A Astrologia Transpessoal de Dane Rudhyar

As Casas Astrológicas

O Espectro da Experiência Individual

Dane Rudhyar

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Por que Casas?

A maioria dos astrólogos provavelmente concordaria com o enunciado genérico de que a astrologia é o estudo das correlações que se podem estabelecer entre as posições dos corpos celestes em redor da Terra e os acontecimentos físicos e as mudanças psicológicas ou sociais na consciência do homem. Os movimentos dos corpos celestes, com poucas exceções, são cíclicos e previsíveis. Tanto quanto podemos ver, o nosso universo é bem ordenado, muito embora essa ordem não seja tão visível de perto, já que, devido à nossa posição na Terra, em meio aos acontecimentos, envolvidos com esses acontecimentos e reagindo emocionalmente a eles, estamos impossibilitados de perceber o grande quadro da existência cósmica. Mas quando consideramos os acontecimentos celestes que ocorrem a uma distância imensa de nós, podemos de imediato experimentar os ritmos majestosos traçados nos bastidores do céu: o nascimento e o ocaso do Sol, da Lua e das estrelas, a lua nova e a lua cheia, a conjunção dos planetas e outros fenômenos periódicos. Assim é que a astrologia, ao relacionar as experiências aparentemente imprevisíveis e aleatórias do homem em seu ambiente terrestre com as alterações rítmicas e previsíveis da posição e das inter-relações dos corpos celestes, deu à humanidade um valioso sentido de ordem que, por sua vez, produziu uma sensação de segurança, ainda que transcendental.

Há muitas maneiras de reagir à ideia de que se podem estabelecer correlações definidas e ao menos relativamente confiáveis entre o que acontece no universo em torno da Terra, de um lado, e as alterações externas e internas nas vidas humanas, de outro, como há também muitas maneiras de interpretar essa ideia. É óbvio que essas reações e interpretações dependem basicamente do estágio da evolução da pessoa, em termos de sua capacidade sensória de perceber o que acontece nos céus, e do estado de desenvolvimento de sua consciência, de suas faculdades psíquicas e de seu equipamento intelectual e físico, para medir e interpretar o que experimenta. Isso tudo encontra expressão no ambiente social, religioso e cultural, que proporciona ao observador dos astros um certo tipo de linguagem, suas crenças básicas e um modo de viver sociocultural.

Dissociar a astrologia do estado da cultura e da sociedade na qual o astrólogo vive e efetua seus cálculos e interpretações não tem sentido. Todo sistema conceituai tem de ser compreendido em termos das condições de vida – sociais e pessoais, além de geográficas – de pessoas que agem, sentem e pensam. A “verdade” ou, antes, a validade de uma ação ou de um pensamento só pode ser aferida em função do quadro sociocultural mais amplo e, mais profundamente, com referência a uma fase específica da evolução da humanidade ou, pelo menos, de parte da humanidade.

Como em geral isso não se faz, ou só é feito com a distorção resultante de se projetar nosso presente estado de consciência sobre as mentes e os sentimentos dos homens antigos e de outras raças, daí resulta muita confusão. A astrologia é um campo particularmente fértil para a confusão e a proliferação de opiniões dogmáticas, seja sob a forma de análises supostamente científicas e de erudita compilação de textos ou de palpites psíquicos ou “comunicações”. Muitas teorias complexas e interpretações confusas se desenvolveram em razão de se conceber a astrologia como uma coisa em si mesma, uma “ciência” misteriosa dotada de uma terminologia intrigante e inalterada desde os antigos caldeus e presumivelmente ainda válida até hoje. Entretanto, essa terminologia obviamente não tem levado em conta as mudanças radicais ocorridas na consciência humana e em sua percepção da posição da Terra e de sua própria posição no universo durante muitos séculos.

Em conseqüência disso, a atual onda de interesse pela astrologia está se defrontando com toda sorte de obstáculos e se escoando confusamente para vários canais. Em grande parte isto significa que se perdeu de vista a função básica da astrologia, que é a de levar um sentido de ordem e de desdobramento harmonioso e rítmico aos seres humanos – não a seres humanos como eram no velho Egito ou na antiga civilização chinesa, mas tais quais são hoje, com todos os atuais problemas emocionais, mentais e sociais.

A Astrologia Centrada numa Localidade nos Tempos Antigos

Até o fim da era “antiga”, no século VI a.C, quando Gautama Buda viveu e ensinou na índia e Pitágoras no mundo helênico, a consciência das pessoas – talvez com raras exceções – girava fundamentalmente ao redor de uma localidade. Grupos relativamente pequenos de seres humanos viviam, sentiam e pensavam em termos do que melhor se poderia definir como valores “tribais”. Agrupamentos tribais, que eram os elementos básicos da sociedade humana na época, estavam tão ligados à terra da qual tiravam sua subsistência quanto um embrião está ligado ao útero materno. A tribo constituía um organismo; todos os seus membros estavam totalmente integrados nesse organismo multicelular. Cada membro da tribo era dominado psiquicamente pelo modo de vida, pela cultura, pelas crenças e pelos símbolos do grupo, cujos tabus não podiam ser desobedecidos. Não havia verdadeiros “indivíduos” nessa fase da evolução humana; todos os valores em que a cultura e as crenças do grupo se baseavam eram expressões de condições geográficas e climáticas específicas e de um tipo racial particular. A comunidade tribal buscava no passado o símbolo, se não o fato, de sua unidade; ou seja, um ancestral comum ou algum rei divino que lhe tinha dado uma espécie de conhecimento revelado e uma coesão psíquica especial.

A astrologia que se desenvolveu nesse estágio também girava em torno dessa localidade, muito mais do que ao redor da Terra em geral. Toda aldeia tribal tinha um centro que era considerado o próprio centro do mundo ou o limiar de um caminho secreto que levava a esse centro. O que hoje chamamos de horizonte era o que definia os limites da vida. Acima dele, o céu era a morada das grandes hierarquias criativas dos deuses. A região escura abaixo do horizonte constituía o misterioso mundo subterrâneo para onde o Sol se retirava todas as noites a fim de recobrar as energias necessárias para tornar a trazer a luz ao mundo horizontal do homem. É bem possível que alguns sacerdotes iniciados estivessem cientes de que a Terra era um globo a girar em volta do Sol; mas se havia uma tradição secreta comunicada oralmente através de ritos de iniciação, o certo é que tal fato aparentemente nada tinha que ver com a astrologia.

Para o homem tribal primitivo, a astrologia era parte integrante do simbolismo religioso, bem como um meio de predizer as ocorrências naturais periódicas que afetavam a vida da comunidade e em especial suas atividades agrícolas ou o cruzamento de seus rebanhos. Em tais condições de vida e com a consciência humana focalizada no solo e no bem-estar total da comunidade orgânica, a astrologia era bastante simples. Ela se baseava essencialmente no aparecimento, culminação e ocaso de todos os corpos celestes – as “estrelas” e os dois “luminares”, Sol e Lua. Duas categorias de “estrelas” foram prontamente diferenciadas. A maioria das estrelas no seu nascimento e ocaso mantinha inalterada suas relações mútuas; isto é, ao viajarem pelo céu, a ordem configurada por esses pontos de luz permanecia “fixa”. Outros corpos celestes, ao contrário, se moviam independentemente uns dos outros e às vezes pareciam regredir; foram chamados de “errantes”, e é isto o que a palavra planeta significava originalmente. Alguns desses planetas pareciam ao observador adestrado pequenos discos, e não pontos de luz, e pensava-se que constituíam uma categoria de objetos celestes muito diferentes das estrelas. Suas conjunções periódicas eram observadas, e seu movimento cartografado, de modo a poderem ser medidos e suas conjunções, preditas.

Cartografado em relação a quê? O fundo ou quadro de referência óbvio era a configuração permanente das estrelas distantes. Mas precisamos entender que para a mente antiga as estrelas não eram fixas. Seu nascimento e ocaso eram observados. A única coisa realmente fixa era o horizonte. Não obstante, a ordem geométrica geral que as estrelas compunham no fundo escuro do céu claro das regiões subtropicais e desérticas permanecia a mesma durante séculos. Podia, portanto, servir de quadro de referência, se fosse subdividida para maior conveniência das medições.

Para compreender como o conceito de constelação zodiacal apareceu e que forma simbólica assumiu, só precisamos entender que todas as sociedades tribais, ao que saibamos, usavam totens. Esses totens estavam associados a clãs da tribo; e esses clãs, de certo modo, representavam órgãos funcionais do organismo total da tribo. Com mais frequência, os totens eram animais com que os membros de um clã se sentiam especialmente relacionados. Mas também podiam ser objetos naturais, como plantas, por exemplo.

Quando os homens das eras pretéritas quiseram imprimir uma forma mais definida e permanente à sua sociedade, procuraram modelá-la sobre princípios de uma ordem orgânica funcional. Eles achavam que o cosmo era um todo orgânico animado por uma força vital bipolar universal, simbolizada na astrologia pelos dois luminares; na filosofia chinesa, pelos princípios yang e yin, ativos em todas as formas de existência. Na verdade, o Céu e a Terra eram concebidos como duas polaridades; o primeiro, criativo e divino; a outra, receptiva e fértil, mas cheia de energias contraditórias que tinham de ser integradas e domesticadas – de domus, que significa “casa”. O homem sábio – o “celeste” na China – situava-se, por assim dizer, no meio dessas polaridades, participando tanto do Céu como da Terra. Sua tarefa era imprimir uma ordem criativa na natureza terrena e organizar a sociedade de acordo com os ritmos e princípios cósmicos. Em alguns casos, operava também o processo inverso, e se projetavam totens no céu a fim de acentuar a íntima conexão que o clã acreditava ter com seus equivalentes celestes. Assim, as constelações receberam nomes de acordo com os vários totens tribais. Mais tarde, o símbolo do Grande Homem no Céu, cada órgão do qual correspondia a uma constelação, foi estabelecido.

Esse tipo de pensamento prevaleceu na Grécia, onde os heróis eram transferidos para o céu após a morte, e seus nomes dados às constelações. Posteriormente, na Europa medieval, nos círculos alquímicos e ocultistas, passou-se a referir ao Céu como Natura naturans e à Natureza terrestre como natura naturataas polaridades criativa e receptiva da vida.

