A Influência de Saturno

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Saturno no seu Sentido Astrológico

César Augusto – Astrólogo

Nem todas as forças da natureza permitem a transmutação ou a racionalização das emoções humanas, dos nossos desejos e, em última instância, do destino daquilo que gostaríamos de mudar. No contexto psicanalítico das experiências do século XX erramos em demasia ao tentar justificar as nossas doenças emocionais como oriundas de processos químicos desajustados, porque nem todo desajuste é contrário ao que aprendemos ser natural ou mesmo saudável.

A demanda midiática da modernidade distorceu tão profundamente o significado da psicologia humana, tornando os medicamentos psicotrópicos tão desejáveis como um objeto de consumo, ao ponto que nossa percepção da realidade vive hoje em uma espécie de ditadura de valores materiais que sobrepuja a luta pela sobrevivência a uma selvageria que vai muito além da luta que nossos ancestrais paleolíticos enfrentaram.

Da mesma forma a Astrologia hoje em dia também tenta ensinar ao homem moderno o seu conceito de “superação” diante daquilo que julgamos ser uma tragédia ou elementos conflitantes de nosso caráter. No mercado popular da Astrologia podemos transformar as crises de Saturno em preciosas oportunidades de crescimento espiritual, podemos encontrar nos abismos de Netuno a expressão da sublimação, esperamos comprar através da influência de Marte a vitória coroada de riquezas, e assim por diante.

Todavia estas situações só se tornaram verossímeis porque nossos conceitos sobre a vida já não espelham mais a expressão fundamental dos planetas, mas estão mascarados por necessidades que distanciam o homem de sua verdadeira vocação: se tornar humano.

Por isso, lemos livros de astrologia que às vezes parecem bulas de psicotrópicos que orientam seu uso. Mas ocorre que uma disposição natural no homem, sua predisposição planetária genética, ou seja, seu mapa astrológico analisado sob as técnicas de previsões (primárias, secundárias, trânsitos) não pode ser transmutado ou racionalizado como nossos professores de moral psicológica encomendam.

A natureza humana tem em seu mais profundo temperamento a essência imutável desta ordem planetária que rege nosso sistema solar, destarte, acreditar em um antídoto para nossos sofrimentos é algo tão pueril e ingênuo que faz sorrir todos aqueles que se aproveitam desta “onda esotérica”, que permeia todos os níveis da sociedade, desde as simples igrejas católicas, os centros espiritualistas, as faculdades, os meios de comunicação, hospitais e por ai adiante.

Falta na verdade um item nesta prateleira virtual de consumo que nos esquecemos de comprar: o destino.

Talvez porque seja um item de uso muito complexo, só compramos os seus adjetivos e seus sinônimos, mas oxalá nos guarde, de um dia precisarmos comprar este item, porque precisamos acreditar que este destino somos nós que o fazemos e nem com uma lista infindável de psicotrópicos ou drogas poderemos mudar este destino, não é mesmo?!

Mas o que eu digo? Seria um paradigma ou acabei de me contradizer?!

A contradição é o paradigma da ignorância.

Não somos capazes de fazer algo que está além de nós; por acaso foi algum ser humano que criou Saturno ou o Sol? Então como podemos determinar o destino daquilo que está sobre nós?

Seria muito mais útil se o homem na sua mesquinha presunção de achar que pode criar seu próprio destino se limitasse a entender o que é este destino ao qual ele se submete e em que parte deste destino ele pode interferir. Não precisa para isso apelar aos deuses, nem ingerir medicamentos, nem comprar um sapato novo, basta entender o que os céus lhe determina, ou seja, fazer um mapa astrológico e ter em mente as sucintas palavras da Sibila: “Conhece a ti mesmo”.

Os ditos populares nem sempre são bem entendidos, apesar de serem populares, por exemplo: “Deus não dá assas a cobras”. Que coisa mais bela de se dizer; mas acontece que isto não diz absolutamente nada de útil, ou aquele outro lindo chavão: “A voz do povo é a voz de Deus”, não é algo simplesmente divino?! Como o homem pode subjulgar Deus a algo tão carente de sabedoria?

Pois eu pergunto, como um homem mesquinho, como estes nobres políticos ladrões ou estes médicos mercenários que fazem da medicina um comércio, podem experimentar uma influência de Saturno na concepção de Dürer, ou entender seu ofício através do emblemático destino de um Hamlet, se estes pobres humanos desavisados chafurdam na lama da ignorância?

Apresento alguns trechos de temas e resenhas relacionadas à dinâmica de Saturno.

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A Tragédia “sob o Signo de Saturno”

Marise Pimentel Mendes

O espírito que vi bem poderia ser o demônio, pois o demônio tem o poder de assumir um aspecto agradável. Sim, e talvez, quem sabe, valendo-se de minha fraqueza e de minha melancolia, já que ele exerce tamanho poder sobre semelhante estado de ânimo, engana-me para condenar-me ao inferno?

Hamlet, de William Shakespeare

Além da abordagem psicanalítica realizada por Freud, Walter Benjamin nos revela que a melancolia também pode ser revisada através da filosofia e da astrologia. Já em Aristóteles encontramos menção à melancolia, misto de operação mental e física, interação entre genialidade e loucura. Benjamin salienta o tom profético, divinatório que marca o melancólico. Da ciência árabe, temos a melancolia revestida pela astrologia, através de seu representante, o planeta Saturno, governante do melancólico:

Como a melancolia, também Saturno, esse demônio das antíteses, investe a alma, por um lado, com preguiça e apatia, por outro com força da inteligência e da contemplação; como a melancolia, ele ameaça sempre os que lhe estão sujeitos, por mais ilustres que sejam, com os perigos da depressão ou do êxtase delirante…

BENJAMIN, Walter. Origem do drama barroco alemão. São Paulo: Brasiliense, 1984.

Se Saturno é o senhor da contemplação e, ao mesmo tempo, da apatia, vemos que a simbologia astrológica encontra-se em perfeita harmonia com as reflexões filosóficas e psicanalíticas. De um estado de torpor, tristeza, autocomiseração, ego ferido, mesclados a um constante pensar, dentre outras características, percebemos que a melancolia configura-se de forma semelhante seja em que campo estiver. Vejamos como se comporta, então, na criação literária, mais especificamente na primeira manifestação estruturada do teatro: a tragédia.

(…)

Em sua conclusão:

Se não conseguimos encontrar tragédias na forma pura, aristotélica, a partir da Antiguidade Clássica, não podemos nos fechar para a manifestação do trágico ao longo dos tempos. Mesmo que a fatalidade divina tenha sido substituída pelo livre-arbítrio, o homem continua sofrendo intervenções que revelam um sentido trágico de sua existência.

(…)

Se a tragédia metamorfoseia-se no contexto histórico, poderíamos dizer que a melancolia sustenta-se na conjunção astral (Saturno) e filosófica. E o tempo recorta suas marcas. Se no trágico grego vemos a alegria e no clássico a base cristã, hoje temos o homem perdido pela falta de paradigmas. A ética se esvaindo, o centro se implodindo, e o homem preso às dores de existir.

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A Teoria da Melancolia em Walter Benjamin

Tereza de Castro Callado

A versão do taedium vitae na teoria da melancolia do século XVII barroco agrega elementos originários da antiguidade clássica do tratado aristotélico De divinatione Somnium através do Renascimento, em que a genialidade melancólica desses teoremas em torno da bílis negra (atra bilis) enriquece a teoria do dualismo fundamental da melancolia como manifestação, por um lado, da apatia, por outro, do dom divinatório que produz os religiosi contemplativi e aqueles que estão predestinados, por Saturno, ao sonho profético, entre os quais figuram mártires e príncipes.

Chega-se ao humor melancholicus como chave para a “inclinação à inveja, avareza, medo, ganância e à cor terrosa do melancólico…” Diz Benjamin que “a patologia dos humores via a causa dessas características no excesso do elemento seco e frio dentro do organismo. Esse elemento era a bílis negra – bilis innaturalis ou atra, em contraste com a bílis antralis ou cândida. Da mesma forma que o temperamento úmido e quente se baseava no sangue, o úmido e frio (fleumático) se baseava na água*, e o seco e quente (colérico) se baseava na bílis amarela”. A bílis negra é formada no baço, órgão vulnerável à tristeza. Ali a produção de sangue “grosso e seco” age diretamente sobre o humor, inibindo o riso e estimulando a hipocondria. Dessa forma o cão é um dos signos para explicar a vulnerabilidade do baço a esse temperamento. Sua fidelidade o deixa figurar como um sinal do divino entre os símbolos da pedra e da esfera que garantem a estabilidade e a segurança numinosas, para além do sentimento de acedia gerador de instabilidade.

