Centro de Pesquisas Astrológicas Hermes

Gann retracements are a key technical trading tool

Astrologia Avançada somente para Geos’s  (Altos Executivos)

Carlos Fini*

*Professor, consultor e palestrante em Congressos Nacionais e Internacionais de Astrologia, Complexidade e Astronomia. Especialista em sistemas de realidade Virtual voltadas para pesquisas Cientificas em ambientes imersivos pela Universidade de Utha.

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Item: J. P. Morgan (1837–1913), que regularmente consultava a astróloga Evangeline Adams, disse: “Astrologia não é para milionários, é para bilionários”.

Finalmente, foi oferecido a um astrólogo um milhão de dólares para trabalhar com exclusividade de contrato para um consórcio de capital de risco.

Item: O departamento de investimentos do principal banco de Boston usa o que há de mais sofisticado em software no campo de pesquisas astrológicas para investigar o mercado cíclico de correlações. Não está claro se os principais gerentes dos bancos estão conscientes disto.

Item: O gerente de um fundo privado do Havaí ($250 mil de investimento individual mínimo com um retorno anual frequentemente excedendo 100%) tem um astrólogo de plantão na sua equipe. Ele encontrou sua maior contribuição identificando quando seus analistas individuais de mercado estão numa fase vantajosa. Ele me contou que se seus clientes soubessem disso, ele estaria fora dos negócios em poucos dias.

Item: Nos mapas de homens de negócios “patologicamente ricos”, há com frequência o que os astrólogos principiantes chamam de um indicador clássico de pobreza (o planeta Vênus no mesmo signo e longitude que o planeta Saturno).

Item: O Centro de Estudo Aplicado de Fenômenos Paranormais, com um escritório localizado somente há algumas milhas do quartel general da CIA, colocou um anúncio no Washington Post no verão passado à procura de um astrólogo com “vasta experiência de pesquisa em assuntos internacionais”.

O que está havendo aqui?

O editor da revista Líderes, perguntou aos leitores se eles acham que a astrologia se tornará popular entre os criadores de decisão (the decision makers). Como um astrólogo de negócios profissionais, eu me assustei, porque está completamente claro para mim que os homens de decisão já usam astrólogos e tem feito isso desde 1984.

O propósito deste artigo, então, é trazer uma luz para o que está ocorrendo no momento nesta área e então direcionar algumas considerações práticas em contratar e usar astrólogos.

Na intenção de não me alongar, eu não divulgarei as ferramentas dos astrólogos, técnicas e processos de raciocínio, nem muito dos interessantes argumentos técnicos e estudos que estão ocorrendo no mundo todo á respeito da validade da astrologia.

Vou começar citando que é raro para (publiclyled corporations) usarem astrólogos, devido á certa possibilidade de zombaria competitiva e (stock solder lawsuits) que se seguiriam se fossem expostos.

Enquanto a sociedade parece agora estar num estágio onde uma porcentagem significante da população tem razões pessoais para concluir que alguma coisa na astrologia realmente funciona, essas pessoas ainda não dizem isso num mesmo espaço.

Sendo assim, até que a crítica massificada de consenso social seja alcançada nessa questão controvertida (que começará em 1996 e se acelerará em 1998), o uso da astrologia pelos (publicyheld) e a extensão do seu uso permanecerá seriamente encoberta.

Companhias particulares parecem ter uma história diferente. Por exemplo, eu atendi recentemente uma companhia de biotecnologia da Califórnia que estava numa crise de fluxo de caixa causada por uma falha repetida de um silencioso investidor americano em entregar uma prometida injeção de capital.

Dentro de meses desse colapso, eu selecionei um momento exato para enviar um telex para um grupo japonês de investimentos. A Companhia recebeu uma resposta positiva no mesmo dia e agora é altamente bem sucedida.

Este é um dos muitos departamentos da astrologia, chamada seletiva – elecional – iniciando momentos para resultados positivos. Nota: quanto mais tempo você puder dar á um astrólogo para fazer isso, melhor.

Às vezes, não há nenhum momento disponível que seja “realmente” bom por grandes períodos, assim há necessidade de planejamento. Infelizmente, a companhia acima mencionada, já tinha uma excelente linha de produtos, assim como gerenciamento e uma carta unida (corporate chart). Mantenha em mente que um astrólogo comercial não é nem mágico nem alquimista.

Num curso similar, eu dei uma “taped conferência” em março de 1988, na qual eu afirmei que H. Ross Perot iria quebrar dentro do próximo ano. Em 27/05/88 ele assinou seu infame contrato com o Serviço Postal, que foi basicamente desfeito em 16/12/88. (Na verdade ele assinou o contrato num “bom dia”, claramente numa fase debilitada).

Eu trabalho regularmente com o diretor de emprego de uma das principais organizações privadas, num esforço que tem sido produtivo do seu ponto de vista é que ele pessoalmente tem estudado astrologia para estenografar nossas comunicações. Este gerente tem visto a evidência que ele precisa para silenciosamente promover meu trabalho nas conferências de recursos humanos.

As associações ARC têm feito os mapas pessoais dos tops oficiais IRS e numerosos agentes do FBI e tem regularmente aconselhado um presidente de um dos maiores serviços de telégrafo atualmente aposentado. E assim por diante. Quase toda essa atividade é por discreta referência, porque bons astrólogos não precisam colocar anúncios.

Neste renascimento de interesse de alto nível no trabalho de astrólogos, como muitos afirmam, também há outro indicador não visto de desordem filosófica e deplorável desintegração da falta de consciência da crítica moderna, ela reflete a reversão para fundamentos metafísicos e a revitalização de consciência integrada através do maior sistema simbólico do mundo.

Como a medicina, a astrologia é em parte uma ciência estatística, e parte uma arte interpretativa. Como um dispositivo metafórico, ajuda a organizar a percepção e sintetiza informações não sequenciais derivadas de uma variedade de diferentes métodos de pensamento. É primariamente uma linguagem simbólica como o Espanhol ou Folhon e, portanto, uma forma de literatura, exceto que seus símbolos retêm uma matriz mais ampla de significados inerentes, que é altamente consistente e lógica considerando sua metodologia interna.

A pretensão final da astrologia é que ela possa fazer afirmações sobre a natureza qualitativa do tempo. Ela afirma que todo fenômeno pode ser caracterizado e ligado através de um conjunto finito de símbolos. E que essas ligações simbólicas podem ser arbitrariamente associadas com relógios mestres como a rotação da terra e os ciclos planetários geocêntricos. Basicamente, esses “relógios” podem ser usados para projetar interpretações simbólicas.

Os principais líderes políticos, por causa de seu forte senso de destino e sua necessidade urgente de reduzir uma casualidade aparente, têm sempre sido extensivamente envolvidos com astrólogos.

Seu tempo se tornou tão mortal que Crurchil se sentiu compelido a contratar um astrólogo (Louis De Wohl) que conhecia o principal astrólogo de Hitler (Karl Krafft) para contar a Curchil o que Hitler estava sendo aconselhado a fazer.

Toda vez que alguém perguntava a Ronald Reagan que horas ele nasceu, ele fornecia um horário diferente, assim houve uma vez 16 cartas diferentes de Reagan flutuando pelo mundo da comunidade astrológica.

Ainda quando ele era governador da Califórnia, astrólogos e a mídia notaram que ele estava mantendo cerimônias de inauguração em horários muito estranhos e específicos.

A mãe de Dan Ruayle foi advertida por um astrólogo há décadas atrás, nunca fornecer a hora exata do nascimento dele, felizmente astrólogos foram capazes de descobrir isso em 1947 num arquivo de jornal. Eu tenho centenas de historias de políticos, incluindo a curiosa configuração da última lua nova antes da última eleição presidencial que causou uma queda acima de 40 pontos no mercado de ações, no rumor que o candidato Bush tinha uma amante.

