Traduções

Teste Albumasare cum Sibylla

Sibylla Chimica

Astrologia e as Sibyllas na Europa medieval

Laura Ackerman Smoller

Department of History, University of Arkansas

Dies irae, dies illa,
Solvet saeclum in favilla:
Teste David cum Sibylla.

(Thirteenth-century sequence)

υ

Tradução:
César Augusto – Astrólogo

φ

Resumo

Na década de 1480, o humanista dominicano Filippo de Barbieri publicou uma ilustração de uma suposta vidente antiga chamada ‘Sibylla Chimica‘, cujo texto profético repetia as palavras do astrólogo do século IX Abu Ma‘shar. Este artigo examina as origens da Sibylla astrológica de Barbieri, explorando três tradições que às vezes se entrelaçam: a atribuição de uma história pré-diluviana à ciência dos astros, a afirmação das origens da astrologia na revelação divina e a crença nas previsões das Sibyllas antigas sobre o nascimento de Cristo e outras verdades cristãs. A partir do século XII, autores medievais começaram a citar essas tradições em conjunto, autorizando o uso da astrologia para prever mudanças religiosas e desfocando as categorias de natural e sobrenatural aplicadas ao entendimento humano. Essa mistura de astrologia e profecia aparece notavelmente em obras de autores como João de Paris, João de Legnano, Johannes Lichtenberger e Marsilio Ficino. O percurso que produziu a Sibylla astrológica de Barbieri levaria, em última instância, a uma onda de previsões astrológicas apocalípticas nos séculos XVI e XVII, assim como ao uso da astrologia para a defesa da fé na forma de uma teologia natural astrológica, sacralizando a ciência e a natureza.

1. Introdução

No início da década de 1480, o humanista dominicano Filippo de Barbieri publicou um tratado com o objetivo de resolver discordâncias entre Agostinho e Jerônimo, recorrendo às palavras das Sibyllas. Para ilustrar seu texto, Barbieri incluiu retratos em xilogravura de doze Sibyllas, acompanhados de descrições físicas dessas supostas videntes antigas e breves trechos das profecias a elas atribuídas. Entre as Doze Sibyllas representadas na série de Barbieri, encontra-se uma mulher misteriosa: intitulada ‘Sibylla Chimica‘ ou ‘Sibylla Emeria‘, ela segura um pergaminho que diz de maneira igualmente enigmática: “Na primeira face de Virgem, surge uma jovem” (Fig. 1). O que chama a atenção aqui é que o texto da Sibyllaa repete as palavras iniciais de um dos trechos mais citados do Introductorium maius in astronomiam do astrólogo árabe do século IX Abu Ma‘shar (conhecido como Albumasar no Ocidente latino). Nesse trecho, Albumasar descreve uma constelação que surge com o primeiro decanato da Virgem, ou seja, uma figura de uma mãe amamentando um filho “a quem alguns povos chamam de Jesus”. A legenda abaixo da Sibylla Chimica de Barbieri expande a citação para incluir a famosa “previsão” de Albumasar sobre o nascimento virginal de Cristo:

Sibylla Emeria, também conhecida como Sibylla Chimica, nascida na Itália, vestida com roupas celestiais, com cabelos dourados caindo sobre os ombros, jovem, sobre quem Ennius disse: “Na primeira face de Virgem, surge uma donzela com um belo rosto e lindos cabelos; sentada em um trono, ela amamenta um menino, dando-lhe seu próprio suco (ius) para comer, ou seja, leite enviado do céu”.

Em resumo, o que Barbieri apresentou a seus leitores foi um texto astrológico disfarçado de profecia de Sibylla.

O caminho pelo qual as palavras de um astrólogo se tornaram as de uma Sibylla não é simples, e rastreá-lo promete nos ensinar muito, não apenas sobre astrologia e profecia na Baixa Idade Média, mas também sobre as maneiras como o conhecimento era concebido e configurado. Isso envolve tanto apologistas cristãos citando o texto de Albumasar em confirmação de sua fé quanto defensores da astrologia recorrendo a uma história imaginada em que os patriarcas do Antigo Testamento, graças à instrução divina, praticavam a ciência dos astros. Ambos os atos tendiam a fortalecer um conjunto crescente de alegações que faziam da astrologia uma ferramenta válida para a análise das religiões. A capacidade da astrologia de prever verdades cristãs se mesclava com alegações de suas antigas e reveladas origens, desfocando as linhas entre o conhecimento obtido pelo exercício da razão humana e aquele concedido por revelação sobrenatural. Embora os escolásticos medievais frequentemente traçassem uma linha clara entre causas naturais e sobrenaturais e cada vez mais atribuíssem até mesmo aparentes maravilhas às primeiras, a mistura de astrologia e profecia vista na Sibylla Chimica aponta para a existência simultânea de outro modo de pensamento, em que a distinção entre o natural e o sobrenatural não era tão clara.

As origens da Sibylla astrológica de Barbieri situam-se ao longo de três caminhos que às vezes se entrelaçam. O primeiro deles é uma tradição tardia que atribui uma história antiga e mitológica à ciência dos astros, uma narrativa comum a muitas das artes ocultas. Nesse cenário, introduzido aos leitores medievais através das Antiguidades Judaicas de Josefo, o conhecimento da astrologia remonta ao tempo de Abraão, Noé ou até mesmo Adão. Uma importante implicação dessa história imaginada era dar prioridade aos hebreus sobre os egípcios ou gregos na invenção da ciência astrológica. Também servia, defensivamente, para responder às acusações dos detratores que insistiam que os humanos não tinham experiência suficiente dos movimentos das estrelas e seus efeitos para fazer previsões astrológicas precisas. Sabemos, por exemplo, por meio de Cícero, que, em resposta a tais objeções, os antigos caldeus afirmavam observar os céus há 470.000 anos.

