A Astrologia como Sistema de Coerência

“EIS VOCÊ”: a astrologia como sistema de coerência na construção de pequenas e grandes narrativas

Milena Lepsch da Costa

Dissertação de Mestrado
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Letras/Estudos da Linguagem.

Resumo

Na modernidade, em que as relações são definidas como líquidas, este trabalho procura entender, a partir da análise narrativa, a popularidade/produtividade do sistema de crença da astrologia, especialmente na construção de um discurso essencializante sobre a identidade. Para isso, apresento 22 entrevistas de pesquisa sobre o tema, realizadas com estudantes da PUC- Rio no período de 2016 a 2017 nas quais emerge uma considerável quantidade de pequenas histórias e histórias de vida, aqui analisadas qualitativa e interpretativamente. Compreendo a narrativa como um importante instrumento para a construção de sentido no mundo social e para a formação de identidades autobiográficas. Nestes termos, observo quais estratégias discursivas os entrevistados utilizam-se para construir histórias sobre si/outros, esforçando-se para apresentarem-se da melhor forma possível neste teatro que é a entrevista de pesquisa. Nota-se que muitas dessas histórias são costuradas a partir do sistema de coerência da astrologia. Isto é, os entrevistados constroem accounts ou relações de causa e efeito, com o objetivo de reivindicar certo assujeitamento no discurso, especialmente para comportamentos considerados socialmente negativos. Desse modo, os signos, ao livrarem seus narradores de agência, atuam no trabalho de face, colaborando para uma apresentação favorável dos entrevistados.

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4. Aporte Teórico

“Ora (direis) ouvir estrelas!
Certo perdeste o senso!
E eu vos direi, no entanto,
Que para ouvi-las muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto
E conversamos toda a noite, enquanto a Via Láctea, como um pálido aberto
Cintila”.

Olavo Bilac

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Neste capítulo apresentaremos os pressupostos teóricos que nos orientam para o desenvolvimento desta dissertação. Parto de um viés interacionista, em que as identidades são construídas à medida que são negociadas face a face. Dessa forma, observamos como os entrevistados desta pesquisa utilizam-se dos accounts narrativos para falarem de si, construindo suas identidades a partir do sistema de coerência da astrologia. Ainda, consideraremos os estudos de agência, especialmente Block, que me ajudam a compreender quais são as estratégias de fortalecimento/enfraquecimento da agência, utilizadas pelos estudantes para apresentarem-se de forma favorável em nossa interação.

Como nossa pesquisa refere-se a relações ocorridas na esfera microssocial baseio-me no aporte teórico da Sociolinguística Interacional na seção (4.1). Em seguida, apresento as contribuições dos estudos das narrativas canônicas (4.2), em especial aqueles que buscam investigar questões identitárias, amplio para narrativas não canônicas/micronarrativas (4.3). Depois deste tópico, divido este capítulo da seguinte maneira: (4.4) Contribuições de Linde; (4.5) Accounts Narrativos; (4.6) Contribuições de Goffman; (4.7) Astrologia e Identidade e (4.8) A agência nos estudos narrativos.

Há nesta pesquisa a intenção de observar a entrevista como um encontro social pesquisável. As nossas entrevistas por não se caracterizarem como um encontro misto (em que há uma diferença marcante de status social, gênero, etc.), coloca a entrevistadora e o entrevistado em um mesmo grau: estudantes da universidade, ocupantes do mesmo espaço, tornando, dessa forma, o encontro com menos estranhezas e menos necessidade de tato.

Percebi em maior/menor grau que a aceitação dos alunos à minha pesquisa era alta. Como veremos na análise, e já previamente citado, grande parte das entrevistas não foram marcadas, abordava os estudantes na universidade de forma “espontânea” (se é possível existir espontaneidade, como nos ensina Goffman), explicava a pesquisa e os convidava a participar.

Os estudantes ao entenderem minhas motivações e tema da pesquisa, mostravam-se prontamente animados e engajados a iniciarem uma conversa gravada. Acredito que justamente pela astrologia ser popular entre o grupo pesquisado, e ser vendida como uma versão pop de apresentação identitária, que consegui capturar dos meus entrevistados pequenas/grandes narrativas particulares, de maneira leve e descontraída.

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4.1 A Sociolinguística Interacional

“Passou-se a assumir pela virada da narrativa que os dados não falam por si, nem descrevem uma realidade; que o conhecimento produzido em campo é sempre produzido por um pesquisador, ele próprio um ator social, que pelas lentes de suas próprias condições identitárias e contextuais olha seu objeto de uma determinada perspectiva, e constrói sobre o campo de pesquisa uma narrativa única”.

Bastos e Biar

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A Sociolinguística Interacional emoldura teoricamente este trabalho, uma vez que considera a interação como seu objeto mais caro de análise. A Linguística, entretanto, passou por um longo período desconsiderando o contexto de comunicação. Especialmente, o situacional e as influências que a linguagem provocava na sociedade, bem como as que recebia dela. O estruturalismo e o gerativismo, abordagens de natureza formalista, deixaram de lado, também, a questão da variação e da mudança linguística. Consideravam a língua como um sistema homogêneo e os processos discursivos orais não passíveis de estruturação.

Contudo, as línguas são vivas e heterogêneas, assim como seus falantes. Portanto, é de fundamental importância que elas sejam consideradas em relação às sociedades que as utilizam, conforme salienta Labov, em sua clássica obra com Weinreich e Herzog (Emperical foundations for a theory of language change), marca do início da Sociolinguística Variacionista. A novidade deste livro é que se passou a considerar a língua como um fenômeno heterogêneo, passível de processos regulares de variação e mudança, ocasionados por fatores intra/extralinguísticos. Isto é, da própria língua e da sociedade, respectivamente.

Outro pensador de extrema relevância para a consolidação da língua como um processo vivo, constituído na própria interação foi Goffman, contemporâneo de Labov. Autor que convida os pesquisadores a tratarem as investigações linguísticas com mais abrangência, não só observando a estrutura linguística, mas examinando o cenário em que a fala se dá (tom, gestos, cenário de fala, gênero dos participantes), lugar até então negligenciado (a situação negligenciada) pelos estudiosos. Goffman afirma:

Um estudioso interessado nas propriedades da fala pode se ver obrigado a olhar para o cenário físico no qual o falante executa os seus gestos simplesmente, porque não se pode descrever completamente um gesto sem fazer referência ao ambiente extracorpóreo em que ele ocorre.

Desenvolvida paralelamente à Sociolinguística Variacionista, a sociolinguística Interacional (SI) constrói uma quebra de paradigma com as abordagens feitas na época (anos 60 e 70). A partir de então, a SI observa o que as pessoas constroem quando estão juntas e a forma como fazem. Entende-se que o sentido das sentenças é sempre co-construído e situado. Importando, para a análise, os silêncios, as pistas paralinguísticas, as relações de poder, o gênero e a forma como a interação é dada, sempre de forma contextualizada. Uma vez que temos o objetivo de aliar nossa pesquisa à sociolinguística interacional, não podemos deixar de relacionar os dois principais teóricos desta linha de investigação: Goffman, já anteriormente citado e Gumperz.