Mudando para o mundo dos negócios, Harry Browne, autor de vários best-sellers financeiros, escreveu que muitos dos conselheiros populares financeiros são completamente influenciados pelo input de astrólogos. Ele acha que isso é obviamente absurdo. Enquanto isso, o astrólogo Arch Crawford recentemente ganhou o primeiro lugar no índice pela Timer’s Digest pelas suas precisas e consistentes chamadas no mercado.

No dia 8 de agosto de 1987, Arch visitou os tops do mercado em um dia (o dia da convergência harmônica) e indicou que uma quebra horrível se seguiria dentro em breve – o que realmente aconteceu. E pelo menos um astrólogo que trabalha para uma das mais importantes agências de corretores intimidou uma newsletter financeira sob um nome modesto (assumed).

O último W.D.Gann foi um brilhante pensador eclético e um dos mais legendários comerciantes de mercadorias na história. Durante um período de 25 dias ele executou 286 transações documentadas, com 264 mostrando um lucro. Ele empurrou a astrologia para seus limites matemáticos investigando todos os tipos de padrões e relacionamentos geométricos, ondas harmônicas, intervalos, frequências musicais e proporções arquitetônicas clássicas. Ele acreditava que os números são os elementos finais da natureza que integram o espaço interno e tempo, com espaço externo e tempo.

O jornal Wall Street tem dado construtivamente a 1ª página para o fato de que (Realtors) são frequentemente confrontados com clientes que não venderão casas exceto em épocas recomendadas por astrólogos. Ninguém, compradores ou (Realtors) entrevistados discordam da eficácia disto.

Enquanto isso, excelentes softwares astrológicos estão á venda por várias organizações dedicadas que contém a data de nascimento de milhares de Geos’s e a data de fundação de suas corporações para que assim eles possam ser analizados.

Centenas de estudos acadêmicos altamente qualificados estão sendo feitos para documentar vários aspectos dos ciclos lunares e diurnos, e os (Naysayers) estão tendo sérias dificuldades em se manter atualizados.

Pesquisadores da altamente respeitada Fundação Para Estudo de Ciclos nas quatro décadas que se passaram descobriram milhares de ciclos definidos com precisão e com frequência sobrepondo-se e voltando a centenas de anos sem que aparentemente perceba-se uma ligação casual. Por exemplo, certas (bond yields) industriais, (plankton yields) no Lago Michigan, consumo de queijo, raposas árticas, abundância de ratos selvagens e os preços dos porcos na Alemanha, parecem de algum modo “harmonicamente relacionados”. Um campo acadêmico inteiramente novo de cosmobiologia está sendo rapidamente definido.

Como muitas corporações, há duas vezes mais delas com o sol em Câncer (como a Corporações SLP500) como em Áries, o signo para qual Câncer está mais polarizado.  As corporações com o sol em Câncer tem mais tendência a prosperar nos E.U.A., não somente porque os E.U.A. tem o sol em Câncer mas também porque ele tem os planetas benéficos localizados juntos em Câncer . É por isso, que por exemplo, o mapa da Sears Roebuck , devido á uma colocação poderosa dentro da conjunção planetária dos E.U.A. não irá falir até que os E.U.A. o façam, mas quando ela tenta ir para outros países, ela tende a não se sair bem. É uma carta muito poderosa, mas é mais poderosamente simbiótica.

Corporações que nunca reincorporavam ( Washington Post, Marriott ) têm identidades mais fortes do que aquelas que já o fizeram. Aquelas que já reincorporavam fizeram com grande risco, excluindo (holding companies) sem identidade. Um Geo cuja carta tem uma “má” ligação com a carta da sua companhia (ou cuja carta pessoal esteja num ciclo difícil) não será capaz de promover seus interesses, e pode derrubá-la.

Há também indicadores astrológicos do porque que tantas novas corporações falham. Os astrólogos divertem-se com os MBA da Harvard que dão voltas no escuro dizendo que essas falhas nas corporações têm a ver com capitalização inadequada ou um planejamento pobre! Claro que há também indicadores ocupacionais desejáveis para bem sucedidos espiões, jogadores de football, inventores e assim por diante, alguns dos quais tem sido rigorosamente demonstrado além da dúvida estatística.

Selecionando um  Stargazer

Como em qualquer ocupação, astrólogos variam largamente em inteligência, background, nível de habilidade, temperamento, objetividade e sofisticação. Você encontrará aqui os maiores extremos do medíocre ao gênio, portanto as habilidades da sua gerência serão desafiadas de um modo inovador. Como todo mundo, astrólogos têm bons e maus dias.

Antes de você contratar um astrólogo, é importante que o mapa dele tenha um relacionamento construtivo com o seu. Esta é a razão porque alguns médicos podem fazer bem para você e outros podem quase matá-lo. Isto também é parte do porque alguns (stockrolders)  podem fazer dinheiro e outros não, afirmando a princípio que você tenha uma carta para fazer dinheiro.

Existem vários programas de (Certification Multiyear) e (Multi Level) para astrólogos pelo mundo. Alguns são genéricos e alguns são em áreas específicas: média, horária, relação geográfica, financeira e sinastria. Esses programas asseguram certo nível de conhecimento técnico, mas não necessariamente bons astrólogos.

O número de astrólogos realmente bons (especialmente com um sólido background em negócios) é extremamente pequeno, e eles eventualmente tendem a especializar-se, devido a complexidade de áreas e ao fato que, como para os médicos, experiência é importante.

O tempo que eu  passei estudando astrologia, eu poderia facilmente ter recebido um Ph.D. numa disciplina socialmente mais respeitável. Mas a astrologia estará de volta ás universidades, onde ela tem com frequência, mantido uma posição de prestígio, embora sua reabilitação provavelmente requeira  uma “nova embalagem”. Em compensação isso irá gerar astrólogos mais qualificados. Antes de você trazer um astrólogo a bordo há coisas que você precisa fazer: primeiro, você precisa conseguir a hora de nascimento de ambos: da sua e da sua corporação. Sem isso, a efetividade está radicalmente reduzida. O ideal é que a hora esteja dentro de 5 minutos de precisão.

Então faça uma lista das datas de todos os eventos significativos na sua vida (e também da sua firma) para que o astrólogo possa “retificar” a hora do nascimento, baseada nesses eventos e como eles se encaixam no seu mapa. Não omita nada, porque o astrólogo está tentando combinar símbolos e eventos.

Com experiência você irá ver que as únicas (deliverobles) fornecidas por um astrólogo compara mais do que favoravelmente com os muitos outros prognósticos que você já usa no seu dia a dia de decisões. Enquanto você deveria aceitar as regras do jogo, você deveria também sentir-se livre para desafiar a lógica dos astrólogos, uma vez que compreende como ele trabalha.

Você talvez também precise trabalhar com um astrólogo para aprender como fazer uma pergunta astrológica. Se você não perguntar corretamente você nunca irá conseguir uma resposta desde que, astrologicamente, a resposta está sempre implícita na pergunta.

A real astrologia é um trabalho duro e tedioso, situação que demonstra a demora em aceitar o fato que astrólogos são imperfeitos e, portanto, ocasionalmente erram. Como todo mundo, eles também trabalham com (datas) inadequadas. Embora, se eles forem competentes e imaginativos, eles certamente gerarão valores excepcionais.

Finalmente, embora bons astrólogos possam com frequência diagnosticar o futuro quando nenhum conjunto particular de indicadores astrológicos pareça estar precisamente definido, (Astrological Input ) podem ser colocados somente em termos de probabilidade que tem sido subjetivamente racionalizado.

Portanto, você deveria continuar a usar todas as outras ferramentas e técnicas que você confia. Sem abrir mão da previsão, uma das fortes chaves dos astrólogos será sua habilidade em fortalecer sua capacidade de usar aquelas ferramentas e técnicas.