Em regiões como o Egito e a Mesopotâmia, o fator sazonal não é tão óbvio, como nas regiões mais setentrionais da Europa; mas as inundações do Nilo assinalavam o momento mais decisivo do ciclo anual. Ali, os astrólogos eram antes de mais nada observadores de estrelas, e é seguro presumir que seu zodíaco se referisse às constelações. Volto a insistir em que a astrologia, a essa altura, estava concentrada na localidade muito mais do que na Terra em geral. Nenhum astrólogo egípcio se preocupava com o que pudesse ser observado no céu das regiões polares ou do hemisfério sul. Esses problemas inquietantes só começaram a aparecer quando se soube que a Terra era um globo girando em torno do Sol, de par com os outros planetas – quando os ocidentais passaram a viajar e a contemplar céus muito diferentes dos da Europa.

Quando isso aconteceu, a velha astrologia tornou-se, se não de todo obsoleta, pelo menos carregada de conceitos obsoletos e de uma terminologia arcaica que em muitos casos já não faz sentido. Na verdade, grande número de correlações longamente observadas e tabuladas entre ocorrências no céu e acontecimentos na biosfera terrestre permaneceu válido. Essa validez, entretanto, pertence agora a uma nova ordem de realidade humana. A consciência de pessoas que pensam em termos de sistema heliocêntrico e que viajam por todo o globo perdeu pelo menos boa parte de sua estrita relação com uma determinada localidade geográfica, e a sociedade já não opera em nível local ou tribal. Os homens ficaram livres da tribo, “individualizados” e desenraizados, e mesmo que alguns ainda estejam ligados à sua localidade, em teoria e em termos das novas religiões universalistas – budismo, cristianismo, islamismo -, eles se sentem e são considerados “indivíduos”.

Se os astrólogos não levarem em consideração esses fatos históricos, espirituais, intelectuais e socioculturais, permanecendo cegos para as realidades básicas, a confusão decorrente do uso de termos e de conceitos obsoletos se perpetuará, e as questões mais fundamentais permanecerão mal compreendidas.

Os parágrafos precedentes formam uma base indispensável para o estudante que começa a se familiarizar com o conceito de Casas astrológicas. Para que servem essas Casas? Como nasceu esse conceito e o que foi feito dele na moderna astrologia? Quantas Casas deve haver e quais são os complexos problemas com que nos defrontamos ao determinar os limites, ou as “cúspides”, dessas Casas?

Responder essas questões em detalhe está além de nosso propósito neste livro. Mas alguns pontos básicos precisam ser enunciados com a maior clareza e simplicidade possíveis antes de passarmos ao estudo dos quatro ângulos nos mapas astrológicos e dos diferentes níveis de significação que se deve atribuir às doze Casas, como são usadas atualmente.

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Zodíaco e Casas

Do ponto de vista da astrologia arcaica, o conceito de Casa é muito simples e suscita poucos problemas. Como vimos anteriormente, o astrólogo precisava de um quadro de referência ou de uma base em que pudesse marcar com exatidão a posição do Sol, da Lua e dos planetas, e a distância angular entre uns e outros quando vistos de uma determinada área em que o agrupamento tribal vivesse. Mas o astrólogo provavelmente compreendeu, mais cedo ou mais tarde, que havia duas bases de referência possíveis. Uma delas eram as configurações inalteradas compostas por aqueles grupos de estrelas – as constelações – que se encontram próximas da eclíptica, isto é, próximas da faixa estreita do céu ao longo da qual o Sol, a Lua e os planetas se movem. Essa base de referência é obviamente espacial: corpos celestes movendo-se ao longo de formas espacialmente extensas das constelações zodiacais.

A outra base de referência era mais especificamente duracional, pois definia o tempo levado pelos corpos celestes para surgirem no Oriente, alcançarem o zênite, ou ponto de culminância, e desaparecerem no Ocidente. Tudo o que está envolvido nesse tipo de medição é, em termos modernos, a rotação diária da esfera celeste acima e abaixo do horizonte. Essa rotação sugeriu ao antigo astrólogo o conceito de horas e igualmente o de relógios, pois, especialmente durante a noite, os homens tinham de estar vigilantes contra possíveis intrusões, fosse de animais predatórios ou de inimigos humanos. As sentinelas vigiavam em períodos de duas ou três horas.

Durante o dia, o fator básico era o movimento do Sol em torno do céu visível, pois sua elevação variável produzia alterações de temperatura, que por sua vez influíam em todas ou em quase todas as atividades humanas das sociedades agrícolas. As alterações da elevação solar podiam facilmente ser reduzidas ao cruzamento, por parte do Sol, de várias seções, em seu caminho diário em torno do céu visível; assim, o fator tempo podia também ser analisado como fator espacial – o que, aliás, é a base do relógio de sol, que mede o tempo em termos de espaço.

Mas esse tipo de espaço podia ser interpretado como estritamente “terrestre”, ao passo que o espaço definido pelas constelações era “celeste”; essa diferenciação era, sem dúvida, muito importante numa época em que a polaridade Céu-Terra constituía a base de um vasto número de conceitos com infinitas aplicações. Essa diferença ainda é importante para muitos astrólogos, como logo veremos.

Quando o astrólogo moderno fala dessas duas bases de referência para medir o movimento do Sol, da Lua e dos planetas, menciona desde logo que a primeira se refere ao movimento anual aparente do Sol em torno do zodíaco – que hoje compreendemos ser na verdade a revolução da Terra em sua órbita, a eclíptica -, e a segunda se refere à rotação diária de nosso globo em torno de seu eixo polar; mas, evidentemente, não era assim que os antigos concebiam as coisas. E o que importa não são os chamados fatos – como os vemos hoje em dia – mas o significado que o homem atribuía a suas experiências imediatas e diretas. A astronomia trata dos fatos observáveis, ao passo que a astrologia é o estudo das reações significativas, racionais ou irracionais, que a pessoa tem a esses fatos em termos de sua concepção da natureza e do caráter do universo.

Mas, voltando às duas bases de referência utilizadas para medir as posições, as relações angulares e os ciclos do Sol, da Lua e dos planetas: a primeira é o que hoje chamamos zodíaco; a segunda, o círculo das Casas astrológicas. Mas esses termos e o modo como são definidos e usados são muito ambíguos. Pode-se conceber qualquer número de “zodíacos”, dependendo do que queiramos medir; da mesma forma, nossas Casas astrológicas modernas e as “vigílias” da astrologia antiga são muito diferentes – diferentes no número, no tamanho e na significação. Tentaremos esclarecer essas ambiguidades e definir a posição assumida pela astrologia no mundo ocidental.

Primeiro, é preciso compreender que os primeiros zodíacos foram provavelmente lunares, divididos em 27 ou 28 seções, geralmente chamadas asterismos ou Casas lunares. Obviamente, não se pode ver, normalmente, os grupos de estrelas pelas quais o Sol passa em qualquer época do ano; tem-se de deduzir essa posição solar com base nas estrelas que nascem ou se põem logo após o ocaso do Sol. É muitíssimo mais simples aferir a posição da Lua à noite em relação às estrelas. Assim, um quadro de referência estelar para o ciclo mensal da Lua é realmente o mais lógico, sobretudo para tribos nômades que criavam rebanhos que precisavam ser vigiados durante a noite.*

 *Os zodíacos lunares parecem ter sido divididos em 27 ou 28 seções evidentemente, porque a Lua leva ± 27 dias para percorrer a esfera celeste das “estrelas fixas”. O dia é a medida básica de tempo porque se refere à alternância de luz e escuridão, de consciência desperta e de sono – o fato mais fundamental da experiência humana. Os zodíacos lunares se referem a um tipo de consciência humana em que tudo quanto a Lua simboliza é básico – uma consciência que encontrou expressão no matriarcado e que depende de fatores biológico-psíquicos e de respostas sensoriais. O zodíaco solar presumivelmente ganhou proeminência quando os tipos patriarcais de organização suplantaram os sistemas matriarcais. Na antiga índia, houve longas guerras entre dinastias solares e lunares. O desenvolvimento do teísmo no tempo do Bhagavad-Gita na índia, depois com Akhnaton no Egito e finalmente com Moisés, estava indubitavelmente relacionado com a ascendência de um tipo “solar” de consciência, e posteriormente com o desenvolvimento do individualismo.

Também é preciso considerar que o ciclo anual do Sol pelas constelações podia, igualmente, ser medido de outro modo. Falamos hoje do movimento anual do Sol em longitude ao longo do caminho do zodíaco; mas ele também pode ser medido igualmente bem em termos das alterações de declinação. O que isto significa é simplesmente que os ocasos do Sol nunca ocorrem exatamente no mesmo ponto no horizonte ocidental. Só por ocasião dos equinócios de primavera e de outono é que o Sol se põe em linha reta para o Ocidente. No solstício de verão, ele se põe cerca de 23 graus e meio a noroeste; no solstício de inverno, cerca de igual número de graus a sudoeste. De mais a mais, há também alterações na elevação do Sol no céu ao longo do ano, fato que determina o ângulo sempre variável em que os raios solares incidem sobre a superfície da Terra e, consequentemente, as mudanças sazonais de clima e temperatura.

Houve grandes culturas que erigiram grandes pedras no horizonte ocidental para medir a posição do Sol em seu ciclo anual de mudanças de declinação – o que por sua vez estava relacionado a mudanças sazonais. A questão de saber se essas culturas também usavam um zodíaco de constelações pode não ser muito fácil de determinar, embora ambos os tipos de medição possam ter sido conhecidos – o tipo zodiacal referindo-se principalmente à Lua, o da declinação ou tipo sazonal, ao Sol.

O conceito de zodíaco tornou-se ambíguo e prestou-se a muita confusão quando os astrólogos tomaram plena consciência do movimento chamado precessão dos equinócios, que introduziu uma discrepância sempre crescente entre a medida sazonal e a estrelar. Com o reaparecimento do zodíaco sideral (constelações) na tradição astrológica ocidental, que por muitos séculos usou exclusivamente o zodíaco tropical de signos referentes à configuração fixa de equinócios e solstícios, essa confusão se acentuou ainda mais.

