A Astrologia Egípcia

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François Suzzarini

Qual é o Objetivo da Astrologia Egípcia?

Os Egípcios tinham sentido, e antes deles os Sumérios e os Mesopotâmicos, que o homem evolui sobre a Terra como os seus pensamentos evoluem na sua cabeça e como os planetas evoluem em torno do Sol. O homem faz parte do universo como o universo faz parte dele.

O homem é Uno: cabeça, coração e corpo não são dissociáveis, implicando em cada uma das suas reações o movimento, a sensação, o sentimento e o pensamento.

No princípio a astrologia resumia tudo o que o homem sentia, ressentia e pressentia dele mesmo e da natureza que o rodeava. As infinitas possibilidades de combinações do seu simbolismo permitiram ao homem compreender, pouco a pouco, a razão da sua existência sobre a Terra abrindo todos os caminhos do pensamento. Ele colhia a verdade em todo o Cosmos e compreendia que este estava nele igualmente. O homem compreendeu que ele é como a natureza que o rodeia e que é regido pelas mesmas leis.

A astrologia, desde os tempos mais recuados da Antiguidade, é um método que ajuda a apreender os mistérios do homem e da natureza. Não é uma ciência, nem uma religião e não é racional ou lógica no sentido em que a entendemos no Ocidente. Ela é a quinta-essência do homem no universo.

As primeiras sociedades humanas perceberam, instintivamente, o elo que as ligava aos astros que viam sobre as suas cabeças. E, muito naturalmente, os símbolos surgiram: o céu por cima, a terra por baixo. Sem religião ainda estabelecida, os homens compreenderam que o que está por cima é semelhante ao que está por baixo; que eles mesmos eram idênticos aos astros e que, em escalas e durações diferentes, estavam submetidos às mesmas influências e reações que estiveram na origem dos planetas.

Só mais tarde as religiões se debruçam sobre a noção de qualidade. O bem, o mau, o belo, o feio, o que se faz e o que se não faz. Estas noções subjetivas de qualidades binárias não são astrologia, mas derivam dela.

Pelo seu lado, os Egípcios tinham pressentido corretamente os mistérios enriquecedores que lhes eram oferecidos pelo universo. Carentes de técnicas suficientemente evoluídas estabeleceram uma astrologia estática, fixa e repetitiva. Mas já nessa altura, ela trazia um certo número de respostas que satisfaziam o bem-estar espiritual do ser humano.

A tarefa dos sacerdotes egípcios visava estabilizar o que eles entendiam por uma divinização do espaço-tempo. Cada dia, cada hora tinha o seu deus e mestre, o que representava um oráculo para cada um.

A grande importância dada à religião solar fez aparecer importantes templos: Aton-Rá, em Heliópolis, Ptah, em Mênfis («os muros brancos»), Thot, em Hermópolis («A cidade dos oito deuses»), Osíris deus da vegetação, que se tomou o deus dos mortos e instituiu a crença num julgamento após a morte e numa segunda vida.

De 1377 a 1358 a. C., Amenófis IV, «o rei herético», desposou Nefertiti e introduziu no Egito o culto de Aton, o disco solar; o monoteísmo solar chegou a tal ponto que a capital se deslocou para Akhet-Aton («luz de Aton») e o faraó Amenófis IV tomou o nome de Akhenaton.

As vagas de invasões que se sucederam entre 2000 e 1100 a. C. deram à cultura indo-européia uma nova cor. Existia na Grécia, a partir de 1600, além de uma religião aristocrática da qual Homero fazia naturalmente eco, uma religião popular que venerava deuses locais personificando forças naturais, corpos celestes (Sol, Lua) e conceitos abstratos (luta, esperança, etc.), para finalmente resultar em novas concepções religiosas emitidas pelas escolas órficas e pitagóricas: as noções de sanções no além. Os Mistérios de Elêusis davam aos iniciados a garantia de sobrevivência depois da morte.

Evidentemente, a par dos cultos antigos, como os de Demeter ou Ceres e de Dionísio, apareceram novos cultos misteriosos como o de Isis, de Baal e de Cibele, que podem ser considerados como novas encarnações de deuses antigos e já conhecidos. No Egito, esta época muito longa viu a criação artificial do culto de Serápis, que era a combinação de Osíris e de Ápis. Serápis tornou-se o deus milagreiro e o deus do Estado egípcio.

O que são os Decanos Egípcios?

O que são esses “decanos” que mais tarde os astrólogos associaram ao “sistema egípcio” de astrologia? Eles consistem de um grupo de estrelas ou uma estrela visível dentro de um amplo cinturão equatorial que nasce em “determinadas horas da noite” durante um período de dez dias (“decano” veio do grego, dez). Trinta e seis delas formam um ano. O nascer helíaco de uma constelação no horizonte oriental marcava o início de cada decano; eles começavam com Sirius, conhecida como “a senhora do ano”. Como se baseavam em um ciclo de 360 dias, surgiam em períodos diferentes do ano, de modo que era necessário formar tabelas para mostrar como eles se desviavam durante as estações. O sistema pode ser encontrado pelo menos até na terceira dinastia, cerca de 2800 a.C. e deve ter requerido um período longo de observações anteriores…(…)

… (…) Por volta do segundo milênio antes de Cristo, e provavelmente bem anterior a essa época, os egípcios selecionaram 36 estrelas “decanas” entre os padrões de constelações que já tinham desenhado no céu. Seu nascer, ápice e ocaso eram usados para determinar a época aproximada do ano e também a hora da noite.

Os egípcios acreditavam que os mapas estelares podiam ser utilizados pelas almas dos mortos e também pelos vivos. A tampa do caixão de um sarcófago em Assiyut, datando em torno de 2050 a.C. funcionava como um calendário estelar e um relógio estelar, retratando imagens para representar as constelações circumpolares e a série de 36 estrelas decanas. O método é usado ainda hoje: os almanaques náuticos modernos possuem grandes séries de estrelas de “dez dias” e números menores de estrelas circumpolares que um navegador pode usar para calcular a data ou a hora.

Os decanos recebiam com frequência os nomes dos deuses governantes e representavam princípios diferentes do cosmo. Esta pode ter sido a fonte da doutrina de Platão de que cada signo tinha seu deus regente, e da reivindicação astrológica posterior de que cada signo possui um planeta regente.