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Astronomia e Astrologia

A maior vantagem em se possuir um irmão gêmeo, é o fato de que sempre se podem usar as semelhanças para trair e por a culpa no outro. A maior desvantagem, entretanto, é que se desejarem mostrarem-se diferentes, o nariz acabará por trair a ambos.

Carlos Fini

Astrologia e Astronomia estão segundo as leis jurídicas do Século XXI divorciadas. Isto não significa que o amor tenha acabado de ambas as partes, e sim que existe entre elas um relacionamento de aparências.  Astrólogos sempre procuram estudar Astronomia e são ávidos frequentadores de planetários e Astrônomos acabam sempre por dar aquelas olhadelas nos livros de Astrologia nas boas livrarias, mesmo quando argumentam que o fazem por mera diversão. Sempre sabem eles também seus signos solares também.

Na antiguidade, o termo “Astronomia” não existia. O termo usado para o estudo dos movimentos dos corpos celestes era “Astrologia”. A realidade, entretanto, é que em função das necessidades de sobrevivência, o homem sentiu-se obrigado a relacionar os movimentos do céu e seus ciclos aos eventos da natureza que o envolvia, e dos quais dependia. A Astronomia-Astrologia, portanto, não nasceu como alguns acreditam, do imaginário de pessoas crédulas e despreparadas cientificamente, e sim de pesquisadores que se ocupavam em criar calendários e prever o clima de médio e longo prazo, colecionando observações e as comparando como demonstram os cuneiformes mesopotâmios.

Com isto, o aperfeiçoamento dos cálculos tornou-se necessário em função da precisão que se desejava obter nos processos preditivos de sobrevivência agrícola, cuja importância capital na época, superava o simples deleite intelectual matemático-mecânico. Para o corpo, o cérebro é o segundo órgão mais adorado depois do estômago.

Por outro lado, o zodíaco nada mais é que um rico diagrama de mutações ambientais dotado da capacidade de contar várias histórias com as mesmas imagens em sequencia. Uma espécie de holograma filosófico ou para simplificar um calendário dos movimentos de vida. A Astronomia e a Astrologia trilharam caminhos comuns durante aproximadamente  7.300 anos de História desde os Sumérios ao advento das chamadas novas ciências. Aristóteles, Ptolomeu de Alexandria, Kepler, Tycho Brahe, são grandes exemplos de idealizadores de mecânicas para o universo que se ocupavam da arte de prever o futuro através de uma ciência que estuda a relação do orgânico com o inorgânico, chamada Astrologia.

Como o pensamento humano resolveu separar o mundo em dois universos, o orgânico e o inorgânico, ou seja os fenômenos de vida dos fenômenos físicos no século XVII, o termo “Astronomia” precisou ser cunhado para designar a ciência que se ocupava dos movimentos e dos estudos dos astros em si, não procurando focar-se em um possível diálogo com o meio ambiente no qual estamos imersos.

A grande realidade, é que a Astronomia se desenvolveu muito a partir deste divórcio, e em seu caminho solitário, ajudou em muito a difícil tarefa de calcular efemérides e posições astronômicas. A Astronomia precisava de um tempo.

As brilhantes descobertas de Urano, Netuno e o pequeno Plutão, foram capitais para uma reformulação complexa que se estabeleceu na Astrologia nos séculos XVIII, XIX, e XX. Sem dúvida, Astrólogos devem muito à Astronomia e não faz sentido algum voltar às costas a ela. Astrólogos devem utilizar-se de informações astronômicas, procurando sempre se atualizar, se não desejam cometer o mesmo erro às avessas: o esquecimento da realidade do movimento.

O contrário também é verdadeiro. Se não fossem as necessidades de adaptação ao meio, e o advento da Astrologia, nenhuma hipótese sobre movimentos de corpos celestes existiria. A gravidade poderia ser uma grande desconhecida.

Hora ou outra, vê-se, trocas de farpas entre Astrônomos e Astrólogos, como um casal em crise. Qual seria a gênese deste abismo cultural criado por ambos?

A grande realidade é que se muitos Astrônomos desconhecem os fundamentos da Astrologia, o contrário também é verdadeiro. Existem muitos Astrólogos usando planetas hipotéticos, e outros inventado movimentos não encontrados na natureza. Astrólogos muitas vezes odeiam cálculos e fundamentos, e adoram falar mais de psicologia.

Para um diálogo e respeito mútuo, se tornam necessários dois movimentos básicos: Astrônomos começarem a entender os fundamentos da Astrologia, e os Astrólogos estudarem melhor as questões Astronômicas com as quais a Astrologia lida.

O Zodíaco

precesion solsticio 2012

É de fundamental importância que se entenda o que seja o zodíaco. Astrônomos acreditam que o zodíaco tem seu fundamento  nas constelações. Para eles esta palavra “zodíaco” refere-se a agrupamentos de estrelas do ponto de vista aparente. Com isto acreditam que os astrólogos estão a calcular  posições equivocadamente com um signo de erro. A confusão torna-se maior, quando um astrólogo menos instruído ainda tenta explicar assim: “O zodíaco é uma jornada simbólica de transformações arquetípicas e transpessoais que serve para ajudar o homem a transmutar-se”. Isto poderia ser dito de outra maneira.

Pode-se dizer assim: O zodíaco é pilotado sobre a Eclíptica (Caminho aparente do Sol na Esfera Celeste) a partir do ponto vernal (ponto formado pela Interseção entre os planos da Eclíptica e o Equador Celeste quando o Sol se desloca do hemisfério Sul Celeste para o Norte Celeste), independente de onde esteja este ponto orientado no espaço. Á partir deste ponto e não de nenhuma constelação, divide-se esta trajetória em  12 setores iguais de 30 graus cada. Portanto, não se deve confundir “Constelações” com “signos Astrológicos”. O zodíaco astrológico encontra seu fundamento no sistema eclíptico de referências astronômicas ensinado em qualquer livro básico de Astronomia Esférica.

Esta definição está na bíblia dos astrólogos o “Tetrabiblos” do também Astrônomo Cláudio Ptolomeu (séc. II d.c.). Portanto, nenhum signo mudou. Tudo nasce de uma tremenda confusão semântica.

É como confundir, “Carlos Magno” com “Alberto Magno”. Se astrônomos precisam entender esta confusão por um lado, os Astrólogos tem por obrigação entenderem os fundamentos do que estudam. É como ser um cozinheiro italiano, e não saber de que é feito o Macarrão.

Ascendente

Um ponto muito falado mais pouco conhecido.

A mesma confusão acaba acontecendo. Astrônomos querem entender o que é isto afinal. Existem dois sistemas de coordenadas astronômicas, um o Horizontal e outro o eclíptico. Quando eles se relacionam se movimentando um sobre o outro, a eclíptica (onde está o zodíaco) toca a esfera local em muitos pontos. O do lado leste refere-se à ascensão dos objetos celestes e daí o termo “ascendente”. Ele seria a interseção do plano da eclíptica com o horizonte astronômico do lado do leste. Para a Astrologia é de fundamental importância entender-se isto, pois como a eclíptica se projeta muitas vezes em ângulos inclinados, um determinado signo ascendente irá ser mais comum no ascendente que outros para determinadas latitudes por exemplo. Isto poderá afetar cálculos estatísticos por exemplo.

rotação

Meio do Céu

O Meio do céu em astronomia é o “Zenith” ou seja o polo do sistema horizontal de referências. Grosso modo, um ponto imediatamente sobre a cabeça do observador. Em Astrologia o mesmo nome é entendido como “A interseção da eclíptica com o plano do meridiano diurno” (acima do horizonte). São dois pontos distintos, mas com significados parecidos que podem ser confundidos.