*A caracterização do ar como elemento frio e a terra como elemento seco, da água como sendo úmida tem uma origem muito remota, ela vem das teorizações de Philistion – chefe da escola de medicina siciliana fundada por Empédocles – sobre a existência de uma qualidade particular (бύναµις) em cada um dos elementos. Mas a importância do número quatro nesse contexto tem seu nascimento entre os pitagóricos. Neles encontramos não só a raiz da perpetuação da vida, mas o equilíbrio cósmico que produz o homem racional organizado na matéria através das categorias tetrádicas situadas no cérebro, coração, umbigo e falo. No entanto os pitagóricos não elaboram nenhuma doutrina dos quatro humores.

KLIBANSKY. Raymond, PANOFSKY, Erwin, SAXL, Fritz. Saturne et la Mélancolie, Éditions Gallimard, Paris, 1989.
(…)

Saturno torna os homens “apáticos, indecisos, vagarosos” e os predispõe ao taedium vitae, confirma a interpretação de Benjamin. Essa predisposição que tem sua explicação na influência astrológica e mereceu destaque especial desde Aristóteles, coincide, no século XVII, com o desenlace gerado pela moral luterana que esvaziara o mundo de sentido, na rejeição de um significado de benesse para a ação humana. Em contraposição a essa ideia, a dissolução provocada por ela origina a tendência à dispersão de signos e o mundo se transforma num grande livro onde a leitura só se completa na tentativa de decifração da existência. Paralela a concepção de destino (Schicksal), aparece o conceito de enigma (Rätsel). O sentimento de desamparo surge meio a profusão de símbolos e se desenvolve na sensação de uma perda da mediação Deus e homem, intensificada com o aparecimento das ciências empíricas simultaneamente ao embotamento da similitude medieval. Cresce a ideia de falta de transcendência, e, por outro lado, a necessidade da graça divina (Gnadensonne) a que o homem perdeu o direito.

BENJAMIN, Walter. Origem do Drama Barroco Alemão (trad. Sérgio Paulo Rouanet), São Paulo, Brasiliense, 1984.
 (…)

A análise dos temperamentos vem buscar nessas figuras a resposta para o questionamento sobre o conceito de conteúdo de verdade (Wahrheitsgehalt) daquela realidade, descoberta na ambivalência do olhar melancólico, ou seja, na sua predisposição à lucidez: Benjamin comenta sobre um sentido benéfico da distância de Saturno e de uma “razão divina que localiza o astro ameaçador tão longe quanto possível”, contemporizando com Giehlow que “se por um lado a meditação do melancólico é compreendida na perspectiva de Saturno, que “como o planeta mais alto e o mais afastado da vida cotidiana e responsável por toda contemplação profunda, convoca a alma para a vida interior, afastando-a das exterioridades, leva-a a subir cada vez mais alto e enfim inspira-lhe um saber superior e o dom profético”. “Quanto à dialética de Saturno”, diz Benjamin citando Panofsky e Saxl: “ela exige uma explicação que só pode ser buscada na estrutura interna da concepção mitológica de Cronos. Essa concepção não é dualista apenas com relação à ação externa do deus, mas também com relação a seu destino próprio e pessoal, e isso de forma tão abrangente e tão nítida que poderíamos caracterizar Cronos como um deus dos extremos. Por um lado, ele é senhor da idade de Ouro, por outro, é o deus triste, destronado e humilhado; por um lado, gera (e devora) inúmeros filhos, e por outro está condenado à eterna esterilidade; por um lado é um monstro capaz de ser vencido pela astúcia mais vulgar, e por outro é o deus antigo e sábio, venerado como a inteligência suprema, como πρσµηυεµς (previdente) e πρσµάντισς (profético). É nessa polarização imanente da concepção de Cronos que o caráter específico da concepção astrológica de Saturno encontra sua explicação definitiva – esse caráter, em última análise, é determinado por um dualismo intenso e fundamental.” O dualismo que subjaz à melancolia permite uma saída: “a descoberta pode encontrar o autêntico nos fenômenos mais estranhos e excêntricos, nas tentativas mais frágeis e toscas, assim como nas manifestações mais sofisticadas de um período de decadência”, pois a ideia absorve a série de manifestações históricas, e ela faz isso sem utilizar-se do universal do conceito que é retirado da média, mas ela o faz preservando a unidade do singular na totalidade, pois a ideia, segundo Benjamin, é “a configuração em que um extremo se encontra com outro extremo”.

(…)

A melancolia é julgamento do mundo. Hamlet sofre por não saber agir. Ele desconhece a ação política. O príncipe que é o responsável pela decisão de proclamar o estado de exceção, se revela, na primeira ocasião, quase incapaz de tomar uma decisão. Hamlet pode ser sua interpretação mais fiel. A influência de Saturno torna as pessoas apáticas, indecisas, lentas, diz Olgária Matos. O tirano é vítima de sua própria indecisão. A melancolia seiscentista assimila o aspecto histórico de uma razão desiludida. Ela é a correspondência no mundo exterior da perda interior da ordem e harmonia no divino:

(…)

“De onde vem esse sol negro? De que galáxia insensata seus raios invisíveis e pesados me imobilizam no chão, na cama, no mutismo, na renúncia?”

KRISTEVA, Julia. Sol Negro – Depressão e Melancolia (Trad. Carlota Gomes), Rio de Janeiro, Rocco,1989.

O ruminar (Grübeln) melancólico que tem como apoio a contemplação com seu fôlego incansável leva à decifração de enigmas. A gravura renascentista de Albrecht Dürer reproduz o gesto impotente de uma mulher alada para o voo. A atmosfera terrificante do cenário é simbolizada pela presença, no desenho, do planeta Saturno. O pavor transparece no olhar fixo sobre os objetos produzidos pela ciência. A semelhança com o texto do drama barroco vem do aspecto dramático da existência, que substitui o trágico e realça a contradição, onde o cotidiano se transforma em tensão, drama, conflito, luto…

(…)

Na doutrina da justificação, a reflexão benjaminiana sobre a melancolia causada pela bílis negra não tem pouso, não se fixa em nada, consiste numa sensação de perda, de indefinição. O olhar sobre a realidade é torcido (trompe l´oeil), o sentimento de flutuação provocado por essa percepção unilateral desagrega, desorienta, causa vertigem. O esfacelamento parece ser causado pela disjunção corpo e alma, céu e terra, efêmero e eterno, portanto, na variante metafísica do barroco. Na interpretação de Dürer um quadrado simbolizando Júpiter funciona como um talismã contra os efeitos funestos dos predestinados por Saturno à tristeza. Um condicionante do enigma da existência?

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Melancolia e Depressão: um resgate histórico e conceitual na psicanálise e na psiquiatria

Marco Antônio Rotta Teixeira

A medicina árabe dos séculos IX e X influenciaram a medicina ocidental até a Renascença. Os autores árabes estabeleceram uma relação entre a teoria dos humores de Hipócrates e a Astrologia. O humor melancólico é ligado à influência de Saturno, que no corpo humano governava o baço, sede da bílis negra. Vem daí a qualificação humoral de soturno, que designa a pessoa triste, sombria e silenciosa, expressão esta que se tornou sinônimo de melancólico. A influência de Saturno não se exercia, porém, em pessoas vulgares, mas em pessoas extraordinárias: fica assim mantida a ligação aristotélica entre melancolia e genialidade.

Na idade média, no séc. XII, o estudo da melancolia tem como principal representante a escola de Salermo, com sua doutrina dos temperamentos. A teoria da melancolia, nesta época, aparece também vinculada à ciência árabe e à Astrologia, em que Saturno é tido como o astro que guia e governa o melancólico. Constantinus Africanus (1010-1087) traduziu para o latim, a partir do árabe, Hipócrates e Galeno, conservando, assim, as concepções desses autores nessa época.

Da vita tríplice – manual escrito pelo renascentista Marsilius Ficinus (1433-1499), médico, filósofo, mago, astrólogo e melancólico – reunia quatro teorias sobre a melancolia: a hipocrática (teoria dos humores), a platônica (poesia e furor), a astrológica (Saturno e melancolia) e a aristotélica (melancolia e genialidade). Este estudioso considerava a melancolia um grande tormento, mas também uma grande oportunidade para os homens de estudo. Lutero, na Reforma, instala a melancolia entre os grandes homens, impossibilitando a expiação da culpa pelas ações. O barroco é dominado pelo espírito melancólico, herança de dois milênios, predominando neste universo o ensimesmamento, a autocontemplação e a culpabilização.