Nota:

 A tabela dos decanatos do livro de Suzzarini apresenta muitas incorreções. Pesquisei algumas fontes mais fidedignas e optei por apresentar a tabela das concordâncias (dos decanatos segundo Eratóstenes e revista por Dupuis) extraída do volume “Biographie Universelle Ancienne et Moderne de 1832”.
Ainda é oportuno ressaltar dois aspectos que derivam da astrologia egípcia e comumente são mal interpretados: 1) Os decanatos se baseiam em movimentos diuturnos, ou seja, nascimentos helíacos de estrelas que variam anualmente suas posições, de modo que, o que lemos sobre decanatos não tem nada a ver a com a profundidade ilustrada no zodíaco de Dendera e por este motivo aplicarmos os decanatos hoje em dia, com a mesma finalidade que se usava no antigo Egito, sem fazer as atualizações helíacas das estrelas, é apenas folclore astrológico. 2) Os signos zodiacais do Egito não se sobrepunham às divindades, ou seja, não podemos interpretar o signo de Virgem ou Escorpião como Ísis ou Anúbis, este tipo de interpretação é equivocada acerca dos conceitos da astrologia egípcia.
César Augusto – Astrólogo

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O nascer dos decanos durante a noite era usado para dividir a duração da escuridão em horas. No verão, na época do nascer helíaco de Sirius, o nascimento de 12 delas era observado antes do amanhecer, e por isso as horas da noite eram divididas em 12. Embora a contagem decimal fosse a regra geral, uma hora de penumbra era adicionada no início e novamente no fim do dia às dez horas de claridade total para perfazer um total de 12. Como a extensão das horas variava em épocas diferentes do ano, os astrólogos usavam as horas iguais dos equinócios, quando noite e dia tinham a mesma duração, como padrão — daí nosso relógio de 24 horas…(…)

… (…) Os decanos egípcios foram assumidos com entusiasmo pelos astrólogos na antiga Roma, que dividiram cada signo do zodíaco em três segmentos de 10°. O céu foi assim secionado em 36 decanos. O astrólogo romano Firmicus Maternus citou uma passagem do livro de textos egípcio de Nechepso e Petosiris: “Em cada signo existem três decanos que ocupam certos graus e deixam outros vazios (…) Então, todo aquele que tiver em seu horóscopo o Sol e a Lua e os cinco planetas em graus inteiros será como um deus e subirá até a altura da majestade.” Infelizmente os astrólogos egípcios adicionaram: “Mas isso poderá nunca acontecer.” Contudo, quanto mais planetas alguém tiver em graus inteiros em um horóscopo, mais afortunado será.

O astrólogo romano Manilius distribuiu os decanos entre os signos do zodíaco em sua ordem tradicional. Um outro sistema atribuiu a eles planetas regentes, começando com Marte para o primeiro decanato de Áries e continuando com a “Ordem Caldaica” até Marte reger o primeiro decanato de Peixes. Johanne Stobaeus, escritor do século V, descreveu assim os decanos: “semeiam sobre a terra as sementes de determinadas forças, algumas salutares e outras mais perniciosas, que muitos chamam de demônios”. Durante a Renascença, o jesuíta italiano Egyptophile Athanasius Kircher fez uma lista adicionando algumas deidades gregas e persas às egípcias representando os decanos. Mais tarde, no século XVII, o astrólogo inglês William Lilly utilizou o chamado “sistema egípcio”.

Existem pouquíssimas fontes escritas sobre a astrologia egípcia que sobreviveram. Por que isso aconteceu? Como em qualquer campo de conhecimento, os egípcios mantiveram seus princípios ocultos em segredo e somente os expressaram simbolicamente em sua arquitetura e arte. Além disso, eles passaram oralmente seu conhecimento de mestre para iniciado. O segredo era mantido de modo que o conhecimento não chegasse a mãos erradas. Diz-se que o filósofo grego Pitágoras teve de esperar vinte anos até ser admitido nos templos egípcios.

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A Astrologia no Mundo

Peter Marshall

Os sacerdotes da Antiguidade entregavam-se às previsões siderais e à astronomia, costurando despreocupadamente estas duas doutrinas numa só essência religiosa, cujo culto era votado ao deus (deus Sol).

Os Egípcios verificaram que o decanato representa cerca de dez graus no espaço e de dez dias no tempo. Cada mês possuía então três decanatos, sobre os quais velavam as estrelas chamadas para a ocasião «deuses conselheiros». No total, trinta e seis deuses conselheiros, um para cada decanato. Dezoito deuses conselheiros ocupavam-se das coisas que se passavam sobre a Terra e os restantes dezoito das que se passavam sob a Terra.

O Sol, a Lua, Saturno, Marte, Júpiter, Vênus e Mercúrio ocupavam o vértice da hierarquia divina e chamavam-se deuses intérpretes. A rigidez do sistema dava a predominância aos planetas cujo curso regular indicava a boa marcha e a boa sucessão dos acontecimentos. No entanto, Saturno, o mais elevado no céu, tinha o nome de «revelador» e se beneficiava de uma veneração especial.

Os princípios da astrologia egípcia foram redigidos nos livros sagrados do deus Thot, guardião da escrita e dos números. Os Gregos, alguns anos mais tarde, exploraram o mito sob o nome de Hermes.

Com efeito, as astrologias caldeia e egípcia estenderam-se até aos Gregos que as associaram numa só «ciência», a apotelesmática (ciência das influências).

A título de curiosidade, indicamos à frente de cada decanato a divindade egípcia de ordem secundária que presidia ao seu destino.

Qual é a Utilidade dos Decanatos?

A maior parte dos astrólogos nega-lhe qualquer utilidade. Praticamente, nunca se servem deles. Pela nossa parte, apercebemo-nos ao longo de trinta anos de experiência astrológica que a utilidade dos decanatos egípcios é considerável no plano da procura das qualidades intrínsecas do cérebro e, nomeadamente, para avaliar os fenômenos intelectuais, emocionais ou conceituais do hemisfério esquerdo e direito, assim como para medir a riqueza do subconsciente.

Por outro lado, a procura do planeta que rege o decanato permite uma melhor definição do ser e do parecer do indivíduo, dissociando-os perfeitamente.

A utilização dos decanatos egípcios permite compreender o simbolismo da personalidade, dando-nos da mesma a chave das cores, sabedoria desenvolvida por um sacerdote de nome Thot.

Os Egípcios usaram a analogia que existe entre os planetas e os metais, cujo brilho tinha coloração semelhante. As propriedades químicas dos metais foram relacionadas com as influências siderais e assim codificadas. É curioso notar que a análise eletroquímica desses metais produziu os mesmos resultados quanto à cor, com exceção do estanho ou do zinco, associados ao azul pelos sacerdotes. Mas sabemos que o azul resulta do cobalto que, na época dos faraós, era totalmente desconhecido, embora os antigos falassem do «Kobolt» que servia para colorir o vidro de azul.