Não tratarei aqui em detalhe os valores desses dois zodíacos solares, que infelizmente usam os mesmos termos – Áries, Touro, Gêmeos etc. – para indicar os dois conjuntos diferentes de fatores. Direi apenas que enquanto o zodíaco sideral divide a faixa das doze constelações cujos limites são muito incertos e já foram alterados por várias vezes – a última alteração há uns quarenta anos -, o zodíaco tropical se refere a um fator bom conhecido e já mensurado com precisão: a órbita terrestre: Ele depende também de fatores igualmente claros, como, por exemplo, os equinócios e solstícios, com implicações sazonais definidas e muito significativas na vida dos seres humanos que habitam as regiões temperadas do hemisfério norte – é nossa civilização ocidental que hoje em dia domina o mundo inteiro.*

 * Para uma análise dos dois zodíacos, das épocas precessionais e do início da chamada Era de Aquário, ver meu livro Birth Patterns for a New Humanity (1969).

Ao que parece, há pouca dúvida de que as antigas civilizações de que possuímos registros usassem zodíacos – lunar e/ou solar – que eram “siderais”, ou seja, baseados nas constelações; mas essas civilizações não concebiam ou imaginavam o universo como nós o temos feito desde o período helênico e, sobretudo desde o princípio da Renascença europeia. Além do mais, essas civilizações primitivas se encontram em regiões um tanto diferentes do globo e sob condições climáticas diferentes. E nunca é demais acentuar a importância básica desses fatos quando se trata de discutir e avaliar dados e técnicas de astrologia.

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As Oito “Vigílias”

Consideremos agora a segunda base de referência que pode ser e realmente foi usada para medir as posições do Sol, da Lua e dos planetas, ou seja, o círculo das Casas astrológicas.

É, com efeito, muito provável, como o falecido Cyril Fagan assinalou ainda recentemente, que na astrologia antiga o que hoje chamamos Casas fossem períodos de tempo – “vigílias” – que se baseassem no levante, na culminação e no ocaso do Sol. Assim, se dividia o dia solar em quatro períodos básicos, postulando-se o quarto momento significativo do ciclo como uma contraparte da culminação do Sol ao meio-dia, ou seja, à meia-noite.

É preciso entender o sentido filosófico-psicológico, tanto quanto o cosmológico, desse modelo quádruplo que domina o pensamento astrológico. A divisão quádrupla de qualquer ciclo repousa na compreensão do dualismo inerente a toda existência e à consciência humana. Já mencionei a polaridade de dia e noite, luz e escuridão, atividade consciente e sono, yang e yin. Nas filosofias da índia encontramos constantes referências aos estados de “manifestação” e “não-manifestação”. No Bhagavad-Gita, Krishna como encarnação do Ser universal (Brahman) declara que ele é o começo, o meio e o fim de todos os ciclos. Mas esses ciclos existenciais são apenas “meios-ciclos”, pois todo período de manifestação cósmica (manvantara) é contrabalançado por um período de não-manifestação (pralaya) – um dia cósmico por uma noite metacósmica.

Os períodos de transição entre esses dias e noites – seja no cosmo ou na experiência humana – são os momentos mais significativos da existência. São simbolizados em termos humanos pelo horizonte, porque esse horizonte divide o movimento diário do Sol em dois períodos básicos, separados pelo seu nascimento e pelo seu ocaso. Nas regiões próximas aos trópicos, os crepúsculos são breves. O dia irrompe depressa e a noite cai rapidamente – fato que é de grande importância quando se deseja, a meu ver insensatamente, transferir certas idéias (como, por exemplo, o conceito de cúspide) pertinentes a uma astrologia subtropical para a astrologia válida em países da zona temperada e de grande latitude.

O despertar da vida consciente – a alvorada, o ponto alfa do ciclo do dia – e a conclusão da atividade do dia por ocasião do poente – o ponto ômega – são e sempre foram básicos na astrologia, bem como no simbolismo religioso e cultural. O meio-dia é o ponto de culminância do esforço, levando – especialmente em climas quentes – a uma fase de nutrição e repouso. Em oposição polar a ele, a meia-noite é o tempo do mais profundo mistério, um tempo muito mágico.

Uma outra divisão desse modelo quádruplo no tempo era lógica, especialmente quando associada à necessidade de definir a duração das vigílias noturnas. Um período de três horas é perfeitamente adequado a essas vigílias, e calcula-se facilmente o ângulo de 45 graus quando o avanço do Sol no céu é cartografado no plano horizontal do relógio de sol. Essa medida de 45 graus tem tido muita significação no ocultismo e aparentemente é muito significativa no atual estudo de campos de força eletromagnéticos.

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A divisão em oito também está provavelmente relacionada à atribuição desse número ao Sol. Na índia, o carro do deus Sol era puxado por oito cavalos brancos, e o símbolo numérico que os gnósticos atribuíam ao Cristo como Princípio Solar – Rudolph Steiner falou de Cristo como um grande “Arcanjo Solar” – era 888, ou 8 operando nos três níveis de consciência: biológico, mental e espiritual.*

*Meu livro O Ciclo de lunação para um estudo ulterior dos padrões óctuplos em termos da lunação e dos oito tipos de personalidades solilunares. Uma série de artigos que escrevi há tempos para American Astrology, “The Technique of Phase Analysis”, também usa de um modo especial mapas divididos em oito setores.

Cyril Fagan afirmou recentemente que a divisão óctupla de um mapa astrológico é a mais antiga de que se tem registro, e assinalou que essas oito “vigílias” adquiriam sentido em termos do progresso do Sol no céu em sentido horário – e também em termos dos tipos de atividades mais características das quatro vigílias decorridas entre o levante e o ocaso do Sol. Ele provavelmente está certo nessa afirmação, mas só no que diz respeito ao tipo de sociedade agrícola dos tempos antigos, muito embora evidentemente esse modelo de atividade ainda exista onde quer que o homem viva junto ao solo que cultiva ou a animais que cria. É um modelo vitalista, e o Sol deve sempre ser considerado na astrologia como a fonte da Força Vital. Mas, à proporção que o homem se divorcia, na verdade se aliena, do solo e dos ritmos instintivos sazonais da vida – à medida que ele desenvolve uma mente individualista e um ego ambicioso -, os modelos vitalistas perdem muito de sua significação. Desenvolve-se uma nova série de problemas, e hoje a solução desses novos problemas é que constitui a principal tarefa da astrologia. Por quê? Porque é nesse nível de individualização psicomental que as necessidades mais cruciais do ser humano moderno se situam. E tudo tem valor em termos de sua capacidade de responder à necessidade da humanidade – seja a astrologia, a medicina ou a ciência e o conhecimento em geral.

O ritmo psicomental individualista do homem moderno opera em contraponto com os dos seres humanos ligados ao solo e centrados em sua localidade. Isto fica claramente demonstrado pelo fato de que, em termos de consciência contemporânea, é sabido que o planeta Terra gira sobre seu eixo, e não que o Sol se move diariamente em torno dela. Nessas condições, todo o quadro fica alterado, e vemos a sequência das modernas Casas astrológicas numeradas e interpretadas em sentido anti-horário. A consciência, a mente e o sentido de identidade do indivíduo se desenvolvem e se desdobram a partir da potencialidade, por ocasião do nascimento, para um estado gradualmente mais completo de realização em oposição ao ritmo da Força Vital. Isso, inevitavelmente, causa problemas, conflitos e complexos psicológicos individuais. Mas representa o caminho do ser humano rumo à maturidade, à confiança própria e à realização criativa como “pessoa”.

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Dois Enfoques Básicos do Sol

Do ponto de vista da antiga astrologia, a determinação das “vigílias” era bastante simples, pois não eram nada mais que divisões do tempo que o Sol levava para se movimentar pela abóbada celeste, do levante ao poente. Quando os astrólogos puderam definir a posição do Sol em qualquer momento com referência às estrelas e constelações zodiacais, foi relativamente fácil determinar as posições zodiacais aproximadas do início das oito vigílias com intervalos de três horas. Não havia nisso nenhum problema especial, e quanto mais próximo do equador se vivesse, mais harmonioso era esse quadro.

Quando, porém, se considera a Terra como um globo a girar em torno de seu próprio eixo e em torno do Sol, e se procura construir um sistema astrológico que já não seja “localmente centrado”, mas “centrado no globo” e ainda seja relevante às pessoas individualmente consideradas que experimentem o universo de um ponto de vista particular sobre a superfície desse globo, aparece toda sorte de dificuldades. Ora, fatos tridimensionais precisam ser projetados de algum modo sobre uma folha de papel bidimensional. Ao menos três séries de coordenadas podem ser utilizadas: locais, equatoriais e eclípticas. Para piorar as coisas ainda mais, a atitude conservadora da maioria dos astrólogos, orientada segundo a tradição, os tem impelido a continuar usando muitos termos e figuras de linguagem ajustados à perspectiva que os antigos tinham do mundo, mas que já não fazem sentido hoje em dia em termos de nosso conhecimento astronômico. Os próprios astrônomos não se têm saído muito melhor, em certos casos, ao usar os mesmos termos para identificar dois conjuntos de fatos – por exemplo, longitude e latitude – e conservar os velhos nomes.

Aqui não há espaço para entrarmos nos detalhes técnicos da geometria esférica e dos vários sistemas de divisão de Casas, isto é, a domificação. Mesmo assim, é importante que o moderno estudioso de astrologia compreenda que aquilo que ele normalmente trata como as Casas de um mapa astrológico está sujeito a várias interpretações basicamente diferentes. Cyril Fagan, que reintroduziu o conceito de zodíaco sideral, procurou não só promover a divisão de um mapa em oito Casas como também interpretar-lhes a sequência em sentido horário. Essa era, provavelmente, a antiga prática, ao menos em algumas regiões. Mas o erro de Fagan, segundo creio, foi tentar impor crenças vitalistas arcaicas aos indivíduos modernos. Poderíamos igualmente aceitar a mitologia Caldaica como base para uma renovação no campo religioso! Cada época, cada cultura tem suas próprias necessidades características, e hoje necessitamos de uma astrologia que satisfaça às necessidades de egos psicologicamente orientados, confusos e alienados – e particularmente às necessidades de um grande número de jovens modernos que, talvez pela primeira vez na história, ficaram fascinados pela astrologia, e isso por razões muito definidas, ainda que muitas vezes, em grande parte, inconscientes.