A segunda tradição interligada importante para o surgimento da Sibylla astrológica de Barbieri envolve outro conjunto de mitos sobre as origens da astrologia, a saber, a afirmação de que os humanos adquiriram conhecimento dos caminhos e influências das estrelas por meio de revelação divina. Essas histórias fundacionais têm origem no Corpus Hermeticum da Antiguidade tardia e nas tentativas ali de dar precedência a um corpo revelado de sabedoria esotérica conhecido pelos antigos caldeus, hebreus e egípcios sobre a filosofia grega. Novamente, Josefo estava na raiz das versões medievais dessa história inventada da astrologia, que sugeriam que Deus havia transmitido a veneráveis figuras do Antigo Testamento certos segredos não contidos nas escrituras sagradas. Essas duas tradições ganharam novo vigor na cristandade ocidental a partir do século XII, à medida que as traduções de textos como os de Albumasar possibilitaram pela primeira vez desde a Antiguidade a prática real da astrologia. E essa história mitológica da astrologia serviu não apenas para defender a ciência dos astros com a dupla garantia de longa experiência e origem divina, mas também para aproximar a prognosticação astrológica e a profecia religiosa—justamente no momento em que um número crescente de autores europeus começou a acreditar que a astrologia poderia oferecer previsões válidas de eventos religiosos.

Assim, já no século XII, começa-se a observar a astrologia – e sua história inventada – aparecendo em conjunto com uma terceira tradição mitológica de longa data: as profecias sibilinas. Escritores pagãos antigos catalogaram um número de mulheres, coletivamente conhecidas como Sibyllas, que receberam revelações divinas especiais. A nova igreja cristã apropriou-se dessa crença, com textos sibilinos recém-“descobertos” (e piedosamente forjados) mostrando videntes gentios “predizendo” o nascimento de Cristo e o Juízo Final. Lactâncio, por exemplo, citou tanto as Sibyllas quanto Hermes Trismegisto como testemunhas das verdades cristãs; seu catálogo de dez diferentes Sibyllas tornou-se canônico para gerações posteriores. Agostinho elogiou a chamada Sibylla Eritreia, cujos versos apontavam para o nascimento de Cristo. Autores medievais iniciais emparelhavam as Sibyllas com profetas do Antigo Testamento para refutar a descrença dos judeus e até descreveram uma figura chamada Sibylla Tiburtina apontando ao imperador Augusto uma visão da Virgem e do menino nos céus. Um texto profético atribuído a essa mesma Sibylla Tiburtina, incluindo previsões da Encarnação, paixão e apocalipse, circulou desde o final do século IV. Como Anke Holdenreid demonstrou, o apelo desse texto sibilino residia precisamente em oferecer um exemplo de uma pagã — sem acesso às Escrituras — prevendo o nascimento de Cristo. Como a astrologia também tinha suas raízes na revelação extra escritural e, como no texto de Albumasar, também parecia predizer a Encarnação, era natural que as estrelas e as Sibyllas começassem a ser citadas na mesma direção.

Essa interpenetração da astrologia e da profecia religiosa na Baixa Idade Média é um fenômeno cuja profundidade nem sempre é suficientemente reconhecida. De fato, alguns autores da Baixa Idade Média simplesmente não distinguiam, em seu vocabulário, a previsão astrológica da revelação divina (uma distinção que, segundo Jean-Patrice Boudet, a maioria dos astrólogos praticantes era extremamente cuidadosa em manter). Mas também havia aqueles que, alegre e deliberadamente, combinavam as palavras de astrólogos e videntes inspirados ao escrever sobre eventos futuros. Em casos como o do cardeal do início do século XV, Pierre d’Ailly, a astrologia poderia servir como uma verificação independente e bem-vinda às alegações visionárias mais extremas de um apocalipse iminente. Para outros autores, a mistura de astrologia e profecia reforçava sua própria fé, oferecendo um vislumbre reconfortante de não-cristãos e permitindo acesso a verdades fundamentais da doutrina.

Nessa prática de coletar testemunhos gentios para as verdades cristãs, que também teve um vigor renovado a partir do século XII, pode-se observar um fundamental desfoque das categorias de natural e sobrenatural aplicadas ao entendimento humano. As linhas de Albumasar sobre a Virgem e o menino, bem como a suposta previsão de Virgílio da Encarnação em sua quarta égloga, são exemplos primordiais de tal testemunho gentio. Em tal caso, o que importava era que um não-cristão proferisse doutrina cristã, oferecendo, nas palavras do apóstolo Paulo, “testemunho dos de fora” (1 Timóteo 3:7). Contanto que a mensagem viesse de fora do reino da escritura cristã, pouco importava se tal confirmação da fé tinha origens naturais ou sobrenaturais. Essa tendência de fundir o natural e o sobrenatural é particularmente marcada entre aqueles que defendiam a ciência das estrelas rastreando suas raízes mitologicamente antigas. Pode-se facilmente confundir tais tipos de conhecimento, quando o que realmente importava era o resultado final, mas não o método pelo qual se chegava à resposta.

