a psique individual, sempre um sintoma de morte): se o ego estiver estruturado para viver estes embates de forma produtiva, o que aconteceu torna-se claro e seu significado, óbvio, levando a pessoa a alterar profundamente seu comportamento e a forma pela qual vê a vida e nela atua; se não for este o caso, porém, a pessoa lamenta o sucedido e não faz disto um degrau a mais em sua evolução interna.

Nos piores casos, aqueles nos quais o ego já apresentava uma estruturação precária, a pessoa pode até mesmo ter sua estrutura psíquica global estilhaçada pelos impulsos que lhe vêm de dentro e, como se diz, “enlouquecer”; daí a afirmação das psicologias transpessoais de que os episódios de psicose ou esquizofrenia são acidentes de percurso no processo interno de integração psicoemocional.

Urano, Netuno e Plutão representam funções fundamentais à psique como um todo, no caminho do desenvolvimento humano, a despeito de oferecerem pesados desafios à sobrevivência do ego — ou, ao menos, do ego como este ego vinha se vendo até então.

Caso a vivência destas funções seja possível, o indivíduo é jogado num mundo muito mais vasto, muito mais profundo e muito mais acolhedor do que até então pudera conhecer; entretanto, todo cuidado é pouco, dada a qualidade e a intensidade dos poderes — da Mente Impessoal, do Sentimento Impessoal ou do Poder Impessoal — com o qual se estará convivendo.

Neste ponto, são preciosas as palavras de Liz Greene, psicóloga junguiana e astróloga inglesa: “os atalhos para qualquer estágio de consciência raramente dão certo, porque a sensibilidade é muito aguçada… É uma corda tensa, muito delicada… O mundo das forças arquetípicas pode conter a hoste angélica, mas também contém a horda demoníaca”.

Hordas, estas, que fazem parte da realidade como ela é, embora nem sempre estejam na realidade vislumbrada pelo ego; sua vivência, entretanto, é a única maneira de superar a suposta separatividade que nos afeta a tantos de nós neste mundo, parte do universo total.

Porque, como conclui Liz Greene em seu livro Saturno, “se o indivíduo está disposto a explorar não apenas o mundo da sua própria psique pessoal, mas também o mundo mais vasto do inconsciente coletivo, ele pode começar não apenas a se integrar dentro de si mesmo, como também a vivenciar a totalidade do grupo, do qual é uma parte”.

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