Trânsitos

Nunca se refira a um Astrônomo com a palavra “Trânsitos” sem explicar o que você quer dizer com isto. Para a Astronomia , trânsito significa “Passagem de um astro de dimensão menor aparente sobre outro astro de dimensão maior aparente”. Por exemplo, Mercúrio passando sobre o disco solar. Outro significado para transito na Astronomia seria a passagem de um astro pelo meridiano. Para um astrólogo, trânsitos são comparações entre posições astronômicas de um determinado dia, com as posições dos astros para um determinado mapa a estudar. Veja a confusão se um astrólogo interpreta um mapa de um Astrônomo ou ele lê em um artigo que diga: “Urano está transitando sobre seu Sol em Touro”. Isto é impossível para a Astronomia, pois para que um astro passe sobre o disco solar do ponto de vista da terra, ele terá de ter órbita inferior a órbita da Terra, que não é o caso de Urano. Portanto, ele irá achar que Astrólogos falam absurdos astronômicos. Uma questão de terminologia apenas.

A Gramática sempre fez parte das artes Universitárias do Trivium Medieval. Ela existe para ajudar a ciência, mas às vezes ela é exatamente o motivo de terríveis litígios. Astrólogos tem por obrigação estudar o mínimo possível de Astronomia para entender o que estão fazendo e possuir senso crítico para o que leem. Uma vez que se conhece o fato de que Vênus retrograda apenas 8% do tempo, é natural que em cada 100 pessoas só aproximadamente 8 delas o tenham retrógrado. Não se pode culpar a retrogradação de Vênus pelas pessoas serem infelizes em termos afetivos, pois se assim o fosse, enxergaríamos uma quantidade ínfima de clientes com problemas afetivos.

Por outro lado, julgar o que não se conhece é no mínimo insensato. Astrônomos não são más pessoas e sim pessoas que querem como nós, entender o mundo que nos cerca. Eles querem explicações, que de preferência consigam entender. Se eles tem medo de descobrir que estavam equivocados em julgar alguns pontos técnicos da Astrologia, ai já há um problema para psicanalistas e nada se poderá fazer.

Estas duas ciências podem conviver pacificamente. Como diz Cláudio Ptolomeu, “A Astronomia estuda a Anatomia do Universo e a Astrologia tenta descrever sua fisiologia”, como um ser vivo na concepção de Ervin Laszlo1.

1 Ervin Laszlo – Filósofo das Ciências, conselheiro especial do diretor geral da Unesco, e reitor da Academia de Viena, autor de mais de 50 livros sobre ciência e interdisciplinaridade.

Diferenças à parte, ambas se bem praticadas, elevam o nível de entendimento deste tão vasto lugar chamado Universo, mesmo que por vezes o nariz das ciências gêmeas ponha tudo a perder.

Ω

Dante_exílio

Dante Alighieri e a Divina Astrologia

Carlos Fini

O maior poeta medieval, Dante Alighieri nasceu em Florença (Itália) em 1265 d.c. em meio um fervilhar político e cultural de proporções ainda não totalmente entendidas pelos historiadores. Aquela foi a época de grandes amores e grandes ódios, onde a fé exaltada e a compaixão cristã conviviam com os gênios em profusão. Tal espírito de coisas influenciou profundamente o pensar de Dante. Seu interesse pelo estado das coisas logo se manifestara, em seu interesse pelo direito. Dante ocupou importantes cargos públicos em Florença. Era um homem do governo. Tornou-se Bacharel pela Universidade de Paris, tornando-se posteriormente chefe da embaixada Romana. Como político, foi muito perseguido. Sua destituição em 1302,  tornou-se  um pesadelo para ele. Foi perseguido por toda e Europa, percorrendo Itália e França finalmente se refugiando em Ravena. Foi perdoado e  novamente condenado, bem ao estilo do período medieval, onde as contradições absurdas tiveram sua morada.

Dante foi discípulo do poeta italiano Bruneto Latini que lhe ensinou os primeiros passos da arte dos versos. Entre seus vários trabalhos poéticos destaca-se “A Comédia” que narra a viajem do poeta tendo como itinerário o inferno, o purgatório, e finalmente seu repouso no céu. Esta grandiosa obra posteriormente chamada de “Divina Comédia” por Bocaccio em 1555, devido ao seu aspecto de “maravilhosa obra prima” (Divino! no sentido poético e não religioso), reúne o divino e o profano, o trivial e o sagrado, o amor e a paixão.

Sua estrutura contém em aproximadamente 4.700 versos para cada degrau (Inferno-Purgatório-Céu) totalizando-se a grandiosa soma de 14.233 versos.

Muitas versões surgiram então sobre o significado desta obra. Uns a julgam uma obra de puro esoterismo, afirmando que Dante realmente fizera tal viajem insólita pelos degraus do universo espiritual. Existem pelo menos quatro aspectos básicos de sua construção: o histórico, o moral, o filosófico e o místico.

Para sua viagem, Dante convida três personagens de seu imaginário: o poeta Virgílio, (Inferno e Purgatório) Beatriz, seu grande amor platônico (Céu) e São Bernardo (Empirium – Deus). A trajetória prevê nove círculos infernais e um anti-inferno, sete purgatórios, dois antipurgatórios e o paraíso terrestre, culminando nos sete céus planetários, a esfera das estrelas, o primum móbile e o empíreo.

Sua partida: a Quinta feira da semana santa de 1300 d.c..

Marble floor, 9th ca. zodiac_lapide

Sua narrativa é curiosa, assustadora, e acima de tudo singular. Dante mistura-se a um complexo conjunto de sentimentos, impressões, crenças e conhecimento cultural para desenvolver seu edifício literário. O primeiro conceito nitidamente observável é a concepção geocêntrico-astronômico de Cláudio Ptolomeu de Alexandria.  As disposições Astronômicas são exatamente aquelas encontradas no Tetrabiblos e Almagesto do mesmo Cláudio Ptolomeu.

Outro aspecto fundamental em sua narrativa é a “Teoria da Imortalidade” de Platão, que supunha a viajem da alma humana após sua morte, aos céus específicos de onde vieram (para cada planeta). Assim, se uma pessoa era amável e gentil, de certo descera de Vênus e daí, se conservasse estas virtudes, poderia ser tragada pelas forças divinas e elevada aos céus para sua eterna morada. No período medieval, estes conceitos foram reinterpretados: As pessoas do povo iriam para a Lua (onde morava também nossa senhora), os intelectuais para Mercúrio, os artistas sacros e as virgens à Vênus. O Sol destinado a ser a imagem do Cristo, e a casa dos teólogos, Marte aos mártires que faleceram nas cruzadas em nome da Igreja, em Júpiter os Políticos que legislaram de acordo com a lei de Deus (Igreja) e em Saturno os desapegados dos bens materiais e sábios.

Esta corrupção do modelo metafísico de Platão tornou o céu um lugar negociável, onde o jogo das conveniências era muito natural. Encontraremos Dante narrando várias vezes de seu imaginário, ícones distorcidos pela percepção religiosa de seu tempo.

Quanto a Beatriz sua musa inspiradora, não se sabe muito. Na realidade Dante a conhecera já desposada por outro homem, e sua paixão platônica por ela o perseguiu por toda vida. Muitas  vezes, grandes paixões são marcadas pela dor. Beatriz morrera em tenra idade, deixando o poeta  profundamente deprimido. Dante chega a casar-se, mas jamais escrevera se quer um verso para sua mulher, tornando-se conhecido como o maior adúltero literário da História da poesia.

Para ter-se uma ideia dos sentimentos de Dante por Beatriz, ele a cita 64 vezes na Divina Comédia, sendo o Cristo citado apenas 40. Beatriz só perde para Deus, muito provavelmente invocado quando em sua estadia no inferno.