Scliar, M. (2003). Saturno nos trópicos: a melancolia européia chega ao Brasil. São Paulo: Companhia das Letras. Resenha.

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Saturn and Moons

O Tratamento da Melancolia segundo Étienne Binet

Paulo José Carvalho da Silva

Certa convivência livre entre noção psíquica e noção física da melancolia tornou-se lugar-comum nas artes e ciências do Renascimento, conjugando, inclusive, influências da astrologia médica e preocupações com o sobrenatural (Klibansky, Panofsky e Saxl). Entretanto, do ponto de vista dos defensores e renovadores da psicologia aristotélico-tomista, o problema de assumir as explicações humorais para a melancolia residia em aceitar o determinismo material do corpo sobre a alma.

Retomando categorias fundamentais da psicologia aristotélica, extraídas de uma leitura cristã do De anima de Aristóteles, na Summa contra gentiles, Tomás de Aquino (1225-1274) refuta a possibilidade da essência da alma coincidir com as qualidades do corpo. Em primeiro lugar, porque as operações da alma excederiam as qualidades ativas e passivas que regem o temperamento. Em segundo lugar, porque o temperamento seria constituído de qualidades contrárias e a alma de forma substancial e não acidental, não admitindo, portanto, contrários em si mesma. Terceiro, porque a alma moveria o animal em todas as direções e o temperamento não possui esta propriedade. E, finalmente, porque a alma regeria o corpo e resistiria às paixões que brotam do temperamento.

Nos tempos da Reforma e da Contra-Reforma, os tratados espirituais referiam-se a melancólicos torturados por aflições interiores supostamente causadas pelo excesso de bile negra. Muitos, por sua vez, identificavam melancolia e tristeza, tratando-a como um mal essencialmente moral. Outros ainda conjugavam categorias humorais e das doutrinas sobre os afetos, de matriz propriamente aristotélico-tomista, sem contudo, compactuar com a hipótese da soberania do temperamento do corpo (predominância de um humor) na determinação do caráter moral. Essa parece ter sido a posição assumida pelos pregadores e professores de filosofia e teologia da antiga Companhia de Jesus (1540-1773), como é o caso do jesuíta francês Étienne Binet (1569-1639).

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Comentário
Nestes trechos acima podemos observar a cisão que ocorre entre corpo e alma. Entretanto esta é uma cisão de concepção dialética e nada tem em comum com a concepção astrológica do que por ventura poderia estar associado ao discurso aristotélico-tomista.
Corpo e alma em astrologia compartilham as mesmas matrizes e não estão dissociados diante de um dilema moral de forças contrárias que operam em direções opostas. Existe neste discurso, que fomenta os meios acadêmicos, a ausência de sentido quanto a sua própria natureza em si, ou seja, falta interdisciplinaridade e conhecimento mais profundo sobre o que se pretende discutir.
É por este motivo que os medicamentos que usamos não atendem à natureza do problema em si, porque partimos de um princípio equivocado quanto às causas das presumidas patologias.
César Augusto – Astrólogo

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Moons, Rings, and Unexpected Colors on Saturn

A Melancolia na lírica de Ruy Espinheira Filho

Mayara Michele Santos de Novais

Soneto Noturno

Penso na noite como um rio profundo
e lembro coisas deste e de outro mundo.
Outros mundos, aliás, que a vida é vasta
como diversa. E mesmo assim não basta,

o que nos faz tecer ainda outras vidas
nas nuvens da alma, e que nos são vividas
com tanta força quanto as outras mais,
em seus sonhos de agora e de jamais

(ou melhor: com mais força, pois que estamos
ainda mais vivos no que nós sonhamos).
Penso na noite como um mar sem fim

quebrando sombras sobre o cais de mim.
E, enfim, sem esperanças e sem prece,
pressinto a noite que não amanhece.

Espinheira Filho

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Implicaciones Astrológicas del Mito de Crono-Saturno

Aurélio Pérez Jiménez

Universidad de Málaga

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1. La Astrología, presente en el ámbito cultural de los griegos desde el siglo III a.C., tomó de ellos una serie de elementos que le iban a dar esa configuración extraria, entre religión y filosofía, entre ciencia y mitología que sería la clave de su pervivencia a lo largo de tantos siglos. Identificadas las constelaciones y grupos de estrellas que hay en ellas con seres mitológicos, de acuerdo con la sistematización literária que hicieron en la época alejandrina Eratóstenes y Arato y muchos otros autores que los imitaron o comentaron, el cielo se convirtió en un campo fértil donde sembrar la semilla de los mitos, que tanto habían sufrido con la crítica de los filósofos a partir del siglo VI a.C. Y dentro del cielo griego se adaptaron con facilidad al nuevo signo de los tiempos, la interpretación alegórica, esos extrarios y brillantes seres que, por la órbita del Sol, la eclíptica, a días caminaban hacia adelante, y otros retrocedían caprichosamente o detenían la marcha cósmica a su antojo, descansando en los signos del Zodíaco, como en fondas de su viaje. Los vagabundos, los errantes, οί πλάνηες, parecieron ya a los babilonios marcar con sus movimientos zodiacales y con su brillo más o menos intenso, pero siempre a la vista, el destino de reyes y ciudades. Cada planeta era un dios con su personalidad propia, que regía así desde el cielo las venturas y desventuras de la ciudad sometida a su influencia.

Pues bien, cuando los griegos entraron en contacto con esos pueblos de Mesopotamia y conocieron los dioses-planetas, dirigidos por la tríada sagrada Luna-Sim, Sol-Samash y Venus-Isthar, no resistieron la tentación de apropiárselos y adaptarlos a los dioses más humanos de su mitología; a los dioses que por su carácter o atribuciones mejor se asimilaban a los dueños orientales de los siete errantes. Y así entre Platón, Eudoxo y Aristóteles nos dan completa la serie de asociaciones Crono-Saturno, Zeus-Júpiter, Ares-Marte, Afrodita-Venus y Hermes-Mercurio, es decir con los cinco planetas que o no estaban correctamente identificados, como Venus, έωσϕόρος, έσπερος, ϕωσϕόρος, o permanecían ignorados entre las demás estrellas del cielo.

En concreto, por lo que se refiere a nuestro planeta Saturno, el nombre de Φαίνων (“Reluciente”) con que luego lo designaron los científicos y a veces también los astrólogos, que, según Vetio Valente, le dieron los babilonios porque todo se clarifica con el tiempo, es relativamente tardío; en todo caso la etimología de Valente, quizás motivada por lo paradójico de su aplicación a un astro tan tenue, es disparatada. Pese a todo, tiene que responder a su brillo, sin duda por la identificación babilonia o egipcia de este planeta como Sol de la Noche, el Ηλίου άστήρ de que habla Diodoro. De Egipto viene, en cambio, el nombre de Νεμέσεως άστήρ, que le dan autores como Valente y Aquiles Tacio y que determinó luego, en la doctrina astrológica de las sortes, la denominación del séptimo κληρος (el de Saturno) como της Νεμέσεως.

Es posible que la inclusión de las luminarias en la serie de los 7 planetas, atribuida ya al astrónomo Metón por un escoliasta de Arato, favoreciera la sustitución del antiguo nombre como estrella del Sol por el nuevo de estrella de Crono. En todo caso la asociación de los planetas a los dioses griegos (equiparados a los dioses babilonios) acabaria con la identificación total con ellos entre astrólogos y misticos, de modo que en tiempos de Augusto es habitual llamar al nuestro Saturnus y, por lo que se refiere al ámbito griego, en papiros del s. I d.C. tenemos ya documentada esa identificación.

Saturn 2

2. Como ocurrió con los demás planetas, la asociación cada vez más acentuada del planeta con el dios Crono, determinó que su comportamiento astrológico estuviera condicionado, al menos en parte, por la personalidad mitológica de aquél; y es posible que, también en parte, ésta se haya contaminado del carácter astrológico del planeta.

