Astrologia no cuidado de Mulheres Deprimidas do Bom Jardim

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Roxane Mangueira Sales

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Saúde Coletiva da Universidade de Fortaleza como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Saúde Coletiva.

Melancholia by Hans Sebald Beham

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Resumo

De novembro de 2011 a agosto de 2012, este estudo qualitativo foi realizado no bairro do Bom Jardim, Fortaleza, Ceará. Conduzimos com cinco mulheres “estudos de casos ricos em informação”, entrevista etnográfica e a narrativa da enfermidade para construir uma “descrição densa” da experiência da depressão/sofrimento. Para compreender a atuação coerente com a diversidade das experiências no cuidar do processo saúde-doença, investigamos o impacto da astrologia enquanto modelo narrativo e simbólico e nova tecnologia do cuidado sobre o estado de depressão/sofrimento na percepção de mulheres deprimidas. Conclui-se que a linguagem por imagens permite que outros sentidos e significados sejam atribuídos às expressões empregadas. Observamos que a narrativa do mapa astrológico foi reinterpretada pelas informantes, que conferem um significado mais ou menos importante a pontos da narrativa que estão fora de controle do narrador-astrólogo. As associações simbólicas nascidas na mente de cada uma das mulheres sentidos e significados atribuídos surgem de suas vivências subjetivas.

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2.3) Astrologia: definições e contextualização sociocultural

Há séculos o homem estuda o céu na busca de respostas. Desde os tempos mais remotos, as estrelas de um mesmo agrupamento eram interligadas por linhas imaginárias que traçavam desenhos, aos quais eram designados diversos nomes pelos antigos. Tratam-se do ponto de partida das constelações. Cada constelação possui uma história, relacionada a um mito pelos povos primitivos.

O zodíaco astrológico difere do astronômico, ou sideral. Trata-se de uma zona circular na esfera celeste que a astrologia, para efeitos de estudo, divide em doze partes iguais, os signos. Cada zona ocupa 30° de longitude e é batizada conforme a constelação mais próxima. O mapa astrológico baseado neste zodíaco trata-se de um esquema desenhado no céu, como uma fotografia para definir aquele momento e o conjunto de todos os seus símbolos, que detalha a jornada, o projeto do ser de cada pessoa.

Consoante Costa a tradição histórica da astrologia, só pode ser compreendida a partir das concepções de mundo nas quais se desenvolveram seu pensamento e nesse sentido estas se revelam diversificadas e em alguns casos, contraditórias. Não existe uma astrologia, mas astrologias, tantas quantas forem os contextos culturais.

A astrologia pode ser definida como a busca de conexões entre fenômenos celestes e acontecimentos na terra. No entanto, essa correlação se diferencia da Astronomia, que é a ciência matemática dos astros, pois a astrologia está baseada na qualidade do tempo e não na medida e duração exata das dimensões planetárias. Para compreender a relação entre planetas e acontecimentos astrais, os astrólogos trabalham com o princípio de correspondência, na qual se considera a qualidade do tempo e não a quantidade.

O princípio da correspondência é definido como um postulado simbólico “o que está em cima, é como o que está embaixo”, oriundo de um antigo texto denominado “Caibalion”, estudo da filosofia hermética do antigo Egito e da Grécia. Na astrologia, este postulado relaciona fenômenos no céu com eventos que ocorrem na Terra, mediante “coincidências” significativas e daí extrair sinais e símbolos.

Consoante o historiador Stuckrad, os astrólogos não têm um consenso para explicar esta correspondência, princípio, que, no entanto, se traduz como similar ao utilizado nas ciências esotéricas, uma vez que estas pressupõem os diversos níveis de realidade, os quais constituem partes visíveis e invisíveis do universo.

Jung denomina o pensamento por correspondência de sincronicidade. Tal conceito se contrapõe ao modelo cartesiano, determinista, que a postula a ligação entre a causa e o efeito como fundamental. Já no princípio da sincronicidade, os termos de uma coincidência significativa são ligados pela simultaneidade e pelo significado. Portanto um conteúdo inesperado, que está ligado direta ou indiretamente a um acontecimento objetivo exterior, coincide com um estado psíquico ou subjetivo importante. Mediante a sincronicidade que se explica porque o mapa astral, ou horóscopo calcula-se se baseando no momento da primeira respiração do ser, pois simbolicamente esta é a hora em que a criança recém-nascida inicia seu ritmo individual, com a grande totalidade da vida ao seu redor.

Nesse contexto simbólico, o universo é concebido como um teatro de espelhos, em que mudanças ocorrem paralelas em outros níveis de realidade, baseando-se em uma linguagem e paradigmas próprios. Kuhn popularizou o termo paradigma, para toda a comunidade científica, ao postular que verdades, por mais racionais e comprovadas que sejam, são sempre posições, ideias e procedimentos de verificação de conhecimento, compartilhados num contexto histórico. Hieróglifos da natureza são decifrados, através do conhecimento das correspondências. Portanto, a ideia de natureza viva entende o cosmos como sistema complexo, possuidor de alma.

Estudos da pré- História e da Idade Antiga deparam-se com o problema de encontrar registros arqueológicos da astrologia, que não podem ser interpretados com documentos escritos. No ano 2002, um achado arqueológico encontrado na cidade de Nebra, Alemanha, mostrava um disco com a representação do céu, talhado por espadas de bronze, decorado com 32 estrelas de ouro, representando o sol e a lua. Esta é a representação mais antiga de uma cosmologia europeia antiga.

Sabe-se que a astrologia estava difundida pela antiguidade, já que o homem primitivo considerava o sol, a lua, os planetas e estrelas fixas como deuses ou princípios divinos. Enquanto estudiosos do antigo Oriente atribuíam o nascimento clássico da astrologia à região da mesopotâmia, outros registros apontam que ela provém da Babilônia, passando para Grécia ou Roma.

Não se trata de uma tarefa fácil responder em que cultura e época a astrologia iniciou com exatidão, pois estudiosos sérios do assunto são unânimes em afirmar que o que se possui são apenas alguns rastros de sua existência, não provas imbatíveis.

Os trabalhos do astrólogo alexandrino Claudius Ptolomeu, denominado Tetrabiblos, escrito no séc. I d. C mais conhecido como “Quatro livros de influência sobre as estrelas” trata-se do primeiro trabalho registrado acerca do qual a astrologia ocidental em destaque hoje se originou. Ptolomeu também produziu 13 livros denominados “A Grande Construção”, que possuem o conhecimento dos fenômenos do mundo, neste descrevendo a visão astronômica. Na Grécia a astrologia vinculou-se bastante ao pensamento mitológico, utilizado como analogia simbólica.

Rudhyar propõe como estágio de partida para a contextualização histórica da astrologia, diferenciá-la em astrologia estruturada em estágios precedentes anímica, vitalista e moderna em quanto Stuckrad propõe correntes de interpretação astral-mitológicas. Nas duas concepções, pode-se também estabelecer uma contextualização da história astrológica até chegar à astrologia psicológica, investigada nesta pesquisa.

Traçando um paralelo de períodos da astrologia com fases do desenvolvimento humano acompanha-se a sucessiva transformação da atitude do homem ante os fenômenos naturais.

A astrologia do estágio animista corresponde à fase em que o homem vive em fusão com a natureza, sem diferenciar o seu próprio eu do exterior, numa identificação psicológica e inconsciente com o mundo. Num estado de participação mística, termo cunhado por Levy Bruhl, o homem referia tudo a si mesmo, personificava imagens da natureza, vivendo num universo povoado por projeções de reações. Assim o Sol e a Lua, simbolizam, respectivamente, espírito da luz e das trevas e as estrelas são “grandes espíritos” semelhantes aos totens. O sistema astrológico desse período apresenta uma lógica comparável à dos sistemas totêmicos que foram analisados por Lévi-Strauss.

No estágio vitalista, oriundo da antiga Caldéia, onde se estudavam os fenômenos celestes vinculados às mudanças de estações. Rudhyar afirma que os movimentos do Sol e da Lua tornaram-se a base do sistema astrológico. A natureza já trabalhava em harmonia com os processos humanos, pois a consciência fornecia poder e controle sobre o que outrora era desconhecido. Conhecendo as leis da natureza, o homem movia-se e possuía existência própria. O animismo revelava, pois, o ser humano como apenas uma entre as diversas entidades em luta pela sobrevivência na natureza e o vitalismo como o ser que pode nomear a vida.