2. A história mítica da astrologia

Sibylla Eritreia

Os leitores medievais estavam familiarizados com as origens antigas da astrologia através das Antiguidades Judaicas de Josefo, em sua tradução latina do século VI, e através das elaborações dos leitores posteriores de Josefo. Segundo Josefo, a arte da astrologia remontava ao tempo dos patriarcas. Por exemplo, a longa vida de Noé, para Josefo, devia-se ao seu profundo conhecimento de astrologia e geometria. Abraão, também, era bem versado na ciência das estrelas e, enquanto esteve no Egito, ensinou aos egípcios aritmética e astrologia, de onde os caldeus e, eventualmente, os gregos aprenderam a ciência. Da mesma forma, no amplamente lido Apocalipse de Pseudo-Metódio, traduzido para o latim no século VIII, o filho de Noé, Jonitus, aparece como um fundador divinamente inspirado da astronomia (astronomiae), tendo “recebido de Deus o dom da sabedoria”. Por sua vez, ele ensina a arte ao gigante Nimrod. Da mesma forma, na Historia Scholastica do século XII, amplamente citada por autores escolásticos posteriores, Petrus Comestor ecoa Josefo e Pseudo-Metódio ao descrever a expertise de Noé em astrologia, o conhecimento infundido de Jonitus em astronomia, e sua subsequente instrução de Nimrod. Além disso, segundo Petrus, Jonitus previu (praevidit), presumivelmente usando a astrologia, a sucessão de quatro reinos que mais tarde seriam preditos pelo profeta Daniel. Além disso, Petrus apresenta Abraão ensinando astrologia não apenas aos egípcios, mas também a Zoroastro, “inventor das artes mágicas”. Ele também relata que Moisés era “perito nas estrelas”, a ponto de ser capaz de gravar duas gemas com imagens que causavam memória e esquecimento. Através de tais fontes, a noção de que a astrologia era uma arte antiga e revelada, praticada pelos patriarcas, tornou-se o mainstream da tradição cristã.

Com a onda de traduções de textos astrológicos do árabe no século XII e a subsequente composição de novas obras astrológicas em latim, essa suposta história antiga da astrologia foi utilizada para defender a ciência das estrelas. Enquanto o Introductorium maius mencionado anteriormente de Albumasar, traduzido em 1133 e novamente em 1140, oferecia amplamente uma prova filosófica da validade da astrologia ao longo das linhas aristotélicas, Albumasar traçou em outros lugares as origens da astrologia — e, de fato, de todo o conhecimento — a uma revelação inicial muito antes do dilúvio. Não surpreende, então, que fosse relativamente simples para tradutores e leitores do Albumasar latinizado adicionar à sua defesa filosófica da astrologia o tipo de história mitológica da ciência descrita por Josefo e seus seguidores. Por exemplo, um dos tradutores de Albumasar, Hermann da Caríntia, incorporou em sua obra de 1143 De Essentiis tanto a “predição” do nascimento virginal do Introductorium maius quanto traços da própria história de Albumasar sobre as origens e o progresso da astrologia.

Além disso, o uso dos textos de Albumasar por Hermann indica a forma como esse material servia tanto para defender a validade da astrologia quanto para reforçar a fé cristã. A história mitológica da ciência astrológica desempenha um papel importante em ambas as tarefas. Assim, Hermann observa que Albumasar obteve suas informações sobre a figura da Virgem “dos astrólogos persas Hermes e Astalius“, que, conforme Hermann explica, foram discípulos de “Abidemon, rei dos índios, … mencionado pelas histórias árabes sobre os primeiros autores da astronomia, muito antes de Porus, que foi contemporâneo de Alexandre da Macedônia… 310 anos antes do nascimento de Cristo“. Aqui, a astrologia não apenas tem uma longa e distinta história, incluindo o nome reverenciado de Hermes, mas a antiguidade da ciência demonstra que a predição da Encarnação transmitida por Albumasar foi de fato feita séculos antes do acontecimento — e não foi inventada pelo astrólogo do século IX ou pelos cristãos do século XII.

Mais importante ainda, a astrologia oferece a Hermann um exemplo chave de como as verdades cristãs estavam, de fato, disponíveis para qualquer pessoa que escolhesse procurá-las. Para Hermann, as palavras de Hermes e Astalius demonstram que “mesmo na especulação natural… a verdade de Jesus Cristo foi de fato primeiramente conhecida por uma nação estrangeira”. Embora Hermann às vezes se conecte à história mítica da astrologia de Albumasar como uma arte revelada, ele simultaneamente elogia a ciência como uma forma de conhecimento natural do futuro e, portanto, disponível tanto para gentios quanto para judeus e cristãos. De fato, Hermann introduz sua discussão sobre a passagem de Albumasar a respeito da Virgem, observando que é um dos “muitos argumentos com os quais estamos acostumados a contrariar o miserável muçulmano quando ele critica nossa salvação”. Mais adiante, no mesmo tom, Hermann afirma que este texto demonstra “a cegueira dos judeus”. Ele até observa que “na minha opinião”, os Magos foram capazes de reconhecer Jesus “informados pela leitura deste [texto], e tendo visto sua estrela”. Ele também aponta que os astrólogos claramente previam o nascimento virginal, pois a passagem afirma tanto que a jovem segurando o menino chamado Jesus é “completamente casta” quanto que ela está nutrindo o menino com seu ius, que Hermann interpreta como seu próprio leite, uma substância que nenhuma mulher poderia produzir “a menos que tivesse dado à luz antes”. Para Hermann, o astrólogo “vê toda a situação com mais clareza” e assim “poderia anunciar uma maravilha que ele viu que aconteceria no futuro, contra as leis da natureza!” No “De essentiis”, Hermann reúne as antigas origens da astrologia e a descrição de Albumasar da figura que se ergue com Virgem em uma demonstração convincente do prévio conhecimento gentio da verdade cristã.