Veamos en primer lugar los rasgos que el mito y la religión aportaron a Crono. Aunque se trata de un dios de escasa incidencia en la mitología, ésta es importante. La primera y casi única leyenda de este dios, lo vincula a la sucesión de generaciones divinas de la Teogonía; aquí Crono es el último de los titanes, que, con una enorme hoz puesta en sus manos por la madre Gea, corta los genitales de su padre Úrano -porque no los dejaba nacer- y se convierte en el segundo soberano del Universo. Luego, sabiendo que sufriría parecida suerte a manos de su descendencia, Crono άκυλομητης como lo llaman Homero y Hesíodo, casado con la titánide Rea, se tragaba a sus hijos según iban naciendo. Hasta que, engañado por Rea y Gea, en lugar de a Zeus, el último de los hijos, se tragará una piedra envuelta en pañales. Al final Zeus, criado en Creta, luchará contra los titanes, los vencerá y los encerrará con su padre en el Tártaro. Se convierte de este modo en un dios esclavo, con ataduras de lana según el ritual latino de los Saturnalia  y de cuyas Saturniacae catenae habla como un tópico que define al dios San Agustín. La alegoría verá esas cadenas en el sueño secular en que está sumido el dios en una isla del Mar de Crono; un rasgo, éste del sueño, presente ya en textos de los órficos, que por otro lado lo dibujan como el soberano de la “torre” pindárica, reinante en aquellos lugares a los que va el piadoso tras la muerte para vivir con los démones hesiódicos de la Edad de oro. Pero antes de ser esclavo, y esto es importante, Crono desemperió el mayor poder en el Universo: como sucesor de Úrano, fue μέγας, epíteto homérico que revela su dignidad real, ese poder que será en parte transferido luego al carácter del planeta en la astrología. De hecho la etimología del nombre propuesta por Cornuto, fundamentada en juegos de palabras de Homero y otros poetas, parte del verbo κραίνειν. Apoyan además este regio papel algunos de los escasos testimonios sobre el culto de Crono. Como el sacrificio que se le ofrecía en el monte Cronio, cerca de Olimpia, durante el equinoccio de primavera. Sus oficiantes, nos dice Pausanias, eran los Βασιλίδαι o, según figura en una inscripción de Elis, los Βασιλίαες, lo que se ha interpretado como que Crono siempre fue llamado βασιλεύς, por oposición a Zeus.

El hecho de que Crono fuera el padre del Padre de dioses y hombres, el viejo rey destronado por el nuevo, pero quizás también la hipóstasis del dios en Babilonia, un Sol envejecido, lo convierte en la literatura clásica en πατέρα  πρεσβύτην  Κρόνον. La Comedia favoreció que se identificara a Crono con la vejez, tópico luego en el Helenismo y en época romana, cuando el filósofo Diodoro, por su vejez, recibió el sobrenombre “Crono”.

Hemos mencionado ya el reinado de Crono en las Islas de los Bienaventurados, como dice Hesíodo, tras su destronamiento por Zeus. Se asocia así a una Era de felicidad (Κρονικός βίος) que convierte a Crono en dios utópico de la Comedia. A este rasgo idílico hay que ligar también su reinado en Sicilia, a donde llega fugitivo, tras reinar en Libia, provisto de la hoz que lo va a convertir en patrono de la agricultura. Con este perfil agrícola que parece tener ya en ciertos ámbitos cultuales del mundo griego, entra triunfal en Roma el dios Saturno. Los romanos afirman expresamente de él que enseñó a los hombres la agricultura y la viticultura, convirtiéndolo en dios civilizador, relacionado con la riqueza (no en vano en las versiones evemeristas del mito su esposa es Ops) y la acuñación de la moneda.

Entre sus hijos, además de los mencionados por Hesíodo y de Afrodita, así entendida por los órficos, Eustacio, que invoca la autoridad de los antiguos, incluye a Ares-Enialio; favorece esta filiación el pasaje de Homero en el que Zeus amenaza a Ares con darle el mismo castigo que a Crono y, según M. Mayer, también la noticia de Filóstrato sobre ambos dioses en Vita Apollonii, así como que Filolao los asociara en su dedicación del ángulo triángulo a los dioses Crono, Hades, Ares y Dioniso.

Tampoco es del todo extraria a la Antigriedad la personalidad acuática de este dios. Los pitagóricos interpretaban el mar como llanto de Crono, Filolao lo relacionaba con todos los seres húmedos y fríos y Lido lo vinculaba a los dioses marinos. Aunque la hipóstasis acuática se reforzará con la adscripción del planeta a los signos invernales de Capricornio y Acuario, ambos casas astrológicas del dios, y con la insistencia de los físicos en el frío atribuible a la naturaleza del astro, la relación del dios con el invierno ya parece clara en la época helenística -antes de la difusión en Grecia de la astrología– a juzgar por lo que cuenta Teopompo: “que los habitantes de Occidente creen y llaman Crono al invierno, Afrodita al verano y Perséfone a la primavera; y que de Crono y Afrodita nace todo”. Item más: el mismo Platón discute la etimología que considera Ρέαν τε καί Κρόνοςρευμάτων όνόματα y que parece derivar Kpóvos a partir de κρουνός, “fuente”. Filodemo, citando el testimonio de un discípulo de Crisipo, se refiere ya expresamente a él como el flujo de la corriente, un rasgo que va a ser clave en la acción astrológica del planeta.

Este carácter fluvial, húmedo de Crono, a diferencia de su lentitud y de su frialdad, no es explicable por las condiciones físicas o astronômicas del planeta. Recordemos que racionalizadores de la astrología de la talla de un Tolomeo, atribuyen a Saturno una naturaleza fría, por su alejamiento del Sol (fuente de calor y de luz), y seca, por su mayor lejanía respecto a la Tierra. Esto contradice la humedad de algunas de sus cualidades astrológicas, aunque ciertamente puede explicarse por los domicilios zodiacales de Saturno, antes mencionados, Capricomio y Acuario; sin embargo, como ya hemos visto, los alegoristas y los estudiosos de la meteorología la referían más que al planeta al dios. De algún modo esta naturaleza húmeda parece pertenecer ya a Ninib-Ninurta (el Crono babilonio), dios de las tempestades y de los soplos fecundos; mientras que su identidad romana, Saturno, pasa, como dijmos, por ser una divinidad ctonia de la agricultura y de las semillas.

Saturn's Ancient Rings

3. Vayamos ya a la astrología. Tolomeo, obsesionado con purificar este arte de sus ricos elementos religiosos y míticos que la desprestigiaban como ciencia, trata, a propósito de la doctrina planetaria, de reducirla a razones fisicas, matemáticas y astronómicas. Así algunas atribuciones, que podrían estar fundamentadas en la historia religiosa del dios, pasan a tener una explicación aparentemente astronómica, como la que acabamos de decir respecto a Saturno, CapricornioAcuario. Otras tienen cierta lógica para un hombre culto y filósofo, al contar con el apoyo de ciertas corrientes filosóficas o etimologías con un fuerte respaldo de autoridad; es el caso, por ejemplo, de la identificación del dios con la mente, Νους, que contó con gran anuencia em círculos neoplatónicos; de hecho esa parece ser una de las principales razones -aunque hay también otras, como la situación en el techo del mundo de Saturno– por las que se atribuyó a este planeta la cabeza y el cerebro en la doctrina melotésica.

Sin embargo, algunas etimologías y el juego interpretatiyo que dio para la alegoría el sentido otorgado a sus componentes, fue acercando el dios al planeta. La identificación lingiiística de Κρόνος con el tiempo, Χρόνος, casi tan antigua probablemente como el nombre mismo y presente en todo caso ya en el siglo V, habitual en la Comedia y punto de partida para que luego Saturnus se explicara a partir de saturetur annis, permitió llevar el dios del Tártaro a las estrellas. Pues se presentará su prisión por Zeus como que el tiempo es obligado por los astros a discurrir regularmente. Es cierto que todavía no tenemos ahí una conexión entre el mito y el comportamiento concreto de Saturno como planeta. Pero en una nueva fase, con la astralización que probablemente los autores manejados por Eustacio hicieron del Tártaro como la parte más lejana, densa y oscura de la atmósfera, se completa esa interpretación astronómica de la leyenda de Crono encerrado allí con los demás Titanes. Leamos las palabras del Pseudo-Luciano en el tratado De astrologia:

“No es cierto ni que Zeus ató a Crono hi que lo arrojó al Tártaro ni que maquinó todo lo demás que creen los hombres; sucede en cambio que Saturno recorre la órbita exterior muy lejos de nosotros y su movimiento es lento y difícil de ver para los hombres; y por eso dicen que está quieto, como encadenado. Además lo más profundo de la atmósfera se llama Tártaro.”