Dante não esconde em seus versos sua opinião sobre as coisas. De posse das chaves do universo, Dante brinca de Deus, e coloca no inferno todos aqueles que odiara e que o perseguiram durante a vida. Lá estavam também todos os que eram convenientes ao pensar teológico. Desta maneira, Dante se vinga de todos aqueles com os quais lutara em vida, glorifica todos os seus amigos e amores, os elevando às alturas celestiais.

De forma geral, o espírito de contradição irá aparecer, destacando-se nesta narrativa o fato dos astrólogos aparecerem no inferno, mas a Astrologia no céu.

Gustave Doré's illustration to Dante's Inferno. Plate IV_Canto I

Inferno

Partindo-se do mais profundo inferno Dantesco, teremos os seguintes patamares por ordem de distancia das divinas potestades espirituais. Assim, quanto mais baixo o número, mais longe de Deus estavam as almas, e obscuros e tenebrosos eram os lugares.

Eis os dez infernos.

1. Local onde morava o demônio.
2. Traidores da família, da pátria, dos amigos e benfeitores.
3. Malebolge: sedutores, aduladores, vendedores das coisas santas, fraudulentos, hipócritas, ladrões, mau conselheiros, fundadores de seitas, falsários e os astrólogos.
4. Violentos: com os outros, com si mesmos (suicidas) e com Deus.
5. Hereges e incrédulos.
6. Os irados.
7. Os avarentos.
8. Os gulosos.
9. Os sensuais.
10. O anti-inferno: Almas nem aceitas por Deus nem pelo demônio. Os não batizados.

De acordo com a teologia da época, os sábios do passado estavam confinados aos últimos degraus. Dante e Virgílio encontram ali, nada menos que: Platão, Sócrates, Anaxágoras, Tales, Empédocles, Euclides o geômetra, Ptolomeu de Alexandria, Hipócrates (pai da medicina). A lista é grande. Apesar de Dante utilizar-se da cosmologia de Ptolomeu para o plano poético, o catolicismo do poeta não poderia colocar um astrólogo em outro lugar menos infeliz.

Encontra-se também no canto XX do Inferno, o astrólogo Guido Bonatus (1235 – 1300? d.c.) astrólogo de Forli, responsável por muitos atos do conde de  Montefeltro, com os quais Dante se desentendera em vida. Também ali no infernal Malebolge, Michael Scott (1175?- 1232?) o astrólogo escocês da corte de Frederico II da Sicília.

Outro peculiar aspecto de suas paragens no inferno é o fato de encontrar seu mestre: Bruneto Latini. Dante zomba de sua condição aflitiva entre as inúmeras almas que venderam a sagrada arte da poesia pelo dinheiro, e não pelo sacrum oficium, cobrando assim cada vintém gasto em suas aulas.

purgatorio.Blog

Purgatório

O purgatorium era o lugar de limpeza das almas. Nesta lavanderia sideral, passava-se pelos mesmos planos de níveis inferiores (mais densos, escuros, e pecaminosos) aos sutis estados da alma.

11. Os excomungados pela Igreja.
12. Negligentes.
13. Purificantes da Soberba.
14. Purificantes da Inveja.
15. Purificantes da Cólera.
16. Purificantes da Preguiça.
17. Purificantes da Avareza.
18. Purificantes da Gula.
19. Purificantes da Luxúria.
20. Paraíso terrestre.

Neste já distante mundo das meras atividades humanas, purgavam-se as almas que por piedade de Deus ali se recuperavam dos deslizes mundanos.

Dante vê o cruzeiro do sul ao sair do inferno às portas do mundo intermediário e o descreve em rodopios dados pela esfera celeste. Cita o ponto vernal, (zero graus de Áries do zodíaco trópico) discute a liberdade humana e as interferências cósmicas, fala do Touro que domina o meridiano, enquanto o Escorpião se encontra no Nadir, deixando uma pista de seu conhecimento astronômico-Astrológico.

Ao final de sua jornada, nosso viajante se despede de Virgílio, e é salvo por Beatriz que o recebe no primeiro céu.

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O Céu

O céu segundo Platão não era feito de matéria, e sim de uma substancia sutil chamada de éter. Esta concepção começa a ser demolida na trilogia científica de Copérnico-Kepler-Galileo.

No céu, portanto, movimentavam-se astros feitos de éter e luz. Daí talvez a gênese do termo “espírito de luz” associado a “céu”.

Para os estudos históricos de Astrologia este é o mais interessante de toda a obra. Dante irá descrever céu a céu de acordo com as características astrológicas, ou seja, dos efeitos observados pelos antigos Caldeus, e teorizados por Platão em sua teoria de imortalidade o efeito astrológico mesmo que distorcido.

21. Esfera da Lua: Almas do povo. Almas ainda apegadas ao mundo, mas boas.  Ali se encontra Maria de Nazareth. As mães do mundo encontravam ali sua morada  divina. A iconografia das virgens sempre sobre a lua (comum nas imagens de santas) e com vestes azuis com adornos estrelados são alusões e esta metafísica cristã.

22. Esfera de Mercúrio: É ali que Dante se instrui sobre os efeitos dos astros.

Nesta morada, permaneciam as almas boas, mas que em troca de algo praticaram boas ações. Estes mercenários siderais também usaram suas inteligências para fazer progredir as ciências, mas tornaram-se orgulhosos de seu saber.

“ Os céus continuamente giram, e enviam influxos aos mortais, sem cuidar de  qual a casa em que venha baixar esta ou aquela essência.”

“Os filhos resultariam sempre iguais aos seus genitores não fora mais forte que aqueles o influxo celestial. Creio agora estar claro para ti o que antes permanecia Obscuro”.

“Nota como deste ponto parte a linha oblíqua (eclíptica) – o zodíaco – que contém os planetas e se alonga , comprimindo neste ponto os reclamos do mundo, que reclama benefícios dos astros”.

“Se os mandatários do mundo indagassem a cada criatura qual a sua natural inclinação (segundo os astros), encontrar-se-iam sempre artesãos afeitos ao seu ofício”¹.

1 Aconselha-se a tradução do significado e não a tradução poética da obra de Dante Alighieri.

Percebe-se nitidamente por seus versos, que Dante conheceu a Astrologia e seu significado.

As falas são muitas e impossíveis de serem descritas neste texto. Porem, a inclusão da Astrologia nas divinas artes é aqui exposta de forma inequívoca. Astrologia na visão de Dante é divina, mas os Astrólogos devem arder no sinistro Malebolge. Seu razoável bom senso astrológico pressupõe uma formação grega clássica, além de tornar-se um precursor da astrologia vocacional e das políticas de reengenharia.

23. Esfera de Vênus: Almas dos que muito amaram. Os que amaram em Cristo. As virgens e as prostitutas redimidas.

Nesta esfera Dante encontra Cunizza um trovador e amigo, e Raab a prostituta redimida de Jericó.

24. Esfera do Sol: As potestades, os sábios teólogos, imagem refletida de Cristo.

Alberto Magno, São Thomas (defensor da Astrologia como meio de entender a Deus) ali estão. É o lugar dos patriarcas e fundadores das leis de Deus. O mais sacro dos lugares sob o primum móbile.

Torna-se completa aqui, a segunda principal icnografia celeste teológica cristã: Cristo o Sol. A personificação do Cristo no “Sunday” ou na vitória do “Solis Invictus” em 25 de Dezembro. Esta personificação é comum em catedrais góticas.

25. Esfera de Marte: Almas de elevada virtude e caráter. Militantes da fé.

Encontram-se aqui, os cristão que morreram nas cruzadas em nome da igreja.

A coragem de defender a Deus derramando o sangue se necessário, aqui é exultada. Dante encontra inúmeras famílias de nobres que se aniquilaram nas “Guerras Santas”.