3. As Sibyllas entram em cena

Sibylla Cumana

Mais adiante no “De essentiis”, Hermann também justapõe a astrologia com a profecia sibilina como dois arautos da vinda de Cristo. Essa combinação não é incomum no século XII e não se restringe aos textos astrológicos em si. As Sibyllas e a astrologia — na forma da passagem de Albumasar sobre a jovem — aparecem juntas novamente como “testemunhas de fora” em um sermão sobre a natividade da Virgem pregado por Garnier de Rochefort, abade de Clairvaux, no final do século XII. Em uma lista de profetas da vinda de Cristo, que inclui vários animais, João Batista, Simeão, Balaão e “Sibylla”, o pregador também cita “Hermes e Astério [sic], filósofos do rei da Pérsia”, como tendo predito o nascimento virginal. Continuando, Garnier cita um texto notavelmente semelhante à descrição de Albumasar da virgem amamentando o menino chamado Jesus, da tradução de Hermann da Caríntia do “Introductorium maius”. Depois de colocar as palavras do astrólogo na boca de Hermes e Astério, Garnier acrescenta que “um terceiro poeta [!], cujo nome é Albumazar”, concorda com eles.

Esse trio de testemunhas gentias do nascimento virginal torna-se o verdadeiro assunto do sermão de Garnier, que é tanto um comentário prolongado sobre as palavras de Hermes, Astério e Albumasar quanto uma elucidação das passagens das Escrituras com as quais ele começa o sermão. O ponto principal que ele deseja que seus colegas monges compreendam é que, ao ouvir as palavras de consolo de Deus, “não devemos prestar atenção a quem está falando, mas ao que está sendo dito”. Seguindo esse conselho, Garnier ele próprio não parece distinguir particularmente entre o discernimento de animais como cegonhas ou o Asno de Balaão, a profecia bíblica, os oráculos das Sibyllas e as declarações de um astrólogo. Ele também não parece se importar particularmente se a fonte de seu conhecimento é natural ou sobrenatural. De fato, Garnier diz que “não sabe” se Hermes e Astério falaram “por grande aprendizado ou no espírito de profecia”, embora talvez se incline para a primeira interpretação. Notando que o povo comum diz que um porco sem habilidade muitas vezes desenterra uma boa trufa [raiz]”, Garnier permite que ele “chamaria de porcos aqueles que, não ruminando, mas como que cavando no chão, isto é, escrutinando as coisas terrenas, veem a raiz da árvore de Jessé“. E, em certo sentido, para Garnier, todos esses porcos são intercambiáveis, pois todos claramente oferecem um testemunho externo da verdade: “Tal é a glória da verdade da fé católica”, ele escreve, “que nossos inimigos são juízes [isto é, testemunhas da fé], e na boca de três testemunhas vemos a glória da palavra e o testemunho da gloriosa Virgem”. Para Garnier, graças à passagem de Albumasar sobre a Virgem, a astrologia e as Sibyllas desempenham exatamente a mesma função.

Os astrólogos também poderiam colocar as Sibyllas e a ciência das estrelas em pé de igualdade. Assim, as antigas origens reveladas da astrologia e a autoridade das Sibyllas se entrelaçam na obra de um dos mais importantes praticantes da ciência no início do século XIII, Michael Scot, astrólogo do imperador Frederico II. O próprio Liber introductorius de Scot, um enorme compêndio de astronomia, astrologia e fisionomia, contém um longo prólogo que inclui mais uma versão sobre as origens míticas da astrologia. Para Scot, revelação e experimentação coexistem no passado da astrologia, que, como se vê, inclui uma Sibylla em algum lugar. A história de Scot começa com Noé, “a quem o Senhor Deus falava frequentemente, revelando muitos eventos futuros secretos”. Dos três filhos de Noé, Cam era “naturalmente o mais inteligente” e começou a procurar aqueles que haviam sido ensinados pelos demônios que então habitavam o ar, aprendendo com eles “várias doutrinas que hoje são chamadas de artes”. Os demônios trouxeram aos humanos tanto artes úteis quanto nefastas (“como a espatomancia e a nigromancia”), mas Cam, com sua prudência, investigou cuidadosamente e experimentou para separar as verdadeiras das falsas. Após o Dilúvio, Cam ensinou as artes da adivinhação a seu filho Canaã. Canaã, por sua vez, escreveu tudo o que sabia sobre esses assuntos em trinta volumes e instruiu seu próprio filho, Nimrod, juntamente com vários outros alunos.