Estas alegorías, presentes además en el anónimo De Incredibilibus, en la Mitología de Fulgencio y, con algunas variantes nuevas, en el Comentario a la Ilíada de Eustacio, parecen acercar dios y planeta en la mistica órfica, cuando se invoca a Crono como eternamente prisionero en el universo infinito; y lo mismo podemos decir de los papiros mágicos.

Pero la tendencia de los astrólogos, cada vez más dispuestos a olvidar el origen mitológico de las propiedades de sus planetas, los lleva a interesarse sólo en muy contadas ocasiones por las causas (y cuando se analizan van a ser para ellos casi siempre cientificas) de esas influencias. En sus tratados se limitan, a veces con catálogos bastante tediosos, a reseriar la personalidad futura de quienes nacen bajo la regência de tal o cual estrella o se ven sometidos a tal o cual configuración zodiacal y planetaria. A pesar de todo y a pesar de Tolomeo, el gran purificador de las supersticiones astrológicas, nosotros podemos rastrear todavía el sentido mítico-religioso de muchas de esas recciones y ofrecer hipótesis que las expliquen desde el prisma de la leyenda. Veamos algunos ejemplos:

Los perfiles acuáticos del dios, el mito de la castración de Úrano, que por la hoz favoreció la veneración de un Saturno agrorum cultor, y su asociación con la prosperidad como rey de la Edad de Oro pueden explicar la atribución a Saturno del patronazgo sobre los trabajadores del campo y agricultores, aunque para Vetio Valente se deba al gobierno que ejerce aquél sobre la tierra; así como sobre las profesiones del agua y cuanto representa un enriquecimiento: administradores, buscadores de tesoros, propiedades de tierras, edificios, plata y oro, recuerdan aquél tiempo feliz y próspero que vivieron los hombres bajo el reinado de Crono. En conjunción con Júpiter, que es un planeta benéfico, nos dicen los astrólogos que favorece el nacimiento de esos propietarios de tierras, administradores y duerios de trigales y viriedos, de gente adinerada, sobre todo cuando los dos planetas citados se miran favorablemente, en trígono o hexagono. Resumiendo la doctrina de los doce lugares de Hermes Trismegisto, Retorio afirma que si en el momento del nacimiento diumo Saturno está en el lugar décimo (MC), en su casa o en exaltación, tendremos ecologistas, esto es, personas amantes del campo; y si es de noche, jardineros, aguadores, marineros, o pescadores. Coinciden en esta apreciación Pablo de Alejandría y el Ps. Manetón cuando hablan de Saturno en culminación como responsable también de los jardineros y los aguadores. En el κληρος Τύχης nuestro planeta asegura la riqueza a sus hijos que se dediquen a la agricultura o al comercio marítimo. Y respecto al agua, interviene en general en los desastres fluviales, inundaciones y naufragios. Su día, que es el sábado, determina en los calendarios ciertas condiciones de humedad o lluvia; y en la doctrina de los lugares detenta la tutela del Bajo Cielo (IMC), τόπος ύπόγειος, relacionado con los viajes por mar y lugares acuáticos, como dice Pablo de Alejandría. El comentarista de Virgilio, Servio, atribuye también al dios esa tutela de lo húmedo, aunque intenta relacionarla con la naturaleza fría del planeta. Dice así:

“Saturno es dios de las aguas y por ello también se representa como un viejo; pues sabemos que los viejos siempre están helados. Éste en Capricomio produce terribles lluvias, sobre todo en Italia.”

Volviendo al círculo del nacimiento, Firmico Materno asegura que el que nazca de noche cuando el planeta ocupe el Horóscopo, vivirá del agua; cosa parecida ocurrirá si es de día y Saturno se encuentra en el lugar siguiente al Horóscopo; ya que estas personas habrán de ganarse la vida con profesiones relacionadas con el agua y el comercio de los líquidos. Para Retorio él es el principal responsable de las gentes de mar y si está en el último lugar del círculo, presagia naufragios y peligros marinos. Por último y en la misma línea, Juliano de Laodicea dice que Saturno aporta la lluvia a las semillas y el Sol las hace crecer; mientras que para el autor anónimo del De Planetis, su influencia acuática es funesta para la agricultura:

“Es culpable también de tormentas y naufragios y de la pérdida de los frutos del campo por aguas, lluvias, inundaciones, hundimientos, langosta o granizo”.

La castración de Úrano por Crono y de éste por Zeus, según algunas versiones tardías, podría explicar el carácter del planeta como causa de esterilidad; y sin duda es así en el caso de los eunucos, sometidos al patronazgo de Saturno; aunque la infertilidad puede ir asociada también a la vejez que representa el planeta o a la privación de hijos que implica el comportamiento mítico del dios devorando a los nacidos de Rea. En los textos astrológicos esta influencia negativa del planeta está bien atestiguada. Según Valente produce άτεκνίας, especialmente en aspecto cuadrado con Júpiter. Firmico dice que Saturno en el IMC, durante la noche y en aspecto cuadrado o diametral (ambos negativos) con la Luna (astro de la generación), provoca la esterilidad de los hijos; en la doctrina de los οιροι, ciertos limites atribuidos a Saturno se califican en algunos signos como αγονοι (los 5° cuartos de Tauro), οτειρώδεις, ασποροι (los 7° terceros de Leo), δύστεκνοι (los 4° cuartos de Escorpio), δύσγονοι (los 5° últimos de Acuario) y σπανότεκνοι (los 6° últimos de Escorpio) . En el dodecátopos, a propósito del cuarto lugar, regido por Saturno y que representa la vejez, el Hermes Trismegisto de Retorio postula que, si coincide el Sol con Saturno, no habrá hijos en la casa del que nazca entonces y si Saturno está en el décimo o de los honores, tendrá pocos hijos.

La influencia negativa del planeta sobre los padres podría relacionarse con la actitud del dios hacia Úrano; pero como Saturno representa en general a los padres (en algún caso también positivamente) y el patrimonio paterno, debemos pensar más bien en su papel mítico como padre de los dioses olímpicos. Aunque, en parte por su comportamiento con el padre y con los hijos, los astrólogos consideran a Saturno junto con Marte un planeta maléfico, cuando mitiga su acción la presencia de Júpiter, que es favorable, y el aspecto trigonal -también positivo- con él, será bueno para los padres; lo contrario sucede cuando se encuentra con Júpiter en aspecto cuadrado -negativo- y dominando él; pero si el que está más alto es Júpiter, la influencia dañina de Saturno y del aspecto se contrarresta e incluso puede dar gloria al padre. En aspecto cuadrado con Marte, se perderá el patrimonio paterno; si encima el planeta rojo -símbolo de la guerra y la peste- se encuentra en situación superior, el padre morirá antes que la madre; esto último es válido igualmente en aspecto diametral. Comparte Saturno la representación paterna con el Sol (a lo que puede haber contribuído la antigua identificación entre ambos astros), por lo que su configuración trigonal, sobre todo si el nacimiento se produce de día, es positiva para el padre; en cambio, si el aspecto es diametral o cuadrado, tanto Anubión como Valente aseguran que ello afecta negativamente a los padres (pueden sufrir caídas, enfermedades y traiciones familiares y morirán antes que la madre) y a su patrimonio. Peligros semejantes comporta la presencia de Saturno en los distintos lugares del círculo del nacimiento: Para Balbilo su aparición en el Horóscopo significa la muerte del padre o de algún mayor de la família y para Firmico Materno presagia la destrucción del patrimonio paterno, si coincide con Marte. Peor, puesto que se añade el patrimonio de la madre, es la influencia de Saturno en el lugar segundo, de los médios de fortuna o Typhonis Sedes. También es funesto para el padre, sobre todo si el nacimiento es nocturno, que Saturno se encuentre en el IMC, lugar tutelado por el propio planeta; pero si es de día, y aquél está en el quinto lugar con Júpiter, se verá favorecido el patrimonio, mientras que decrecerá cuando Saturno coincida con la Luna en menguante y el nacimiento suceda por la noche bajo Saturno. En el sexto y duodécimo lugar nuestro planeta vuelve a ser dañino para el patrimonio, especialmente de noche. A propósito de la doctrina de las suertes o partes, Doroteo Sidonio indica que, si Saturno es el primer planeta que contempla el κληρος del padre, será funesto para él y le traerá la muerte. Precisamente su posición respecto al Sol sirve en esta doctrina para fijar el κληρος de los padres, del Sol a Saturno para los nacimientos diurnos y de Saturno al Sol para los nocturnos. Y sin duda es por esa representación paterna del planeta por lo que leemos en textos astrológicos que si ocupa el κληρος de la fortuna proporciona herencias, incluso fuera de la familia legítima a los hijos adoptivos o bastardos; en este caso, Júpiter (exponente de la legitimidad) tiene que estar oculto en un signo bicorporal o en conjunción con la Luna.