Historicamente, esse período referia-se a uma fase do desenvolvimento humano em que começava a se inserir a ideia de trabalho, produção mediante o cultivo, pastoreio e tentativa de harmonização com processos vitais. Uma parte do homem estava “domesticada”, sua consciência, salvaguardada das forças malévolas, antes projetadas no cosmos. Conforme postulou Rudhyar, nesse estágio do desenvolvimento humano, a astrologia passa a ter importância fundamental, pois aqui lida com um conhecimento organizado baseado na observação da periodicidade dos processos vitais. Surgem os ciclos de mudanças solares e os solstícios e equinócios. O conhecimento das movimentações solares e lunares salvava o homem de safras arruinadas, da fome e do caos.

Até 600 a. C, então, a astrologia baseava-se no concreto, no corpóreo e observável. Os símbolos eram interpretados como deuses porque a consciência humana era vivida como biológica.

Em vários períodos e contextos da História a Astrologia era utilizada por Imperadores e reis, como forma oracular. Inicialmente, no império Romano, a intensa discussão filosófica em torno da ciência dos astros, especialmente com a criação do Tetrabiblos, de Ptolomeu, instigavam os estudiosos, a elite grega, a sintetizar o conhecimento astrológico herdado.

Segundo Stuckrad os astrólogos passaram por momentos difíceis no Império Romano. Punidos com a pena de morte em razão de suas profecias, a partir do momento em que houve a primazia do cristianismo, com a conversão do Imperador Constantino em 313 d.C. A astrologia foi então combatida por poder político ou explorada pelas mesmas razões. Tornou-se, pois, alvo dos tribunais cristãos, em que astrólogos precisavam se defender da acusação de alta traição e na Idade média, conhecida como período das trevas, em que eram acusados de hereges.

Stuckrad resume, em sua obra, várias passagens da história da astrologia, na qual se encontram influências desta em abordagens religiosas e filosóficas, as quais serviam ou não a interesses políticos. Aponta também que em diversas religiões ditas monoteístas, como o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, opositoras à astrologia na atualidade, encontram-se enormes influências exercidas pela astrologia nos “bastidores”. Cita, por exemplo, que os judeus conservavam tratados completos sobre a astrologia (rabinos do Talmude babilônico) e menciona Abraão como o pai da astrologia.

Durante o período que passou entre Idade Média e Renascença, a astrologia legada pelo mundo greco-latino de Ptolomeu floresceu, oras às claras, oras na obscuridade, alimentada pela curiosidade insaciável do ser humano de dar significado ao universo:

O tipo e a classe que os fenômenos da natureza que a astrologia correlaciona e dá significado e interpreta se transformam no decorrer do tempo, sendo a princípio cósmicos e elementais, agora, psicológicos e mentais. No entanto, seu trabalho fundamental continuará sempre o mesmo. É revelar a harmonia das esferas em qualquer nível que a consciência humana exista, trazendo consigo o trabalho de promover símbolo e significado onde quer que o ser humano habite.

(Rudhyar)

A Astrologia Humanista cujo precursor foi Rudhyar, difere da Astrologia Tradicional, pois coloca o homem no centro do mapa, quando afirma que este apenas delineia conflitos e potencialidades. Fundamenta-se no princípio de que o homem é um ser consciente e responsável por suas escolhas. Assim como uma macieira contém em sua semente o potencial para seu desenvolvimento pleno de seus frutos, folhas e estrutura específica, mas o mau tempo, o solo pouco fértil, as tempestades podem interferir em seu desenvolvimento, o homem também possui potenciais em seu mapa astral, cujo desenrolar depende de suas escolhas e contexto.

Conforme o adágio rememorado por Ptolomeu, reformulado aqui: “o sábio rege suas estrelas, o ignorante é regido por elas”. Portanto, o ser humano é proativo, tem responsabilidade por suas próprias escolhas, sendo o “dono” de seu mapa. Pode compor sua narrativa com os elementos que a natureza lhe deu. Se a vida é um teatro e o mapa uma peça desta, o homem pode ser considerado o diretor deste enredo cósmico.

4) Percurso Metodológico: Intervenção Astrológica

Hans Sebald Beham - astrologia

Há pouco mais de 10 anos a autora desta pesquisa desenvolve estudos em Astrologia. O início deste percurso ocorreu quando tive meu próprio mapa natal narrado por um astrólogo sui generis, que conheci no evento da Bienal de livros, na cidade ariana de Fortaleza, terra do sol e da luz. Eu era estudante de Psicologia e iniciava meu contato com a Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung. Embora não tenha absorvido totalmente a narrativa do referido astrólogo, uma chama brilhou no meu íntimo. Cabe ressaltar que me utilizo da palavra “narrativa” e não interpretação porque um mapa conta uma história por meio de eventos, numa temporalidade própria situada por símbolos e imagens míticas. Já o termo interpretação é ambíguo, pois pode sugerir que apenas um dos interlocutores confere significado ou comunica algo. A sensação de que esse “drama” desvelado a partir de planetas, elementos, contatos, aspectos e trânsitos tocava minha alma, como uma antiga melodia, despertou o estado de sonolência da minha consciência. Este processo de despertar transformou-se no desejo de compreender os fios que constituíam a teia do mapa astrológico e o fascínio et temendus que exercera sobre mim. A busca pela literatura astrológica culminou num encontro, em um antigo sebo da cidade, de vários preciosos livros assinados por “Célia”. Posteriormente descobri que este nome feminino pertencia a uma mulher que já havia falecido. Tratava de uma astróloga e pesquisadora cujo professor foi Guy Taillade, também estudioso astrólogo francês que conheci pessoalmente anos depois. Assim, os presentes dessa “mestra invisível” durante alguns anos nutriram e formaram a base do meu conhecimento astrológico, juntamente com a vivencia de estudo e análise de vários mapas com clientes. Esta foi a matéria-prima de iniciação na minha jornada astrológica. Durante o caminho me deparei com heróis e anti-heróis, conquistas e desafios, vendo a luz e a sombra da Astrologia. Encontrei modelos de atuação bem como profissionais presos aos enrijecidos métodos de leitura e interpretação, como se uma cartilha tivesse que ser seguida.

Anos depois, observei que a experiência com vários clientes apontava para uma mudança na forma tradicional de trabalhar com os mapas. Ao recordar da minha primeira vivencia com o mapa astrológico, identifiquei que o que realmente importou fora o diálogo estabelecido a partir do impacto, impressões e reflexões oriundos da narrativa do astrólogo isto fora o primordial e que o mesmo acontecia com os clientes. A tarefa de cuidar da própria alma iniciava quando se abria o espaço para o cliente observar sua vida, compartilhando o que vinha no seu íntimo, utilizando sua própria forma de expressão. Segundo Ricoeur, “o texto só se torna obra na interação entre texto e receptor”. Percebi que encontra-se um ponto de interseção de mundos entre o horizonte do leitor do mapa e daquele que o escuta, pois dialoga com ele. Esses mistérios individuais só são partilhados se o outro se sente acolhido, sendo o relacionamento com o astrólogo de fundamental importância. A simetria nessa relação é fundamental, pois caso contrário se estabelece uma crença de que o astrólogo possui todo o conhecimento, repetindo o modelo de poder tão duramente criticado no modelo hegemônico biomédico. A partir dessa constatação, procurei compreender como era este estilo de leitura que gerava no cliente a sensação de acolhimento, palavra utilizada na saúde coletiva para identificar as tecnologias leves do cuidar, que valorizam as competências humanas em detrimento das intervenções medicalizantes.

Existem indicadores de depressão na astrologia. Os trânsitos do planeta Saturno, os considerados mais desafiadores, uma vez que são vivenciados através de dificuldades e perdas dolorosas, simbolizando um processo psíquico significativo, natural aos seres humanos, pois mediante o autoconhecimento e disciplina pode-se rever e reavaliar as estruturas da vida que está sendo conduzida. Saturno é um planeta lento, e demora cerca de 29 anos para completar o ciclo completo em volta do Sol e se juntar consigo mesmo novamente. No período sete anos ele também forma aspectos menores, marcando etapas importantes da vida. Saturno no mapa natal é sinônimo de pai, de autoridade estrutura. Este ciclo de 7 anos também coincide com o ciclo Lunar, o que reforça as crises de cunho emocional se sobrepondo ao ciclo de Saturno.

A crise será maior quanto mais difícil for a posição de Saturno em seu Mapa Natal. Ou seja, se Saturno forma aspectos com os luminares (Sol e Lua do Mapa Natal), que são determinantes para o desenvolvimento da sua personalidade, a crise será muito sentida. Se formar aspectos tensos com outros planetas maléficos (Marte ou Urano, por exemplo) também poderá ser muito marcante.

Na literatura astrológica, a partir dos 29 anos, esses trânsitos podem favorecer a ocorrência de depressão por tratar-se de um período de experiências marcantes. O próximo ciclo é a oposição de Saturno consigo mesmo, por volta dos 44 anos. Aqui a pessoa se sente madura precisar estabelecer nova relação com ela mesma, assumindo um novo ciclo dentro de sua existência.