O significado das Casas Astrológicas, como tem sido usado na cultura europeia cristã, está intimamente relacionado com o zodíaco, e esta é pelo menos uma das razões pelas quais a astrologia de estilo ocidental tem usado um sistema de doze Casas. Portanto, devo novamente referir-me ao zodíaco.

Analisando-se horóscopos registrados na Grécia, em Alexandria ou em Roma, pode-se apresentar uma boa defesa do argumento de que a mudança de um zodíaco sideral para um zodíaco tropical – isto é, de constelações para signos que representem divisões iguais de 30 graus da eclíptica – se deveu a um conhecimento imperfeito de fatos astronômicos, a uma confusão geral no espírito dos homens que viveram durante um período turbulento da história – período que, de certo modo, se equipara aproximadamente, em níveis diferentes, aos tempos atuais. Mas conclusões desse tipo costumam ser artificiais e não fornecem, acredito eu, as razões filosóficas mais profundas para a adoção desse zodíaco. Fica muita coisa por conta do acaso e dos enganos de um ou mais indivíduos. Algo muito mais profundo está em jogo, e continua sendo uma questão fundamental hoje em dia, conquanto de modo diferente. Essa questão é metafísica e cosmológica e diz respeito ao significado que se deve atribuir ao Sol.

Atrás ficou dito que as constelações foram originalmente divididas para proporcionar um fundo conveniente sobre o qual se pudesse cartografar os movimentos do Sol, da Lua e dos planetas. Esse pode ter sido o modo pelo qual a relação do Sol com as constelações era concebida em certo período da história, mas há uma grande soma de indícios de que nos tempos antigos também se dava a essa relação um sentido diferente e quase dramaticamente oposto – um sentido que ainda tem muita importância em termos de um tipo de pensamento metafísico que desenvolvi alhures. Segundo esse enfoque, o Sol deve ser considerado apenas como um canal ou lente através da qual as energias do Espaço cósmico são focalizadas e dirigidas sobre a Terra e sobre todo organismo vivo nela existente.

De um ponto de vista, o Sol é o fator dominante, e as constelações formam meramente um fundo para medir seu movimento e sua relação ciclicamente alterada com a Terra. No segundo caso, o fator ativo é o próprio espaçoe diríamos hoje espaço galáctico. O Sol é apenas um instrumento de focalização – alguns ocultistas falam numa “janela” através da qual emanam, dia e noite, as imensas energias de um espaço que é muito mais que tridimensional e físico.

Esses dois conceitos da natureza fundamental da Força Vital podemos chamá-los, respectivamente, de monoteísta e panteísta. Qualquer estudioso de religião sabe quão ferozmente a igreja cristã tem combatido tudo o que se relacione com o panteísmo. Haja vista a condenação pela Igreja Católica Romana, alguns anos atrás, da perspectiva que Teilhard de Chardin teve do mundo, apesar de seus esforços no sentido de desmentir qualquer influência panteísta.

Na antiga astrologia, ao menos em alguns países, as doze constelações eram compreendidas como corpos coletivos de “hierarquias criativas” pertencentes a um “Mundo de Formação” cósmico – o que, em sua totalidade, poderíamos hoje chamar de Mente Divina. Sob esse ponto de vista, o Sol – e de forma secundária a Lua e os planetas – era concebido como agência que mobilizava e liberava as energias criativas dessa Mente Divina. Outras constelações também poderiam ser aspectos criativos dessa Mente Divina, mas porque elas não tiveram no Sol e nos planetas canais diretos para derramar suas energias no plano das vibrações e da consciência humanas, só raramente foram eficazes num sentido humano. As doze hierarquias zodiacais foram, portanto as únicas verdadeiramente encarregadas do processo vital sobre a Terra.

Tal quadro cósmico era essencialmente “panteísta”, ainda que o observador metafísico fosse capaz de obscuramente vislumbrar, para além dessa “esfera de estrelas fixas”, um plano ainda mais transcendente, o reino do Primum Mobile, ou em termos mais filosóficos, o reino do Absoluto eternamente incognoscível, o Ain Soph da Cabala. Em contraste com ele, temos o quadro “monoteísta” do mundo, em que o Único Deus manifestando-se vivida e pessoalmente ao homem é representado pelo Sol, o Eu Sou solar, o egípcio Aton.

Sob esse ponto de vista monoteísta, o que é básico à existência humana é a relação entre o homem como criatura e seu Criador, entre o humano e o divino. Essa relação, em termos de simbolismo astrológico, torna-se a relação entre a Terra e o Sol; e essa relação é expressa na órbita da Terra. Cada mês do ano – o ponto alto do mês é a lua cheia ou, para alguns povos, a lua nova – representa o desenvolvimento de uma de doze respostas básicas da natureza humana a seus doze tipos essenciais de consciência anímica, doze canais através dos quais a única Vida divina pode encontrar meio de expressão.

Desse ponto de vista, portanto, o zodíaco é lógica e inevitavelmente um fator “orbital”. É a órbita da Terra, a que continuamos dando o nome antigo e não muito revelador de eclípticaum nome que pouco tem que ver com o que ela representa, tanto concreta como simbolicamente. As estrelas, portanto, constituem um fundo sobre o qual se leva a cabo o grande “diálogo” entre os tipos básicos de seres humanos e o único Deus. Elas representam o maravilhoso cenário cósmico no palco do universo. Não obstante, algumas estrelas individuais podem ficar significativamente envolvidas nos assuntos humanos, mas se o fazem referem-se a Visitações supranormais que, com mais frequência, se imiscuem procurando perturbar o diálogo entre o homem terrestre e seu Criador – ou seja, o Sol.

Como os planetas, sob esse ponto de vista orbital e heliocêntrico, também são criações do Sol, e como a luz ou os raios que refletem sobre a Terra têm sua fonte no Sol, eles simplesmente diferenciam ou modulam o Poder solar original, o poder divino de criação. É, portanto, lógico interpretar suas posições e relações mútuas em termos da órbita da Terra. Na verdade, as órbitas dos planetas – algumas interiores, outras exteriores à órbita da Terra – podem ser consideradas campos de força que atuam sobre a relação existente entre a Terra e o Sol. Assim, a Lua é especialmente significativa porque, ao girar todo mês em torno da Terra, ela distribui – ao menos simbolicamente – as energias liberadas pelo Sol por ocasião da lua nova e sempre refletidas pelos planetas.

Devido à enorme importância da relação entre a Terra e o Sol, era quase inevitável que se aplicasse ao círculo das Casas a classificação duodécupla básica dos principais aspectos da ordem cíclica anual de mudanças nessa relação. Acreditava-se que doze Casas correspondessem e estivessem intimamente relacionadas aos doze signosnão constelações – do zodíaco. Mas é preciso entender claramente como isso se fazia.

A velha perspectiva astrológica centrada localmente tornou-se geocêntrica – centrada no globo. A relação orbital-zodiacal Terra-Sol transferiu-se para todo o globo terrestre, não se limitando mais aos horizontes de uma localidade específica. Podemos ver isto claramente no fato de que aquilo a que chamamos hoje em astrologia horizonte – o horizonte “racional” da astronomia – é um grande círculo que passa pelo centro do globo. Não é o horizonte local da região para a qual se faz um mapa; é unicamente paralelo ao horizonte local.

Esse horizonte local deve ser compreendido como um “horizonte médio”, que não leva em consideração se uma pessoa nasceu num vale profundo ou no cimo de uma montanha – diferença que, afinal, é ínfima em comparação com as dimensões do globo, de forma que quando se vê a superfície da Terra a vários milhares de milhas acima dela, até as montanhas mais altas parecem insignificantes. Além disso, toda a astrologia de hoje lida com “posições médias” e não com posições reais, o que faz sentido desde que consideremos a astrologia como uma linguagem composta de símbolos arquetípicos e como essencialmente “numerológica” na atribuição de significados específicos aos fatores separados que constituem uma série cíclica – isto é, a série dos signos zodiacais, das Casas, e até dos planetas em termos de sua distância em relação ao Sol.

Mas, voltando à relação entre os doze signos do zodíaco e as doze Casas, o que está subentendido na maneira segundo a qual o tipo europeu de astrologia tradicional ou clássico interpreta essa relação é a ideia de que os signos zodiacais se referem à substância de energia do processo vital, ao passo que as Casas dizem respeito aos meios existenciais, concretos e circunstanciais em que esses processos operam durante o período de vida de um indivíduo ou de uma entidade social coletiva. Pelo menos para alguns astrólogos europeus de hoje, o zodíaco – dos “signos” – é o campo de força positivo do qual fluem todas as energias que operam na biosfera terrestre; o círculo das Casas, por conseguinte, representa o plano terrestre receptivo e sensível. Isto, em termos mais modernos, é a diferenciação teísta de Deus criador e homem criatura.

As duas polaridades, a divina e a humana, são simétricas, em princípio. O “destino” da pessoa está escrito não nas estrelas, mas sim no zodíaco tropical, que se refere à natureza dinâmica celestial do homem, natura naturans. As verdadeiras “circunstâncias”, segundo as quais esse destino celeste opera no cotidiano do indivíduo, são indicadas nas Casas e pela posição dos planetas, do Sol e da Lua nessas Casas. As duas séries cíclicas, os signos e as Casas, estão portanto progredindo na mesma direção, ou seja, na direção anti-horária.