26. Esfera de Júpiter: Gozam ali os espíritos dos justos. Os que souberam legislar com sabedoria e em nome de Deus. Príncipes que legislaram com dignidade.

Aqui Dante exulta os políticos que acreditara, mesmo que muitas vezes em causa própria. Júpiter é citado várias vezes para exemplificar seus efeitos sobre as virtudes e éticas humanas.

27. Esfera de Saturno: Céu dos espíritos contemplativos e donos dos tronos do mundo. É o céu dos obedientes, dos sábios pela idade, e os desapegados dos bens do mundo.

28. Esfera das Estrelas: As mais puras deidades. A visão maior de Cristo. As almas imortais. Espíritos que nunca desceram a Terra.

29. Primum Móbile: A Primeira esfera em poder. A mais importante em termos de influxo. Comandada diretamente por Deus.

30. Empíreo: A visão de Deus.

Seria impossível descrever este tratado em poucas linhas, da mesma forma que solicitar a imparcialidade de Alighieri. Dante foi-se. Deixou seus versos, seu desprezo pelo mundo, sua frustração sem Beatriz, seu ódio e ausência de perdão para com seus detratores. A Astrologia é divina em sua concepção. Se astrólogos irão arder ou não no inferno não sabemos. Em meu caso, pagarei a pena com satisfação. Conhecê-la, é entender um pouco mais deste tão misterioso lugar chamado universo.

Ω

Squaring the circle

Hermetismo e Astrologia

Carlos Fini

“Decifra-me ou devoro-te”

A Esfinge

O termo Cosmologia possui múltiplos significados. Seu sentido será determinado  de acordo com a época em que é dito. Para os estudiosos modernos, Cosmologia refere-se ao estudo da origem e evolução do universo visível, e seu possível fim. Uma área da Física e da Astronomia. Porém, do ponto de vista das antigas tradições o termo não tem exatamente tal conotação: Refere-se a algo mais subjetivo e um tanto integrativo.

O sentido do termo Cosmologia sob a ótica tradicional refere-se sim a origem do Universo, sua origem desenvolvimento e fim, mas, sobretudo o fará integrando o Universo e a Vida como um fenômeno único e indivisível.  A lógica da Ordem, ou o sentido dos mecanismos de repetição gerados pela estabilidade do Sol.

Sob este tecido, a vida do Universo se manifesta. A cosmologia seria então um conjunto de princípios gerais que se pode dar conta, estando por toda a parte. Ela não é uma idéia insólita ou uma teoria, e sim um pilar mestre do conhecimento. Os estudos de Schuon, Lubicz, Guénon, Eliade e Pichón, algumas autoridades reconhecidas mundialmente por seus estudos, atestam a idéia das Tradições Antigas do Oriente Extremo e Médio, afetarem de forma substancial os pensamentos dos Gregos que destilaram tais conhecimentos Cosmológicos em reflexões filosóficas e paradigmas que se estendem até nossos dias. Parece inverossímil, mas o fato é: As Tradições entraram com a Pinga e os gregos com o Alambique.

Isto significa que se herdamos tal cultura e se tal fato é incontestável, a menos que tenhamos de supor que os Gregos dormiram cegos e acordaram sábios dominadores de ciência, as inventando do éter metafísico de Platão. As tradições não são, entretanto, os feitos recentes das ciências modernas, mas a base de seus postulados. A tradição não inventou o quindim, mas sempre foi os ovos.

A Astrologia chega à Grécia

interaction between the four classical (Hellenic) elements

A Astrologia em um formato mais limitado ao que conhecemos hoje chega a Grécia por volta do Século V. a.c.. De certa maneira, ela era em tal época ainda uma ciência, mas já parcialmente deteriorada pela ação dos milênios. Todos sabemos como o tempo, a areia e as dificuldades de documentação atrapalharam a evolução das ideias sobre a natureza na antiga Mesopotâmia. Para se possuir um parâmetro simples, é só deter-se um instante na Astrologia da Babilônia, uma das últimas cidades da Mesopotâmia. Ela era já um conjunto de frases sem muito sentido, aliadas a um misticismo galopante e decadente.

A Astrologia não precisava de repintes e sim de um restauro. Sua cosmologia havia se perdido se não de forma total, tem se que admitir parcialmente, e por isto, tornara-se um conjunto de regras e aforismos confusos.

A vocação dos Gregos para o restauro é notável. Sabiam eles que a Astrologia era uma forma extraordinária de mapear os ciclos do meio ambiente e o melhor: havia funcionado por milênios orientando toda uma grande civilização, que estava a ser encoberta pelas poeiras do deserto juntamente com seus cuneiformes. O privilegiado ambiente Grego, propício ao desenvolvimento da ciência, por sua vocação cosmopolita onde múltiplos povos se acotovelavam, acabava por tornar possível uma grande operação: A transfusão do sangue cosmológico entre as várias culturas, visando o ressuscitar de algumas antigas ciências. A Astrologia não escaparia a tal operação, pois era valiosa demais.

Se o calendário da vida era uma verdade, qual seu sentido? Onde estariam as bases de seu movimento? Em que verdades universais se apoiariam? Muitos pensadores sofriam de uma obsessiva insônia de verdade. Entre as culturas estudas, a dos Egípcios parecia ser a mais preocupada e eficiente na preservação de seus estudos. Seus monumentos dão prova até hoje disto. Sua Cosmologia ainda parecia estar gozando de boa saúde, e tornou-se uma referência nesta ação sã de enfermagem.

Esta Teologia-Ciência que no Egito refere-se a Thot e na Grécia sob o nome de Hermes Trismegistos, encerra certamente os restos alterados mais infinitamente preciosos desta Cosmologia.  Os dias atuais, revelam estes ensinos em alguns textos legítimos como o Caibalion, sem autor, o Corpus Hermeticum de formulação Egípcia é um conteúdo eclético (Pitagórico-Heracliteano-Platônico), principalmente na tradução do filósofo Ficcino, e os “Fragmentos” uma coletânea de papiros gregos antigos. Hermes não foi exatamente alguém, e sim um nome genérico como Manu, ou Buda, querendo significar uma Casta ou um Deus em forma de conhecimento. Não foi provavelmente um único homem. Os Hermetistas Gregos eram portanto, estudiosos do pensamento cosmológico do Egito.

O Caibalion, nome latinizado de “Kybalion” significa “um preceito manifestado por um ente de cima” ou simplesmente “Tradição”.  Outra bela variável de sentido e não de etiologia, seria “Conhecimento sem autor”.

Em seus preceitos pode-se de forma didática, começar a tatear o sentido cosmológico dos Egípcios, agora em uma visão mais didática. Mais que um livro, eu o considero uma das mais importantes obras da História da Astrologia e do conhecimento.

Ele se estrutura em sete pressupostos básicos:

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Em realidade não são sete e sim apenas uma lei. Elas se inter-relacionam e se apoiam, como as faces de um sólido platônico, e não se dispõem em raias fragmentadas. As tradições são sempre apresentadas assim: sem costuras.

Neste ensaio irei expor dentro dos limites possíveis,  seus sentidos mais abrangentes e de superfície, salientando alguns contornos, mas sem a pretensão de verticalizar.

Ritmo

Tudo dentro do Universo possui um ritmo. Tudo nasce, cresce, se desenvolve e morre. Toda manifestação de movimento implica em uma tendência à ordem. Os ritmos lentos dominam os rápidos. O imutável controla o mutável. Toda e qualquer transição cíclica se dá de forma natural e lenta. A transição implicada em um conceito de sucessão gera a ideia cognitiva de realidade transitória. O fenômeno cíclico permite a previsão dos mecanismos de repetição em níveis análogos, tornando possível seu mapeamento.

É a fonte do sentido do Zodíaco, Elementos e Ritmos: cardeal, fixo e mutável.