Um pouco antes dos 59 anos, toda a história pode se inverter e o retorno de Saturno encontra a pessoa num ciclo positivo, que depende de como se aprendeu a lição durante todo esse tempo. Adentra na ‘melhor idade’ realmente melhorado, usufruindo frutos de toda uma vida, resultando num sentimento de realização e confiança. Porém, se não lidou bem com as dificuldades, depara-se novamente com obstáculos e restrições. Outro ciclo importante acontece por volta dos 73 anos (é um período de baixa, pois acontece novamente uma oposição Saturno/Saturno), que diminui a energia física.

Antes de descrever a intervenção é importante esclarecer objetivamente alguns pontos sobre a os elementos simbólicos do mapa astrológico. No momento do nascimento, nasce um grande símbolo, o mapa, que possibilita a compreensão de uma jornada em caminho da vida espiritual, no sentido da busca de significado, como postulou Jung. Este caminho, com seus potenciais e desafios, atua como um “DNA cósmico”. Portanto, pode ou não ser realizado. É uma escolha pessoal de um processo repleto de desafios, como a jornada do herói. Esses desafios são representados pelos trânsitos planetários. Estes acionam os planetas do mapa natal do sujeito.

O mapa astrológico possui uma linguagem própria, simbólica. Símbolo difere de signo, pois o último designa algo representado por uma imagem, por exemplo, “proibido” com uma placa X ou Brasil com o a bandeira, enquanto o símbolo move a energia psíquica, encontrando imagens significativas do inconsciente. Símbolo é a melhor forma que o inconsciente encontrou para representar uma qualidade psíquica sendo inesgotável. Quando isso acontece, passa a ser apenas signo. Para compreendermos a linguagem da astrologia temos que considerar a totalidade de várias forças em interação. No universo tudo é energia e astrologicamente esta se expressa em polaridades: positivo e negativo, luz e sombra, ying e yang, tomando estes últimos conceitos emprestados da filosofia oriental. Planetas e luminares personificam expressões energéticas ou representações de forças instintivas da psique, constituindo a base do mapa. Cada planeta possui um tipo de condução dessa energia nos mais variados níveis, vinculadas a funções ou qualidades básicas ou essência arquetípicas.

Os doze signos são imagens específicas que dão vida e expressão às energias planetárias, descrevendo o modo de canalizarmos as energias mobilizadas pelos 8 planetas e luminares (Sol e Lua). Psicologicamente, cada signo se refere a uma etapa do desenvolvimento da consciência. A simbologia dos doze encontra-se presente em várias culturas e tradições, como na mitologia grega com os 12 trabalhos de Hércules e na tradição cristã (os 12 apóstolos, retratados no quadro de Leonardo da Vinci, a Santa Ceia).

(…)

Não há destino traçado, o ser é definido pelas escolhas realizadas, ambiente social e familiar no qual a pessoa nasce. Autores da astrologia psicológica seguem o mesmo pressuposto da linha humanista, recorrendo à concepção de que o mapa astral ou horóscopo é a representação simbólica da psique humana (microcosmo), que faz parte do universo (macrocosmo). Tais autores se utilizam de conceitos de base junguiana, como processo de individuação, Self, Sombra, Persona, Símbolo, Arquétipo, Anima-Animus, bem como estabelecem analogias dos planetas e signos com mitos Greco Romanos. Também recorrem à pedra fundamental da teoria de Jung que é a existência das polaridades, bem como a necessidade do intercâmbio criativo entre estas. O conceito de individuação, que se trata do processo de cada ser humano de encontrar uma conexão do seu ego com seu Self, diferenciando-se do coletivo, mas contribuindo com este com sua energia peculiar e única é o cerne do pensamento dos astrólogos que seguem esta linha psicológica.

O desenvolvimento de um método de leitura astrológica enquanto intervenção dentro de um enquadre cultural mais amplo, em situação sócio cultural desfavorecida visa compreender qual significado desta experiência. Para a escolha do campo de pesquisa, buscou-se um território de relevância às necessidades sociais de pessoas em condições desfavorecidas, cuja acessibilidade à temática fosse facilitada. O estudo antropológico, pela sua profundidade, envolve familiaridade e imersão no campo de pesquisa, estabelecimento do vínculo com os informantes e disponibilidade de tempo. Portanto, foi feito um levantamento, anteriormente, de territórios com potencialidade para desenvolvimento do estudo.

O local, por fim escolhido para o desenvolvimento desta pesquisa foi o CAPS II (Centro de atenção psicossocial) comunitário do Bom Jardim, ligado ao Movimento de Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim (MSMCBJ). O referido CAPS situa-se na Rua Bom Jesus, 940, no Parque Santo Amaro, na área da Secretaria Executiva Regional (SER V), na cidade de Fortaleza-CE. Inserida num contexto no qual existem muitas desigualdades sociais, violência e sofrimento, a população do Bom Jardim, apresenta baixo índice de IDH e 30% da população do Bom Jardim vive abaixo da linha da pobreza. Trata-se de um bairro de Fortaleza, cidade do nordeste brasileiro, que atualmente possuí 2.452.185 milhões de habitantes (IBGE, 2010), localizado na área da Secretaria Executiva Regional V. Estimativas apontam que residem cerca de 200 mil habitantes nesta regional (IBGE, 2010). O Bom Jardim situa-se à periferia da cidade, cheio de miséria, desemprego, marginalização e violência. Entretanto, trata-se de uma comunidade com uma tradição de abertura à temática da espiritualidade e práticas alternativas, portanto mais receptiva a abordagem da astrologia enquanto linguagem do cuidado. Além disso, um dos Psiquiatras atuantes no serviço do CAPS, ao conhecer a pesquisa, revelou-se motivado, facilitando para a pesquisadora a entrada no campo.

(…)

Na primeira etapa da pesquisa, para imersão no campo, as pesquisadoras contaram com a ajuda da Psicóloga do serviço e estudaram dispositivos existentes no local para tratamento da depressão, com receptividade às práticas terapêuticas alternativas nos cuidados em saúde. Dentre as pacientes que buscaram o CAPs para tratamento psiquiátrico para depressão, selecionamos 20 mulheres para investigação do pensar e agir popular sobre a astrologia já existente entre mulheres de baixa renda. Os critérios de inclusão foram o tempo de tratamento medicamentoso superior a 1 ano e 6 meses, além do conhecimento da data, local e hora do nascimento, dados imprescindíveis para o calculo do mapa astrológico.

Na segunda etapa, foram selecionadas cinco informantes para estudo em profundidade da depressão e realização da intervenção com o mapa astrológico. A idade das informantes variou entre 32 a 51 anos. Quatro são casadas e uma é divorciada. Dentre as cinco, apenas uma trabalha fora de casa. Quanto à escolaridade, duas terminaram o Ensino Fundamental e três, o Ensino Médio.

A intervenção a partir da narrativa do mapa astral se desenvolveu nas seguintes etapas:

1. Com os dados de nascimento (dia, mês, ano, local do nascimento horário) a pesquisadora calculou o mapa astrológico através do programa Vega Plus Software Profissional. Depois de efetuado o cálculo do mapa astrológico com auxílio do programa, será realizada a narrativa deste mapa, a partir da interpretação da mandala astrológica.

2. Elabora-se um estudo dos elementos simbólicos do mapa como foi descrito anteriormente, pois os programas apresentem com precisão as posições planetárias e seu significado em relatórios, estes são padronizados. A interpretação não depende do programa, mas do leitura do astrólogo, por meio do conhecimento dos elementos simbólicos do mapa astral seguindo o roteiro para facilitar a compreensão: os 4 elementos ( terra, água, ar e fogo), sua distribuição no mapa, a abordagem das 12 casas, cada uma se relacionando uma área específica da vida, os 12 signos em combinação com os planetas e luminares conforme casas astrológicas e aspectos que formam entre si, respectivamente: análise do Sol, Lua, Ascendente (primeiro signo que surge no horizonte após o nascimento), Mercúrio, Marte, Vênus, Saturno, Júpiter, Netuno, Urano e Plutão, nas casas em que se encontram. Serão considerados os aspectos benéficos e maléficos que estes formam entre si (Planetas geram campos de energia entre si que podem ser positivos ou negativos).

3. Para contextualizar os símbolos astrológicos na realidade cultural das informantes, analogias com mitos e imagens foram elaboradas antes de encontrar com as informantes, a partir de do estudo do mapa. Nesta etapa segue-se uma metodologia, porém algum aspecto do todo pode chamar mais atenção, como a predominância de um elemento, ou ênfase em um planeta, ou aspectos planetários tensos. No caso da depressão buscam-se possíveis indicadores e mitos ou metáforas para facilitar a compreensão A própria maneira se apresentar o mapa astrológico recorre às imagens que podem ser literais visando facilitar a compreensão. Por exemplo, associação da mandala, com a imagem do globo terrestre, os elementos água, fogo, terra e ar com imagens da própria natureza.