Essa tem sido a atitude básica da astrologia ocidental que ainda encontramos ensinada – com variações individuais – na maioria dos compêndios. Infelizmente, a terminologia usada costuma ser desconcertante, porque muitos conceitos “panteístas” arcaicos ainda estão em evidência. A divulgação da “astrologia sideral” está piorando essa confusão. Do ponto de vista histórico, o Sr. Fagan e seus seguidores talvez estejam certos, desde que falem do passado arcaico – um passado que ainda está influindo sobre as múltiplas e conflitantes escolas de astrologia na índia, terra de tradições espiritualistas. Mas do ponto de vista psicológico eles não entenderam a profunda mudança ocorrida na mentalidade humana durante parte do período greco-latino e ainda mais durante a Renascença europeia. Eles não compreendem, a meu ver, a necessidade crucial dos seres humanos de hoje; e seu envolvimento em técnicas científicas e sua declaração de que a astrologia tem valor como uma entidade em si mesma – isto é, como um sistema que precisa ser reconhecido pela “comunidade científica” – parecem irrelevantes em termos das atuais necessidades de nossa sociedade em crise – a não ser, é claro, que creiamos que o futuro da humanidade será determinado por uma dependência ainda maior em relação à tecnologia e ao intelecto analítico e seus processos.

Isso não quer dizer que não haja validade no enfoque sideralista, ou que as técnicas clássicas da astrologia europeia sejam, de muitas formas, desconcertantes e obsoletas. Nunca há um questionamento nítido entre “bom” ou “mau” em assuntos socioculturais, religiosos ou científicos, pela simples razão de que todas as mentes humanas não operam todo o tempo com um único comprimento de onda. No mundo ainda existe um grande número de pessoas arcaicas, centradas em sua própria localidade, limitadas pelos horizontes de sua própria raça, e indivíduos nacionalistas que veneram mais ou menos dogmaticamente a “grande herança” de seu país específico e/ou de sua cultura. A demanda de leitura de sorte em termos de acontecimentos específicos é tão grande quanto sempre foi, se não ainda maior; e a busca de conforto, de felicidade egocêntrica, de prazer sensual e de prestígio social ainda constitui o impulso a acionar a maioria dos seres humanos e nossa sociedade rica, neurótica e profundamente polarizada.

A astrologia se ajusta à mentalidade e às expectativas emocionais da pessoa que a ela vem como praticante ou cliente – tanto quanto o fazem a psicologia e a própria medicina. A pessoa obtém aquilo que ela dá. Conforme a pergunta que fizer, assim será a resposta. Aquilo que desejamos saber e, em situações mais construtivas, o que precisamos saber condicionam – se não determinam totalmente – o tipo de conhecimento que obteremos.

Dynamic Equilibrium 1947 by Dane Rudhyar

A Astrologia Centrada na Pessoa

Estamos vivendo numa era de extremo individualismo, e o enfoque “humanista” da astrologia que venho formulando durante muitos anos busca levar as pessoas a adquirir uma compreensão mais consciente do significado mais profundo de suas experiências, de modo que possam ser capazes tanto de cumprir sua individualidade essencial como seu destino, ou seja, seu lugar e sua função no universo. Nesse tipo de astrologia, o ser humano não é concebido como sendo exterior ao seu mapa astrológico; ele não é tido como “gestor” desse mapa, empenhado em reprimir seus “maus” aspectos e tirar proveito dos “bons”. O mapa astrológico é encarado como a fórmula estruturalmente definidora da “natureza fundamental” de uma pessoa. É um complexo símbolo cósmico – uma palavra ou logos revelador do que a pessoa potencialmente é. É o “nome celeste” de uma pessoa e também um conjunto de instruções sobre como ela pode realizar melhor aquilo que por ocasião de seu nascimento era potencial puro – “potencialidade germinal”. O mapa astrológico é uma mandala, um meio para alcançar uma integração todo-abrangente da personalidade.

Desenvolvi essas ideias extensamente em muitos livros e num grande número de artigos. Uma vez que elas sejam bem entendidas e assimiladas, tanto emocional como intelectualmente, tornar-se-á óbvio que todo o enfoque da interpretação dos fatores básicos em astrologia tem inevitavelmente que mudar – do contrário os resultados psicológicos para o cliente, e para o astrólogo, podem ser infelizes ou mesmo desastrosos. Essencialmente, o enfoque não deve ser “ético”, isto é, baseado numa atitude dualista – bom-mau, feliz-infeliz. Nenhum mapa astrológico deve ser considerado “melhor” que qualquer outro, mesmo que obviamente alguns mapas indiquem vidas “mais fáceis” que outras – mas as pessoas grandes e criativas bem raramente têm existência fácil, seja interior ou exteriormente.

Tal tipo de astrologia, visando atender às necessidades de homens, mulheres e adolescentes em nossa sociedade individualista, precisa lançar uma nova luz sobre a maioria dos velhos conceitos astrológicos, sobretudo quando a juventude inconformista procura construir um novo modo de viver. Uma astrologia humanista deve centralizar-se na pessoa porque sua preocupação básica é o desenvolvimento da pessoa como indivíduo – desenvolvimento no campo da consciência e dos sentimentos tanto quanto desenvolvimento através das ações externas. E essa centralização tem implicações muito definidas e consequências técnicas e práticas, pois o que uma astrologia desse tipo busca definir e interpretar é a relação direta da pessoa como indivíduo com todo o universo, o que, em termos práticos, significa sua relação com nossa galáxia considerada como “organismo” cósmico.

A astrologia antiga era, como já disse, centrada na localidade. A astrologia europeia em sua forma clássica centrava-se na Terra, sendo esta estudada como um globo. O que precisamos agora, num sentido mais definido e consistente do que o que foi tentado durante as décadas passadas deste século de orientação psicológica, é um enfoque, centrado na pessoa, de todo o conteúdo de nosso universo galáctico. Esse enfoque, de certo modo, está talvez mais próximo da antiga astrologia centralizada na localidade do que da astrologia centrada no globo de algum tempo atrás; mas o papel da localidade – cujo caráter afeta um grupamento tribal de seres humanos ainda não individualizados, movidos por impulsos vitalistas – deve agora ser assumido pela pessoa como indivíduo, ao menos parcialmente capaz de desenvolver um enfoque independente, totalmente aberto, criativo e consciente de seu ambiente total, tanto cósmico quanto biosférico e social.

Ainda temos muito que aprender com relação à galáxia e a seus milhões de estrelas. Ainda assim, podemos começar a reorientar nossas interpretações no sentido daquilo que se deverá desenvolver plenamente nos séculos vindouros.

Ω

Roda da Fortuna

O Ciclo de Lunação

Dane Rudhyar

φ

A Roda da Fortuna como um Indicador do Relacionamento Sol-Lunar em Desenvolvimento

A origem exata do sistema das Rodas, também conhecido como Partes Árabes não parece ser muito conhecida. Presumivelmente, o sistema foi desenvolvido durante a Idade Média pelos árabes, cuja grande cultura enfatizava então os conceitos matemáticos e a arte geométrica. Na Europa, foi adotado pelos astrólogos da era clássica, especialmente por John Gadbury. Seu uso, porém, sempre foi um tanto limitado e, de todo o vasto número de rodas classificadas por John Gadbury, somente a Roda da Fortuna sempre foi comumente aceita pelos astrólogos europeus. Na maioria dos casos, ela tem sido usada com pouquíssima compreensão a respeito do seu verdadeiro significado e da sua função numa abordagem “orgânica”, na interpretação de um mapa de nascimento. E apenas o seu nome – e, de um modo geral, o termo “Roda” – revela quão limitada tem sido essa compreensão.

δ

De fato, o conceito das Rodas Astrológicas tem uma significação muito pequena, a menos que seja visto como um auxiliar de grande valor para a teoria dos “ciclos de relacionamento”. Uma Roda é simplesmente, um meio prático de avaliar, em qualquer instante de um ciclo criado pelos movimentos de dois corpos celestes, a condição e o propósito desse relacionamento. É um indicador que se move registrando o progresso do relacionamento, um indicador bastante semelhante a qualquer outro usado hoje em dia no processo de levantar gráficos de equilíbrio, que está sempre mudando, entre dois ou mais tipos de atividades em constante aumento e diminuição. É uma expressão matemática do relacionamento dinâmico entre dois corpos que se movem; e as coordenadas, que servem de referência para o gráfico projetado no papel, são o horizonte e o meridiano.

O horizonte e o meridiano são os indicadores fundamentais da posição de um observador situado na superfície da terra. Pode-se dizer que eles constituem um ponto de referências para todas as experiências individuais. (…) Qualquer ciclo de relacionamento entre dois corpos pressupõe um terceiro fator, a terra, que originalmente condiciona o objetivo do relacionamento; logo, este ponto de referência composto pelo horizonte e pelo meridiano indica, explicitamente, o caráter deste terceiro fator. Por exemplo, o ciclo de lunação só tem significação em termos dos poderes de percepção das criaturas da terra que presenciam o seu desenvolvimento no céu noturno; e o impulso solar ou tom, que é liberado na lua nova e tem permissão para exercer seu poder através da intermediação das estruturas lunares concretas, tem como propósito essencial a satisfação das necessidades destes organismos nascidos na terra.

Deste modo, o astrólogo toma como ponto de referência o horizonte e o meridiano do local do nascimento e registra o progresso do relacionamento sol-lunar em relação a esse ponto. A técnica para fazer isso é extremamente simples. Em simbolismo astrológico, o relacionamento sol-lunar é medido pela distância angular (em longitude) entre os dois “luminares” (sol e lua) que se movem. Este valor angular é 0º por ocasião da lua nova e 180º por ocasião da lua cheia. Tudo o que é necessário, portanto, é tomar o valor angular do relacionamento sol-lunar, em qualquer momento da lunação e subtrair ou somar esse valor à longitude do ponto final oriental do horizonte, o Ascendente. (…)

δ

Creative Man by Dane Rudhyar

A Roda da Fortuna como um Indicador de Personalidade e Felicidade

Neste ponto, uma ilustração tirada do campo da acústica pode nos oferecer uma nova abordagem da Roda da Fortuna, que poderá fornecer muitas indicações valiosas. Um som musical, tal como é produzido por um trombone ou um violino, contém o som “fundamental” e mais um grande número de “sons harmônicos”. O número, a posição, a intensidade relativa desses sons harmônicos e seu relacionamento com o som fundamental são os principais fatores responsáveis pelo “timbre”, ou qualidade sonora dos tons instrumentais. Eles diferenciam um Dó médio tocado num violino da nota produzida por um trombone. Além disso, o som instrumental, como um todo, constitui uma liberação de energia, que se espalha de uma forma desigual entre o som fundamental e os harmônicos. Podemos então dizer que se cria um padrão de distribuição de energia caracterizando o timbre ou a qualidade instrumental do som.