A lista das analogias é como se segue:

O Sol, cujo metal é o ouro, a cor o amarelo e cuja análise eletroquímica dá o laranja.

A Lua, cujo metal é a prata, a cor o branco e cuja análise dá o branco.

Vênus, cujo metal é o cobre, a cor o verde e cuja análise dá o verde.

Júpiter, cujo metal podia ser o cobalto, a cor o azul e cuja análise dá o azul.

Saturno, cujo metal é o chumbo, a cor o negro e cuja análise dá o castanho-escuro.

Mercúrio, cujo metal é o mercúrio (ou prata viva), a cor o branco brilhante e cuja, análise dá o branco.

Como pormenores suplementares citamos:

Nas crenças russas, o cobre está associado à cor verde. Por isso a «deusa da montanha de cobre», que representa o Ural, tem olhos verdes e enverga uma túnica verde de malaquita. Outras representações apresentam-na sob o aspecto de um lagarto verde. E o símbolo da luz, da vida e da beleza.

Quanto ao ferro, os Egípcios identificavam-no aos ossos de Seth, divindade tenebrosa, considerada como o furacão do Nilo. Os sacerdotes consideravam-no o oposto simbólico do cobre. E o símbolo da robustez, da dureza, da inflexibilidade.

A prata, no Egito, representa os ossos dos deuses e é o símbolo da pureza. Entre os Russos é igualmente o símbolo da pureza e da purificação.

Ainda no Egito, o chumbo é o símbolo da individualidade inatingível atribuída ao deus separador Saturno que é a demarcação.

No princípio, os Egípcios recorriam aos decanatos para determinarem as horas da noite. Os quadros das constelações permitiam-lhes saber as horas porque o mesmo decanato permanecia visível no horizonte durante um período de cerca de dez dias. Nos sarcófagos e nos muros dos templos e dos túmulos figuravam numerosas imagens simbólicas do antigo Egito que mostravam o papel dos trinta e seis decanatos como gênios protetores.

A Astúcia do Sacerdote Thot: A chave do Código das Cores dos Decanatos

Este sacerdote egípcio viveu na quarta dinastia, aquela que viu a multiplicação das pirâmides. A sua câmara tumular, trazida à luz do dia, tinha o seu nome gravado na pedra, bem como um enigma que, uma vez decifrado permite compreender que este sacerdote se dedicava à astrologia. A inscrição indicava também a maneira de compor um tema astrológico simples, sem cálculos e sem recorrer às efemérides. Este horóscopo tem uma comprovada facilidade de manipulação.

Thot tinha imaginado a repartição das cores dos planetas nos decanatos que governavam. Assim, pode-se fazer a primeira leitura e a interpretação à luz das influências planetárias que regem os decanatos e, em seguida, completar essa primeira leitura com a interpretação simbólica das cores que cobrem os decanatos.

O simbolismo ético das cores, entre os Egípcios, é bem conhecido: por exemplo, o negro nas obras de arte é o sinal do renascimento póstumo e da preservação eterna. É a cor do deus Anúbis e do deus Min, que guiam os monos no outro mundo e que presidem à geração e às colheitas. Do mesmo modo, Osíris, de negro, adorna-se também do verde da vida vegetal e da juventude em pleno vigor.

Vimos que o ouro representa os ossos e a carne dos imortais (os faraós). O branco, nos desenhos gravados nos sarcófagos, é símbolo da alegria. O vermelho que veste Seth (o deus do mal, o tufão do Nilo) é a cor maldita, perversa, é também o símbolo da violência terrível. Os escribas escreviam a vermelho os nomes de mau agouro, tal como o de Apófis, o demônio-serpente da adversidade.

A Chave do Código de Cores

Vermelho: elemento masculino. O fogo. A paixão. O sentimento. É a direção horizontal. A exteriorização. A cor vermelha está ligada ao princípio da vida, da força vital, da força impulsiva e generosa. Encarna as virtudes guerreiras, o fogo límpido do amor celeste. Se a cor tende para ruivo, entre vermelho e ocre, é o fogo impuro que arde sob a Terra, o fogo do Inferno. Os Egípcios criam que o deus da concupiscência (Seth) era ruivo. Curiosamente, a tradição diz que Judas tinha o cabelo ruivo.

Verde: elemento feminino. A água. A sensação, o real. E a expansão da vida, a harmonia, a precaução, a justiça, o mistério. O verde detém o vermelho. Osíris, o Verde, foi esquartejado e lançado ao Nilo. Ressuscitou, pelo poder de Ísis, o Vermelho. É o grande iniciado e conhece o mistério da morte e do renascimento (vermelho e verde). Por isso, sobre a Terra, presidia à renovação da Primavera e, sob a Terra, ao julgamento das almas.

Amarelo: elemento masculino. O ar. A intuição. Primeiro aspecto: é a juventude, a força, a eternidade divina. Por esse motivo, nas câmaras tumulares egípcias, não é por acaso que a cor amarela é a mais frequentemente associada ao azul, para garantir a sobrevivência da alma do defunto. Com efeito, segundo os ritos dos sacerdotes, o ouro, que representa a cor amarela, será a carne do Sol e dos deuses. Além disso, o azul indica a passagem da verdade. O amarelo associa-se ao negro como seu oposto e seu complementar. Segundo aspecto: a crueldade, a dissimulação, o cinismo.

Branco: elemento intemporal. O ar. Oposto ao negro. E a cor de passagem (para a iniciação a um rito), quer dizer, a morte e o renascimento.  Primeiro significado: a morte, o luto. A pureza (no sentido neutro e passivo que significa que nada ainda foi concluído). Segundo significado: afirmação, responsabilidades assumidas. Renascimento conseguido. Consagração.

Branco-brilhante: os mesmos significados do branco, mas com um toque mais forte, mais positivo, mas desmedido até a excitação.

Negro: a Terra. É o temporal. Primeiro aspecto: a morte, o vazio, a desesperança.

Segundo aspecto: a passividade total, a fatalidade, a angústia, a ignorância. No Egito, uma pomba negra era o hieróglifo da mulher viúva e que assim permanecia até a morte. E igualmente símbolo da fecundidade: Ísis, deusa-mãe, era representada a negro.

Azul: direção vertical: o Céu e o Inferno. O pensamento. E a eternidade serena, o apaziguamento (ao passo que o verde tonifica, vivifica). A profundidade do azul tem uma força supraterrestre. Os muros das necrópoles egípcias eram frequentemente cobertos por um revestimento azul-claro no qual, em vermelho-ocre, se destacavam perfeitamente as cenas do julgamento das almas. Os Egípcios consideravam o azul como a cor da verdade, quer dizer, a porta celeste que separa o faraó do além onde acontecerá o renascimento.