4. Momento do encontro para narrativa do mapa astrológico. A pesquisadora parte do ponto que na sua interpretação, destacou-se como mais importante. As informantes foram esclarecidas de que poderiam interagir, perguntar, comentar, durante a narrativa do mapa. A partir da interação existente no momento do encontro, da reação perante um conto de fadas ou uma lenda, ou analogia com posicionamentos do mapa, a pesquisadora identificava os pontos mais importantes que são aprofundados por meio de indagações de como a informante Os encontros foram gravados e transcritos.

5. Para finalizar realizamos etnoavaliação, através de entrevista aberta, com as perguntas norteadoras: (1) O que você percebeu ao escutar esta história que lhe foi contada no mapa? (2) O que você identificou, ao ouvir a história do seu mapa astral, como algo importante para ajudá-la neste momento da vida de depressão/ sofrimento? (3) Que passagens mais chamaram a sua atenção? O que elas despertaram em você? Intercaladas com as entrevistas abertas e aprofundadas, as informantes foram incentivadas a discorrer livremente sobre seus sintomas, explicações etiológicas contando abertamente seus sofrimentos e aflições. As etapas da coleta de dados foram realizadas no CAPs e também na residência das informantes, para facilitar o rapport (elo afetivo) entre as pesquisadoras, aproximando-as de suas realidades sociocultural.

5.1) Introdução

Opnamedatum: 16-04-2008

A depressão é um grave problema de saúde pública, gerador de altos custos para o os sistemas de saúde em todo o mundo. A previsão para o ano 2020 é a de que será a segunda causa de incapacitação para o trabalho em países desenvolvidos e a primeira em países em desenvolvimento, como o Brasil. Na atualidade esta antiga e complexa doença é considerada o “mal do século”. Para a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento versão 10 (CID-10), manual estatístico adotado pela APA6, e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão é reduzida apenas a um tipo de transtorno humor. Seus principais sintomas são o rebaixamento do humor, fadiga, diminuição nos interesses ou prazer nas atividades diárias, pensamentos lentos, sentimento de culpa, isolamento, baixa autoestima, ideação suicida, alteração de sono, memória, concentração e libido. Nos moldes da OMS, para efeitos de diagnóstico pelo menos três desses sintomas devem existir no período de mais de duas semanas. Os tratamentos mais indicados são predominantemente medicamentosos, com a sugestão da terapia como complementar, sendo a terapia cognitivo-comportamental a de maior eficácia. Porém ainda existem casos que mesmo tratados com os mais modernos medicamentos, não apresentam a cura, nem remissões de sinais sintomas dentro dos moldes biomédicos. Há nesta visão biomédica a dicotomia da categoria sujeito/ objeto, que nem a própria física moderna reconhece.

As dores, traumas, excessos de alegria sofrimento passam pelo processo de medicalização da vida. Esta postura não escuta a voz do sujeito que vivencia a depressão sendo o paradigma biomédico reducionista e determinista.

Entretanto, para a compreensão a depressão na voz do paciente, buscando significado dentro do seu mundo subjetivo, faz-se necessário desvelar como este percebe e reage diante dos sintomas e sua construção sociocultural. No encontro clínico, os preconceitos, impressões e conjecturas do profissional de saúde encaixam o paciente numa categoria fixa de diagnóstico desconsiderando a experiência vivida e impondo barreiras à conexão do mundo interior do paciente. A partir da narrativa da enfermidade (illness), pode-se conhecer profundamente como os problemas da vida são criados, vividos e quais os seus significados, pois o sofrimento é descrito na visão de mundo do paciente. Transcende-se a dicotomia sujeito-objeto na compreensão dos fatos e obras humanas. Este conceito (illness) explicita a polifonia de sentidos e valores presentes nas diversas culturas. As pessoas deprimidas trazem as marcas do trauma, sofrimento e do estigma social.

É nesse ínterim que a Política Nacional de Praticas Integrativas Complementares (PNPIC) no SUS (Sistema único de Saúde) contempla sistemas terapêuticos alternativos baseados em estimular mecanismos naturais de prevenção de agravos da saúde. Está consonante com o objetivo da Organização Mundial de Saúde (OMS), que foca a saúde, não na doença. Atualmente, são consideradas práticas integrativas a acupuntura, práticas corporais, homeopatia, medicina chinesa, medicina antroposófica, fitoterapia, crenoterapia. Todas estas práticas possuem filosofias e pensamentos que envolvem um pensar transcendentes, cujo sistema epistemológico que as fundamenta não se restringe ao olhar positivista sobre a doença.

No entanto, há outros sistemas terapêuticos que estão excluídos da PNPIC, como a astrologia. Popularmente conhecida como “ciência das estrelas”, é praticada há milênios, nas suas mais diversas formas, por diversas culturas no mundo. Hoje está redefinida sob a ótica de paradigmas mais holísticos, trazendo a linguagem astrológica para um contexto mais vivencial, acessível aos leigos, através do uso de mitos, metáforas, meditações e oficinas terapêuticas. A simbologia astrológica ultrapassa os limites cartesianos, pois remete o homem à busca do significado enquanto ser cósmico inserido na vida. De modo a transcender a racionalidade e buscando uma atuação coerente com a diversidade das experiências no cuidar do processo saúde-doença, especialmente da expressão criativa, a astrologia mediante o modelo narrativo e simbólico pode vir a ser uma nova tecnologia do cuidado na depressão. Portanto, objetivamos descrever o impacto da intervenção da leitura do mapa astrológico sobre o estado de depressão/sofrimento na percepção de mulheres deprimidas.

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5.3) Resultados

Beham

5.31) Mundo de sofrimento

Nossas informantes chegam ao CAPs do Bom Jardim com a expectativa de encontrar alívio para os vários tipos de aflições. A busca se inicia, para a maioria, quando a vida está paralisada, como afirma Violeta, 40 anos: “Eu não tinha vontade para nada de levantar, tomar banho, nem mesmo escovar os dentes”. Sem conseguir desenvolver atividades básicas como cuidar da casa e de si mesmas, despertam a preocupação das pessoas de convivência íntima, como a família e amigos. Inicialmente, consideram “bobagens”, “preguiça”, mas com a persistência dos sintomas insistem para que a informante busque ajuda. Estas têm dificuldade de aceitarem possuir uma doença de origem mental, que ainda desconhecem a causa e origem. Explicam que a resistência ao diagnóstico de depressão se deve ao preconceito das pessoas. Amélia, 51 anos, desconfia de estranha e oculta que realiza tratamento no Caps: “Tem gente que não entende e acha que é frescura, ou que você é fraca da cabeça”. Mesmo com a preocupação dos familiares, as informantes percebem que ninguém compreende o que se passa com elas. Sentem-se rejeitadas e isoladas do convívio com outras pessoas, como ilustra Flora, 41 anos, que não consegue manter amigos por muito tempo: “Sinto como se os outros achassem que minha energia é ruim e daí não me querem perto”. É como se uma “nuvem negra” pairasse acima da cabeça, carregando negatividades.

A “vida deprimente” envolve diversos tipos de sofrimento: subjetivos, sociais e corporais. A tristeza, a falta de autoestima, o desejo de morrer, que envolvem a subjetividade de cada mulher, se relaciona aos padecimentos físicos, como a sensação de dores difusas, que não sabem exatamente identificam onde começa ou termina. O descuido com a aparência, sentimento de “cansaço”, “cabeça confusa”, “desânimo”, “desfalecimento”, “juntas fracas” e “sono agitado”. As dores da alma estão encravadas no corpo através de somatizações que dificultam a realização das atividades cotidianas. A falta de sentido para viver enfraquece os vínculos familiares e os laços sociais, gerando sentimento de solidão, como nos relata Rosa: “Minha mãe fica preocupada, às vezes eu não sei lidar com isso direito, ela menos ainda, porque me irrito com a presença dela e outras vezes eu quero mais e mais atenção”.