Goffman é classificado como o pesquisador que aguçou seu olhar para observar a situação comunicacional além da estrutura/linguagem verbal. O trabalho do sociólogo oferece bases teóricas para esta análise, como: tempo, espaço e participantes. Para Biar, Goffman antecipa a aposta de Gumperz na centralidade dos conhecimentos situados para os processos interacionais. O autor oferece ferramentas analíticas necessárias para se entender como as pessoas atribuem valor simbólico ao que é dito e feito nos encontros sociais.

Por sua vez, Gumperz, autor que combina modelos de pesquisa não somente relacionados à linguística, mas à antropologia e a sociologia, procura unir a linguagem em um continuum a investigar questões como sociedade, cultura, classes e papéis sociais. Gumperz debruça-se nas análises das interações, buscando: “apresentar significados para as interações sociais, como as entrevistas, procurando avançar nos conhecimentos sobre os estudos interpretativos”. A influência da antropologia na linguística se dá principalmente por ele, a considerar a linguagem como um instrumento social, culturalmente determinado.

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4.2 Os Estudos da Narrativa

“As histórias estão nas mais diversas instâncias de nossas vidas e estudar essas histórias é uma forma de compreender a vida em sociedade. Nessa atividade de narrar não apenas demonstramos quem somos, mas também construímos relações com os outros e com o mundo que nos cerca”.

Bastos

Os estudos da narrativa são um braço importante da Sociolinguística Interacional. A partir das atividades que envolvem o narrar organizarmos a realidade e construímos a própria história social, uma vez que somos seres formados por histórias. Para Bruner o princípio organizador da memória humana é narrativo. Por elas, indagamos, defendemos, explicamos e formamos quem somos. Segundo Bastos e Biar, ao analisarmos as histórias narradas “podemos alcançar e aprofundar inteligibilidades sobre o que acontece na vida social”. Isso quer dizer que o estudo da narrativa ajuda a iluminar questões sobre a sociedade e os discursos que circulam na mesma.

Consideramos as investigações de Labov como pioneiras nas investigações sobre narrativa. Principalmente, no que se refere às contribuições estruturais. Pela definição laboviana, uma narrativa é “uma forma de se recapitular discursivamente experiências passadas, partindo-se de uma sequência de orações. Podendo ser dividida nos seguintes termos: resumo, orientação, ação complicadora, avaliação, resolução e coda. Abaixo, organizo em tópicos a definição de cada um.

Resumo – Estaria relacionado ao sumário da história. Ao começar uma narrativa, o falante resumiria os eventos que se seguirão, como estratégia para manter a atenção do ouvinte e buscar um espaço no discurso. Também estaria relacionado a enunciados que sumarizam a história;

Orientação – Indica o tempo, o lugar, pessoas e situação de que se fala.

Normalmente aparece depois do resumo. Contudo, pode ser encaixada ao longo da história, situando a narrativa em um determinado tempo e com determinados participantes;

Ação complicadora – Elemento obrigatório em narrativas. Refere-se à história propriamente dita, constituída de orações narrativas ordenadas temporalmente. Normalmente os verbos encontram-se no passado. A narrativa mínima seria entendida pela junção temporal de pelo menos duas ações;

Resolução – Conclusão da ação complicadora;

Coda – Marca o fim da narrativa, traz o ouvinte de volta para o mundo da conversa;

Avaliação – Informação sobre a carga dramática, ou o clima emocional da narrativa. Contribui para relevar, enfatizar o ponto. Comunicar ao ouvinte o ponto de vista do narrador.

Para Labov, essa estruturação da narrativa pode ser resumida nas seguintes perguntas:

1) Resumo: O que a narrativa fala?
2) Orientação: Quem; Quando; O quê; Onde?
3) Ação complicadora: O que aconteceu?
4) Avaliação: Qual a relevância para se contar essa história?
5) Resultado: O que, por fim, aconteceu?

Segundo Labov o ponto e a reportabilidade são noções importantes para o entendimento das narrativas. O ponto de uma narrativa refere-se à sua razão de ser. Em especial, ao motivo pelo qual uma determinada história deve ser contada. Por sua vez, a reportabilidade refere-se ao aparecimento de uma história extraordinária, o que justificaria a característica de ser contável.

No exemplo de nossas entrevistas, no capítulo de análise, a estudante Bruna (nome fictício) apresenta o fim de um relacionamento amoroso pela instabilidade emocional de seu namorado. Ele (por ser do signo de Gêmeos) muda repentinamente de comportamento e propõe o fim do namoro, após uma viagem romântica. O fim e o motivo do fim deste relacionamento amoroso, ponto da narrativa, seriam, então, situações incomuns e passíveis de serem narradas, apresentando alto grau de dramaticidade/reportabilidade.

Bastos afirma que nossas histórias devem ser reportáveis e apresentar alguma questão incomum, para que nosso interlocutor não nos pergunte: “e daí?”. Entendo, então, o término de um relacionamento como um assunto altamente reportável. Ainda, justificaria a tese que Bruna se esforça para defender em toda a entrevista: a partir de comportamentos específicos, poderíamos compreender determinadas características identitárias (a rápida mudança de opinião comprova o fato do namorado ser de signo de Gêmeos). Para Bastos:

Além de ter um ponto, a narrativa deve ser contável, isto é, deve fazer referência a algo extraordinário. Acontecimentos banais e previsíveis não se prestam a ser contados, não têm reportabilidade. Em circunstâncias normais, alguém contar que atravessou a rua no sinal não seria tomado como algo contável; no entanto se ele contar que foi assaltado, ou que assistiu a uma briga no sinal, seus ouvintes vão aceitar a narrativa como contável.

Como apresentado, a narrativa tem um papel essencial para a compreensão da sociedade, uma vez que funciona como instrumento de organização social. Quando um indivíduo conta uma história, demonstra também como entende o evento narrado e os significados atribuídos. Para Bruner uma narrativa apresenta em si uma sequencialidade lógica, independente das situações serem consideradas verdadeiras ou falsas, há a participação de atores e um drama a ser explanado. Labov também considera o princípio da sequencialidade como um dos fatores mais preponderantes para a narrativa, no sentido de que organiza o sentido da história.

Para Riessman, ao contarmos uma narrativa selecionamos propositalmente os eventos que serão apresentados e excluímos os eventos que não colaboram com a identidade que pretendemos performar. Conforme observa Bastos as narrativas podem também ser uma estruturação contextualizada de lembranças e eventos. Dentro dessas escolhas, é necessário consideramos que o narrador, ao contar sobre sua experiência passada, utiliza-se de sua memória, o que o leva constantemente à reelaboração e transformação de suas próprias experiências.

É importante considerar, também, que criamos um contexto narrativo tendo em vista quando, onde e para quem falamos. Para esta perspectiva, o passado não está gravado com seus sentidos em uma pedra, mas vai assumindo novos significados à medida que vivemos e temos uma nova visão sobre os eventos que nos ocorreram. De forma resumida, o passado também está em constante mudança. Esta configuração refere-se ao que Mishler chama de “mão dupla do tempo”. Deste modo, contar uma história é também recriar uma nova realidade social.