Depois que a casa e a biblioteca de Canaã foram queimadas pelos exércitos do rei do Egito, esses volumes se perderam. Nimrod e os outros alunos de Canaã coletaram o máximo desse conhecimento perdido que puderam recordar, particularmente, nota Scot, a arte da astronomia/astrologia. Nimrod, por sua vez, ensinou essa arte a um discípulo chamado Iohanton, para quem ele compôs um livro, o Liber Nemroth. Outro filho, Habraam, também adquiriu grande habilidade em astrologia e a ensinou a um certo Demétrio e Alexandre, que por sua vez instruíram Ptolomeu, o rei do Egito. Do Egito, a ciência foi levada para a Espanha e, de lá, para a França. Concluindo essa história fantasiosa, Scot anexa uma lista dos “muitos doutores desta arte”, incluindo, ao lado dos nomes astrológicos mais familiares como Thabit, Messahalla, Zael e Alcabício, várias figuras mais associadas a revelações místicas, como Salomão, Hermes e “Sibylla”. Para Michael Scot, então, a astrologia aparece em parte como ciência experimental e em parte como arte revelada. Talvez em reconhecimento desta última, uma Sibylla — como Hermes — aparece em uma lista de luminares da astrologia. E provavelmente vale lembrar que tanto as profecias sibilinas quanto as previsões astrológicas giravam em torno da figura grandiosa do patrono de Michael Scot, Frederico II.

4. A astrologia como ferramenta para prever mudanças religiosas

Sibylla Hellespontica

No século XIII, vários autores começaram a fazer afirmações ainda maiores sobre a capacidade da astrologia de falar verdades religiosas. Albumasar, novamente, está no fim desse caminho, não apenas na passagem frequentemente citada sobre a Virgem e o Menino, mas também em sua análise das causas astrológicas das mudanças religiosas no tratado De magnis coniunctionibus. E novamente, a voz das Sibyllas é emparelhada com as mensagens escritas nas estrelas. Assim, em um poema intitulado De vetula, uma curiosa falsificação do século XIII atribuída ao poeta romano Ovídio, astrologia e as Sibyllas são mostradas juntas “prevendo” o nascimento virginal de fora da fé. No livro 3, com base no De magnis coniunctionibus de Albumasar, o poeta oferece, primeiro, uma previsão astrológica de uma religião (lex) significada pelo planeta Mercúrio, na qual nascerá de uma virgem alguém que é simultaneamente Deus e homem. Continuando, “Ovídio” aponta para uma conjunção de Saturno e Júpiter no décimo segundo ano do reinado do imperador Augusto, o que, de acordo com o poeta, significava que “seis anos depois, deveria nascer um profeta de uma virgem, sem que ela conhecesse carnalmente um homem”. Mas a revelação também havia predito esse nascimento, segundo o pseudo-Ovídio. De fato, muito antes do tempo de Augusto, “Noé, o venerável profeta, escreveu o mesmo e ensinou a Sem, seu filho primogênito”. Além disso, o poeta alude a muitos outros profetas “que levaram uma vida espiritual” e que também falaram desse filho, nomeando especificamente a Sibylla de Cumana. Conhecimento astrológico e revelação inspirada novamente servem à mesma função — e parecem se misturar — enquanto Noé, o profeta, e a Sibylla de Cumana ambos antecipam as linhas do astrólogo Albumasar sobre a Virgem. Mas a previsão astrológica da Encarnação recebeu uma nova precisão e mecanismo através da análise das conjunções Saturno-Júpiter.

Reivindicações ainda mais exaltadas para a astrologia aparecem na obra de um dos mais ávidos leitores do De vetula, o franciscano do século XIII Roger Bacon. E, novamente, a astrologia e a profecia sibilina operam em conjunto para prever mudanças religiosas. Assim como nas histórias lendárias da astrologia, Bacon sustentava que todo conhecimento havia sido inicialmente revelado aos patriarcas, profetas e a um punhado de outros destinatários dignos. Dada sua crença no caráter unitário original de todo conhecimento, Bacon tinha uma afinidade por citar previsões gentias de verdades cristãs. Na Parte 4 de seu Opus maius de 1266, dirigido ao Papa Clemente IV, Bacon seguiu Albumasar e o De vetula ao mostrar que o nascimento de Cristo havia sido predito nas estrelas, citando tanto o De magnis coniunctionibus de Albumasar quanto a passagem do Introductorium sobre a Virgem e o Menino. Com ecos da história mitológica da astrologia, Bacon também atribuiu este último não apenas a Albumasar, mas também a “todos os antigos indianos, caldeus e babilônios”. Além disso, Bacon insistiu que, assim como a astrologia havia predito o nascimento de Cristo, ela também poderia prever a vinda do Anticristo. E ele instou o papa a acreditar que a astrologia, juntamente com outras ciências e as profecias da ‘Sibylla, de Merlin e Aquila e Sesto, Joaquim e muitos outros’ ajudariam a proporcionar ‘maior certeza’ sobre o tempo do Anticristo. Embora Bacon distinga, nesta passagem, entre astrologia, por um lado, e profecia, por outro, sua crença nas origens reveladas de todas as ciências desfoca consideravelmente a linha entre as duas. Assim como a Sibylla Tiburtina havia previsto os últimos dias do mundo, também os astrólogos poderiam fazê-lo, segundo Roger Bacon.