Observamos que a origem desse mundo de sofrimento só é compreendida quando adentramos na história pessoal de cada uma de nossas informantes, que lhe atribui uma rede de acontecimentos e significados, contextualizando o sofrimento. Nas depressões mais graves, acontecimentos e histórias de vida não são resignificados, cristalizando o vazio e a dor. Em todos os casos, existe um acontecimento que dispara a depressão estagnando o fluxo vital. As narrativas relacionam a depressão com a falta de sentido para a vida, pois nossas informantes sentem que tudo ao seu redor é um “fardo” escuro e sem graça. Os traumas gerados por vários tipos de perda, como a morte, afastamento ou separação de uma pessoa importante na vida, geram “abalo emocional”, carência, sensação de fragilidade e dependência. A maioria das informantes acredita que crença religiosa pode curá-las da depressão, como afirma Flora:“Se eu acreditasse em alguma coisa, poderia sair desse buraco negro que me puxa”. A busca do sentido caminha ao lado com a tentativa de resgate na fé e em si mesmas, que as puxa para dentro de seus próprios buracos internos.

A espiritualidade bem como diversos tipos de crenças religiosas florescem no Bom Jardim como um caminho para a cura. Embora todas as informantes afirmem que são católicas, a maioria relata que experimentou outros tipos de rituais religiosos, como ir a um culto evangélico, participar de corrente de cura (influência dos pretos velhos da Umbanda), frequentar um Centro Espírita. Uma das informantes, Flora, nos momentos de tristeza e isolamento, afirma criar “cadernos espirituais” e neles escreve suas experiências místicas, sentimentos de ligação com espíritos, que são compreendidos pelos familiares como acessos de “loucura”. Caminham em busca de outras formas de cuidado, direções, sentidos e significados para o rótulo diagnostico de depressão.

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Hans Sebald Beham

5.3.3) Depressão da Rosa: “rasteira pelas costas”

Em busca de um sentido para este mundo de sofrimento, a paciente chega ao consultório psiquiátrico com uma queixa. Com suas próprias palavras, narra intensamente seu sofrimento. O médico lhe escuta e traduz sua narrativa em sinais e sintomas, definindo um diagnóstico preciso, em moldes biomédico e reducionista. Baseado no diagnostico específico, um curso medicamentoso é prescrito.

Rosa: “Estou com muito medo, não vejo mais sentido para nada, nem sei quando tudo começou. (silêncio). Sofri três estupros, no último quase morri e todo dia eu me lembro disso, penso nisso. Um foi quando eu era pequena por um vizinho, que meu pai matou. Depois foi meu ex-marido, sinto que a minha tristeza é como as rasteiras, me atinge pelas costas. Travei para a arte e para a vida. Sinto muita falta de interpretar, de dançar…”.

Psiquiatra: Diagnóstico de depressão moderada, 3 anos de tratamento com rivotril 2,5 mg, fluoxetina e amitriptilina, 0,25, pontuação de 38 escores na escala Beck, cujos itens indicadores de depressão mais altos foram tristeza, perda do prazer, sentimento de culpa, e autopunição, alteração do sono e ideação suicida, respectivamente. Paciente com depressão refratária ao tratamento medicamentoso.

Rosa expressa sua dor e medo, revelando a traumática experiência vivida de vários abusos sexuais. As crises de tristeza são comparadas a algo traiçoeiro, que surgem “pelas costas”, quando menos espera, quando afirma: “minha tristeza é como as rasteiras, me atinge pelas costas”. Já no prontuário médico não encontramos a descrição dos sentimentos revelados pela paciente. Ele traduz as expressões afetivas em sintomas clássicos que definem a depressão, como perda do prazer, sentimento de culpa e ideação suicida. Os procedimentos são padronizados e generalizados, desconsiderando a subjetividade da narrativa da paciente. O psiquiatra prescreve como tratamento medicamentos que na concepção biomédica não curaram a depressão de Rosa, tratada como “refratária”. O prognóstico é pessimista. Rosa, no entanto, revela caminhos para reencontrar a o prazer pela vida, quando afirma que sente falta de interpretar e dançar.

5.3.4) Depressão da Violeta: “sem vontade”

Conduzida pelos familiares para o atendimento psiquiátrico, Violeta revela com dificuldade, o seu desânimo. O médico compreende sua narrativa como uma grave depressão, que não responde ao tratamento biomédico, definido através de sinais e sintomas que detectam a depressão de acordo com o CDI-10.

Violeta: “Fui sentindo que estava fraca, fraca, sem vontade de levantar da cama, de acordar, deixava as panelas queimando (…). Meus filhos não estão mais em casa… (…) Como se o corpo que me arrastasse. podia me deixar ali o dia todinho, que se ninguém falasse comigo eu já nem ligava mais (…). Era nada”.

Psiquiatra: Diagnóstico de depressão grave sem sintomas psicóticos. Isolamento social, dificuldade de realizar as tarefas cotidianas, quatro anos de tratamento com rivotril 2,5 mg, fluoxetina e amitriptilina, 0,25, pontuação de 38 escores na escala Beck, cujos itens indicadores de depressão mais altos foram tristeza, perda do prazer, sentimento de culpa, e autopunição, alteração do sono e ideação suicida, respectivamente. Mudança no protocolo do medicamento. Paciente com depressão refratária ao tratamento medicamentoso.

Violeta se considera “nada” e como possui esta autoimagem, não consegue encontrar forças para enfrentar o seu cotidiano, desinteressando-se do mundo ao seu redor. Não encontra forças em si mesma. Enquanto para seu médico é uma depressão apenas farmacológica. O médico identifica a tristeza, o sentimento se autopunição, mas não capta que a paciente relaciona a sua falta de vontade de viver à perda do papel de cuidadora do lar.

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Sebald Beham. die nacht

5.3.5) Astrologia no imaginário popular feminino:

Todas as mulheres que participaram da intervenção com o mapa astrológico atribuem sentidos quando lhes é mencionada a palavra “astrologia”. Elas reagem com admiração, curiosidade, esperança, surpresa. A compreensão leiga e significados atribuídos a este sistema simbólico desvela a existência de uma fusão de crenças populares. Uma das ideias nascidas do grupo do que seria a astrologia, expressa a fé na influência dos ciclos da natureza para curar ou adoecer as pessoas, integrando-se ao contexto da influência do cosmos como a temática abordada. As mulheres também relacionam este saber a um tipo de religião, magia ou conhecimento espiritual, que revela o caminho traçado no céu. As narrativas apontam que elas utilizam ou já ouviram falar de rituais para a “limpeza da alma”, com o uso de banhos com ervas, crença relacionada à astrologia. Esta afirmaria que de acordo com as fases da lua e dia do nascimento escolhe-se o melhor momento para a realização de banhos de cura.

Na visão de mundo de Rosa, 32 anos, educadora social, desempregada há cinco anos, a astrologia é uma forma de conhecer o estado da emocional da pessoa: “Tem uma mulher aqui no bairro que é como se fosse mãe da gente… pela data do nascimento diz rezas, a sorte no amor e o porquê do desfalecimento, do cansaço, esse esquecimento, essa tristeza. Isso não é astrologia?”. Já Flora, 41 anos, afirma que para ela os astros se relacionam a destino, definido no dia em que a pessoa nasce: “Quando a gente vem ao mundo e respira, tem alguma coisa no céu que fala tudo”.

Algumas mulheres revelaram sentimentos paradoxais de atração e desconfiança em relação à astrologia como ilustra a fala de Camélia, 50 anos, uma senhora bastante religiosa: “Acho que é o espaço vazio e também cheio de estrelas, desconhecido, que pode mostrar dor ou luz, pode ser verdade ou pura ilusão”. A imagem do “céu estrelado” remete algumas participantes da pesquisa ao mundo, com seus mistérios e possibilidades desconhecidas: “Esse azul cheio de estrelas, um panorama, sei lá onde que tudo isso vai dar”. Esta narrativa também se remete ao medo do que não se conhece, lança dúvida, mas também o desejo de que a astrologia transforme um “mundo escurecido” pelo sofrimento da depressão em “cores vivas”.

Encontramos uma mulher neste estudo com acesso a computadores e internet. O desenvolvimento tecnológico facilita o acesso à informação, fenômeno de globalização cultural que atinge a população de diversas classes sociais. Possibilita o conhecimento ao universo simbólico astrológico através da virtualidade. A necessidade de estar em conexão com o mundo virtual também é encontrada nesta população fragilizada, como nos revela Rosa, que mesmo vivendo numa situação financeira precária e se tratando de depressão há três anos, demonstra interesse para a investigação do seu próprio mapa astrológico. Apropria-se deste conhecimento através de um estudo autodidata através de sites, revistas virtuais e redes sociais. Menciona a palavra “mapa”, “signos”, “planetas”, “trânsitos”, “mitos”. Revela que desde adolescente lia revistas e jornais com “horóscopos”. Está convicta de que as características dos signos em jornais descrevem traços de personalidade e “flutuações no amor e na vida”.