4.3 As Micronarrativas

Os dados que informam este trabalho não são apenas formados por narrativas canônicas. São, em especial, formados por micronarrativas. Após as investigações de Labov, outros autores ampliaram o estudo sobre narrativa. Georgapoulou, por exemplo, demonstra que o falante, por vezes, escolhe omitir determinadas estruturas (labovianas) para apresentar-se melhor discursivamente. Partindo-se desta constatação, Georgakopoulou desenha uma estrutura comparativa entre as narrativas labovianas e micronarrativas. As pequenas histórias se caracterizariam por verbos no pretérito, presente ou futuro. Em oposição, aos verbos no pretérito, apresentados pelas narrativas labovianas.

A proposta de Georgakopoulou entende a micronarrativa como um novo modelo analítico, que considera o contexto de produção/interação, diferentemente das narrativas labovianas, que desconsideram o contexto de produção. As micronarrativas têm como foco a interação, em oposição ao foco no autor para as estruturas labovianas.

Georgakopoulou afirma que nem sempre a estrutura prototípica laboviana será a mais eficiente nas narrativas. Por vezes, a omissão da localização ou avaliação, por exemplo, são escolhas conscientes do falante para apresentar-se melhor socialmente. Seja para omitir determinada característica que não contribui para sua face, ou para apagar uma informação que não é relevante para a história que deseja construir. De forma prática, nesta dissertação, os alunos utilizam-se das pequenas histórias, com recorrência, para exemplificarem suas ideias, através de diferentes exemplos narrativos. Também, recorrem a histórias hipotéticas para fortalecerem suas teses.

As narrativas labovianas construídas pelos alunos neste estudo ligam-se mais diretamente aos temas traços de personalidade e as micronarrativas a relacionamentos amorosos/previsões astrológicas. De modo a categorizar que no momento que os entrevistados se engajam a falar de relacionamentos amorosos utilizam-se de uma estrutura narrativa que se aproxima da prevista por Labov. E quando constroem narrativas que versam sobre traços de personalidade/previsões astrológicas constroem pequenos excertos narrativos.

Compreendo a narrativa como uma forma de estruturarmos nossas experiências e de construir nossa identidade social. Sendo assim, as diferentes formas de narrativas: as canônicas e as micronarrativas seriam antes de tudo uma forma de posicionarmos quem somos no mundo e a identidade que pretendemos demonstrar em um determinado grupo social. Para isso considero a leitura de Mishler ao apresentar:

A narrativa é dessa forma compreendida como a forma básica de organização da experiência humana. Além disso, contar histórias é uma ação, é fazer alguma coisa, ou muitas coisas simultaneamente- em uma determinada situação social. Uma dessas coisas é necessariamente a construção de nossas identidades. Ao criarmos cenários, personagens e sequências de ações, nos posicionamos diante de tais cenários, personagens e ações, sinalizando quem somos. As narrativas são performances de identidade.

Este entendimento que relaciona a narrativa à identidade nos possibilita compreender que a pluralidade para o modelo narrativo apenas enriquece o arcabouço teórico sobre as diversas formas de se contar uma história (micronarrativas ou narrativas canônicas). Conscientemente ou não, todos nós contamos histórias para persuadir por meio da comoção. Sigo o posicionamento de Bastos a considerar que diferentemente de Labov as narrativas são entendidas mais amplamente do que a direta relação de recapitulação de experiências. Para tal, a pesquisadora cita Goffman e seu estudo sobre replaying.

Em resumo falar costuma envolver o relato de um evento passado, corrente condicional ou futuro, contendo uma figura humana ou não – e esse relato não precisa ser, mas comumente é como algo a ser re-experienciado, a ser saboreado a ser elaborado, ou qualquer outra ação que o apresentador espera que seu pequeno show induza a audiência a experimentar.

Diferentemente de Labov que compreende a narrativa como a recapitulação de experiências passadas a compreensão de micronarrativas é mais abrangente a envolver acontecimentos futuros ou hipotéticos. Bastos aproxima estas duas categorias a considerar ambas como exemplos de recapitulação de experiências, uma espécie de replay, diferenciando apenas na extensão. Contudo, o interesse por estas duas categorias varia em relação à área de estudo considerada.

A micronarrativa seria entendida por Bastos como um pequeno show do falante e não necessariamente uma recapitulação de experiências, considerando o modelo de Labov. Georgakopoulou apresenta que as micronarrativas geralmente relacionam-se a um evento no passado ou a um futuro próximo. A diferença entre narrativas e micronarrativas pode-se relacionar a compreender a natureza da ação desenvolvida. O debate que as diferencia é extenso e variável a depender do teórico estudado.

Para Georgakopoulou e Georgakopoulou e Bamberg as narrativas longas seriam produzidas tipicamente em situações de entrevista. Em oposição das micronarrativas reproduzidas, em geral, em um determinado evento específico. Em nossa área de Estudos da linguagem, como em antropologia e sociologia o interesse típico pelas micronarrativas centra-se em aprofundar sentidos sobre histórias de vida, trajetórias profissionais, sexuais e etc. Em que se pretende, em geral (como neste trabalho), ampliar sentidos sobre a construção da identidade social.

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4.4 Contribuições de Linde: causalidade, sequencialidade e sistema de coerência

Como já apresentado, Linde é uma autora fundamental para os estudos da narrativa, especialmente pela formulação dos conceitos: causalidade, sequencialidade e sistemas de coerência, que são centrais neste trabalho. Para a autora, causalidade refere-se à obrigação do narrador de contar em sua história fatos devidamente reportáveis e interessantes, geralmente seguindo uma cadeia sequencial amarrada por relações de causa e efeito adequadas.

A sequencialidade, por sua vez, relaciona-se à necessidade social de possuirmos uma história de vida aceitável socialmente. Para isso, nossa história precisaria seguir uma ordem temporal lógica. Parte desta interpretação relaciona-se à necessidade que todo o adulto competente possui: ter uma história de vida para contar.

Ao quebrarmos a regra da causalidade/sequencialidade seremos (se o grau de hierarquia permitir) ratificados ou questionados. A incapacidade de construirmos uma história de vida coerente se caracteriza, assim, como uma inabilidade discursiva e um desconserto social. Nosso repertório de histórias de vida precisaria ser socialmente aceitável para justificar as histórias que recorrentemente contamos, como a escolha profissional, ou faculdade, por exemplo.

O sistema de coerência, por sua vez, caracteriza-se como um esquema de conhecimento que lançamos mão em práticas discursivas. Representa um conjunto de crenças e relações entre crenças, que forneceria um ambiente em que uma declaração pode (ou não) ser considerada como uma causa de outra declaração. A autora amplia esta noção sobre sistemas de crenças, apresentando eventos que estabeleceriam “a maneira correta de comer”, “a maneira correta de se vestir em determinados ambientes” e assim por diante. Formas de se comportar que dariam uma explicação de quem somos e o lugar que pertencemos.