Progressões, Trânsitos e técnicas de Previsões podem ser também incluídas.

Vibração

Tudo no Universo é feito de vibrações, desde as mais grotescas percebidas pelos sentidos às de nível mais refinado e não conscientes. As ondas e vibrações estão por toda a parte, não se podendo escapar a elas. A vibração é a base da existência do mundo dos sentidos. A luz é apenas uma, mas refrata-se em vários níveis de frequência. O mesmo se pode dizer do som e suas escalas cromáticas. Na natureza nada se perde, e as mesmas partes tornam-se outras dependendo de sua posição em uma cadeia ou de estado momentâneo.

Este princípio está na base do entendimento de como as transmissões de nível subquântico e sonoro, bem como os de espectro luminoso, afetam os seres vivos incluindo-se o homem, interligando todo o Universo.

Ela irá mostrar como estruturas zodiacais de mesma natureza se diferem, por exemplo: o princípio do fogo, da terra, do ar e da água. Os aspectos astrológicos encontram aqui um sentido muito especial na lei acústica de ressonância.

Polaridade

Tudo tem dois polos. O todo fabrica universos aos pares indivisíveis e autossustentáveis. Em seu âmago, um polo possui seu gêmeo oposto, que lhe dá sentido e significado. Os opostos são em realidade a mesma essência em si, mas refratados diante do Universo manifesto. Os extremos se tocam e confundem.

Projetam a interpretação cognitiva de que existem apenas seis eixos de movimento e não exatamente doze signos. Por isto, Áries e Libra partilham do senso de justiça (pela força ou pelos tratados) e Leão e Aquário tentam buscar destaque, mas em formatos diferentes (Ditadores ou revolucionários).

Os depressivos com alta carga de elemento fogo também são bons exemplos de polarização. Ideal para explicar alguns paradoxos astrológicos.

Mentalismo

O todo é mente. Nenhuma realidade absoluta pode ser observada. Toda e qualquer descrição do Universo, baseia-se no espectro de nossos sentidos e, portanto, o Universo é uma representação parcial da realidade absoluta. O mundo subjetivo na qual nossa personalidade se encontra é determinado em grande parte de como aparentemente o mundo é filtrado por nossos sensores cerebrais. Temos a sensação aparente de realidade da qual nos colocamos como o zero demarcador.

Este princípio é a base de como interpretamos as estruturas cíclicas como a Lua em seu curso extremamente repetitivo aos sentidos, isso nos dá a sensação de trivialidade e adaptação, ou no conceito “daquilo que é muito bem conhecido desde a infância”. Urano, por exemplo, completa um único ciclo (84 anos) perante o tempo de uma vida Humana, e ele nos parece “Imprevisível”, ou “Inesperado”. Este princípio fundamenta os conflitos observados em sinastria.

Causa e Efeito

As mecânicas do Universo implicam-se em conceitos de causalidade parcial. O Universo e o Cosmos possuem uma intenção. Deus não joga aos dados. O Universo é constituído de uma ordem onde efeitos e causas se interligam.

Este princípio é o que explica a ideia de que astros (planetas) não fazem desportistas, e sim, inclinam pessoas a táticas de competição. Os estudos de Gauquelin só confirmaram tal premissa. Alguns fatos da vida humana podem ter efeitos alterados dependendo da forma como se posiciona o indivíduo.

Gênero

O fenômeno vida manifesta-se através de dois princípios: O ativo e o passivo. A vida é na realidade o casamento de princípios de vida ativos e catalisadores. O Sol é apenas a contraparte ativa do fenômeno vida, sendo a umidade seu catalisador. O princípio ativo não é melhor nem pior que o passivo. O efeito astrológico dá-se em função de princípios ativos (Astros) e passivos (Homens) . Ver Tomás de Aquino.

Este senso fundamenta, a ideia de quem interfere em quem em uma hierarquia planetária e zodiacal, por exemplo. Seu domínio implica no natural senso de interatividade entre o meio e o indivíduo. Isto explica por exemplo a sensação de “ter de influenciar” encontrada nos agentes ativos de fogo, geralmente a contraparte de vida ativa, por exemplo.

Correspondência

O Universo é construído sob as mesmas bases desde as mais simples às mais complexas. O simples e o complexo são separados apenas pelo tempo e o espaço. O universo é indivisível. O que está em níveis complexos é análogo ao que está em níveis menos complexos. O que está em cima é análogo ao que está em baixo.

Esse princípio é o fundamento do Universo interligado e, portanto, interferente em suas múltiplas partes. O princípio muito próximo ao das holografias de Pribram e o Universo Dobrado e Explícito de Bohn. Ele fundamenta a analogia (transporte cognitivo de significâncias de realidade) entre casas e os signos bem como as regências dos signos por exemplo.

Veredito

Não serei leviano; tentarei dentro do possível, explicar os desdobramentos que irão fundamentar cosmologicamente a Astrologia em futuros artigos. É bom lembrar que muitos destes princípios são a base daquilo que fazemos dentro da Medicina, Física, Geometria, Biologia, Neurociências e Psicologia entre tantas.

A Cosmologia é a água de um Jardim. Sem ela, o discurso interpretativo torna-se árido, desconexo e sem articulação. Daí o problema da maioria dos estudantes não saberem “juntar” os significados. Com a mutilação deste importante item, a Astrologia resume-se a um punhado de curiosas engrenagens soltas e não um instrumento de leitura do Universo.

Não se pode fazer milagres. Quando se estuda algo muito antigo é no mínimo de bom senso possuir um orientador consciente. A velha Esfinge que significa entre outras interpretações os mistérios do Universo, nos devora quando não temos capacidade de enfrentá-la. Em outras palavras, não se deve tentar decifrar um mistério de forma leviana. Acabamos por afirmar distorções e ruídos de verdades, e nos perdemos totalmente.

As leis herméticas não são a cura para as nossas bobagens pessoais, mas com certeza são um grande antídoto contra a miopia provocada pela fragmentação atual do conhecimento humano.

Biblografia
O Caibalion – Três iniciados
Corpus Hermeticum – Hermes Trismegistos
Suma Teológica – Aquino, São Thomas
Sacred Science – Lubicz, S.
Sobre os mundos antigos – Schuon, F.
O sagrado e o profano – Eliade, M.
A Cosmopsicologia – Gauquelin, M.
Astrologia e Religião no Mundo Greco-Romano – Cummont, F.

Ω

Inmaculada Concepción (La Colosal) - Immaculate Conception (The Colossal) - Bartolomé Esteban Murillo

Mea Culpa, mea maxima culpa!

Carlos Fini

Creio porque é absurdo!
Santo Agostinho

Uma da mais contundentes personalidades da filosofia Cristã é Santo Agostinho. Filho de mãe cristã (Santa Mônica) e de pai relutante às ideias do Nazareno, este filho do século IV d.c. levou um vida muito intrépida. Fez sua educação literária em Milão embora Roma e Cartago hajam presenciado algumas dissipações de sua juventude. O pensamento platônico o fascinou desde cedo, e isto não passou despercebido para o futuro Bispo de Hipona.

Precursor do humanístico pensamento do renascimento, propõe a conciliação entre a ética greco-latina e a mensagem dos evangelhos. O “De Civitate Dei” (Cidade de Deus) e “Confessiones” (Confissões) são suas mais conhecidas obras.

Emergindo de profundos conflitos emocionais característicos de sua infância, Agostinho vê-se atormentado quando após a morte de sua mãe, busca sua conversão ao Cristianismo. Educado na filosofia de Aristóteles e Platão, o jovem de Tagaste encontra-se em um abismo cultural e intelectual: como conciliar o pensamento Helênico e o Cristão? Como aceitar a arte dos gregos se eram politeístas? Qual a raiz de seus conflitos se tais artes, entre as quais a Astrologia, pareciam funcionar tão bem?