5.3.6) Eficácia percebida da narrativa do mapa astrológico na depressão

Nestas entrevistas, a eficácia do mapa astrológico em mulheres deprimidas é atribuída ao menos cinco fatores: atribuir significados a história de vida, revelar segredos, descoberta de potencialidades, autoconhecimento (iluminando a vida apagada) e o contato e cuidado humanos. No entanto, outros fatores poderiam ser desvelados com mais narrativas. A seguir, vamos discutir em profundidade, o ponto específico encontrado em cada um dessas categorias.

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5.3.7) Flora: atribuindo sentido a uma história passada

A ressignificação do passado a partir de uma lembrança trazida para o presente é um ponto positivo do mapa relatado pelas nossas informantes. Com 41 anos, Flora nasceu com o sol no décimo signo da constelação do zodíaco, capricórnio, que corresponde aquele que representa a carreira e a posição social. Para a astrologia, o sol simboliza a essência da pessoa, que poderá ser despertada na sua jornada de vida. Explicamos para a informante que o signo solar é o centro do mapa e simboliza o mito do herói, pois é necessário batalha e esforço para fazê-lo brilhar, pois não nascemos automaticamente como heróis. Flora nos relata, neste momento, que nunca trabalhou fora de casa devido aos sintomas da depressão, diagnosticada e tratada há três anos, tratada com rivotril, fluoxetina e amitriptilina, sente “falta de energia”, “mente caótica” e a “alma pesarosa”. Durante a narrativa do mapa, dois momentos lhe chamaram atenção. Quando mostramos uma imagem do signo de capricórnio, um bode subindo a montanha, ela fez a associação de que precisava se “elevar”, referindo-se a sua condição de sofrimento. Em outro momento, mencionamos que a lua, símbolo dos padrões emocionais ligados ao passado, se encontrava no signo de libra. Este posicionamento revela a necessidade buscar equilíbrio dentro dos relacionamentos para sentir segurança afetivamente. O aspecto negativo é que deseja sempre agradar ou corresponder às expectativas dos outros. Flora identificou sua dependência emocional, relacionando o posicionamento da lua a momentos passados da sua vida: “Quando eu tinha ele (pai biológico de Flora), não tinha amizade com ninguém, para mim ele substituía tudo”. Afirma, assim, que quando o pai vivia, substituía todas as suas expectativas e carências afetivas. Não necessitava se relacionar com ninguém. Ela permanecia presa à infância, num estado de isolamento social e estagnação da própria vida.

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5.3.8) Rosa: revelando segredos

A confissão de fatos importantes da vida, ocultados seja por vergonha ou medo de julgamento é realizada por uma de nossas informantes a partir do mapa. Rosa, 32 anos, é uma canceriana, signo pertencente ao elemento água, que explicamos ser correspondente às emoções, mutáveis como as fases da lua. Neste momento ela relaciona as mudanças lunares às suas alterações de humor: “Fico agitada, agitada, depois completamente sem energia para nada, oscilo mesmo, nunca sei direito como vou acordar, as pessoas dizem que sou mesmo de lua”. Tratando-se de depressão há 4 anos , revela os abusos sexuais vivenciados durante a vida, no momento da narrativa do mapa em que falamos do planeta Plutão posicionado na casa VII, que remete a o outro interno (subjetivo) e externo (real). Explicamos a simbologia deste planeta narrando um mito grego, em que a transformação acontecia com o mergulho da personagem Perséfone às profundezas do mundo inferior de Hades. Durante a narrativa, para facilitar a compreensão, mostramos uma imagem de uma jovem mulher descendo escadas e adentrando um local escuro, para representar a entrada em um mundo oculto, de mistérios, o que permitiu que Rosa abrisse um botão importante da sua história de vida: “Minha mãe não sabe quem matou meu pai, dizem que ele foi assassinado por traficante, que morreu porque vingou minha honra (…) Só sei, tinha sete anos, num sei quem foi… Minha mãe não fala sobre nada, tendo escavucar e ela não diz”. Também revela com angústia seu sentimento de culpa por ter feito uma escolha por um homem que mentia e lhe enganava: “Me sentia mal porque mesmo ele me tratando como lixo (batia e tratava mal) eu gostava dele”, desabafando que aceitava seus abusos. Acrescenta ainda o segredo: “Ele era casado e eu não sabia e o romance era proibido”. Esta decepção emocional, que ela chama de “desencontros do coração”, lhe despertaram muita tristeza e sofrimento: “Piorei muito da minha aflição, emagreci foi muito, tinha dia que não dormia”.

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5.3.9) Camélia: descoberta de potenciais

O reconhecimento, em si mesma, de potencialidades, dons e habilidades que antes não identificava nela, mas que já existiam, se trata de uma redescoberta importante para esta informante a partir da narrativa do mapa. Camélia de 50 anos, assim como Rosa, nossa informante anterior, também nasceu com o sol no signo de câncer. Trata-se de depressão há 4 anos e já trocou de protocolo de medicamento três vezes, sem perceber melhoras. No mapa astrológico, seu ascendente, que na linguagem simbólica representa o signo que estava surgindo no horizonte leste no momento de seu nascimento, está no signo de Áries. Explicamos que o ascendente é como uma “máscara”, através da qual a pessoa revela sua essência. Significa também como a pessoa se inicia na vida: como foi seu nascimento, e como “nascem” seus projetos, amizades. Falando para nossa informante o símbolo de Áries é representado pelo animal carneiro, ela comenta: “Aquele bicho que pode ser calminho, calminho, mas também dá uns sustos com os chifres”. Confirmamos sua percepção, acrescentando que é um animal valente que enfrenta as batalhas dando “cabeçadas”, enfrentando a vida com coragem. Sendo este o seu ascendente, considera-se que ela lida com a vida de forma corajosa, com iniciativa e muita energia. Neste momento, Camélia afirma que se vê atualmente como o oposto disso: “Quando eu era moça, costurava, bordava, mesmo cansada para ganhar um trocado e comprar minhas coisinhas, mas as pelejas da vida apagaram isso tudo”. Afirmamos que ela estava dizendo, com suas próprias palavras, que tinha muita criatividade e já batalhou um dia para conseguir seus sonhos. Camélia se emociona e reconhece que seus talentos e necessidade de liberdade foram abafados: “Realmente bordar é o que sei fazer de melhor…(chora)… Travei para a arte, travei para a vida”. Quando esclarecemos que Áries pertence ao elemento fogo, que também predomina no seu mapa como todo, reconheceu sua própria energia: “Fogo é expansão, né… ele queima tudo…explode… Sou um fogo que acende e apaga, um fogo apagado que cresce quando despertado pela curiosidade que muitas vezes é sufocada pelos problemas, porque cansa”.

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5.3.10) Gardênia: iluminando a vida apagada

Através da leitura de seu mapa astrológico, esta informante considera que se “conheceu” um pouco mais, iluminando uma vida “sem graça” e “apagada”. O autoconhecimento ajudou Gardênia, 48 anos a se “encontrar”, pois se sentia “perdida”. A dona-de-casa, que se considera deprimida desde que “se entende por gente” e nunca teve muitos amigos, nasceu sob o signo solar de Touro, ascendente em escorpião. Ela possui uma predominância do elemento água no seu mapa. No entanto, durante a narrativa, esses pontos não lhe geraram nenhum impacto e não se identificou, até o momento em afirmamos que possuía a lua no signo de peixes, além de uma forte ênfase de Netuno, seu Planeta regente. Para melhor compreensão, narramos a história de Netuno, adaptando o mito grego a uma linguagem mais simples, afirmando que ele era o rei dos mares, oceanos. Falamos que o mar é bonito, traz calma, mas é também perigoso, misterioso, pois suas ondas podem ficar agitadas. Perguntamos o que ela relacionava a imagem do oceano e Gardênia se lembra da lenda da mãe d’água: “A mulher metade peixe, muito bela que carregava os pescadores para dentro da água”. Neste momento, afirma que não se sente sedutora, mas perdida: “Me sinto confusa e meio perdida, nunca me encontrei na vida, sinto um vazio muito grande”, acrescentando que não consegue saber quem ela realmente era. Explicamos que Netuno forte no mapa pode trazer essa sensação de confusão, mas que ele também representa o sonho, o mundo da fantasia sem limites. Gardênia, então se identifica como sonhadora, reconhecendo que sempre ficou fechada em seu mundo fantasioso, em que construía na imaginação o amor da sua vida: “Desde criança que eu sonhava demais e tinha um caderno onde colava gravuras e imagens sempre pensando em viver aquelas coisas”. Também percebeu em si a melancolia: “Sempre me fui uma criança triste, que ficava pelos cantos, que não sentia gosto em nada”. Lembra-se da mãe ausente e o pai que bebia muito “Minha mãe controlava tudo, se eu fazia uma coisa ela queria saber… com quem eu falava, para onde ia, até se eu respirava”.