Na astrologia, a posição zodiacal do sol natal simboliza o “som fundamental” do caráter, do destino e do propósito de um homem, sendo o sol também a fonte do potencial dinâmico que sustenta todos os órgãos e funções da personalidade total do homem; desse modo, na nossa analogia acústica, ele é a energia muscular projetada  no som por aquele que toca o instrumento. Por outro lado, a lua representa a força responsável pela construção dessas determinadas estruturas orgânicas (o padrão de “sons harmônicos”), através das quais o potencial solar é distribuído e colocado em operação. Como resultado o produto do relacionamento sol-lunar, a “vida” é o próprio som instrumental, em sua forma completa, ao passo que o instrumento concreto (a madeira e as cordas do violino, o metal do trombone) corresponde à soma total dos materiais terrenos que um ser humano herda dos seus pais e assimila do seu alimento e do ar que respira.

O padrão de distribuição da energia sonora, que caracteriza o timbre do som instrumental, pode ser realmente visto como a trilha sonora de um filme. Pode ser visto como um complexo padrão ondulado. E pode-se dizer que este padrão ondulado corresponde àquele ciclo completo descrito pelo indicador do relacionamento sol-lunar – a Roda da Fortuna -, na medida em que ele registra o progresso do ciclo de lunação ao longo da circunferência da roda astrológica.

A Roda da Fortuna sintetiza os três fatores com os quais temos que lidar, se vamos ter uma compreensão clara e completa do ciclo de relacionamento sol-lunar: sol, lua e localidade na terra. Do mesmo modo, o fator de “personalidade” é uma expressão da relação de todas as funções, órgão e faculdades, no reino da “vida”, que são necessárias para criar uma pessoa completa. Neste sentido, a personalidade é a qualidade do som e do timbre da pessoa como um todo. Ela é, também, a maneira como a pessoa total vibra ante a “vida” e os confrontos internos e externos que são desafios para um viver mais elevado.

Agora, se considerarmos a Roda da Fortuna do ponto de vista da ação, podemos defini-la como o ponto focal para a expressão da força gerada pelo relacionamento sol-lunar. Conforme já dissemos, esta força se manifesta de várias maneiras: como sexo, como amor, como magnetismo pessoal, como saúde irradiante; em suma, como todo e qualquer tipo de expressão pessoal pertencente ao nível de atividade humana onde o dualismo da “vida” reina absoluto. E porque é também neste nível que podemos descobrir a raiz daquilo que os homens chamam de “felicidade”, torna-se explicável a conexão entre a Roda da Fortuna e a capacidade que o indivíduo tem de ser feliz e a natureza especial dessa felicidade.

A felicidade é um estado de existência ou de consciência que depende da facilidade com que a “vida” opera dentro do organismo total (corpo e psique). A facilidade traz felicidade; a o perturbação resulta em dor, aflição e infelicidade, e qualquer obstáculo ao fluxo das energias vitais através das glândulas, dos músculos, dos nervos ou das funções psicomentais produz uma condição de perturbação, por mais leve ou temporária que possa ser. A congestão e, depois, a inflamação resultam do entupimento no fluxo de energias vitais; e o oposto da congestão, a vitalização imprópria de tecidos ou estruturas psíquicas, leva à deterioração e à desintegração, à infecção e ao apodrecimento.

Se a felicidade depende da facilidade de funcionamento, deveria ser muito importante, para a pessoa, ser capaz de determinar o tipo de atividade na qual suas energias vitais podem fluir com mais facilidade. Tal determinação seria instintiva e espontânea se os homens vivessem num “estado natural”, com um mínimo de pecados hereditários para perverter o ritmo normal do seu desenvolvimento pessoal. Os homens, porém, vivem em sociedade e, como coletividade, têm assombrosa habilidade para lembrar o passado de sua raça, para “aprisionar o tempo” e condensar a lembrança de conquistas humanas na textura de uma civilização. Este dom é a glória do homem e a maldição de cada pessoa. Ele significa que a força acumulada da tradição, da memória da raça e do carma da raça desafia, desde o nascimento e especialmente através dos anos de desenvolvimento do jovem, todos os instintos vitais naturais que um ser humano tem dentro de si. Este desafio poderá significar um crescimento acelerado e super normal, e o desenvolvimento de faculdades de grande importância mental e espiritual; mas também poderá acabar em repressões, frustrações e doenças praticamente incuráveis do corpo ou da psique. Ele poderá ter em qualquer um desses resultados, ou ambos ao mesmo tempo, um ponto que jamais deverá ser inteiramente esquecido.

O que a astrologia pode fazer é ajudar-nos a descobrir conscientemente aquilo que os nossos instintos deformados muitas vezes já não conseguem revelar, com convincente clareza, para o nosso ego confuso. Pode mostrar-nos também, de forma conclusiva, as razões básicas por que, no nosso caso particular, as forças vitais já não fluem com facilidade, portanto, as causas que determinam a ausência de felicidade vibrante e total em nossa vida. Se seremos ou não capazes de remover essas causas, isso já é uma outra questão. Do ponto de vista do espírito, sempre é possível que elas sirvam a um propósito útil, pelo menos por algum tempo. Não obstante, é privilégio do homem palmilhar o “caminho consciente”; e a astrologia, se adequadamente manejada, pode nos fornecer a substância da compreensão consciente. Ela pode trazer a iluminação da lua cheia para todo o homem que está preparado, a iluminação que transfigura as energias instintivas da “vida” e de tudo o que pertence ao reino da dualidade, transformando-as na força de significação criativa.

A Roda da Fortuna nas Casas

Primeira Casa: esta posição se refere normalmente a um tipo de pessoa da lua nova. A posição, portanto, encarna as características do tipo. Falando de um modo geral, o sucesso e a felicidade deveriam vir para o indivíduo que coloca a si e as suas conquistas sem paralelo (por mais irrelevantes que possam parecer aos outros) na própria base do seu ajustamento à sociedade e ao seu meio. Isto não é, necessariamente, uma indicação de orgulho, mas antes de uma maneira fortemente individual e pessoalmente responsável de enfrentar as situações da vida. Indica autoafirmação, mas também a vontade de satisfazer a uma necessidade do destino e de fazer isso de maneira nova, revelada por uma avaliação pessoal dos problemas que devem ser encarados. O perigo está em o indivíduo isolar-se dentro de si mesmo e/ou em sentir-se separado dos outros seres humanos.

Segunda Casa: aqui, muito depende do fato de estar envolvido um tipo da lua nova ou um tipo da lua crescente, e até mesmo poderia ser um tipo do primeiro quarto. A pessoa devera sentir a ânsia de atrair “substância social” para si mesma – dinheiro, propriedade, valores culturais herdados etc. – e de sentir-se feliz ao fazer isso, especialmente se precisa disso para tornar mais concreto e eficaz o seu senso de ser um “indivíduo”. Ele poderá e deverá procurar apoio e sustento no seu esforço para deixar sua marca no seu meio. Ele poderá ser um bom administrador, especialmente se o seu sol e a sua lua formam um aspecto sextil (60 graus). Uma ilustração notável desta posição da Roda foi a grande educadora Dra. Maria Montessori, que desenvolveu uma nova abordagem da criança e da maneira de cuidar do seu desenvolvimento individual.

Terceira Casa: esta posição normalmente assinala capacidade para enfrentar os obstáculos encontrados no ambiente imediato da pessoa e para lidar eficazmente com o problema de avaliar e assimilar, de uma forma inteligente, os valores intelectuais e culturais que cercam o adolescente em processo de crescimento. Esforçando-se para alcançar estes fins e para comunicar suas ideias ou sentimentos aos outros, o indivíduo normalmente encontrara felicidade. Em certos casos, quando esta tendência natural é frustrada pelas circunstancias, a mente poderá ficar tensa e tornar-se impiedosa e destrutiva. Tudo está centralizado em torno de uma luta de vontades ou de ideologias. Nos primeiros anos de vida a tendência é procurar um “Exemplo” e seguir seu curso de ação, para depois tentar ir um passo adiante. No mapa de nascimento do compositor-pianista Franz Listz, que será estudado mais tarde neste livro, a Roda da Fortuna esta na terceira casa, não muito distante do sol. Ele passou grande parte da sua vida dando concertos de país em país, deixando a impressão dos seus novos ideais nos musicistas da sua época.

Quarta Casa: o sentimento do lar e das raízes e a procura de uma base adequada para a integração da personalidade, sobre a qual construir a ambição pessoal, deverá ser da maior importância. A felicidade exigira uma sensação de estabilidade, uma sensação de estar em contato com valores permanentes e conceitos sólidos, e de não ser o único que tem tal percepção. Em alguns indivíduos notáveis (Walt Whitman é um exemplo) a estabilidade poderá ser encontrada totalmente dentro; contudo, a necessidade de descobrir outros que partilham esta maneira de ser ainda é básica. “Lar” requer um outro; e a verdadeira   integração da personalidade requer um quadro de referencias, uma comunidade que de sentido e propósito aos esforços do indivíduo. O Ponto de iluminação está, então, na décima casa e representa a possibilidade de encontrar satisfação de uma forma mais ampla, através da identificação com um todo social, profissional ou nacional. O Presidente Kennedy é uma ilustração significativa desta posição da Roda da Fortuna na quarta casa.

Quinta Casa: o impulso de crescimento pessoal é alto e as energias criativas ou emocionais da pessoa tendem a transbordar, de uma forma ou de outra. A felicidade parece ser o resultado desse derramamento instintivo ou egocêntrico de si mesmo dentro da comunidade a que o indivíduo pertence. A exultação emocional poderá ser encontrada na atividade artística criativa (George Gershwin e Charles Ives – dois compositores notáveis), ou no desejo de poder (Charles de Gaulle). A vontade de jogar normalmente está presente, de uma forma ou de outra.