Esta dissertação não se preocupará em investigar se as histórias de vida contadas pelos estudantes são verdadeiras. Os processos para construir ou analisar as narrativas como coerentes podem ser investigadas independente da verdade ou falsidade dos eventos, personagens e sentimentos utilizados. Linde afirma que seria difícil, ou impossível, avaliar a factualidade das histórias contadas. E apesar disso, esse tipo de avaliação adicionaria pouco ou nada para a compreensão da criação do sistema de coerência. O importante passa a ser, de fato, como o sujeito se apresenta e se constrói em seu discurso.

Observamos tal ação nos discursos dos estudantes que se utilizam da astrologia como uma forma de mapearem identidades. O conceito de sistema de coerência utilizado nesta dissertação considera a astrologia como um sistema cultural e semiespecializado, compreendido entre o sistema popular e o especializado, dotado de uma rede de crenças. Podemos entender, então, o sistema de crenças como um conhecimento compartilhado entre grupos de uma determinada cultura.

Para Linde “seus pressupostos são tão óbvios e transparentes para os membros de uma cultura, que eles têm dificuldade de percebê-lo como tal”. Neste sentido, a estudiosa do sistema de coerência afirma:

Um sistema especializado pode ser definido como um conjunto de crenças utilizados por especialistas em uma área do conhecimento: a psicologia freudiana, a psicologia behaviorista a astrologia e o catolicismo são exemplos claros desta definição. A psicologia encontraria no psicanalista, a astrologia no astrólogo e o catolicismo no sacerdote seus peritos.

Linde enquadra a astrologia como uma “versão popular”, que utiliza um número reduzido de conceitos, presentes no sistema especializado da qual deriva. Assim, um astrólogo profissional, ao olhar uma versão popular do sistema especializado para a astrologia, perceberia um empobrecimento na análise. A autora amplia suas contribuições ao considerar a astrologia como um sistema implícito, uma vez que as pessoas que dele partilham não precisam frequentar, necessariamente, congressos e reuniões sobre o tema.

A estudiosa afirma que a astrologia é mais um sistema de coerência possível, em que as pessoas podem contar de uma forma diferenciada os fatos do dia a dia. Pude reparar entre meus entrevistados que o sistema popular da astrologia era apenas uma forma de descrever identidades, sem nenhum engajamento formal. Os estudantes declaravam mais/menos filiações ou interesse. Utilizavam, em geral, da astrologia como um sistema capaz de apresentar a sua própria personalidade e a de pessoas que desejavam analisar.

A autora, em seu estudo sobre identidades, afirma que para que haja o compartilhamento de informações entre dois falantes é necessário que exista uma base cultural comum, para o devido entendimento e negociação de ambos. Essa lógica funciona também para contarmos sobre nossas próprias histórias de vida. Assim, na entrevista com os alunos, dividimos informações compartilhadas sobre astrologia, que nos permite realizarmos uma conversa. A estudiosa considera, como base de análise para as histórias de vida, o que chama de senso comum: o sistema de suposições e crenças, que são assumidas como compartilhadas por todos os membros competentes de uma determinada cultura.

Linde apresenta a discussão de que para a criação da coerência, o narrador precisaria se esforçar para passar uma imagem convincente de si mesmo. Um exemplo interessante que aborda refere-se aos cowboys dos EUA, que precisam performar toda uma linguagem e vestimenta (parecidas com a dos filmes) para de fato convencerem seus expectadores que são cowboys. A imagem precisa ser vendida, mas, antes de tudo, comprada pelo ouvinte/expectador. A mesma lógica pode ser seguida para astrologia, um sistema popular de coerência que pode amarrar a sequencialidade e a lógica das narrativas de histórias de vida.

Resumidamente, o sistema de coerência refere-se a que eventos me tornaram o que sou hoje, ou mais especificamente, o que você deve saber sobre mim para me conhecer. Para demonstrar este sistema de crenças, Linde cita critérios que deveriam estar presentes em histórias de vida. O primeiro refere-se ao sistema avaliativo do falante, ou algum evento enquadrado como especificamente relevante para a conversa. Para o momento, a autora considera o ponto avaliativo da história como uma lógica de entendimento compartilhado entre os participantes da conversa, de modo que o destinatário deve concordar com o que o protagonista pretende performar.

O ponto avaliativo revelaria direta e indiretamente informações sobre o falante “eu sou tal tipo de pessoa, já que eu agi em tais situações de determinada maneira. ” Outro ponto típico de avaliação refere-se a ilustrações de como o mundo é. Histórias deste tipo contam: “você não pode confiar em carro usado”, provando determinados pontos de vista e experiências do falante.

O fato de uma determinada história ter acontecido para o falante o dá poder no discurso, já que por ter vivido a experiência, pode discursar com mais “precisão” sobre os acontecimentos. De qualquer forma, pelos dois pontos de avaliação, o falante pretende demonstrar algo “sobre o tipo de pessoa que é, ou, algo sobre a forma que o mundo é para ela/ele”. Esta distinção surge pela forma que a história é construída pelo falante e não pelo tipo particular de eventos narrados.

Assim, pretendo observar o modo como os estudantes se localizam no discurso e a sequencialidade/causalidade construídas em suas narrativas, a partir do sistema de coerência da astrologia.

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4.5 Accounts narrativos

“Um account refere-se ao poder da narrativa, como uma prática discursiva transformadora”.

De Fina

Observamos em nossa pesquisa que algumas narrativas funcionam, com frequência, como accounts para comportamentos ou traços de personalidade. Os accounts, em nosso estudo, relacionavam-se mais fortemente a características julgadas socialmente como negativas. Para De Fina, os accounts apresentam-se como uma estratégia discursiva utilizada para os sujeitos apresentarem-se de forma positiva socialmente.

Os accounts funcionariam, em nossa análise, como uma forma de nos justificarmos para os outros e para nós mesmos. Pode-se considerar diversas perspectivas teóricas a trabalhar com este conceito: “account como reconfiguração do contexto de um evento, account como uma negociação da realidade, account como narrativa, account como resposta, entre outros”.

De Fina discute que as identidades são alcançadas, não dadas. Assim, os narradores precisam preservar, manter e reportar as características que reclamam para si. Na concepção de De Fina o account funcionaria como uma estrutura discursiva capaz de realizar “recapitulações de eventos passados, construídos como resposta para uma pergunta avaliativa de por quê”. Desta forma, a utilização dos accounts implicariam em uma possibilidade de avaliarmos um determinado assunto que está sendo apresentado no discurso.

O entendimento para a noção de account é fundamental nos estudos discursivos, uma vez que essa estratégia contribui para uma diminuição de agência para as questões consideradas negativas. Para Butny e Morris a desculpa à uma ofensa seria a forma mais comum de um account, o que possibilita minimizar a responsabilidade do autor. Conforme afirmam os autores as desculpas circunstanciais são utilizadas para aliviar a tensão sobre o narrador e sobre o que acontece em uma determinada ação relatada (“era brincadeira”).