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5.3.11) Violeta: contato e cuidado humano

Mesmo no caso em que a informante não considera que o mapa astrológico em si tenha impacto no seu estado de depressão, outros fatores são apontados como positivos. Como nos revela Violeta, virginiana com ascendente em gêmeos, 51 anos, que tem depressão grave. Ela se trata há 4 anos com vários tipos de medicamentos. Afirma que sentiu dificuldade de se concentrar na leitura do mapa: “Não consigo prestar atenção em nada…. Acho que os remédios carregaram minha memória”. Relata que se sentiu bem e gostaria de mais encontros, o que aponta o vínculo estabelecido com a pesquisadora como o aspecto positivo que percebe após a narrativa do mapa. A construção do elo de confiança durante o momento do encontro desperta a livre expressão dos sentimentos e a sensação de acolhimento. Para a informante, que se mostra desconfiada com profissionais de saúde, pois numa de suas “crises de desespero e abalo” foi internar em um Hospital mental, voltar a confiar em alguém traz bem estar.

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5.5) Discussão

A compreensão da depressão a partir da fala das mulheres do Bom Jardim confronta e contesta a ideia hegemônica biomédica de que o mundo de sofrimento pode se traduzir em um rótulo elaborado na presença de sinais e sintomas. Como nos afirma Kleinman é a partir da narrativa da enfermidade (illness) e da experiência humana contextualizada que se conhece profundamente os problemas vividos e seu significado para o sujeito. O leque de mal estar relatados pelas informantes, das dores difusas no corpo até o vazio da própria vida psíquica interligam experiências do corpo ao estado da alma. Ao receberem o diagnostico pautados no modelo da medicina – a doença (disease) denominada depressão- as mulheres possuem suas narrativas e experiências reduzidas, amputadas e reinterpretadas pelos profissionais de saúde, segundo seu modelo reducionista. Neste contexto, a depressão, vista como doença negativa é percebida com resistência pelas mulheres do Bom Jardim, uma vez que amigos e familiares julgam seus estados emocionais. Todo mundo de sofrimento é estigmatizado, percebido como “preguiça”, ou “frescura”. Goffman esclarece que o estigma gera marcas na identidade, deteriorada por ação social discriminatória. Nossas informantes consideram-se representantes do mal, ameaças para os que convivem portadoras de “nuvens negras”, como bodes expiatórios. Diógenes, afirma que o processo de “bode expiatório” é encontrado na Bíblia em Levítico no capítulo 16, que relata este animal separado do rebanho e abandonado na natureza selvagem como parte das cerimônias hebraicas do Dia da Expiação. Para o cristianismo, simboliza o autossacrifício de Jesus, que carrega todos os pecados da Humanidade.

As cobranças externas sentidas pelas informantes são frequentes em sociedades competitivas e consumistas, em que o capitalismo impera também nas relações emocionais. Para Lipovetsky, na era do hiperconsumo, vivencia-se o ethos de felicidade e alegria numa busca insaciável de sensações imediatas, prazeres do corpo e dos sentidos, em culto ao carpediem, viva o hoje. Sob a égide deste modelo, Bauman afirma que a sociedade contemporânea, imersa no paradigma hedonista é a geração “super-homem”, de pessoas preocupadas com o desempenho e com os prazeres dos sentidos, na busca de se superar, vem à frustração. O “eu dividido” é um reflexo subjetivo, das contradições internas, mas também reflete os paradoxos culturais, como afirma Kleinman. Para ele as mudanças sociais aceleradas não permitem o indivíduo assimilar o novo sistema, gerando vazio e falta de sentido. Todos os valores culturais são destruídos e se exigem respostas rápidas para transformações subjetivas.

A depressão torna a pessoa lenta, se opondo a mania do mundo acelerado, forçando uma interiorização. Neste estudo, todas as informantes relataram que a mente fica lenta e confusa. Para Cavalcanti o movimento para dentro de si gera a percepção dos buracos, do sentimento de vazio. O mundo espiritual emerge como outra possibilidade e também resistência difusa a medicalização autoritária que ocorre no encontro clínico. Autoridade exercida pelo médico hierarquiza a expressão das mulheres, desconsiderando a narrativa da enfermidade (illness). Neste contexto, o cultivo de experiências solidárias entre as mulheres do Bom Jardim e a espiritualidade observada na fase de imersão no campo convive ao lado do acelerado crescimento do sofrimento psicossocial, como a violência e a criminalidade.

A abordagem com ênfase medicamentosa no tratamento da depressão segue um pensamento mecanicista, determinista e causalista. Não se deve excluir o uso de medicação e sim balanceada integrar ao uso simultâneo outros terapêuticas. Para Luz cada sistema terapêutico capta um aspecto dos aspectos de um fenômeno, pois a subjetividade é um caleidoscópio de sentidos. Com a intervenção astrológica, abordagem não linear e metafórica realizada nas mulheres do Bom Jardim, captamos significados que não são ouvidos pelo modelo hegemônico biomédico. Assim observar a pessoa humana sobre várias perspectivas, um jogo dos opostos entre os pontos de vista profissional e outros sistemas terapêuticos gera fértil contribuição à saúde.

Dentre os diversos sistemas terapêuticos já estudados, astrologia é uma linguagem simbólica cujo alfabeto são imagens comuns a todos nós, os arquétipos do inconsciente coletivo. A investigação da visão popular da astrologia para as mulheres sofridas do Bom Jardim revelam como ela desperta curiosidade e interesse como abordagem de cuidado mesmo em grupos desfavorecidos, contrapondo a ideia de se tratar de sistema elitista. Como nos afirma Costa, este interesse ocorre porque ela atua em harmonia com a pluralidade de energias de diferentes planos: físicos, mentais, emocionais e espirituais. Um sistema de integração entre homem, natureza e o cosmos que se desvelam através dos signos do zodíaco, planetas, Sol, Lua e estrelas Fixas. Costa explica que a palavra zodíaco etimologicamente significa roda da vida remete-se aos ciclos, sendo cada signo uma etapa sucessiva do processo de desenvolvimento do ser humano o princípio de correspondência é definido como “o que está em cima é como o que está embaixo”. Relaciona-se os fenômenos do céu com eventos na erra, sincronicidades que extraem sinais e símbolos. Para Jung símbolos são expressões subjetivas daquilo que o consciente não consegue representar com palavras e mobilizadores da cura, compreendida como um diálogo dos paradoxos da alma.

O mapa astrológico é percebido pelas informantes como um instrumento cuja eficácia se percebe subjetivamente. Não há necessidade de padronizações rígidas. Assim como no estudo de Katz identificamos nas narrativas percepções especiais que convidam a uma reflexão profunda sobre o caso, enfatizando a necessidade de sensibilidade etnográfica. Desta forma, o mapa é um conjunto de símbolos que incentivam o imaginário. Considerando as associações, lembranças e falas que estas imagens despertam na subjetividade dessas mulheres, podemos flexibilizar a linguagem astrológica. Para Barach, a cura só ocorre quando uma forma de tratamento terapêutico é individualizado, feito sob medida para aquela pessoa humana especifica. Nesse sentido, o mapa é uma ferramenta única, pois parte-se de algo muito particular que é a data de nascimento, horário e local. Além disso, o astrólogo precisa flexibilizar sua linguagem para que imagens sejam traduzidas para o universo cultural e subjetivo das pessoas por meio de metáforas contextualizadas dentro da interação profissional, cliente. A linguagem por imagens permite que outros sentidos e significados sejam atribuídos às expressões empregadas, como observado nesta pesquisa.

Observamos que a narrativa do mapa astrológico foi reinterpretada pelas informantes, que conferem um significado mais ou menos importante a pontos da narrativa que estão fora de controle do narrador-astrólogo. As associações simbólicas nascidas na mente de cada uma das mulheres, sentidos e significados atribuídos surgem de suas vivências.

A rememoração apresenta uma eficácia na depressão porque a memória presentifica o que está ausente. Memória como o ventre da alma, em que se rumina e assimila, como no processo digestivo, as experiências, processo ativo associado a emoção e imaginação que organiza experiências e conceitos. Este processo ocorre através de lugares e percursos significados pelo sujeito.

Existem mais de uma racionalidade médica, ao contrário do que afirma a biomedicina ocidental. Distintas racionalidades médicas coexistem no regime atual, que deve oferecer uma pluralidade de tratamentos. A astrologia é compreendida como uma nova racionalidade médica, uma reinterpretação do processo de significação cultural, de ações, relações e representações sociais do adoecimento e da saúde. Um sistema simbólico quando deslocado do seu contexto para outra lógica cultural, através das adaptações e reinterpretações propiciam o ecletismo de dois paradigmas. Assim, a experiência empírica e o conhecimento teórico do trabalho em saúde se baseia no que é vivo em ato, não pode ser capturado pela lógica do trabalho morto, expresso pelos equipamentos e saber tecnológico.