Os sacerdotes, antes de mumificarem o faraó, colocavam um escaravelho de esmeralda no lugar do coração. O coração desempenhava um papel fundamental: o deus Ptah tinha pensado o universo com o seu coração, materializando-o, seguidamente graças ao verbo criador. Era, portanto, o centro da vida, do querer e da inteligência do homem e daí o seu sentido simbólico na psicostasia, quer dizer, a avaliação das almas ou o julgamento de deus depois da morte.

Os Planetas e o seu Significado

Os Egípcios, tal como os outros povos da Antiguidade, interessavam-se pelo grandioso espetáculo oferecido pelo céu noturno sobre as suas cabeças.

Com que fim? As migrações frequentes dos diferentes animais de caça, seguindo o ritmo das estações; a apanha dos frutos fazia-se em alturas certas; as sementeiras e as colheitas seguiam igualmente o curso das estações. Também as fecundantes inundações do Nilo tinham lugar no começo do Verão.

O céu ofereceu sempre ao homem, preocupado com o seu bem-estar, um imenso calendário cuja utilidade não necessita de demonstração. Os nossos antepassados observavam com toda a naturalidade que o Sol e a Lua nasciam sempre a Leste e desapareciam a Oeste. Em seguida, notaram que as estrelas faziam também o mesmo, mas precisavam de uma noite inteira para atravessar o céu. Passo a passo, compreenderam depressa que em cada mudança de estação certas constelações apareciam no céu e verificaram que eram sempre as mesmas que acompanhavam a Primavera, o Verão, etc.

A regularidade do curso das estrelas parecia-lhes tão extraordinária que quiseram atrair as boas graças desses astros familiares. A previsão da sua passagem tomou-se um hábito entre os sacerdotes egípcios que tinham em vista obter a sua proteção.

Pouco a pouco e à medida que observavam melhor a cúpula celeste, viram estranhas figuras formadas por certos grupos de estrelas. Por exemplo, com a ajuda da sua imaginação, tinham a impressão que viam uma procissão, tendo à frente um touro, seguido de um homem, que se desenhava na Ursa Maior e nas estrelas que a circundavam. Outras vezes, os sacerdotes explicavam aos fiéis que se tratava de um deus deitado, seguido de um hipopótamo levando no dorso um crocodilo.

Aprenderam a reconhecer os cinco planetas em volta do Sol e da Lua. Deslocavam-se num fundo de estrelas mais longínquas, passando de uma constelação a outra e, algumas vezes, descrevendo lentamente um arco completo. Rapidamente, os sacerdotes deduziram que esses astros tinham influências benéficas ou nefastas sobre o comportamento dos homens e, no seguimento lógico desta visão onírica, os Egípcios atribuíram aos planetas comportamentos idênticos aos dos homens e imaginaram que influenciavam os seres humanos segundo os seus comportamentos.

Esta noção de astrologia, que diz respeito ao indivíduo, vem certamente do Egito de Alexandre, pois se expandiu rapidamente através do mundo greco-romano, há dois mil anos. Foi em Alexandria, no Egito, no século III a. C. que a pequenez da Terra se impôs aos espíritos cultos da época. Eratóstenes, astrônomo, historiador, geógrafo e matemático, diretor da grande biblioteca de Alexandria, se apercebeu deste fenômeno.

O conhecimento dos cinco planetas (Saturno, Júpiter, Marte, Vênus e Mercúrio) deu um prodigioso impulso à alquimia. Cada planeta foi identificado com um metal, cujas propriedades físicas, uma vez estabelecidas, não foram mais do que um pretexto. Os alquimistas tinham um objetivo mais elevado: a realização de uma transmutação mineral correspondendo, na verdade, à reprodução das mesmas leis segundo as quais o universo se manifestava na matéria. A separação que o chumbo de Saturno permite, era, na realidade, a separação da matéria e do espírito. A transmutação do vil chumbo em ouro correspondia ao espírito do iniciado que renascia pleno de conhecimento do universo.

A palavra «quimia» vem do egípcio Kam-it ou Kem-it, que significa «negro», devido ao lodo do Nilo, considerado como a fecunda e produtiva terra-negra. Os Árabes fizeram el-Kimya, que significava «quimia». O deus Hermes (que alguns consideram como sendo o deus de origem egípcia Osíris, transposto para a mitologia grega) havia revelado aos homens este saber iniciático sob o nome de «filosofia hermética».

Para os alquimistas, a matéria é una, mas pode-se manifestar sob diversas formas: a água, o ar, o fogo, a terra. Duas forças movimentam o universo: o enxofre, símbolo ativo e masculino, e o mercúrio, símbolo passivo e feminino. Estas duas forças são o pai e a mãe dos outros cinco metais considerados como imperfeitos: o ferro, o chumbo, o cobre, o estanho (ou o cobalto) e o mercúrio. Dois metais são considerados como perfeitos: o ouro e a prata.

O alquimista vai tentar fazer passar os metais imperfeitos ao estado perfeito do ouro e da prata. Do mesmo modo, os planetas imperfeitos (Vênus, Marte, Júpiter, Saturno e Mercúrio) ficam beneficiados graças à influência dos dois planetas perfeitos (Sol e Lua).

O alquimista tem então em vista encontrar a unidade perfeita que permite fazer a criação do mundo, transformando os vis metais em metais perfeitos. Esta descoberta chama-se a pedra filosofal ou o paraíso perdido. É a matéria primária perfeita, análoga àquela que forma o universo no momento em que emergiu do caos. Nestas condições, a transmutação realiza-se com toda a certeza. O cadinho mágico é um balão de cristal, fechado, chamado igualmente «ovo filosófico», em analogia com o ovo original que era o Cosmos no momento do caos. Vemos que os nossos antepassados atribuíam às estrelas e aos planetas os arquétipos divinos que habitavam nas profundezas do seu inconsciente.

As Influências dos Planetas sobre os Homens

Os Egípcios associavam sempre o planeta que influenciava o signo dum indivíduo à nascença ao planeta que lhe era oposto e, portanto, intuitivamente, pressentiam a influência inconsciente nesse indivíduo. Opõem-se do seguinte modo dois a dois:

Áries e Libra: Marte e Vênus (vontade, espontaneidade, opostas à necessidade de equilíbrio, à moderação).

Touro e Escorpião: Vênus e Marte (perseverança, possessividade, opostas à discrição, à subtileza e à melancolia).