A noção de responsabilidade autoral também se mostra fundamental nos estudos narrativos, uma vez que ter responsabilidade sobre algum fato requer desculpar-se ou dar conta sobre as circunstâncias que não ocorreram como esperado. De forma geral, os accounts são tidos como um tipo de razão para uma determinada ação ter ocorrido de determinada forma. Os accounts são construídos, prototipicamente, pela estrutura: “Eu realizei X por causa de Y”. As descrições das cenas, eventos e relações são essenciais para recontarmos uma determinada ação, estabelecendo fatos e, finalmente, quem é responsável por eles.

O objetivo central de nossas entrevistas era incentivar os estudantes a apresentarem narrativas que versassem sobre o tema central de pesquisa: astrologia. Deste modo, baseio-me nos apontamentos de De Fina ao afirmar que em uma entrevista de pesquisa a pergunta “por que ” incentiva a elaboração de histórias mais ou menos longas (“Por que você começou dizendo que era de Peixes? ”).

A escolha de determinados accounts, em nossa análise, possibilitaria proteger a face dos estudantes, uma vez que justificaria determinadas atitudes consideradas negativas socialmente, como dramaticidade, ou gula, por exemplo. (“Sou de Câncer, tão sentimental”; “Eu me identifico total com touro, muito comilona”). A construção da identidade a partir do sistema de coerência da astrologia funcionaria, então, como um grande account identitário em nosso estudo.

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4.6 Outras contribuições da Sociolinguística Interacional: face, alinhamento e esquemas de conhecimento

“Goffman chama de face algo mais do que rosto, toda a fachada que sustenta o indivíduo. O trabalho de face é o esforço que cada um de nós faz para manter-se à altura da dignidade que projetamos sobre nós mesmos, à altura que acreditamos merecer por parte dos outros”.

Gastaldo

Além dos estudos da narrativa, outras contribuições da sociolinguística interacional são válidas para este trabalho: face e alinhamento, formuladas por Goffman e esquemas de conhecimento, abordado por Tannen e Wallat. O conceito de face é desenvolvido da seguinte maneira: sempre nos esforçamos para desempenhar uma atitude coerente diante dos outros, um papel, uma face positiva para o nosso interlocutor. De modo tal que estamos a todo momento representando papéis sociais, como se fôssemos atores em um teatro. Na interação face a face e no primeiro capítulo clássico de seu Ritual de Interação, o autor analisa o esforço que fazemos para preservar nossa face, uma atitude coerente diante dos outros.

Sendo assim, como em um espetáculo, o nosso semblante é apresentado para representar personagens diante de um público social. O termo face é definido como “o valor social positivo que uma pessoa efetivamente reclama para si mesma, através daquilo que os outros presumem ser a linha por ela tomada, durante um contato específico”. Caracteriza-se como uma imagem do self, desenhada em termos de atributos sociais aprovados, podendo, assim, ser partilhada por outros.

Todos os conceitos aqui desenvolvidos por Goffman, como antes descrito, estão acontecendo na interação social, de forma real, face a face, com sujeitos sociais situados, culturais e contextualizados. Sendo assim, o sujeito também é refém de imagens criadas pelos outros, resultado da vida social em interação. O sociólogo demonstra uma rica análise de como se constituiria a vida cotidiana e as regras que “invisivelmente” a formaria. Segundo o autor, em seu texto Elaboração da Face:

Toda pessoa tende a experimentar uma resposta imediata à face que lhe é proporcionada, por um contato com outros, sua face é catexizada e seus sentimentos ficam ligados a ela.

Se a imagem sustentada pelo encontro há muito tempo é considerada pela pessoa como algo natural, provavelmente a questão não envolverá uma grande carga de sentimentos. Se os eventos estabelecem para uma pessoa uma face melhor do que a esperada, essa pessoa tende a se sentir bem, considerando o esforço que todos nós fazemos para nos apresentarmos favoravelmente aos demais.

Além dos atributos já conhecidos de apresentação, como aparência e aspecto externo, o termo face pode ampliar para um sentido conotativo de expressão de dignidade, auto-respeito e prestígio. Esse duplo sentido é explorado pelo autor ao empregar a terminologia “shamefaced” (perder a face, desacreditar-se) ou “to save face” (salvar a face). A face do self e a face do outro são demonstradas como construtos sociais, elaboradas na mesma ordem.

Com base em Goffman e no modo como o mesmo define o comportamento social, compreendo que todos nós seguimos uma linha lógica para nos apresentarmos à sociedade e para construirmos nossas histórias. O sociólogo desenvolve conceitos relevantes considerados neste trabalho, como: face, sentimentos associados à face, a face do self e a face do outro; ter, manter, estar em face; perder X salvar a face; face social e mútua; elaboração da face e interação falada.

Todos nós, vivendo em sociedade, fazemos um trabalho para mantermos nossa face. Contudo, os perigos estão sempre à espreita, a qualquer momento uma casca de banana pode nos fazer perder a compostura, nos expondo em um tombo ridículo e causando-nos constrangimento. O constrangimento seria uma marca clara de que quebramos uma regra social pré-estabelecida. Assim, Goffman afirma estarmos na “prisão da vida social”, cada pessoa passa a ser seu próprio algoz, ainda que algumas gostem de suas celas.

A partir desta ideia, o teórico apresenta o conceito de linha, como uma atividade composta por atos verbais e não verbais, sobre o qual podemos expressar coerentemente uma opinião sobre uma dada informação, um dito alinhamento. Esta atitude se dá através de participantes da interação e passa principalmente pelo próprio interlocutor.

Este conceito é importante para nossa pesquisa, porque devido ao trabalho de face, nossos entrevistados ora se alinham completamente ao sistema de coerência da astrologia, ora se afastam dele, em maior ou menor grau. Caracterizando, assim, a mudança dinâmica dos enquadres (footing), estudados por Goffman.

Importante considerar que quando o entrevistado se alinha à astrologia, alinha-se naturalmente à entrevistadora, por saber ser este o tópico base do estudo. Goffman, também, desenvolve a teoria de que o ator social não só interpretaria um papel que melhor lhe convém, como também se caracteriza deste papel, através de vestimentas, gestos e comportamentos, alinhando-se a um padrão social.

Partindo-se do ponto básico de que existem regras sociais e culturais de conduta dentro de uma sociedade, e em qualquer interação, o sociólogo descreve a quantidade de sentimentos ligados a uma determinada face e como esses sentimentos são representados entre os participantes. Quando uma pessoa segue uma linha que projete uma imagem consistente dela mesma, apoiando-se em julgamentos e considerações feitas pelos outros participantes da interação, podemos considerar se o indivíduo está “mantendo”, “perdendo”, ou “salvando” a face que procura demonstrar. Pela perspectiva do autor, estudar as estratégias de como as pessoas salvam suas faces e se alinham a determinadas posições são estratégias de estudar as regras da interação social.