Siguiendo en el ámbito de las relaciones familiares que atribuye el mito al dios, los efectos del planeta son en general negativos para los hijos y para los hermanos mayores; lo que podemos relacionar con el famoso banquete de Crono a costa de sus hijos, los hermanos mayores de Zeus. Está claro que es el mito el que inspira en gran parte lo que dice Anubión sobre la coincidencia de Saturno en aspecto trigonal com Júpiter y en presencia de Mercurio: que los nacidos entonces no disfrutarán de sus hijos, “pues o mueren siempre los que nacen con esta configuración o se crian entre extraños y luego vienen contra los padres”. Si el aspecto es cuadrado, según Valente, sufrirán los padres perjuicios relacionados con los hijos, ya que “unos serán estériles y otros verán la muerte de los suyos”. Del que nace bajo Saturno posicionado en el segundo lugar del dodecátopos (de la infancia), se dice expresamente que será un infanticida; el lugar duodécimo, llamado κακοδαιμόνημα y presidido por Saturno, tiene efectos terribles sobre la descendencia.

Por lo que se refiere a los hermanos, digamos que este planeta en aspecto cuadrado con Marte presagia la muerte o la separación de aquéllos; el anónimo De planetis atribuye, en cambio, la muerte de los hermanos mayores a Marte, si Saturno está en conjunción con este planeta en el momento del nacimiento, según él porque Marte rige a los hermanos mayores; pero los textos parecen apoyar más bien la relación de éstos con Saturno y con Júpiter (de hecho el lugar de los hermanos en el circulo de las suertes se determina, según Valente, por la distancia de Saturno a Júpiter de dia y a la inversa de noche), recordando la realidad del mito. Por ejemplo, Doroteo Sidonio dice que en los mayores influye Saturno y en los medianos Marte y Júpiter; mientras que Balbilo asegura que cuando Júpiter se detiene en el Horóscopo indica la muerte del hermano mayor. La referencia mitica parece funcionar especialmente en Anubión cuando nos enseña que si Saturno se encuentra en trigono con Marte y no los ve Júpiter ni Mercurio, los hermanos anteriores morirán antes. Si ocupa el Horóscopo, en el momento del nacimiento, da lugar a primogénitos o hijos únicos o anuncia la muerte de los mayores o su exilio, ya que el recién nacido debe tener la primacia; eso por el propio Crono, que detentó el poder pese a ser el último de los thanes, o por Zeus-Júpiter, como dice expresamente Fírmico, si el planeta de este dios está en allí durante el nacimiento nocturno. Por último, ¿no es posible que tenga que ver con la leyenda la siguiente predicción que leemos en el horologio del Cronógrafo del 354?:

“Si el día es de Saturno, pero la hora de Júpiter, el que nazca entonces vivirá…; pero si la hora es de Saturno y el día del mismo, no vivirá.”

A la prisión o al destierro de Crono, después de la victoria de Zeus sobre él, y no necesariamente a su tenue luz y lejanía en el cielo o a su constitución física, puede atribuirse la productividad de Saturno como responsable de los solitarios, taciturnos, esquivos y desgraciados en general. Se explica, pues, también por el mito que sea el patrono del llanto, y en este sentido alguna razón mitológica podría haber motivado la imagen pitagórica del mar como “llanto de Crono”. Esa prisión que justificaban de diversos modos los alegoristas, tiene, como decimos, una amplia proyección astrológica. Por supuesto, el planeta condiciona todo lo relacionado con los esclavos: Cuidado con las mujeres de quienes nazcan bajo el aspecto trigonal de Saturno con Venus!; pues se acostarán con los esclavos de sus maridos; y si la configuración es diametral, ellos se casarán con esclavas. La presencia de Saturno en el sexto o en el duodécimo lugar del dodecátopos, significa para los nacidos de noche peligros procedentes de los esclavos. En el horologio del Cronógrafo del 354 se advierte sobre los problemas que entraria cualquier actividad en las horas de Satumo (y de Marte) en el sábado, como que no se debe comprar un esclavo y que si alguno escapa en una de esas horas, será encontrado enfermo y en mal estado. Por otra parte, las famosas ligaduras y cadenas del dios forman parte de la maléfica acción del planeta (συνοχαί δεσμά), en las muertes violentas que provoca por estrangulamiento, horca o prisión; y amenazan con la cárcel, aunque sea temporal, a los nacidos bajo su influencia. En general a este tópico del mito pueden referirse los problemas y dificultades que supone la acción del planeta en los distintos aspectos de la vida, mientras que la lentitud, retraso e inactividad parecen fruto más bien de su personalidad como dios viejo.

En efecto, Crono aparece tipificado ya en textos previos a la difusión del planeta por Grecia como un anciano: el πρεσβύτην Κρόνον de las Suplicantes de Esquilo. Por eso es posible que también a su papel mítico como padre del Padre de dioses y hombres -y no sólo a la imagen del planeta discurriendo lentamente por su órbita- debamos atribuir su influjo sobre los ancianos y sobre los rasgos de carácter típicos de la edad: tristes, quisquillosos, austeros, taciturnos, etc. Por esa razón también Manilio lo pone como planeta tutelar del Bajo Cielo en la doctrina de los 8 lugares y otros autores en la de los doce lugares; pues los cuatro cuadrantes del círculo del nacimiento representan las cuatro edades: la infancia del Horóscopo al MC; la juventud del MC al Occidente; la madurez del Occidente al IMC y la vejez del IMC al Horóscopo; de igual modo su papel en el séptimo lugar, el de la vejez, es relevante. La triste fama del planeta son todos los inconvenientes que acomparian a la vejez, en particular los dolores de huesos; aunque esto último se explica más que por la edad del dios por el carácter húmedo y la naturaleza fría y seca del planeta. Pero no todo es negativo: En colaboración con Júpiter, Saturno proporciona riqueza en la vejez y como se establece una natural asociación entre esta etapa de la vida y el Occidente, cuando ocupa este punto cardinal durante el día, presagia cosas positivas, aunque sólo cuando llegue a la vejez el que nazca entonces en esta situación. Igualmente, estando en el octavo lugar a partir del Horóscopo produce incrementos de patrimonio con la edad. Y, por el contrario, si el signo que indica el 2º lugar es casa de Saturno, vendrán perjuicios de los viejos en relación con la tierra, la herencia, etc.

Nada raro tendría que por viejo Crono-Saturno hubiera recibido su aureola de sabio, planeta rector, en la melotesia, de la cabeza y la inteligencia. Sin duda a ello ha podido ayudar el epíteto homérico y hesiódico άγκυλομητης, aplicado al dios, por lo que entre sus influencias como planeta están las que denotan sensatez, razón, prudencia y astucia, la astucia del zorro que no en vano, junto con las liebres, gatos o comadrejas y aves nocturnas, es uno de los animales que le atribuye la zoología astrológica.

Pero la principal consecuencia de su vejez es la lentitud (aunque preguntarse si este rasgo viene del dios o del planeta es preguntarse si fue antes el huevo o la gallina). Lo cierto es que su posición en el segundo lugar después del Horóscopo hace a los hombres lentos en todas las actividades; y si el nacimiento se produce de día anuncia que habrá lentamente incrementos de patrimonio. En el tercer signo a partir del Horóscopo y en el quinto (en este caso por la noche), nace gente perezosa, indolente, sin interés alguno por adquirir patrimonio.

Terminemos ya. Hemos visto la capacidad plástica de los mitos divinos, en nuestro caso el de Crono, para superar, apropiándose los planetas, los avatares de una larga historia cultural. La reflexión filosófica opuesta en diámetro a las creencias supersticiosas de la gente inculta ha permitido, sin embargo, la asimilación de aquellas creencias en seres superiores, agentes de nuestro destino que sentían y actuaban como hombres en los incontaminados versos de los poemas homéricos.