Gêmeos e Sagitário: Mercúrio e Júpiter (dispersão, duplicidade, sentido do jogo, opostos à energia, à paixão, à obstinação).

Câncer e Capricórnio: Lua e Saturno (fidelidade, neurastenia, sonhos, opostos à ambição secreta, à elevação, à habilidade, à seriedade).

Leão e Aquário: Sol e Júpiter (força, coragem, domínio, grandeza, opostos à indulgência, à abnegação, sentido do dever).

Virgem e Peixes: Mercúrio e Saturno (sabedoria, moderação, utilitarismo, opostos à vida profunda, ao desinteresse, ao sonho, ao irrealismo).

 Para os Egípcios, cada planeta possuía poderes específicos:

Os Luminares

Sol (fluido natal, energético)
Lua (fluido nutritivo, expulsivo)
Ambos são centros vitais, protetores da vida.

 Os Planetas

Mercúrio (fluido neutro, agitação)
Vênus (fluido linfático, atônico)

 Estes dois planetas são neutros ou benfazejos.

Marte (fluido inflamatório, dilatação)
Júpiter (fluido pletórico, apoplético)
Saturno (fluido depressivo, atônico, crônico)

Cada planeta exerce a sua influência sem retenção sobre o indivíduo, mas pode encontrar, no seu curso, a radiação de um outro planeta. Os Egípcios eram muito sensíveis a estas interações entre planetas. Em resumo:

A influência de um luminar, protetor da vida, sobrepõe-se à de um planeta destruidor, mas não mantém senão a sétima parte da sua influência benfazeja. Sol ou Lua oposto a Marte ou a Saturno não concede mais do que a sétima parte da sua influência benfazeja.

Um planeta benfazejo, como Mercúrio, Júpiter ou Vênus, que se encontre com outro do mesmo tipo, reforça a sua própria influência com a do outro.

Dois planetas destruidores que se encontrem no signo de nascimento de um indivíduo reforçam o seu poder destruidor e tornam-se altamente nefastos.

Os Signos do Zodíaco e as suas Características

Os signos astrológicos encontram-se em numerosos sarcófagos, desde Denderah a Gizeh. Os sacerdotes egípcios dividiam em doze constelações os astros fixos situados ao longo de toda a faixa estática da linha da eclíptica. Cada uma dessas constelações determinava no indivíduo que nascia sob a sua influência um fator social particular.

Além disso, eles ligavam as constelações aos planetas, combinando a ação das constelações e dos planetas. Estabeleciam, igualmente, uma estreita relação entre as constelações e o corpo humano.

No espírito dos sacerdotes egípcios, cada signo podia ser interpretado como sendo a síntese das particularidades de um indivíduo. Por causa do seu culto ao deus Sol e à Lua-Mãe, consideravam que as ações do homem podiam ser representadas segundo uma trajetória.

Esta trajetória parte do coração do homem, passa pelas estrelas e planetas e volta enriquecida pelos conhecimentos e poderes que confere a esse homem depois de ter estado em contato com o prodigioso espelho sideral. Tais conhecimentos dão então ao homem a possibilidade de se iniciar nos mistérios e poderes do Universo, com a condição de que ele queira passar a porta iniciática figurada pela morte.

Uma vez ultrapassada esta difícil passagem, o homem renasce e a trajetória pode recomeçar, percorrendo o ciclo completo. Este ciclo resume o simbolismo do Sol entre os Egípcios. O Sol imortal nasce todas as manhãs e desce todas as noites ao reino dos mortos. Depois, renasce na manhã seguinte após ter atravessado os infernos ou o domínio das trevas.

A trajetória passa por vários pontos notáveis: o Leste, onde o Sol nasce, que representa o coração do homem ainda não iniciado; o zênite, símbolo das estrelas e dos planetas, que representa o conhecimento espiritual; o Oeste, onde o Sol desaparece, símbolo da passagem iniciática de cada homem pela morte; a perigosa travessia dos infernos, símbolo do inconsciente do homem que se revela nos seus sonhos; enfim, o Sol que se eleva da terra, símbolo do renascimento e da passagem iniciática realizada com êxito pelo homem. O ciclo completo representa o Cosmos com a sua parte superior e a sua parte inferior.

O signo zodiacal é diferente para cada ser humano, porque lhe dá a possibilidade de se descobrir a si próprio tal como é, segundo uma trajetória e uma verdade que é diferente de homem para homem.

Esquema do Cosmos Egípcio

Todas as civilizações antigas tentaram conquistar o inconsciente para lhe extrair o conhecimento supremo, quer por meio de ingestão de drogas mais ou menos naturais, quer pondo em prática métodos transcendentais, tais como a meditação, a oração, a ascese ou o ioga.

Já na Antiguidade pré-colombiana, as técnicas de êxtase preconizadas pelo xamanismo, graças à absorção de cogumelos alucinógenos, representavam o despertar da tomada de consciência do homem face ao problema estranho e temido que era a descida ao âmago de si próprio, à procura da sua psicologia profunda.

Estes fenômenos criavam um medo divino entre aqueles que os testemunhavam. Além disso, faziam-lhes crer que obtendo conhecimentos sobre o universo e sobre eles mesmos, podiam viver com a esperança da sua própria salvação. Muitas religiões construíram-se, em parte, sobre o tema do conhecimento e da salvação.

Os sacerdotes egípcios foram os primeiros a pensar, muito antes da aparição da religião do deus , que a astrologia era para o homem um modo de conhecer o universo e de se conhecer a si próprio.

Produtos químicos, injetados ou absorvidos por via oral, são capazes de vencer a barreira hemato-encefálica e podem então modificar as funções cerebrais, agindo sobre a transmissão sináptica que assegura o desenvolvimento de certos metabolismos no interior dos próprios neurônios que, deste modo, podem ser bloqueados ou alterados.

O homem possui assim dentro da sua cabeça o mais sofisticado complexo químico do mundo e nem sequer sente-o trabalhar. Nos nossos dias, temos ainda muito a aprender sobre nós próprios e sobre o Universo. A nossa procura é a mesma dos sacerdotes egípcios sacerdotes egípcios do tempo das pirâmides. Será a astrologia um meio de alcançar o êxito? Era o que pensavam os egípcios da antiguidade e nós tentamos reconstituir em síntese o que eles nos legaram.

Áries: Situa-se no princípio da trajetória Sol nascente-zênite. A ação do homem de Áries parte do «coração» e avança para o futuro. Só toma em consideração os pontos que atinge à medida que os vai alcançando. Representa a flecha que parte, mas que nunca chega ao alvo (filosofia de Parmênides: a manifestação do tempo presente).