Por fim, consideramos que o poder criador da pessoa humana se revela neste estudo a partir da ressignificação da narrativa de sofrimento, trazendo sãos profissionais que o mais importante para o empoderamento em saúde é a autonomia do sujeito e sua liberdade para buscar múltiplas formas de atribuir significado a sua existência.

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6) Considerações Finais

No âmbito da Saúde Coletiva, os fundamentos de uma tecnologia do cuidar em astrologia se baseiam no conceito de tecnologia leve em saúde. As tecnologias em saúde são um conjunto de saberes especializados, como medicamentos, equipamentos, procedimentos técnicos, sistemas organizacionais, educacionais e de informação, mediante os quais a atenção e os cuidados em saúde são prestados à população. As bases teóricas se dividem em três categorias: tecnologia dura, relacionada aos equipamentos tecnológicos, normas, rotinas e estruturas organizacionais; as leve-duras, que envolvem saberes bem estruturados no processo de saúde; e leves, que se referem às tecnologias mais voltadas para as competências humanas em si, tais como as de relações, produção de comunicação, o acolhimento, construção de vínculos e autonomia dos sujeitos. Nesse escopo, a astrologia como apresentada nesta pesquisa se insere como tecnologia leve, uma vez que o foco é na construção da relação, autoconhecimento e na comunicação com o sujeito.

Neste trabalho, concordamos com esta crítica à racionalidade tecnológica feita por Campos, que considera a insistência em se pensar o trabalho em saúde como tecnológico gerador do que o autor denomina “fetiche da ferramenta”, especialmente para diagnósticos cognitivos e da subjetividade, de dado modelo assistencial. O trabalho em saúde se baseia no que é vivo em ato, não pode ser globalmente capturado pela lógica do trabalho morto, expresso pelos equipamentos e pelo saber tecnológico. As intervenções medicalizantes na educação em saúde e na atenção básica não satisfazem as demandas da coletividade, tornando-se urgente a busca de outras tecnologias para ação no processo saúde-doença. Assim, a experiência empírica e o conhecimento teórico do trabalho em saúde se baseia no que é vivo em ato, não pode ser capturado pela lógica do trabalho morto, expresso pelos equipamentos e saber tecnológico.

Nesse sentido, as tecnologias leves propiciam o acolhimento necessário para que cliente e profissional de saúde possam se beneficiar deste momento, uma vez que se foca nas relações e no ato do acolhimento. São mais apropriadas para a promoção da saúde no que concerne às práticas preventivas e implicam em menos gastos para o Sistema único de Saúde (SUS). O acolhimento, a produção de vínculo, a autonomia e a gestão compartilhada de processos de trabalho, como orientadoras das práticas em serviços de Saúde, torna-se imprescindível para se atingir uma visão holística e não dissociada do corpo e da mente.

Concluiu-se que a astrologia pode ser considerada uma tecnologia leve do cuidar uma vez que o trabalho com o simbólico é uma via de apreensão da realidade, por meio da subjetividade. Esta pesquisa aponta que o simbolismo astrológico pode ser compreendido como uma nova racionalidade, uma reinterpretação do processo de significação cultural, de ações, relações e representações sociais do adoecimento e da saúde. Para além dos postulados teóricos da astrologia, a maneira como o astrólogo constrói a relação com a pessoa promove o autoconhecimento com a autonomia, sem a imposição do modelo astrológico. Isto se torna possível porque a narrativa astrológica estimula a capacidade humana de criação de símbolos, tornando a pessoa humana capaz de captar paradoxos e ambiguidades da vida. Cabe ressaltar que este sistema simbólico quando deslocado do seu contexto para outra lógica cultural, através das adaptações e reinterpretações propiciam o ecletismo de diversos paradigmas.

Anexo V

Planetas: Síntese da Simbologia

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O Sol

O Sol é o coração do mapa, mostra-nos o ser interior, o que é de importância fundamental. Representa o princípio masculino, ou animus, na linguagem junguiana. Também desvela vitalidade em geral, a consciência. Descreve em geral a sua maneira o centro que irradia luz para os outros planetas. Dons e talentos inatos, que podem ser manifestados ou não, pois o Sol, quando não desabrochado, desperta a sensação de viver sem brilho. É o herói do mapa, que deve empreender sua jornada junto com os demais planetas. Signo equivalente: Leão.

A Lua

A Lua representa os nossos sentimentos e emoções, a receptividade, intuição, imaginação e a forma básica de sentir de uma pessoa. Também tem um efeito no sentido do ritmo, do tempo e da ocasião, influencia a nossa capacidade de adaptação à mudança, bem como a nossa mobilidade e versatilidade. Funciona como um acervo de memórias que dispara reações automáticas e instintivas. A lua predomina na infância e quando não acessamos ainda a energia solar. Representa também a polaridade feminina e figuras femininas, mãe, a anima, numa linguagem junguiana. Signo equivalente: Câncer.

Mercúrio

Trata-se do nosso equipamento mental, indicando como a pessoa aprende e se comunica e organiza os pensamentos. Mercúrio representa o sentido da razão e do conhecimento (informações). Representa a palavra dita e escrita, a ordenação, e a avaliação, o processo de aprendizagem e as aptidões para ensino, leitura e escrita. Signos equivalentes: Gêmeos e Virgem.

Vênus

Vênus é considerada um planeta muito benéfico que representa aquilo que mais gostamos, o que nos dá prazer. Mostra a maneira de amar, no mapa feminino e no masculino também, mas geralmente retratado na busca de uma mulher que encarne estas características. Vênus confere o sentido da beleza, a alegria do prazer, o sentido de estética, o amor pela harmonia, a sociabilidade, o sentido de prazer nas relações e o erotismo. Signos equivalentes: Libra e Touro.

Marte

Marte, símbolo da coragem e ousadia, no mapa indica a energia e vitalidade de uma pessoa, a sua coragem, a determinação, a liberdade do impulso espontâneo. O guerreiro interior em cada um de nós. Como se lida com os desafios. Também descreve a prontidão para agir e ter iniciativa. Mal conduzido, simboliza agressividade. Signo equivalente: Áries.

Júpiter

Este planeta representa a busca pela sabedoria, o desejo de expansão e procura do significado e do objetivo de vida do indivíduo. Simboliza também o otimismo, a fé, a filosofia básica de vida, a luta pelo desenvolvimento pessoal e a atração pelo simbólico e pela religiosidade. Signo equivalente: Sagitário.

Saturno

Trata-se do princípio de realidade no mapa. Símbolo de amadurecimento e não de envelhecimento. Saturno mostra-nos como nos deparamos com os obstáculos e em que área da vida precisamos nos estruturar melhor. Conhecido como o senhor do tempo, ao lidar com este planeta descobrimos as nossas limitações, mas também o crescimento maduro que vem com a superação das adversidades. Representa como se lida com os limites e limitações, bem como as leis e as regras que escolhemos obedecer. Também nos mostra o nosso poder de resistência, a responsabilidade, a seriedade, a cautela e a reserva. Signo equivalente: Capricórnio.

Urano

Este planeta representa o principio da revolução, da busca pela mudança das estruturas. Urano é a intuição inovadora, transmite o impulso da inspiração e das ideias brilhantes. Uma abertura para tudo quanto é novo, desconhecido e imprevisível. Também aponta a liberdade e o processo criativo. No mapa, representa onde passamos por mudanças bruscas e repentinas. Certo espírito de contradição está também associado a este planeta. Negativamente, se expressa como o rebelde sem causa e a inquietação, a ansiedade pelo “novo”. Signo equivalente: Aquário.

Netuno

Representa o princípio de compreensão profunda. Este planeta dá-nos a suprassensibilidade, abre as portas para as experiências místicas e para o transcendental. Silêncio, empatia, compaixão e humildade. A este nível é difícil compreender onde a percepção se transforma em engano, ilusão e falsas aparências, que são os princípios negativos de Netuno. Netuno está associado com tudo isto, tanto representa a iluminação, o universo psíquico, como todos os tipos de pseudo-realidades e confusão. Signo equivalente: Peixes.

Plutão

Plutão representa as forças ocultas que existem em cada um de nós e não temos consciência. Mostra como nós lidamos com o poder, pessoal e alheio, seja esse poder exercido por outrem ou por nós próprios. A capacidade de se regenerar e passar por crises. Mostra como enfrentamos o demoníaco e o mágico, os nossos poderes regenerativos, a nossa capacidade de mudar radicalmente e de renascimento: os ciclos da morte e renascimento. Signo equivalente: Escorpião.

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