Nuestro dios en concreto, de personalidad hesiódica monstruosa y terrible, se convirtió en un rey benévolo, símbolo de prosperidad; tan ambigua historia permite que a la pálida cara de Saturno, triste y presagio de males, asome de cuando en cuando una luz de esperanza. Tal vez fuera penitencia impuesta a su canibalismo por el regular movimiento de los astros que lo hizo hipóstasis del Tiempo, lo que lo convirtió en ejemplo ridículo de la vieja cocina, tan sazonada. Entre los cómicos versos con que nos dibuja Antipo al cocinero:

“Sofón el acarniense y el rodio Damóxeno
se hicieron condiscípulos de su propio arte;
los instruía el siciliano Lábdaco.
Éstos, los viejos y archiconocidos
condimentos borraron de los libros
y quitaron de enmedio el perfumado cedro;
cómo digo!, comino, vinagre, silflo,
queso y coriandro, condimentos que empleaba
Crono, todos los eliminaron y pensaron que era
un véndelotodo el que usara de ellos.”

Entre esos versos y los catálogos de plantas y especias que atribuyen a Saturno el comino, el vinagre, el asfódelo y el silfio, entre otras, han podido pasar casi diez siglos. Seguramente estos astrólogos tardios, como los de hoy, ya no eran conscientes de lo que adeudaba su planeta a la literatura sobre el viejo Crono. Pero los mitos siguen ahi. Y naturalmente en el tránsito de las antiguas creencias al frio saber técnico que pretenden esgrimir estos matemáticos, estos caldeos, hombres cultos como Luciano pueden todavia establecer relaciones entre la historia del dios escrita en los libros y la ingenua creencia en el poder de los astros. Sea pues la plegaria de su sacerdote a Crono la que resuma los principales atributos del planeta, tal como hemos querido exponerlos en estas refiexiones:

“CRONO: Está bien que tú mismo tengas pensado lo que has de pedir, a menos que quieras que tu señor sea al mismo tiempo adivino, para saber lo que te es más grato pedirme. Por mi parte yo no rechazaré tu oración.

SACERDOTE: Pues ya hace tiempo que lo tengo pensado. Deseo estas cosas normales: dinero a la mano y mucho oro, y ser dueño de campos y poseer muchos esclavos, vestidos espléndidos y suaves, plata, marfil y todo lo demás valioso. Dame, excelso Crono, de estas cosas para que también yo disfrute algo de tu poder y no sea el único sin parte durante toda la vida.”

Ω

De harmonia mundi: ¿Un Reino de Saturno Novohispano?

Linda Báez Rubí

Saturn After Equinox

Universidad Nacional Autónoma de México
Fax it tamen ut cumque Deus, ut fiat in terris sicut in caelis
ipsius voluntas. Ut iam redeat et virgo: redeant saturnia regna.
Iam nova progenies: caelo mittantur ab alto. Pax sit et in
toto surgat concordia mundo.
Carolus Bovillus a Francisco Ximénez de Cisneros, 20 de marzo de 1509, Epistole complures, Opera omnia.

Ψ

I

Siempre que tocamos el tema del neoplatonismo renacentista, se nos presenta un campo de investigación en cuya variedad yace la fascinación, en cuyas infinitas analogías yacen un sinfín de interpretaciones. Es obvio, el simple hecho de pensar en que hay que enfrentar concepciones tan delicadas como el hermetismo, la magia, la teúrgia, el cabalismo cristiano, el profetismo, el pitagorismo, la mnemotecnia, nos pone en un verdadero predicamento. Son, indudablemente, vías de pensamiento que muchas de las veces van íntimamente entrelazadas, y es difícil delinear sus límites para comprender fríamente cómo se manifiestan en la realidad. Estamos, en pocas palabras, a merced de una locura interpretativa. Sin embargo, algo nos puede guiar en esta madeja cosmológica: el enfocarnos a un solo tema, en este caso al amor.

Marsilio Ficino (1433-1499), médico y humanista erudito fue encomendado por Lorenzo de Médicis para traducir el corpus, no sólo de las obras de Platón, sino también el hermético. Posteriormente, desarrollaría sus propias obras De religione Christiana (1474), Theologia Platonica (1476), Triplici vita (1489), bajo las influencias de estas corrientes. Algunos de los temas que mencioné al principio formaron parte de su sistema ideológico. Más allá aún, Ficino legaría ideas fundamentales a la época renacentista conformada por personajes de la talla de Pico della Mirandola, Johannes Reuchlin, etc. Pero volvamos al tema central, ¿cuál era la concepción del amor del neoplatonismo que inició Ficino? A lo largo del corpus ficiniano, se exponen conceptos que caracterizan su pensamiento: el amor, la belleza, la armonía, el orden: todas ideas aplicables no solamente al universo y a la creación, sino al hombre mismo.1 Si recordamos la teoría neoplatónica de las almas, podremos vislumbrar una idea central: la restitución del alma a la unidad suprema, después de su desprendimiento o caída del plano divino al mundo sublunar atravesando el plano celestial. La tarea del hombre cristiano es pues, bajo la influencia neoplatónica, elevar el alma hacia Dios: ascender de nueva cuenta a través del universo y las órbitas estelares, proceso en el cual se lleva cabo la purificación interna. Este último acto, bajo la mirada del neoplatonismo cristianizado, implica el ejercicio de un sistema de valores específico plagado de virtudes cristianas para que el alma humana sea capaz de desarrollar un código de conducta correcta, noble, buena, puesto que el fin es la suma bondad misma, o sea Dios. Él es expresión, así, de la máxima belleza, atributo que se liga directamente con la concepción estética de Ficino. Para el neoplatónico cristiano, la estética reside no sólo en la correspondencia de todas las partes del universo que logran conjuntar una visión armónica sino, por principio, en el hombre mismo. El hombre como microcosmos refleja esa unidad equilibrada sobre la que descansa la estructura del macrocosmos. Ahora bien, lo importante es detectar qué es lo que genera en el hombre el apetito por la belleza, qué es lo que le impulsa a desarrollar una ética y crear una estética, y esto es clara y principalmente el impulso amoroso. Efectivamente, el amor neoplatónico-cristiano es capaz de componer el edifico armónico del mundo donde todas las partes se corresponden en el orden divino.

1 Para una explicación sobre estos temas principales y su vinculación, véase Eugenio Garin, Italian Humanism. Philosophy and Civic Life in the Renaissance, pp. 98-99.

Ahora bien, este edificio que traduce su perfección en términos musicales y matemáticos pone énfasis en el orden del mundo. Bajo el orden, Ficino vislumbra y organiza la estructura del cielo y la jerarquía de los seres, cuya autoría atribuye al supremo arquitecto: Dios. Hay que enfatizar que, cuando hablamos de este edifico armónico, hablamos también de las esferas celestes que lo conforman, y en las cuales residen los planetas según el sistema ptolemaico tan caro a los neoplatónicos. El movimiento de las estrellas depende de leyes matemáticas, es decir divinas, que marcan su recorrido en esa estructura de equilibrio perfecto y que influyen al hombre. Precisamente bajo este marco, hay que entender lo que Ficino quería decir cuando se refería al número fatal, también llamado número nupcial. Este número representaba el tiempo que le tomaba a cada planeta el regresar al lugar de inicio desde el cual había comenzado a recorrer su órbita: es cuando la historia completa su círculo y comienza un nuevo ciclo. Este recorrido celestial está ligado estrechamente con el hombre, es decir que el hombre tiene la posibilidad de regresar a su condición primera, lo que en cuestiones más prácticas significa su regeneración.

Es importante reconocer esta idea medular neoplatónica, puesto que de aqui se va a desprender la mayor parte de la explicación del porqué, dentro del Renacimiento, el sentido profético cobra un nuevo auge y una especial atención.

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II

Non potest coelum eius rei signum esse, cuius causa non sit.
Pico della Mirandola, In astrologiam, libro 4, cap. xii, f. 543.