5. Astrologia e as Sibyllas no século XIV

Sibylla Tiburtina

A partir do aparecimento do De antichristo de Arnald de Villanova, nos anos em torno de 1300, em Paris, vários estudiosos se posicionaram fortemente contra o tipo de astrologia apocalíptica defendida por Roger Bacon. Ainda assim, suas condenações não extinguiram a tendência de emparelhar astrólogos e sibilas como testemunhas gentias da Encarnação. De fato, tal emparelhamento aparece em uma obra de João de Paris, um dos vários autores que escreveram em resposta ao tratado de Arnald. Baseando-se fortemente em Roger Bacon, o De adventu Christi de João de Paris conclui com um longo capítulo sobre predições gentias do nascimento virginal de Cristo. Aqui, mais uma vez, aparecem tanto as Sibyllas quanto a astrologia. Entre os textos sibilinos, João cita os versos da Sibylla Eritreia mencionados por Agostinho, a Sibylla Cumana da Quarta Égloga de Virgílio, a lenda de Augusto e a Sibylla Tiburtina, e a citação pseudo-ovidiana da Sibylla Cumana no De vetula. Intercaladas estão referências a ‘Ético, o astrônomo’, Albumasar, ‘Ovídio’ (do De vetula), Ptolomeu, Alquibício, e o pseudo-Aristóteles do Secretum secretorum. Como exemplo da previsão astrológica da natividade de Cristo, João aduz a ‘predição’ pseudo-ovidiana da Encarnação baseada nas conjunções de Saturno e Júpiter no De vetula. Ele também menciona a passagem familiar sobre a Virgem do Introductorium de Albumasar, ‘de acordo a outra tradução e principalmente de acordo com a segunda’ [ou seja, a de Hermano da Caríntia].

A história mítica da astrologia desempenha um papel crucial na apresentação de João. Como no De vetula, João atribui as palavras de Albumasar sobre a Virgem e o Menino primeiro ao ‘venerável profeta Noé’, observando ainda que o filho de Noé, Sem, ‘primeiro ensinou aos caldeus isso e as outras coisas pertinentes aos julgamentos das estrelas’. Ele também cita o Secretum secretorum no sentido de que Deus havia primeiro revelado a ‘sabedoria arcana’ aos seus santos profetas e a certos outros, dos quais mais tarde surgiram os filósofos indianos, latinos, persas e gregos. Essa história imaginada é claramente importante para João, que retorna a ela nos parágrafos finais do tratado para salientar que suas testemunhas gentias da fé não obtiveram todo o seu conhecimento ‘pela razão natural’, mas também por ‘revelação e pelo ensino de nossos profetas’. Fazendo novamente alusão à predição de Albumasar sobre a Virgem e o Menino, João lembra aos seus leitores que ela foi ‘transmitida aos caldeus por Sem‘, filho de Noé, a quem ele agora, no entanto, chama de ‘o astrólogo’ e não, como antes, ‘o venerável profeta’. Noé tinha esse conhecimento por profecia ou por astrologia? João permanece ambíguo. Mais uma vez, o desejo de uma ‘testemunha externa’, combinado com a história mitológica da astrologia, serve para obscurecer as linhas entre as formas naturais e sobrenaturais de conhecimento.

Na obra do jurista boloense do século XIV, João de Legnano, astrologia e as Sibyllas aparecem em pé de quase igualdade. Mais conhecido por seus trabalhos jurídicos, Legnano também tinha um grande interesse em astrologia e teologia, ambos aparentes em seu tratado De adventu Christi de 1375, que abre um manuscrito ricamente ilustrado das obras de Legnano que ele apresentou ao Papa Gregório XI. No tratado inicial do De adventu Christi, que mostra alguma dependência do trabalho de João de Paris, Legnano reúne várias figuras que haviam predito o nascimento de Cristo: profetas do Antigo Testamento, ‘poetas’ (com os quais ele se refere ao ‘Ovídio’ do De vetula), astrólogos (incluindo Albumasar e a passagem do Introductorium maius), e outros autores não cristãos. Nesta última categoria, Legnano inclui Virgílio (e sua citação da Sibylla Cumana na Quarta Égloga); a Sibylla Tiburtina; a Sibylla Eritreia elogiada por Agostinho; Platão, em cujo túmulo teria sido encontrada uma tábua de ouro afirmando que ‘Cristo nascerá de uma virgem’; e um judeu em Toledo que, em 1239, encontrou um livro antigo que previa que uma Virgem daria à luz o filho de Deus. Como Roger Bacon, Legnano vai além de simplesmente incluir astrólogos no conjunto de testemunhas gentias da Encarnação, acrescentando também várias tentativas de calcular o advento do Anticristo usando a astrologia.