Touro: Situa-se na trajetória Sol nascente-zênite; entre o coração e o objetivo visado. Contrariamente a Áries, Touro tem uma nítida consciência do fim a atingir e das possibilidades que esse fim lhe oferece. Ele segue o seu caminho sem se desviar um milímetro.

Gêmeos: O homem de Gêmeos atingiu o primeiro objetivo, o zênite e refaz, sem cessar, o percurso zênite-Sol nascente (coração), indo do desconhecido para o conhecido, do espírito para o «coração».

Entre os Egípcios Gêmeos significam o curso ascendente e descendente do Sol. Simboliza o estado de ambivalência do Cosmos. E a contradição que habita em todos os homens e que não é por eles solucionada. Implicam a intervenção do além e da dualidade do indivíduo. Um dos gêmeos possui uma cabeça de touro, o outro de escorpião, o que exprime bem os dois aspectos do Cosmos e do homem: celeste e terrestre.

Câncer: Situa-se no zênite e hesita em voltar a partir na direção do Sol-poente. A sua ascensão para o zênite não é feita em linha reta, mas sim em numerosos ziguezagues. Ele extrai a sua força psíquica do reflexo do espelho sideral.

No Egito o símbolo do escaravelho é o próprio ciclo do Sol. Como o Sol ele renasce de si mesmo. É o símbolo da ressurreição. As pinturas desta época mostram-no tendo círculo do Sol entre as patas. É o ciclo solar do dia e da noite. Os sacerdotes denominavam-no de deus Khepri, «o Sol nascente». O escaravelho faz parte dos hieróglifos e tem o significado aproximado de «vindo ao mundo segundo uma forma precisa».

Leão: Situa-se em todo o comprimento da trajetória que vai do Sol nascente (o coração) ao Sol-poente e fixa-se uma vez a oriente outra vez a ocidente.

Para os Egípcios, os leões são animais solares e representam-nos, a maioria das vezes, aos pares, colocados costas contra costas, para determinarem o Leste e o Oeste. E o símbolo dos dois horizontes, o decorrer do dia, de ontem e de amanhã. Do Ocidente ao Oriente eram venerados como os meios que permitiam ao Sol renascer e, portanto, rejuvenescer todos os dias. Representam essencialmente a recuperação do vigor que, segue ao repouso, a recuperação do pensamento que cria novas forças durante a noite para brilhar mais vivo e ágil de manhã.

Virgem: Situa-se no ponto de partida (Sol nascente), no momento da saída do astro solar dos pântanos infernais. O signo de Virgem é o símbolo do renascimento, do iniciado portador do conhecimento, mas ainda preso ao inconsciente e incapaz do impulso espiritual necessário para se sublimar.

No Egito representa a deusa Ísis, a mais ilustre das deusas desta época. Cada ser vivo é uma gota do sangue de Ísis. Os Egípcios adoravam-na como a deusa suprema e universal. É a iniciadora que detém o segredo da vida, da morte e da ressurreição. O símbolo de Ísis é a cruz com argola (Ankh) chamada o nó de Ísis, que representa a eternidade e a imortalidade. A lenda mostra esta deusa procurando o seu irmão e marido morto, Osíris, que ela ressuscitará com a sua persistência.

Libra: Situa-se entre o ponto do zênite e o ponto do Sol-poente, antes da passagem pela porta iniciática para o domínio das trevas.

O livro dos mortos descreve bastante bem a pesagem das almas nos pratos da balança. Sobre um dos pratos, um vaso simboliza o coração do morto, sobre o outro, uma pena de avestruz simboliza a justiça e a verdade. A cerimônia da pesagem é presidida por Osíris. O símbolo principal que daí se deduz é o da responsabilidade, da justiça e da comparação entre os sentimentos e as obrigações.

Escorpião: Situa-se na trajetória que vai do zênite ao Sol-poente e que passa pela porta da iniciação, sem que esta seja completada. O Escorpião é ainda pleno de revelações sobre si mesmo, recolhidas no espelho sideral (zênite: domínio espiritual) e impaciente para aprofundar o que se relaciona com a iniciação e a passagem pelas sombras do Cosmos inferior.

No Egito, o Escorpião deu origem a um dos mais antigos hieróglifos. Foi, igualmente, o nome dado a um rei egípcio, «o rei Escorpião». Note-se que os cetros de alguns faraós tinham a sua representação terminada em cabeça de Ísis.

A deusa Selket era adorada em seu nome. Para os Egípcios, ele possuía a ambivalência simbólica da serpente. E o símbolo da resistência, da morte em fermentação, prestes a fazer nascer a vida. E o signo do dinamismo profundo, secreto e das lutas.

Sagitário: Situa-se na trajetória que vai do zênite ao Sol-poente e oscila entre os dois pontos extremos, zênite e Sol-poente, Sol-poente e zênite.

Anúbis, o deus egípcio com cabeça de chacal, que vigia o processo dos mortos e dos vivos, atira ao arco e simboliza o destino fatal. E o rigor sistemático do destino. Tudo são leis, mesmo no inferno, mesmo na liberdade que arrasta automaticamente a uma cadeia de reações irreversíveis.

Capricórnio: Situa-se estaticamente num ponto da trajetória, a meia distância entre o zênite e o Sol-poente.

Entre os Egípcios, o signo do Capricórnio confunde-se muitas vezes com Saturno, o planeta-Senhor do signo. O Capricórnio é o domicílio de Saturno. Estando em oposição às casas dos luminosos (Sol e Lua), Saturno obriga os nativos a oporem-se à luz e, por conseguinte, às alegrias da existência.

Aquário: Está situado no ponto do Sol-poente e sobe para o zênite, sem passar a porta da iniciação.

Peixes: Situa-se no conjunto da trajetória que descreve o círculo completo do Cosmos superior e do Cosmos inferior.

No Egito, para os sacerdotes, os peixes eram sagrados. Nas águas infernais, o Cromis acompanhava a barca solar de , o deus Sol, e abria-lhe o caminho para evitar que naufragasse. Havia que ter cuidado com o crocodilo Sobek que era o «devorador» das almas que se não podiam justificar perante Osíris e Anúbis. Nesta barca, Isis e Neftis indicavam a direção com a mão esquerda. Na direita levavam a cruz Ankh, símbolo da eternidade e da vida.