Sexta Casa: na maioria dos casos, isto indica um nascimento bastante próximo da lua cheia. O impulso original do ciclo está atingindo o seu ápice e a pessoa está chegando perto da crista de uma onda; com frequência, ela está tentando completar, aperfeiçoar ou compreender a fundo, rapidamente, qualquer coisa que tenha sido iniciada no passado. Deste modo, a felicidade pode ser encontrada no trabalho, no auto aperfeiçoamento, na autodisciplina e na excelência técnica da formulação. Consciente ou não consciente disso, uma pessoa com tal posição da Roda da Fortuna normalmente é inspirada por um passado social, cultural ou político, no qual encontra felicidade. Quer não só trazer para uma conclusão, mas também transformar esse passado, de modo a torná-lo sensível a uma nova visão da qual ele sente que é o arauto. Este tipo normalmente é bem-sucedido em períodos de crise, quando as tradições estão sendo desafiadas por uma sociedade inquieta.

Sétima Casa: isto indica um nascimento logo depois da lua cheia, embora também possa incluir indivíduos do tipo propagador. No caso positivo, a felicidade é encontrada na colocação dos relacionamentos importantes sob a luz mais clara possível, e no caso negativo, é encontrado na fuga daqueles “casamentos” (em qualquer nível) ou alianças, que não trouxeram nem satisfação, nem uma percepção mais ampla da existência.   Em qualquer dos casos, o relacionamento humano é o fator que determina toda a grande iluminação individual. No sentido negativo, portanto, a pessoa pode ficar excessivamente preocupada com o fato de experimentar um relacionamento ou pode passar a depender dele. Sentindo ser este o caso, ela poderá focalizar a sua ânsia de relacionamento em algum “Tu” absoluto e transcendente.

Oitava Casa: esta casa se refere tradicionalmente a morte e ao renascimento, ou regeneração. Mas ela também está muito ligada ao uso que está sendo feito das energias que nascem de todos os tipos de relacionamento, particularmente daquelas que resultam dos acordos contratuais – sendo estas últimas a própria substancia dos “negócios”. Nosso mundo moderno está basicamente apoiado em contratos feitos por indivíduos e/ou grupos; mas estes contratos mudam com muita frequência – são feitos, desfeitos e refeitos. Isto se aplica até mesmo aos casamentos e àquelas associações de trabalho que, no passado, tinham um caráter permanente. O indivíduo com a Roda da Fortuna na oitava casa poderá se envolver demais em problemas administrativos; mas este termo, administração, conquistou um imenso campo de aplicação. Um guru indiano, como Meher Baba, que seus seguidores consideram uma “encarnação divina”, também se ocupa com a administração adequada das energias devocionais, que são colocadas a sua disposição por seus chelas; e o Mikado-Mutsu Hito, que foi o fundador do Japão moderno, administrou com eficiência o poder depositado sobre ele por sua tradição.

Nona Casa: tal posição da Roda da Fortuna acentua a tendência de procurar a felicidade em processos de auto-engrandecimento. Tais processos, porém, podem ser fundamentados sobre uma ambição egocêntrica, obstinada, ou sobre um estudo profundo do significado das leis sociais e psicológicas. Poderá indicar um forte desejo de viagens a lugares distantes, de descobrir “como vivem outras pessoas”. Poderá levar a uma vontade ardente de perder o próprio ego num vasto movimento religioso, num reino de existência transcendente. Estadistas tais como Jefferson, Bismarck, Lenin, Hitler e Nehru acharam “fácil” identificar-se com a vida arquetípica dos seus países, conforme estes estavam sendo construídos ou reconstruídos. Carl Jung encontrou a sua “felicidade” no estudo profundo dos processos psicológicos nos períodos de crise e reorientação.

Décima Casa: aqui lidamos com o “homem profissional” no sentido mais profundo. O indivíduo com a Roda da Fortuna nesta casa aceita cumprir o seu papel na sociedade – um papel que normalmente foi formulado pelas gerações passadas. Nos casos de Victor Hugo e Dante, estes dois homens se sentiram felizes cumprindo a sua função de poeta. Num tipo de pessoa como Trotsky, o indivíduo age, decididamente, como o revolucionário. No caso de um Mussolini, ele aceita encarnar o arquétipo César. Em Einstein vemos a nova espécie de místico-vidente no campo da matemática superior que, embora aparentemente tão remota, pode ter as aplicações mais concretas. Esta identificação com uma função social ou “destino” nunca é totalmente significativa e criativa, a menos que o ser humano também seja uma “pessoa” real, profundamente enraizada no próprio terreno da personalidade individual (ponto de iluminação na quarta casa).

Décima Primeira Casa: no seu aspecto positivo, esta casa poderia ser interpretada como o “verão indiano” do ciclo – a transfiguração da consciência pessoal não somente permitiu a percepção de grandes questões coletivas, mas também trouxe a capacidade de participar em empreendimentos importantes destinados a renovar e transformar instituições e valores tradicionais. Num sentido mais negativo, esta casa se refere a meros sonhos ou a ideais que não estão em harmonia com o ritmo da humanidade. A pessoa nascida com a Roda da Fortuna nesta área de espaço ao redor do seu nascimento poderá procurar a felicidade nos sonhos, ou poderá procurar uma compensação para seus complexos em atividades revolucionarias ou anarquistas que não vão de encontro “as necessidades da época”. Pode, também, ser um pioneiro e um reformador de valores sociais, culturais ou espirituais. Darwin, o pai da teoria moderna da evolução das espécies, e Mahatma Gandhi – ao mesmo tempo sonhador, profeta e estadista – são exemplos significativos.

Décima Segunda Casa: esta casa se refere, basicamente, aos produtos finais de um ciclo de atividade. Falando num sentido social, tais produtos são representados por instituições e tradições, por todos os “fantasmas” psicológicos coletivos da cultura da sociedade e também pelos frutos dos esforços de muitas gerações. A Roda da Fortuna nesta casa poderá indicar a capacidade que o indivíduo tem para saborear ou sofrer significativamente por causa desses produtos finais do seu ciclo de cultura. Ele também poderá encontrar felicidade aceitando e, deste modo, transformando ou dissolvendo o seu próprio carma. Ele também poderá condensar dentro de si mesmo, por assim dizer, esses frutos de um ciclo e tornar-se uma “semente”; em outras palavras, suas realizações poderão transformar-se na base de um novo ciclo. No sentido “oculto”, poderá até mesmo alcançar a imortalidade pessoal, de maneira que aquilo que ele é, como uma mente formada, é capaz de sobreviver a desintegração do corpo físico. Muitas, mas não todas, das personalidades pertencentes ao tipo balsâmico têm a sua Roda da Fortuna na décima segunda casa; outras a tem na décima primeira. Å primeira categoria pertencem Lutero, Thomas Paine, Washington, Kant, William James e o papa Paulo VI.

A Roda da Fortuna nos Signos Zodiacais

Pelo que foi dito anteriormente, já deve ter ficado evidente que a posição da Roda da Fortuna nos signos do zodíaco depende, em principio, da posição zodiacal do Ascendente – consequentemente, da hora e minutos exatos do nascimento. A posição zodiacal do Ascendente (sua longitude) muda rapidamente, cobrindo todo o círculo zodiacal em mais ou menos um dia; do mesmo modo, a Roda da Fortuna passa através de todos os signos do zodíaco em menos de vinte e quatro horas, pois a sua longitude, em qualquer momento, é aquela do Ascendente mais a da lua e menos a do sol.

Praticamente falando, isto significa que todos os dias a Roda da Fortuna entra em conjunção com cada planeta em algum momento do dia. Já vimos que ela esta em conjunção com a lua todas as manhas, por ocasião do nascer do sol; portanto, ela também esta em oposição à lua quando o sol se põe no lado oeste do horizonte (o Descendente) – o que significa, também, que aquilo que chamamos de Ponto de iluminação está em conjunção com a lua no pôr do sol.

É amplamente conhecido o significado tradicional de cada signo do zodíaco na astrologia, e uma reformulação desses significados, na luz do pensamento do século vinte, foi dada no meu livro The Pulse of Life. O que deve ser enfatizado, com referencia a presente abordagem, é que cada signo e grau do zodíaco é simplesmente uma caracterização simbólica de um determinado tipo de orientação e reação ao constante derramamento de potencial-vida vindo do sol. Acredito que nem o signo nem o grau do zodíaco tem nada a ver com estrelas ou constelações (exceto no sentido de correspondência estrutural entre todos os ciclos completos). O zodíaco é um “quadro de referências” simbólico para a interpretação do ajustamento dinâmico das estações de uma terra receptiva com um sol doador. Ele simboliza a série anual de ângulos de incidência dos raios solares – portanto, o caráter da fecundação da terra (com todos os organismos que estão vivendo nela) pelo sol.

Se, então, descobrimos que a Roda da Fortuna esta localizada, digamos, em Áries, isto significa que a capacidade de irradiação da personalidade, de felicidade e de facilidade no funcionamento social do indivíduo é modelada pelo impulso característico (a “tonalidade”) do sol – ou, mais exatamente, pela reação característica da terra ao sol – durante o começo da primavera. Por outro lado, como nos casos de Lenin e de Keyserling, se a Roda da Fortuna está em Leão, então as tendências típicas de Leão nos ajudarão a definir o caminho de facilidade e de felicidade pessoal para estes indivíduos. Lenin provou ser um grande estadista e um condutor de homens; o conde Keyserling gostava de funcionar como um supremo senhor mental, como o diretor de um grupo de mentes aristocráticas – assim como fez Victor Hugo, que tinha a mesma configuração.

No caso de Franklin D. Roosevelt, a Roda da Fortuna está localizada em Aquário e na quinta casa; enquanto que no mapa de Richard Wagner ela também está em Aquário, mas na décima casa, e no mapa de Stalin encontra-se na cúspide da quarta casa. As lunações de aniversário desses homens diferem, mas a substância zodiacal da felicidade deles e as emanações magnéticas das suas personalidades revelam a qualidade aquariana associada a uma visão sociocultural, e a um ardente e autoconfiante desejo de reformar. As características aquarianas estabelecem uma importante ligação astrologia entre estas três pessoas, muito embora seus mapas sejam completamente diferentes. Para muitos estudiosos da astrologia, aquilo que este tipo de ligação indica poderá parecer que é um sutil fator pessoal; contudo, por mais sutil que possa ser, ele define a “tonalidade” da procura, de um indivíduo, da felicidade e da liberdade e facilidade de operação.   