Uma deslumbrante iluminura de página inteira na abertura do manuscrito do Vaticano encapsula belamente o argumento de Legnano de que pagãos e gentios, bem como profetas do Antigo Testamento, todos chegaram ao conhecimento prévio do nascimento virginal, que é retratado perto do topo da imagem (Fig. 2). As ilustrações do manuscrito são assinadas por Nicolau de Bolonha (Niccolò di Giacomo da Bologna), o mais proeminente iluminador bolonhese da época. Baseando-se numa tradição artística medieval de emparelhar profetas do Antigo Testamento e Sibyllas, Niccolò também encontra lugar para as outras testemunhas não cristãs de Legnano. Ao longo do lado esquerdo da moldura, à direita de Deus e em uma linha incluindo o anjo Gabriel da Anunciação, bem como o anjo da anunciação aos pastores, aparecem fileiras de profetas do Antigo Testamento, segurando rolos de texto e gesticulando para cima (e literalmente testemunhando) a Natividade no topo da página. Ao longo do lado direito (gentio), alternam-se fileiras de Sibyllas, astrólogos e ‘poetas’ (Ovídio, Virgílio e Marcial), junto com seus textos, que também apontam para o nascimento virginal. Acima deles, à direita da cena da natividade e onde se poderia esperar ver representados os três Magos, o artista forneceu a visão da Virgem mostrada a Augusto pela Sibylla Tiburtina. No canto inferior esquerdo, sob as figuras do Antigo Testamento, Platão está entronizado, proclamando sua fé em ‘Cristo que nascerá de uma Virgem’. No canto inferior direito, aparece o judeu de Toledo, com texto do livro profético descoberto em 1239. E bem no centro da página, o profeta Moisés e o astrólogo Albumasar gesticulam para cima em direção à Virgem, quase tocando as mãos. O artista distingue visualmente entre as testemunhas da Encarnação de dentro e de fora da fé, mas não traça linhas firmes entre fontes naturais e sobrenaturais de tal testemunho. As palavras das Sibylla, astrólogos e poetas — juntamente com o fruto das escavações do judeu de Toledo — são todas equivalentes na iluminação de Nicolau, enquanto astrologia (Albumasar) e profecia (Moisés) revelam ambos os mistérios da fé.

Como muitos dos autores citados anteriormente, João de Legnano confunde as linhas entre o conhecimento do futuro adquirido pela razão natural e aquele resultante de inspiração divina. Admitindo que os humanos podem ter um conhecimento antecipado natural de eventos futuros não em si mesmos”, mas “através de suas causas”, Legnano também se conecta às origens míticas das artes humanas na revelação, observando que Deus havia revelado as “artes e ciências principais” a “seus servos, os santos profetas”. Os profetas, por sua vez, instruíram os persas, gregos e latinos. Assim, enquanto, por um lado, Legnano distingue entre profecia revelada e precognição natural (ou raciocínio a partir das causas), por outro, ele insiste que as origens dos métodos para tal raciocínio residem, em última análise, na revelação. Assim, como na ilustração que encabeça o De adventu Christi, no tratado de João de Legnano, a astrologia e a profecia oferecem duas rotas para a mesma verdade, caminhos que às vezes parecem correr paralelos e, em outras ocasiões, se cruzar.

Portanto, não é realmente surpreendente que, quando Legnano compôs uma análise da grande conjunção de Saturno e Júpiter em outubro de 1365, ele também incluísse trechos de várias profecias sibilinas. A obra não é datada; no entanto, como Legnano faz referência ao seu De adventu Christi, o tratado deve ter sido composto após 1375. Parece provável que o tratado também seja posterior ao início do Grande Cisma em 1378, pois Legnano prediz que em 1378… a igreja sofrerá grande e importante perseguição” ou que surgirá “algum falso profeta, assim como a conjunção de Saturno e Júpiter com uma mudança da triplicidade aérea para a aquosa introduziu Maomé, o falso profeta”. Na verdade, Legnano sugere, como havia feito em seu De adventu Christi, que o Anticristo aparecerá sob uma constelação semelhante àquela que significou o advento de Maomé. Depois de citar várias fontes astrológicas (Albumasar, Ptolomeu e o astrólogo inglês de meados do século XIV, John of Eschenden), Legnano se volta, no entanto, para a profecia.

Especificamente, Legnano introduz uma profecia atribuída à “Sibylla Eritreia”, que o “Abade Giovanni [que ele mais tarde chama de Giovachino, significando Joaquim de Fiore] aduz em uma de suas profecias”. Legnano parece ter diante de si uma profecia pseudo-joaquita contemporânea, com seu padrão familiar de crise e renovação, e preocupação com a pobreza apostólica. Assim, a Sibylla prediz um período de ameaça sob um imperador maligno, durante o qual a igreja também sofrerá, pois “as coisas sagradas serão pervertidas nas mãos dos pecadores que dividirão as vestes” (uma referência ao Cisma?). Depois, no entanto, três cardeais remanescentes [bons], “por medo, seguirão os passos de Pedro e Paulo e elegerão um papa santo, que se livrará de todos os bens temporais [da igreja] e retornará a igreja ao seu estado primitivo”. Além disso, Legnano observa, a Sibylla escreve que os alemães perderão o controle do império e “devolverão todas aquelas coisas à igreja”. E, Legnano acrescenta felizmente, “esta frase concorda com a disposição das estrelas e a grande conjunção”.

Antes de se voltar para uma interpretação completa do horóscopo que ele montou para a conjunção de Saturno-Júpiter de 1365, Legnano cita duas outras profecias sibilinas, uma atribuída à Sibylla de Cumana e a segunda atribuída a “outra Sibylla chamada Desponsio [Desespero]”. A curta profecia atribuída à Sibylla de Cumana descreve “um leão com um rugido humilde” que traz paz à Itália, uma previsão que “conforma-se ao imperador Carlos que é hoje”, segundo Legnano, talvez pensando no rei francês Carlos V (m. 1380) ou, dependendo da data de composição, Carlos VI, assunto de um texto que Marjorie Reeves chamou de “a profecia do segundo Carlos Magno“. A profecia que Legnano atribui à Sibylla chamada “Desponsio”, que ele diz ter vivido na época de Salomão, também faz referência a um leão “que se humilhará como o cordeiro” e também antecipa o advento de um imperador chamado Carlos na Itália. Nesta profecia confusa, que Legnano apresenta tanto em versos latinos quanto em uma vernácula tradução, a Sibylla prevê a vinda de “outro julgamento do oriente” 1379 anos após o nascimento de Maria, na forma de um leão semelhante a um pequeno dragão. Este julgamento aparentemente trará o padrão familiar de tribulação seguido de renovação, pois, embora a profecia tenha o leão deposto tiranos por toda parte, essa descrição é seguida por uma previsão de “Ai do clero”, após a qual vem a promessa de “paz e santidade e abundância”.