O Sacerdote Thot, Êmulo do Deus Thot-Íbis

O deus Thot-Íbis teve um êmulo notável no domínio da decifração da cosmogonia da época. Foi o sacerdote da quarta dinastia, chamado Toth, que deixou à posteridade papiros e inscrições hieroglíficas respeitantes aos seus métodos astrológicos especiais, destinados a revelar aos Egípcios os planetas benéficos ou maléficos que os regiam depois do seu nascimento.

Este sacerdote foi o primeiro a interpretar astrologicamente o símbolo do ciclo solar revelado pelo deus Íbis. O seu método astrológico baseia-se no percurso circular que o Sol descreve no céu, de Oriente a Ocidente, passando pelo Zênite, depois sob a terra na barca solar conduzida por Isis e Anúbis, no propósito iniciático de se regenerar e de renascer no novo dia que começa.

Com efeito, servia-se do signo zodiacal que precedia o do nascimento dum indivíduo para obter uma explicação mais profunda. Observou especialmente que a qualidade fundamental de um signo se encontra sempre em carência no signo que se lhe segue.

 A Roda das Carências

Cada signo possui pontos fortes que, na teoria das carências de Toth, se tornam os pontos fracos do signo que se lhe segue. A roda das carências descreve-se da seguinte maneira:

O ponto forte do Áries situa-se na sua capacidade de agir, de combater, o que não é o caso do Touro que permanece passivo, rotineiro, calmo e que acumula os bens.

O ponto forte do Touro reside na sua paciência, no seu espírito materialista, o que não é o caso dos Gêmeos que peca pela impaciência e pela dispersão das suas forças.

O ponto forte dos Gêmeos situa-se na atividade cerebral, sua adaptação ao mundo envolvente, o que não é o caso do Câncer que se protege a todo o custo dos outros e se fecha em si mesmo.

O ponto forte do Câncer reside na sua faculdade de imaginar, de sonhar, de sentir, o que não é o caso do Leão que se volta para os outros e se expõe ao mundo exterior.

O ponto forte do Leãreside na sua faculdade de organizar, de se colocar à frente, de guiar, o que não é o caso da Virgem que se apaga, se minimiza, se autocrítica.

O ponto forte da Virgem reside no seu espírito de concentração, de análise, no sentido do essencial, na sua prudência, o que não é o caso da Libra que peca pelo imprevisto e pela incapacidade de decisão.

O ponto forte da Libra situa-se na sua necessidade de comunicação, no seu sentido da harmonia e da medida justa, o que não é o caso do Escorpião que toca os extremos com agressividade e que pratica a política do tudo ou nada.

O ponto forte do Escorpião é a sua agressividade controlada, a sua discrição, a sua originalidade, o que não é o caso do Sagitário que se exterioriza e toma iniciativas, que gosta do convencional.

O ponto forte do Sagitário situa-se no domínio da espiritualidade e da iniciativa, o que não é o caso do Capricórnio que peca pelo excesso de reserva e de interiorização.

O ponto forte do Capricórnio é do domínio do trabalho assíduo, do conhecimento profissional, da ambição escondida, da sisudez, do conformismo, o que não é o caso do Aquário que se abre a todos, falta-lhe o espírito prático e é essencialmente anticonformista nos seus atos e nos seus pensamentos.

O ponto forte do Aquário é o seu espírito de inovação, de fraternidade, o seu sentido de colaboração frutuosa, o que não é o caso de Peixes que vive no misticismo, na universalidade e na plasticidade mais completa.

O ponto forte de Peixes é o seu dom para receber, para sentir intuitivamente, a sua sugestibilidade, o seu desinteresse, a sua passividade em face do destino, o que não é o caso do Áries que vive o momento presente concretamente e com combatividade, sem ter problemas sentimentais ou estados de alma perturbadores. E a roda das carências continua a rodar.

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Dendera e o Zodíaco

Peter Marshall

O templo de Dendera data do século I a.C. Sua construção começou após a conquista do Egito por Alexandre, o Grande, e terminou em 17 d.C. durante o reinado do Imperador romano Augusto. Foi erigido no mesmo local de templos antigos e uma inscrição em uma cripta afirma que foi construído “segundo um plano escrito na caligrafia antiga sobre um pergaminho de pele de cabra da época dos Companheiros de Hórus“. Os companheiros de Hórus eram semideuses lendários que vieram de longe para fundar a civilização egípcia.

Outra inscrição declara que durante a cerimônia de fundação, que aconteceu em torno de 300 a.C. o faraó alinhou o templo com a estrela Alpha Ursae Majoris da Grande Ursa: “O deus vivo, o filho magnífico de Asti (um nome de Thoth), nutrido pela sublime deusa no templo, soberano do país, cortou a corda com alegria. Com seu olhar em direção ao ak da constelação da Perna do Touro, ele estabeleceu o templo-residência da senhora de Dendera, como ocorrera anteriormente (…). Eu estabeleci os cantos do templo de Sua Majestade.”

Dendera é reconhecida por seus elementos astrológicos: o templo inteiro é recoberto com relevos coloridos que mostram uma rica trama de figuras astrológicas. A primeira nave do teto alto no vestíbulo com seus 24 pilares enormes representa as fases da Lua e o curso do Sol durante as 12 horas do dia. Ao longo da segunda nave estão as deidades das estrelas e as horas do dia e da noite. Na terceira, a figura de Nut, a deusa do céu, está desdobrada sobre os signos do zodíaco e sobre algumas das estrelas fixas e constelações. Este é o chamado “Zodíaco Quadrado de Dendera”.

Sua forma é oblonga, com 18 metros de comprimento, enquanto cada metade tem seis metros de largura. Possui dois registros. O registro superior mostra os signos do zodíaco e várias constelações, os planetas e as horas do dia (cada um desenhado como uma mulher com uma estrela sobre a cabeça). Leão mostra a direção Norte no lado ocidental do teto. Oposto à perna da deusa do céu, Nut (que está trajando um conjunto de pequenas ondas), o signo de Câncer, representado pelo Caranguejo, destaca-se orgulhoso do seu lugar. O restante dos signos do zodíaco segue a ordem normal: Leão, Virgem, Libra e assim por diante. O registro inferior representa os decanos, figuras humanas e semi-humanas em barcos navegando pelo céu noturno.