Os esquemas de conhecimento, por sua vez, referem-se a um determinado conhecimento compartilhado entre dois participantes de uma conversa, ou mais. De modo que não precisam explicar conceitos, ou alongarem-se em exemplos, já que os participantes conhecem o assunto abordado na conversa. No caso desta pesquisa, destaco que muitas vezes nos utilizamos do esquema de conhecimento compartilhado para desenvolver o assunto da astrologia. Atitude que facilitava o desenvolvimento da interação. Tannen e Wallat definem esquemas de conhecimento da seguinte forma:

Usaremos o termo esquemas de conhecimento para nos referir às expectativas dos participantes acerca das pessoas, objetos, eventos e cenários no mundo, fazendo distinção, portanto, entre o sentido desse termo e os alinhamentos que são negociados em uma interação específica.

δ

4.7 Astrologia e Identidade

“Já que as identidades são construídas dentro e não fora do discurso, precisamos compreendê-las como produzidas em espaços históricos e institucionais específicos, dentro de práticas e formações discursivas específicas, por meio de estratégias enunciativas específicas”.

Hall

Nesta seção, pretendo ampliar a discussão sobre os teóricos que versam sobre o tema identidade, considerados neste trabalho. O termo identidade vem sendo amplamente discutido na teoria social, segundo Hall as velhas identidades que por tanto tempo estabilizaram o mundo estão sendo questionadas.

Em uma realidade pós-moderna, em que as relações são tidas como líquidas e as situações são carregadas de sentido somente nas interações, a astrologia busca, em um sentido oposto, essencializar a performance e os estados psicológicos dos sujeitos. A partir desta constatação, busquei observar quais as estratégias meus entrevistados se utilizavam para se afastar/ aproximar do tópico estudado, bem como as estratégias discursivas utilizadas para melhor apresentarem suas faces. Segundo Hall:

As sociedades da modernidade tardia são caracterizadas pela ‘diferença’, elas são atravessadas por distintas visões e antagonismos sociais que produzem uma variedade de diferentes posições do sujeito, isto é, identidades.

As transformações associadas à modernidade libertaram os indivíduos de seus apoios estáveis nas tradições e nas estruturas. Em seu texto clássico “Questions about cultural identity” Hall amplia esta concepção afirmando que não seria possível desenharmos um entendimento sobre o sujeito, mas sim um entendimento a partir das práticas discursivas.

Abandona a posição fixa sobre a “identificação” do indivíduo e o recontextualiza como um ser que pode sempre trocar os seus papéis sociais. Sobre este conceito, em contraste com o naturalismo, a identificação é tida como um processo em construção, uma vez que podemos nos associar a outras ideias, pessoas e posições. Assim, podemos, por exemplo, entender neste trabalho que a astrologia funciona como um princípio de identificação em que os associados encontram definições estáveis que delimitam sua personalidade e a dos demais. Bauman interagindo com estudos de Hall cita que:

Tornamo-nos conscientes de que o pertencimento e a identidade não possuem a solidez de uma rocha, não são garantidos para toda a vida, são bastante negociáveis e revogáveis, e de que as decisões que o próprio indivíduo toma, os caminhos que percorre, a maneira como age- e a determinação de se manter firme a tudo isso- são fatores cruciais tanto para o pertencimento, quanto para a identidade.

O estudioso entende identidade como uma construção, numa perspectiva não essencialista. De modo que os indivíduos não recebem uma identidade quando nascem. Pelo contrário, estão a todo tempo reconstruindo sua própria forma de ser no mundo. Entende-se os discursos como co-construídos por sujeitos imersos em um contexto cultural, sendo os sentidos sempre relativizados às cenas. Para o teórico, podemos nos apresentar socialmente através de várias formas. Há diversas respostas para pergunta quem é você, como apresenta:

Quem é você? Um pequeno polonês. Qual o seu signo? A águia branca. As respostas de hoje, sugere Monika Kostera, ilustre socióloga da cultura contemporânea, seriam diferentes: Quem é você? Um homem simpático na casa dos 40 e com senso humor diria: Qual é o signo? Gêmeos.

Contribuindo com os estudos de Bauman o relacionar a identidade ao discurso e, portanto, dar identidades sociais às contingências sócio- históricas (visão socioconstrucionista) chamo atenção para o fato de que ocupamos lugares diferentes na vida social, no exercício do poder, que nos posicionam de maneira diferenciada nas assimetrias/simetrias interacionais, o que não quer dizer que estas não podem ser revertidas.

Entendo as histórias geradas em nossas entrevistas como uma forma de apresentação de identidade e significação de si mesmo/outro, uma vez que tanto o falante quanto o ouvinte têm papeis ativos na elaboração da mensagem e na definição de ‘o que se está passando aqui e agora’. Pesquisar na área de Sociolinguística Interacional significa, portanto, considerar o discurso como um tópico situado, ligado a determinados sujeitos sociais e a um determinado tempo histórico. Bauman compara as identidades com um quebra-cabeça, em que várias peças são apresentadas, mas a imagem final nunca é formada.

Tal metáfora refere-se ao caráter mutável das identidades que apresentamos. Nessa perspectiva, um mesmo ser assume diversas faces ao longo da vida, podendo apresentar-se com diversas identidades, de acordo com o ambiente e com as pessoas que convive. Diante deste mundo líquido proposto por Bauman, procuramos observar nas entrevistas como o discurso de essencialização identitária se apresenta, como uma forma de resistência a este mundo sem barreiras.

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4.8 A agência nos estudos narrativos

“A agência é um tema polêmico que esteve no centro das discussões sobre subjetividade por séculos, e que nunca será colocado para descansar totalmente. Para a agência, estamos realmente considerando uma questão fundamental sobre responsabilidade em uma ação pessoal, numa criação estética, em normas internas e avaliações sociais”.

Hall

A agência, assim como a identidade, é um tema caro não só para os estudos da narrativa como também para diversas áreas de conhecimento, como a sociologia e antropologia, por exemplo. No pós-estruturalismo, reconhecendo as limitações do estruturalismo para o estudo da identidade, adota-se uma perspectiva socioconstrucionista, no sentido de que a identidade é tratada no contexto da sociolinguística e da linguística antropológica; estudo sempre caro para as ciências sociais.

Diversos teóricos estudaram a questão da agência/identidade com o objetivo de compreender quais os efeitos que a agência exerce sobre as atitudes humanas e que relativos controles temos sobre ela para tomar decisões e nos estabelecermos nas relações. Toda agência levantaria, sem precedentes, independente da área em que está sendo considerada, questões de responsabilidade: ação individual, criação

estética, normas interpessoais e valores sociais. Nesta pesquisa, objetivo discutir como o agenciamento atua em nossos dados e quais estratégias discursivas os estudantes se utilizam para ora reclamarem agência para suas ações, ora abrirem mão da mesma para serem efetivamente assujeitados por um sistema maior, do qual não possuem controle.

Para Duranti a agência é entendida em três grandes blocos: (i) relacionada ao efeito de controle que possuímos sobre nós; (ii) ao momento em que nossas próprias ações afetam outras entidades no mundo; (iii) e ao instante em que nossas atitudes são avaliadas como nossa responsabilidade diante de um determinado resultado. Ressalto, em especial, o primeiro tópico considerado por Duranti relativo ao momento que possuímos controle sobre nossas ações as comparando, de forma contrária, ao tópico deste estudo: a astrologia.