Os Vaticínios dos Astrólogos

Earthshine and Venus Over Sierra de Guadarrama

Agostinho como precursor da Astrologia empresarial. Suas dúvidas quando a arte da Astrologia.

No texto de confissões, Agostinho confessa que praticava a Astrologia. Vamos à alguns trechos da tradução de Ambrósio de Pina.

“Este homem chamado Firmino, que tinha sido educado nas artes liberais1 e instruído na eloquência, consultou-me um dia, como a amigo muito íntimo, a respeito de uns negócios em que tinha grandes esperanças. Perguntou qual fosse o meu vaticínio, “segundo sua estrela”, como eles dizem. Porém, eu que já então neste assunto começava a deixar dobrar pelas questões de Nebrídio, não me recusei a expor-lhe meus prognósticos e o que me ocorrera, acrescentando contudo que estava já quase persuadido de que tudo aquilo era falso e quimérico”.

Confissões
1 Artes necessárias ao pleno saber no período medieval: a retórica, a dialética, a gramática compunham o trivium. A astronomia/astrologia, a Aritmética, a Geometria e a Música compunham o quadruvium.

Este trecho evidencia a prática da Astrologia pelo santo. Entretanto sua consultoria empresarial, estava carregada de dúvidas. Quanto ao vaticínio de Santo Agostinho nunca o saberemos. Por ser consultado pelo culto amigo, Agostinho obviamente possuía conhecimentos sólidos de Astrologia e Astronomia, já que naquela época, não existia nem Canopus, nem Vega e muito menos o Solar Fire.

Só Deus pode Ter o conhecimento do futuro. Nenhuma arte existiria para prevê-lo.

 “Também já tinha rejeitado as enganadoras predições e os ímpios delírios dos Astrólogos. Ainda nisto meu Deus, Vos quero confessar as vossas misericórdias, desde as fibras mais secretas da minha alma!”.

“O primeiro (o amigo Vindiciano) dizia-me com toda a veemência e o segundo frequentemente (outro amigo Nebrídio) – ainda que com certa hesitação – que nenhuma arte existia para prever o futuro; que as conjecturas eram fundadas no acaso, e que, por jogo de palavras, se vaticinavam muitas coisas; que aqueles mesmos que as diziam ignoravam se aviam de realizar, acertando nelas somente porque as não calaram”.

Confissões

Nesta passagem, Agostinho influenciado por dois amigos, confessa a Deus seu erro: “A prática da Astrologia”. Segundo sua visão, a arte de prever o futuro era falsa e com ela a Astrologia. Somente Deus possuiria tal habilidade. A capacidade por exemplo de antever a uma futura doença pela medicina ou qualquer outra arte torna-se difícil de conciliar. Quais os limites do que se pode prever sem o conflito com a sabedoria de Deus? A negação da ciência começa aqui a ganhar corpo. Estamos às portas do medievalismo galopante.

Estrelas inclinam mas não realizam acontecimentos. Não se pode culpar Marte ou qualquer outro astro pelos infortúnios humanos.

“Poderão ainda dizer que as estrelas indicam mas não realizam acontecimentos. É como se a sua posição fosse uma linguagem de predizer o futuro (foi de fato o parecer de homens não mediocremente doutos). Não é assim que os astrólogos costumam falar. Não dizem, por exemplo: “Esta posição de marte anuncia um homicida”, mas “faz um homicida”. Concedamos, porém, que eles não falam como devem e que deviam tomar dos filósofos a sua maneira de falar para anunciar os acontecimentos que julgam descobrir na posição dos astros”.

Cidade de Deus – cap. V – Livro I

O segmento é inequívoco: Agostinho bate de frente com o problema do “O que torna uma pessoa um homicida?”. Isto não pode vir de Deus nem dos astros e muito menos de um distúrbio no Complexo Reptiliano de Eccles. Isto abalaria toda a doutrina romano-cristã que estava em vias de ser instituída. Para isto, seria necessário expulsar toda espécie de interferência. Ele alerta, entretanto, quase insinuando que se os astrólogos tratassem os efeitos como interferências do mundo natural. Ele até talvez revê-se sua posição. Sua formação clássica o ajudou a fazer interessantes reflexões, a despeito de sua fé maior que qualquer outra coisa. É correto, entretanto, o fato de muitos astrólogos da época não falarem a língua dos filósofos. Isto não mudou muito desde o século IV.

Agostinho admite o efeito astrológico e sideral na natureza. Os seres sem espírito podem sofrer o efeito dos astros:

“Não é absolutamente absurdo admitir que mudanças, mas apenas quanto a diferenças do corpo, sejam devidas à influência sideral: vemos assim que o Sol pela sua aproximação ou afastamento provoca as estações do ano; a Lua, conforme vai para a crescente ou minguante, assim faz crescer ou minguar certas categorias de seres, tais como ouriços do mar e as conchas, e ainda as maravilhosas marés do oceano”.

Cidade de Deus – cap. VII – Livro V

Este segmento transparece seu pensamento de cientista natural. Apesar das justificativas apresentadas à causa das estações do ano estarem equivocadas, isto é conhecimento de Alexandrino. A exclusão do homem sob o efeito dos astros é antes a maneira mais eficiente de resolver aparentemente a questão da “moral como um fenômeno do homem” e não da natureza. Se Agostinho estiver certo, entretanto, e se nossos estudos como astrólogos não forem equivocados, a convivência destas duas teses, fará com que nosso parentesco com algas, e mexilhões seja mais estreito do que imaginamos.

Astrólogos são inspirados por demônios. Tal arte não existe:

“Bem consideradas todas estas coisas, há motivos para crer que, se os astrólogos dão tantas respostas surpreendentemente verdadeiras, isso se deve a oculta inspiração de maus espíritos que põe todo o cuidado em infundir nos espíritos humanos essas e nocivas opiniões acerca das fatalidades astrais, e de forma nenhuma à arte de examinar os horóscopos: Tal arte não existe.”

Cidade de Deus – cap. VII – Livro V

Ao fim do capítulo VII , Agostinho admite que os astrólogos dão respostas corretas e até surpreendentes. Como justificá-las?  A resposta estaria na ação oculta de espíritos. Teríamos que admitir, duas coisas: demônios são inteligentes o suficiente para serem bons na arte da astrologia, e desocupados o bastante para o fazê-los apenas com a finalidade de infundir conceitos contrários à opinião do filósofo.

Longe de pretender esgotar o assunto, este ensaio pretende estimular o leitor a pensar por que caminhos andou a Astrologia. As críticas de Agostinho à Astrologia parecem associar-se mais ao problema do destino e da moral, que a seu sentido em si. Isto lhe roubou muitas noites de sono. Seus clássicos argumentos sobre a questão dos Gêmeos em Astrologia serão desenvolvidos em outro capítulo.

Agostinho tinha uma missão: a de trazer o cristianismo como modelo de sociedade. O humanismo que inspirou as artes e o pensamento renascentista possuem muito de sua base. Talvez São Tomás tenha conseguido um melhor resultado nesta interface entre o mundo Greco helênico e o mundo do Jesus-Romano.

Santo Agostinho foi um exemplo de fé e a colocou sobre todas as coisas. Talvez tenha sido esta sua maior virtude e sua maior condenação.

“Vós, porém, Senhor, justíssimo organizador de tudo, por meio de um secreto instinto, desconhecido dos consulentes e dos Astrólogos, fazeis que cada qual, enquanto consulta, ouça o que lhe convenha ouvir, segundo os merecimentos ocultos da sua alma e segundo os abismos dos vossos incorruptíveis juízos. Que nenhum se atreva a perguntar-Vos: “Que é isto?”. “Para que é isto?”. Não vo-lo pergunte, porque é um simples homem.

Santo Agostinho
Confissões

Ω