Si bien el tema de la astrología es un tema espinoso, los conocedores han logrado dilucidar algo fundamental: la controversia acerca de una astrología determinativa o simplemente con un carácter influyente; esta última se distingue por no ser decisiva sobre el curso de la vida del hombre.2 La astrología medieval, por decirlo así, estaba plagada de demonios astrales que infundían temor al hombre porque podían actuar sobre él. Durante el Renacimiento ocurrió un fenómeno vital para la relación del hombre con el universo. Si bien el hombre formaba parte de esa arquitectura universal y ocupaba, por lo tanto, un lugar en la jerarquía del mundo, entonces era capaz de movilizarse a través de los distintos planos y niveles en los que se dividía el mundo. Precisamente gracias al impulso amoroso que lo hacía moverse hacia la suprema belleza, es decir hacia Dios, es lo que lo dotaba de una fuerza interna (voluntad) que se manifestaba en la elaboración de una ética sólida basada en la actividad de las virtudes más sublimes. Y esto es lo que el segundo gran manifiesto neoplátonico nos deja entrever: la De dignitate hominis de Pico della Mirandola. Este modelo permeó todo el pensamiento renacentista, además de que determinó indudablemente la posición del hombre ante el pensamiento astrológico: el ser humano no estaba ante demonios astrales, puesto que las estrellas son simplemente cuerpos celestes que se mueven por leyes matemáticas, divinas y armónicas, lejos de estar habitadas por entes demoniacos.3 En segundo lugar, si bien el hombre recibía la influencia de los astros, era capaz de manejar esa influencia según su libre albedrío y su voluntad.4 Necesario es entender que, dentro de la concepción renacentista, el hombre es libre de la determinación astral, de un destino fijo e irrevocable, y que en él mismo reside el poder de manejar esas fuerzas ocultas de la naturaleza para su propio beneficio y desarrollo interno. Esto es la explicación del porqué muchos magos renacentistas se oponían al tipo de astrología medieval determinista: simplemente, admitirla representaba una contradicción para el punto medular de la teoría neoplatónica que situaba al hombre como microcosmos y capaz de crear su destino como fiel reflejo de un ser divino.

2 Para la continuidad y cambio de la astrología medieval en el Renacimiento, véase Aby Warburg, “Heidnisch-antike Weissagung in Wort und Bild zu Luthers Zeiten”, Ausgewählte Schriften und Würdigungen (ed. Dieter Wuttke), 2a. ed., Baden-Baden, Verlag Valentin Lierner (Colección Saecula Spiritualia), 1980, pp. 478-558.
3 Cassirer, Individuum und Kosmos in der Philosophie der Renaissance, Leipzig-Berlín, B. G. Teubner, 1927, p. 124.
4 “Debido a que el hombre sabio no puede librarse de la fuerza de su signo planetario, solamente le queda dirigir la fuerza hacia el bien, y esto lo logra reuniendo las influencias benéficas en sí mismo que se desprenden de los cuerpos celestes, fortaleciéndose internamente, y así, desviando las influencias negativas.” Cassirer, Individuum und Kosmos, p. 106.

Prioritario era entender esta aclaración sobre la astrología y la magia en el Renacimiento, para entender e interpretar correctamente a aquellos que atribuyeron, como Ficino, un papel importante a las profecías, pero que desecharon la demonología astral a favor tan sólo de una influencia de los cuerpos celestiales en el mundo sublunar, influencia que el ser humano-mago podría dominar conociendo sus leyes. El famoso Girolamo Savonarola desencadenaría con su mensaje de renovatio humana en el plano religioso, una gran cauda de ambiente profético. En él la idea predominante era el vislumbramiento de una edad áurea, pacífica, unida bajo un solo rebaño cristiano,

y que probablemente se daría cuando el sol entrara en la casa del signo zodiacal de Aries. Los mismos sucesos políticos dieron auge y valor a las profecías que se ligaban con las revoluciones estelares y que, lejos de estar desconectadas de los intereses político-religiosos, eran una forma de legitimar las aspiraciones de poder de ciertos sectores dentro de la vida político-religiosa. Si bien Savonarola veía con cierto escepticismo el sincretismo religioso de Ficino, no distaba de concordar con las posiciones de Pico y Ficino sobre la renovación de una religiosidad laica en el hombre. Las constantes invasiones y amenazas bélicas, causadas por la ambición expansionista en Europa, generaron, principalmente en la península itálica, un clima donde los sucesos correspondían a castigos divinos sufridos por la corrupción moral. Sin embargo, después se esperaría la regeneración. El proceso de purificación veía en las profecías religiosas su mejor expresión social-psicológica: lo importante era la regeneración después de los castigos de Dios.

En este sentido, los humanistas no estaban lejos de otorgarle este tipo de valor regenerador al mensaje profético, que era expresión, en realidad, de un profundo sentido político-religioso. La estela de pensamiento savonaroliano que vislumbraba una espiritualidad regenerada de sus vicios, se unía al ánimo de establecer la pax christiana, la armonía del universo bajo la bandera de la cristiandad.

Saturn Natures Canvas

III

Sub Saturno natii ut optimi aut pessimi.
Carolus Bovillus, Proverbiorum vulgarium libri tres, f. 109r.

Charles de Bovelles, discípulo del gran reformista francés Lefèvre d’Etaples, representa mucho para nuestra cultura novohispana. Ambos nombresse asocian con el nacimiento del humanismo francés a finales y principios del siglo XVI. El renacimiento neoplatónico que propuso el círculo de colaboradores de Lefèvre fue principalmente el rescate de la mística medieval con afinidad neoplatónica, y un aristotelismo visto bajo un prisma, asimismo, neoplatónico. En estas directrices cabe mencionar lo que es de sobra conocido para algunos: el renacimiento del ars del Doctor Iluminado Ramón Llull. Creo que los temas lulistas cobraron auge porque la misma época que mediaba entre los desastres y castigos divinos, así como la esperanza del restablecimiento de una edad de oro evangélica, buscaban ideales que llenaran las expectativas: los modelos místicos, la piedad cristiana laica, el eremitismo, en fin, un tono más evangélico y sencillo en donde se uniera la cristiandad finalmente al lograr la conversión de los infieles. Es así como Bouvelles se involucra en esta ideologia que se deja ver cuando pone sus esperanzas en la renovación de la Iglesia en manos del gran cardenal reformador de la espiritualidad hispánica, Francisco Jiménez de Cisneros. El hecho de que el cardenal toledano haya emprendido la reforma de las órdenes regulares y su triunfo en Orán contra los infieles llenaban los ánimos encendidos por el anhelo de renovación a la vez que daban respuesta al sentimiento profético que flotaba en el ambiente mesiánico religioso. La conversión de los infieles se sentía cerca, cuando no ya vuelta predicción, para fechas aproximadas; la recuperación de la Tierra Santa se convertia en una esperanza sólida, y con ella la unidad de la Iglesia se vislumbraba a la mano. Así fue como la relación entre Cisneros y Charles de Bouvelles se basó en un esfuerzo en común: la unidad religiosa de la Iglesia cristiana bajo la égida de la restitutio de una espiritualidad más evangélica. En este sentido es como Bouvelles reconoce vislumbrar la influencia de los fenómenos celestes en el hombre: el retorno del reino de Saturno, bajo el cual el hombre por voluntad propia podía encaminar esos influjos hacia el bien, la belleza suprema, generada por el amor, o hacia su polo opuesto: el mal, la destrucción, el pecado. Si bien la imagen de Saturno en la Edad Media se vinculaba con las catástrofes y el sentido apocalíptico, en el Renacimiento, gracias a la conciencia del hombre de su libertad y voluntad, Saturno adquiere el carácter positivo clásico que poseía, al vinculársele con la Edad de Oro descrita por Hesíodo, Homero y Virgilio.5 Es así como, para los neoplátonicos, el reino de Saturno aparece como señor de las revoluciones a través de los sucesos catastróficos, pero para preparar una mejor época.6

5 Platón, Las Leyes, IV, 713c-714a. En este pasaje, Kronos aparece “como amigo de la humanidad, bajo él prevalece el orden, la ley; es la era del nous, es el arquitecto del mundo”. Raymond Klibansky, Erwin Panofsky, Fritz Saxl, Saturno y la melancolía, p. 163.
6 André Chastel, “Le mythe de Saturne dans la Renaissance italienne”, en Phoebus, I (1946), p. 132.

Bouvelles distaba mucho de ser un simple teórico. La edición de las Contemplationes de Llull y el camino de contemplación mística que exponía esta obra le sirvieron como modelo a tal grado que se alejó por un tiempo a practicar la vida en soledad, eremítica, para encerrarse en la vida contemplativa. De ahí que haya trabado no sólo amistad con Cisneros, sino concordado con la visión de una reforma monástica urgente sobre la cual erigir la nueva sociedad cristiana.

Pero las preguntas fundamentales, una vez delineadas las directrices del pensamiento de los humanistas cristiano-renacentistas, son ¿en qué medida se aplicó este proyecto a una realidad más allá de la experiencia personal, extracontinental, y cuál fue en dado caso su realidad? ¿Fue algo práctico, o se quedó simplemente con el rubro de utópico? ¿Quiénes conformarían el reino de los hijos de Saturno del que Bouvelles le hablaba a Cisneros?

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