Fiquei chocado com o fato de o signo de Câncer ter recebido tal destaque. Os sacerdotes-astrólogos, mantenedores da ciência sagrada, sabiam exatamente o que estavam fazendo quando instruíram os artistas para retratá-lo ali. Qual teria sido a razão? Implicaria o fato de a civilização egípcia ter se iniciado sob o signo de Câncer? Por causa da precessão dos equinócios, o equinócio vernal precede uma fração de grau contra a faixa do zodíaco a cada ano. O equinócio vernal surgiu pela última vez sob o signo de Câncer entre 10000 e 8000 a.C. Isto dataria o nascimento da civilização egípcia bem antes da visão ortodoxa. Por outro lado, uma explicação mais simples do destaque dado a Câncer seria de que o Ano Novo começava em 19 de julho no nascer helíaco de Sirius no signo de Câncer. (…)

(…) O zodíaco de Dendera é o único zodíaco circular existente descoberto no Egito. Um exemplar anterior foi aparentemente montado em 221 a.C. durante o reinado de Ptolomeu III, mas foi perdido. O zodíaco circular é similar àqueles desenvolvidos pelos babilônios e gregos, exceto pelo fato de os símbolos serem egípcios. No centro estão personificações das estrelas circumpolares: o Dragão é um hipopótamo ereto, a perna do touro é a Grande Ursa e o chacal Anúbis é a Pequena Ursa. Sirius figura como uma vaca deitada na barca, enquanto Órion aparece sob os cascos do Touro. O equinócio vernal é mostrado pelo babuíno de Thoth seguindo o Carneiro (Áries).

Câncer novamente assume um papel essencial: o caranguejo de corpo arredondado está quase no centro, imediatamente acima da cabeça do leão (Leão). Os outros signos do zodíaco estão dispostos na direção contrária ao movimento dos ponteiros do relógio. Uma deusa segura o leão pela cauda, e atrás dela a Virgem está representada por Isis com uma espiga de milho. Além do Sul, Escorpião, Sagitário e Capricórnio estão próximos do círculo externo que possui 36 figuras curiosas representando as estrelas decanas. Um falcão no alto de uma coluna de papiro marca o solstício de verão e está alinhado com o eixo do templo.

Outro detalhe intrigante do zodíaco é a posição de quatro figuras femininas, cujos braços esticados seguram o círculo do zodíaco. Parecem representar signos opostos e as constelações mais importantes nas quais o Sol nasce nos dois equinócios e nos dois solstícios. Nos mitos antigos, os pares gêmeos de constelações eram com frequência personificados como “mantenedores” ou “portadores” do céu.

Levando em consideração a precessão dos equinócios, com o equinócio da primavera agora em Peixes, as quatro constelações portadoras do céu são Peixes, Virgem, Gêmeos e Sagitário. Por volta de 700 a.C. elas eram Áries, Libra, Câncer e Capricórnio, mas para que os signos do zodíaco fossem importantes nesta época as observações celestes necessárias para identificá-los teriam de ter se iniciado em torno de 6000 a.C.

Se aplicarmos este conhecimento ao zodíaco circular de Dendera, chegaremos a conclusões surpreendentes. As quatro figuras femininas portadoras do céu são os signos opostos de Leão-Aquário e Touro-Escorpião. Esta configuração parece indicar que foi durante a Era de Touro, que durou aproximadamente de 4380 a 2200 a.C. que as fundações originais do templo foram lançadas.

Tudo isso conduz a uma indagação óbvia: “Os egípcios inventaram o zodíaco moderno?” A maioria dos investigadores responde com um sonoro “não”. O zodíaco existente utilizado pelos astrólogos é geralmente entendido como sendo o produto de uma confluência de influências da astrologia da Mesopotâmia e do Egito. Alguns egiptólogos até reivindicam que os 12 signos foram uma invenção inteiramente grega. A visão tradicional é que, após a conquista da Mesopotâmia e do Egito por Alexandre, o Grande, no século IV a.C. as ideias astrológicas da Mesopotâmia e da Grécia foram enxertadas pelos egípcios em sua astrologia mais antiga.

As ideias da Mesopotâmia foram sem dúvida trazidas pelos assírios que invadiram o Egito em 671 e 664 a.C. e pelos persas que conquistaram o Egito em 525 a.C. O que há de certo é que por volta do século III a.C. os egípcios tinham desenvolvido uma sequência planetária conhecida como “Ordem Caldaica” que dominou a Europa até a Revolução Científica no século XVII. Ela colocou os planetas em uma ordem relativa ao seu movimento aparente e suposta distância, como eram vistos da Terra. O mais próximo e mais rápido é a Lua, o mais lento e mais afastado é Saturno; entre eles, em ordem decrescente estão Mercúrio, Vênus, o Sol, Marte e Júpiter.

Entretanto, existem alguns indicadores consideráveis na sua arquitetura e artes que sugerem que os antigos egípcios conheciam a precessão dos equinócios e utilizavam os signos do zodíaco para descrever as eras do Grande Ano. Na arte do Reino Antigo, em torno de 4240 a.C. o touro (Mentu) é o motivo predominante, representando a Era do Touro. Após 2100 a.C. que marca o início da Era de Áries, o carneiro foi associado ao deus sol Amon. É impossível esquecer a colossal estátua do carneiro no átrio do templo de Amon-Ra, em Karnak. Então, pouco antes do nascimento do Cristo, surgiu o peixe que representa a Era de Peixes. Na verdade, o símbolo do Cristo no Egito greco-romano foi o peixe.

Embora não possa ser provado que os antigos egípcios tenham desenvolvido todos os signos do zodíaco, seus astrólogos certamente viram padrões similares no céu. Utilizando as constelações de estrelas como marcadores para traçar o movimento da Lua em seu ciclo mensal, eles, provavelmente, traçaram a forma de Leão, viram as duas crianças em Gêmeos, deram atenção especial ao carneiro de Áries e imaginaram as duas tartarugas em Câncer. Talvez também houvessem constelações que lembravam o peixe e potes de água, contribuindo para os signos de Peixes e Aquário do zodíaco convencional. Resumindo, é quase certo que Áries foi a princípio uma constelação egípcia, assim como, possivelmente, Gêmeos e, provavelmente, Aquário, Peixes e Leão. O zodíaco final como o conhecemos é, portanto, produto de uma confluência de influências tanto do Egito quanto da Mesopotâmia.

 Alguns intérpretes foram ainda mais longe. Admitindo que os antigos egípcios já tinham estabelecido os signos do zodíaco cinco mil anos atrás, o egiptólogo e pensador esotérico Schwaller de Lubicz argumentou que o projeto do terreno do Templo de Luxor, o Partenon do Egito, lembra a figura de um homem com cada parte do seu corpo associada a um determinado signo do zodíaco. Se um esqueleto humano for sobreposto ao plano geral do templo, a cabeça fica localizada exatamente sobre os santuários do templo coberto. O seu simbolismo esotérico revela que “o homem é o microcosmo”, um mundo pequeno que espelha o macrocosmo do universo.

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