Em termos práticos, nossas narrativas analisadas constroem-se em oposição à agência descrita por Duranti. Já que os estudantes se mostram, recorrentemente, influenciados (assujeitados) pelas características de seus ditos signos. A ponto de “não dá poderem fugir dessas influências planetárias” (trecho retirado da entrevista à estudante Joana, nome fictício).

Este discurso escolhido como exemplo demonstra a forma como os estudantes usam a astrologia recorrentemente em nossas entrevistas. Dirigindo na contramão das ideias apresentadas por Duranti de que teríamos um controle palpável sobre nossas ações no mundo.

Block amplia os estudos desenvolvidos por Duranti fortalecendo a ideia de que não é possível estudarmos agência, sem para isso considerarmos a história e a cultura da qual o sujeito faz parte. Para fortalecer esta posição cita Marx:

O homem faz sua própria história, mas também não é totalmente livre para isso, é influenciado pelas circunstâncias escolhidas por ele mesmo, mas também sob circunstâncias, encontradas, dadas e transmitidas do passado.

Posso fazer uma relação direta deste pensamento de Marx com a questão do assujeitamento discutida neste trabalho, através da astrologia. Marx descreve que o ser humano é assujeitado ao tempo histórico a qual faz parte. A astrologia seguiria a mesma lógica a considerar, também, que as pessoas fazem suas histórias, mas não são totalmente livres para isso.

6.3 Últimas Palavras

Como considerações finais desta dissertação, observei que a astrologia foi utilizada recorrentemente pelos estudantes desta pesquisa para categorizarem de maneira assujeitada diversos aspectos de suas histórias de vida, seja para traços de personalidade, relacionamentos amorosos ou previsões astrológicas. De forma a repetirem no discurso o sistema binário estudado por Linde, com especial atenção para aspectos negativos de suas personalidades. Tal estratégia também é amplamente repetida em páginas populares do Facebook, blogs e páginas ligados ao público jovem deste estudo. Em que se reforça, pelos memes aspectos negativos da personalidade de cada signo, para causar humor no internauta interlocutor. A narrativa criada pelos estudantes via astrologia é construída através de um grande account narrativo, especificamente para as características negativas apresentadas.

Os alunos dessa investigação seguem, então, de maneira recorrente, a lógica popular preditiva sobre o sistema astrológico, de maneira que se poderia, no discurso, apresentar respostas para amplas indagações construídas socialmente. Deseja saber sobre relacionamentos? Posição de Vênus. Comunicação? Posição de Mercúrio. Maneira de se expressar no mundo? Ascendente. Sua habilidade profissional? Meio do céu. E assim por diante. De maneira a apresentar uma posição passiva, previsível, esperada para os comportamentos, habilidades e dificuldades que iremos enfrentar ao longo da vida através de uma única pergunta “Qual o seu signo? ”. Ou melhor, duas: “Sabe que horas você nasceu, assim, só por curiosidade”.

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Anexo 8

O Glifo dos Signos

Áries

O carneiro ariano é identificado como aquele que facilitou a fuga dos irmãos Frixo e Hele, ameaçados de morte pela madastra. Esse carneiro voador, de velo de ouro carregou os dois irmãos em seu dorso por sobre o mar Egeu. No meio do caminho, Hele escorregou e caiu no mar. Chegando sozinho à Cólquida, Frixo sacrificou o animal e pendurou seu velo na árvore de um bosque dedicado a Marte, onde ficou guardado por um dragão até ser conquistado pelo herói Jasão. Outras versões fazem dele o carneiro disputado por Atreu e Tieste ou o que conduz o cortejo de Baco ao oásis de Amon.

O glifo do signo ♈ simboliza os cornos do carneiro.

Na figura desenhada no céu, o carneiro está deitado, com o corpo voltado para o Leste e a cabeça virada para o Oeste, em direção à constelação de Touro. As pontas dos cornos são assim a parte da figura que primeiro o Sol encontra em seu trajeto pelo zodíaco, condizendo com o caráter belicoso atribuído ao signo.

Touro

O touro é tido como o animal no qual Júpiter se metamorfoseou a fim de seduzir a jovem Europa. Extremamente alvo, com os cornos em forma de crescente lunar, ele arrebatou a moça que brincava à beira d’água e cruzou o mar, carregando-a em seu dorso, até chegar à ilha de Creta. Outras tradições atribuem esta figura ao touro que seduziu Pasífae, rainha de Creta, ou à vaca Io, perseguida por Juno até refugiar-se no Egito, ou ainda ao boi Apis (Bouché- Leclerq, 1963:133).

O glifo do signo ♉ representa a cabeça e os cornos do touro.

Na figura desenhada no céu, o touro só exibe a cabeça e a parte anterior do tronco. Como a parte genital não se mostra, há também toda uma controvérsia quanto ao sexo deste animal. O signo de Touro está associado a uma forte natureza feminina. A presença das Plêiades e das Hyades reforçam a feminilidade, ligada igualmente aos chifres em forma de crescente lunar.

Gêmeos

Os gêmeos são filhos de Leda, nascidos de um ovo depois que Júpiter a seduziu sob a forma de um cisne, na noite em que ela se casou com Tíndaro, rei de Esparta. Cada um deles tinha um pai. Castor, mortal, era filho do rei e Pólux, imortal, era filho do deus. Quando Castor morreu, Pólux não aceitou separar-se do irmão. Comovido pelo amor fraterno de Pólux, Júpiter permitiu que ambos convivessem com os outros deuses no Olimpo, mas alternadamente. Quando um se encontra no Hades, o reino dos mortos, o outro está no Olimpo, e vice-versa. Outras versões se referem ao par de jovens como Apolo e Hércules, ou Apolo e Baco, ou Hércules e Teseu, ou os Cabires da Salmotrácia. O par é sempre fraterno ou amigo.

O glifo do signo ♊ exibe duas colunas paralelas, representando a duplicidade, ligadas nas extremidades.

Na figura traçada no céu, os dois irmãos estão abraçados, um olhando para o outro, com os pés ligeiramente arqueados à frente do corpo. Castor está a Leste, próximo ao signo de Touro, e Pólux está a Oeste, próximo ao signo de Câncer.

Câncer

Na figura desenhada no céu, câncer é representado pelo caranguejo que mordeu os pés de Hércules quando este herói lutava contra a Hidra de Lerna. Tendo ferido o herói a comando da deusa Hera, foi elevado ao céu em recompensa por sua obediência.

O glifo do signo ♋ representa as garras do caranguejo.

O caranguejo se apresenta voltado para Oeste. Logo, o que se vê primeiro é a parte posterior de sua carapaça. Seus olhos estão velados e a pretensa cegueira é reforçada pelo brilho tênue de uma nebulosa situada entre as antenas do caranguejo, associada a problemas de vista. Uma controvérsia está ligada à espécie específica deste animal. Para Manilius e Ptolomeu, trata-se de um crustáceo marinho, mas há quem o considere de água doce. Esta discussão envolve o signo de Peixes, pois, quem credita a água marinha a Câncer reserva a água doce aos Peixes e vice-versa.