Por causa do fato de que o homem que atinge o objeto da sua busca irradia, realmente, alguma coisa misteriosa atraindo o sucesso para ele, é que foi dado o nome de “Roda da Fortuna” ao indicador do relacionamento sol-lunar. Pois, como o Novo Pensamento nos ensinou (mesmo que com uma grande dose de fervor juvenil) a riqueza, o sucesso, a saúde e a felicidade são os vários resultados de um profundo senso de facilidade, que por seu turno indica um fluxo rítmico de energia vital. Não pode haver um tal fluxo onde não há uma fé vibrante, constante e inabalável (instintiva ou consciente) na abundância desse infinito potencial de vida que, para o astrólogo é o sol e para o religioso, Deus.

A posição zodiacal da Roda da Fortuna não é um fator tão óbvio quanto a sua posição nas casas ou a lunação de aniversario. É menos óbvio porque não pode ser determinada sem que se saiba o grau exato que estava ascendendo por ocasião do nascimento. Justamente por causa disso, ele trata – como o Ascendente – das características mais profundas do ser em expressão. De fato, saber exatamente a substancia da felicidade de uma pessoa é quase como saber a maneira ímpar e característica (Ascendente) na qual ela pode realizar o propósito do seu destino. Um tal conhecimento deveria, preferivelmente, permanecer secreto – e, sendo assim, o costume habitual de deixar que todos   saibam o momento exato do nosso nascimento é, psicologicamente, muito imprudente – embora muito conveniente para os   astrólogos. Portanto, o que deveria permanecer sempre um mistério não se refere tanto aos signos, onde o Ascendente e a Roda da Fortuna estão localizados, porém mais aos graus exatos onde estão colocados. Os símbolos desses graus dão a chave para a natureza do núcleo ativo da identidade espiritual de um homem, do modo como ela é expressa através do e no caráter e identidade de uma pessoa.

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relógio solar

A Roda da Fortuna em Áries

A facilidade de funcionamento e a felicidade vêm com o exercício do poder de iniciativa e com um confiante mergulho na experiência. O indivíduo deverá deixar-se guiar pela intuição e deverá ver-se como um ativador de novos impulsos sociais e culturais, tendendo a identificar a sua personalidade com tal impulso criativo, ou então se sentirá frustrado e infeliz se for impedido de agir assim. Exemplos: Francis Bacon, George Washington, Clara Barton, Isaac Newton, Louis Pasteur, Albert Einstein, Frederic Chopin, Will Levington Comfort.

A Roda da Fortuna em Touro

As características ardentes da primavera também são encontradas aqui, mas o indivíduo tem um tipo de personalidade firme, autoconfiante e até mesmo obstinada, adorando, conscientemente ou não, lidar com o poder oculto, social ou coletivo, e tendo que ver resultados materiais definidos para poder ser feliz. O desejo fundamental é trazer qualquer coisa, que tenha existido no passado, para um novo nível de evolução em resposta as necessidades da época. É tornar-se um agente de forças de evolução ou, poderíamos dizer, a “mãe” do amanhã. Exemplos: Martinho Lutero, Goethe, Thomas Paine, Benjamin Franklin, Príncipe Bismarck, Leon Trotsky.

A Roda da Fortuna em Gêmeos

A mente aprende rapidamente e é ávida de conhecimentos. A felicidade resulta da capacidade que o indivíduo tem de se expandir e entrar em contato com tudo. A iluminação mais profunda vem através de estudos filosóficos ou religiosos, ou por meio da identificação com uma causa grandiosa ou com uma organização social. A infelicidade resulta principalmente de uma sensação de confinamento e de confusão intelectual. Exemplos: Rainha Vitoria, a Duquesa de Windsor, Rudolph Steiner, Henry Wallace, Dmitri Shostakovich.

A Roda da Fortuna em Câncer

A felicidade é, essencialmente, alcançada no lar ou em qualquer campo de atividade bem definida e focalizada. Mas, o sentimento de lar poderá ser estendido para uma nação, para uma classe social ou para uma organização religiosa. A satisfação normal e a facilidade de operação encontram-se onde são seguidos pontos de vista pessoais e particulares; a iluminação, porém, é alcançada por meio da identificação pessoal com algum todo maior, social ou espiritual. Exemplos: Karl Marx, Mary B. Eddy, Shelley, o czar Nicolau II, Adolph Hither – e os mapas nacionais da Inglaterra e dos Estados Unidos (mapa com Sagitário ascendendo).

A Roda da Fortuna em Leão

Para se sentir a vontade, irradiante e feliz, o indivíduo deve-se expressar emocionalmente e projetar seus sentimentos pessoais em tudo o que toca. Deve ter também um outro alguém a quem impressionar. A felicidade transforma-se em alegria criativa a medida que a pessoa serve a grandes ideais e a energia criativa é canalizada e sublimada em criações, invenções ou visões que têm importância coletiva. Exemplos: Oliver Cromwell, Victor   Hugo, Sigmund Freud, Pierre Curie, Adolf Shoenberg, Keyserling, Lenin, Benes, Presidente Johnson.

A Roda da Fortuna em Virgem

A busca pessoal da felicidade e da autorrealização opera através da analise intelectual, da autocrítica, da introversão e do uso de crises na superação de obstáculos. A confiança na técnica e em processos fixos de trabalho e também a exclusão, talvez impiedosa, de tudo o que não se enquadra perfeitamente parecem ser necessárias para a conquista da integração e do sucesso pessoal. Em outros casos, a devoção absoluta e a auto-submissão parecem constituir a única chave para a realização e a felicidade. Exemplos: Jacob Boehme, Mahatma Gandhi, Benito Mussolini, Wendell Wilkie.

A Roda da Fortuna em Libra

Neste caso, a felicidade é profundamente afetada pelo curso das associações intimas, por fatores sociais ou pela intrusão de forças espirituais na personalidade. Há um anseio de personificar grandes ideais, ou até mesmo Deus – muitas vezes em consequência de uma sensibilidade exagerada ou de uma indecisão psicológica quando frente a frente com a sociedade. A tendência para dramatizar-se ou assumir atitudes sociais com a finalidade de alcançar os próprios objetivos e a segurança interior, frequentemente está em evidência. Exemplos: o profeta persa Bab; o Mikado Mutsu-Hito, Franz Lizt, Meher Baba, o Duque de Windsor.

A Roda da Fortuna em Escorpião

A busca da felicidade e de integração da personalidade está interligada com o problema do uso adequado do poder. Aqui,  poder pode significar poder sexual ou o poder derivado de uma profunda identificação com energias humanas coletivas (ou “ocultas”). Ele sempre se relaciona com os frutos finais de algum tipo de associação. A iluminação vem em consequência de uma fecundação interior por algum poder espiritual definido. Exemplos: Lord Byron, Jay Gould, Walt Whitman, papa Pio XI, Carl Jung.

A Roda da Fortuna em Sagitário

Esta posição indica um forte desejo de vastos horizontes mentais, assim como de uma vida livre de limitações e tradições particulares. A tendência é de lidar com questões grandes, muitas vezes com algum grau de fanatismo ou então em termos de princípios gerais, puramente abstratos, talvez sem um senso adequado de perspectiva e realismo. Nos casos mais elevados, porém, a alegria é experimentada quando o indivíduo da uma forma criativa a abstrações na literatura, na formulação intelectual e na investigação cientifica. Exemplos: o grande astrólogo John Gadbury; o gênio literário e rebelde social (a mulher romântica de muitos amores famosos) George Sand; o poeta Baudelaire; o construtor do império britânico sul-africano, Cecil Rhodes.

A Roda da Fortuna em Capricórnio

Aqui ha profundidade e, às vezes, austeridade e transcendência na busca da felicidade realizada pelo indivíduo. A vida pessoal tende a fluir em profundidade, melhor do que em amplitude, mas muitas vezes com uma qualidade exaltada. O senso de responsabilidade social ou espiritual poderá ser dominante. Poderá levar a pessoa a acreditar na sua missão ímpar e na sua capacidade de encarnar um novo tipo de ser humano em qualquer esfera onde ela possa atuar, sendo um exemplo no sentido mais pessoal do termo. Exemplos: Baha’u’llah, que muitos consideram ter sido uma Encarnação Divina; Nostradamus, o vidente; Annie Besant, Ralph Waldo Emerson; J. P. Morgan, o velho – e (provavelmente) Abraham Lincoln.

A Roda da Fortuna em Aquário

O idealismo social e o zelo reformador do tipo aquariano são bem conhecidos. A Roda da Fortuna traz estas qualidades para um foco muito pessoal. Por baixo de todas as diferenças de posição, profissão, temperamento individual e destino, ela escolhe a pessoa, que tem tal característica natal, para atuar como um contribuinte para o progresso da civilização – por mais modesta, por mais construtiva ou destrutiva que seja essa contribuição. Exemplos: Dante, Emmanuel Kant, Robespierre, Ramakrishna, Havelock Ellis, Richard Wagner, Maria Montessori, Franklin D. Roosevelt, Joseph Stalin.

A Roda da Fortuna em Peixes

Peixes é um signo indefinível, que por um lado produz generais e pelo outro produz místicos e musicistas. Ele indica um processo de dissolução coletiva, um estado de crise social e cultural no qual velhas formas são destruídas para deixar lugar às novas. O índice de personalidade e felicidade localizado aqui mostra a força de vida operando quase que contra si mesmo, a fim de superar-se. A pessoa despreza as coisas menos importantes e deseja avidamente conquistar mundos novos. Poderá alcançar o objetivo da sua vida através de crises pessoais ou sociais – através daquilo que as outras pessoas têm a impressão de que são milagres. Exemplos: o cientista místico Swedenborg, Napoleão I, Robert Schumann.

©Dane Rudhyar

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