Leão

O leão é identificado como o Leão de Neméia, morto por Hércules. Devido à pele invulnerável, nenhuma arma poderia feri-lo. Hércules o tonteou com a clava e sufocou-o. Tirou-lhe a pele com as próprias garras do animal e passou a usá-la sobre o corpo, como escudo. Tanto Ps-Eratóstenes quanto Higinus citam uma outra tradição que não identifica a figura com um leão particular, mas com o leão em geral, na qualidade de rei dos animais. Daí porque o signo de Leão é bem marcado nos mapas de reis e nobres (Bouché-Leclerq).

O glifo do signo ♌ representa a cauda do leão.

A figura traçada no céu mostra o leão de pé, com o corpo voltado para o Leste, pronto para avançar.

Virgem

A jovem é tida como a deusa Astréia, filha de Zeus e Têmis, que se exilou da Terra por desgosto com a injustiça aqui reinante. Ps-Eratóstenes e Higinus sugerem sete alternativas para identificar a jovem: Diké (uma das Horas), Deméter (pela espiga que carrega nas mãos), Isis (na tradição egípcia), Atargatis, Fortuna, Justiça, Erígnona.

O glifo do signo ♍ resume a jovem segurando um ramo de trigo.

A figura traçada nos céus mostra uma mulher alada, deitada sobre a eclíptica, de cabeça para o Leste e os pés para o Oeste, tendo na mão esquerda uma espiga.

Libra

O signo de Libra foi o último a ser incluído no Zodíaco e ocupou o lugar das pinças do Escorpião. Ptolomeu refere-se a esse grupo de estrelas tanto como os pratos da balança quanto como as pinças.

O glifo do signo ♎ representa a forma estilizada de uma balança.

Para Bouché-Leclerq, a ideia da balança foi sugerida pela versão que associa a Virgem à Justiça. A figura traçada no céu remete à balança que a Virgem carrega nas mãos e essa associação permite que a balança seja considerada uma figura ‘humana’, embora seja um objeto.

Escorpião

O escorpião é aquele que picou Órion, o guerreiro que se vangloriava de ser invencível. As duas constelações, Escorpião e Órion, diametralmente opostas, encenam o combate no céu. Dizem que Órion foge para o Oeste sempre que o Escorpião ascende no Leste.

O glifo ♏ representa a cauda do escorpião, em riste, pronta para um ataque.

A figura traçada no céu mostra o escorpião sem as pinças, já transformadas nos pratos da balança.

Sagitário

Para a maioria dos autores, a figura retrata o centauro Quíron, tutor de grande número de heróis gregos, que foi ferido acidentalmente por Hércules, com uma das flechas do herói embebidas no sangue da Hidra de Lerna. Versado em música e medicina, Quíron tinha a reputação de ser sábio e justo e foi tutor de inúmeros heróis da mitologia grega. No entanto, tanto Higinus quanto Os-Eratóstenes alegam que a figura não poderia ser a de um centauro, pois os centauros não usavam arco e flecha. Esses autores preferem associar a figura a Croto, irmão de leite das Musas. Exímio arqueiro e caçador, Croto ritmava o canto das Musas com as mãos e consta que foi ele o inventor do aplauso. A pedido das Musas, Júpiter elevou-o aos céus. Higinus diz que Júpiter desejou assinalar todas as virtudes de Croto em uma única figura celeste e, por isso, dotou-o de pernas equinas e colocou-lhe a flecha nas mãos, para ressaltar sua ligeireza e habilidade.

O glifo ♐ representa a flecha do arqueiro.

Na figura traçada, o arqueiro empunha um arco armado com uma flecha, pronta para ser disparada, e veste-se com uma espécie de manto esvoaçante, detalhe que o inclui entre os signos ‘alados’.

Capricórnio

Sendo perseguido pelo monstro Tifão, o deus Pã atravessou o rio Nilo transformando a parte inferior de seu corpo em peixe e a parte superior em cabra. Vencida a guerra contra os gigantes, Júpiter colocou-o no céu. Consta que Pã e Júpiter eram irmãos de leite, tendo sido ambos amamentados pela cabra Amaltéia. Segundo a versão de Ps-Eratóstenes e Higinus, trata-se de Egipã, que foi criado junto de Júpiter e o ajudou a lutar contra os titãs. Inventou a trombeta, feita de uma concha marinha. Ps-Eratóstenes afirma que a trombeta era chamada ‘panicus’ pelo som que emitia. Higinus justifica o rabo de peixe da figura pelo fato de a trombeta ser de origem marinha e acrescenta que Egipã atacava os inimigos atirando conchas ao invés de pedras.

O glifo ♑ representa os chifres da cabra e o rabo do peixe.

A figura desenhada no céu mostra a cabra voltada para o Leste. Manilius afirma que, na primeira metade da vida, o capricorniano escala montanhas escarpadas, num esforço caprino, e, na segunda metade, desliza célere pelas águas, graças ao rabo de peixe.

Aquário

O aguadeiro é Ganimedes, o mais belo dos mortais, raptado pela águia de Júpiter e levado para o Olimpo, onde passou a servir néctar aos deuses. Em outras versões, o aguadeiro é Deucalião, porque o dilúvio ocorreu durante seu reinado. Ou Cécrops, que reinou antes que o homem conhecesse o vinho, quando os sacrifícios aos deuses eram oferecidos com água. Ou ainda Aristeu, que obteve dos deuses as chuvas que pedia.

O glifo ♒ representa duas correntes d’água.

A figura mostra um jovem que derrama água de uma urna em direção a constelação de Peixes. Para Manilius, a urna do aguadeiro verte água marinha.

Peixes

Vênus e seu filho Cupido estavam sendo perseguidos pelo monstro Tifão quando se atiraram no rio Eufrates. Foram salvos por dois peixes que os levaram até a outra margem. Como recompensa, os peixes foram elevados ao céu sob a forma de constelação. Segundo outra variante, as duas divindades se metamorfosearam, elas mesmas, em peixes, a fim de escaparem. Higinus comenta que os sírios, que vivem perto dessa região, não pescam por medo de apanhar os deuses em suas redes. Uma variante do mito de Vênus a faz nascer de um ovo retirado do rio Eufrates por dois peixes. A tradição egípcia substitui Vênus por Ísis e o Eufrates pelo Rio Nilo.

O glifo do signo ♓ representa dois peixes nadando em direções contrárias.

Na figura traçada o peixe ao norte do Equador se volta para o polo e o peixe ao sul avança para o Oeste. Ambos estão atados por um fio retorcido, que os impede de se afastarem. Hoje em dia, devido à precessão dos equinócios, o peixe do Sul também se encontra ao norte do equador, como o outro. Para Manilius, os peixes são marinhos. Ptolomeu concede a água do mar a Câncer e reserva a água doce aos Peixes.

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