Somente após essas extensas citações de profecias sibilinas aparentemente contemporâneas, Legnano retorna à explicação completa do horóscopo de 22 de outubro de 1365. Aqui, também, ele encontra o padrão esperado de crise e renovação, pois, embora as estrelas apontem para inundações, geadas, assassinatos e mudanças nos reinos, Legnano antecipa boas notícias para a religião mercurial (cristianismo) e prejuízo para a religião de Vênus (islamismo). Em particular, ele prevê uma “mudança do assento dos sarracenos… pelo cerco do povo cristão que fará uma passagem ali”. Além disso, o fato de que Virgem, cujo “senhor” é Mercúrio, é o ascendente no horóscopo, também aponta para o fato de que “os cristãos favorecidos por Mercúrio prejudicarão grandemente as terras dos sarracenos”. Segundo a análise de Legnano, Saturno domina Júpiter no mapa, o que normalmente não é astrologicamente auspicioso. Em vez de encontrar alarme na predominância do frio Saturno sobre o benigno Júpiter, no entanto, Legnano retorna à análise astrológica de Albumasar sobre as religiões para concluir que a religião mais antiga (cristianismo) triunfará sobre a mais jovem (islamismo). No entanto, Legnano termina em uma nota baixa, prevendo “uma grande depressão no estado da igreja”. Neste tratado curioso, Legnano se move sem esforço entre materiais astrológicos e sibilinos. A astrologia de Legnano aparece como um parceiro igual à sabedoria revelada, epitomizada nos escritos das Sibyllas.

6. Rumo à Sibylla astrológica

Fig. 3: Ptolomeu, Aristóteles, ‘Sibylla’, Brígida e Reinhard

Após Legnano, os oráculos sibilinos continuaram a se misturar com materiais astrológicos e a aparecer paralelamente às profecias do Antigo Testamento na arte e nas letras. Pelo menos a partir da década de 1420, a fusão das previsões astrológicas e sibilinas sobre o nascimento de Cristo ganhou um caráter de permanência. Em algum momento dessa década, o Cardeal Giordano Orsini (falecido em 1434) mandou pintar em seu palácio em Roma os retratos de doze Sibyllas, junto com os textos do que cada vidente havia predito sobre Cristo. Entre as doze, havia uma “Sibyllla Chimeria“. Segundo a inscrição, ela era aquela “sobre a qual Eminius [sic] e Albunazar [sic], o astrólogo, homens de grande inteligência, disseram isto: ‘Na primeira face de Virgem, ascende uma certa donzela, honesta e pura…’”. No palácio de Orsini, a “previsão” de Albumasar agora servia para descrever a Sibylla Chimeria, que, por sua vez, havia profetizado o nascimento de Cristo. De forma semelhante, um livro de xilogravuras alemão de 1470-1475 também retratava uma “Sibylla Cyemeria… sobre quem Albumazar o astrólogo escreveu”, incluindo como sua profecia o texto sobre a figura da virgem ascendendo com a primeira face de Virgem. Foi apenas um curto passo daí para a “Sibylla Chimica” de Filippo de Barbieri, que cita as palavras de Albumasar sem qualquer referência ao astrólogo, ou um afresco do Vaticano de uma similar “Sibylla Cimeria” na década de 1490, ou uma gravura de meados do século XVI por Hermann tom Ring, na qual Albumasar é agrupado com as Sibyllas Eritreia e Frígia.

No pensamento oculto tardo-medieval e renascentista, vê-se cada vez mais as Escrituras, as profecias extra-Escrituras e a astrologia ocupando o mesmo território, frequentemente dentro de um quadro abertamente escatológico. Na popularíssima Pronosticatio de Johannes Lichtenberger, impressa pela primeira vez em 1488, a análise astrológica da conjunção Saturno-Júpiter de 1484 se combina com as profecias de duas Sibyllas, Santa Brígida da Suécia, o irmão Reinhard e outras figuras para pintar uma visão apocalíptica de turbulência e paz eventual, incluindo falsos profetas, um Último Imperador do Mundo, turcos e judeus. Na “Pronosticatio”, Lichtenberger visa especificamente fundir astrologia e profecia, uma tentativa que o especialista em Lichtenberger, Dietrich Kurze, considera lamentavelmente inepta. Segundo o prefácio da “Pronosticatio”, os humanos possuem três maneiras diferentes de conhecer o futuro: 1) por meio da razão e experiência; 2) pela ciência das estrelas; e 3) pela revelação divina. Ainda assim, Lichtenberger deseja obscurecer qualquer distinção entre esses três modos de conhecimento, por exemplo, reivindicando todos os três para si mesmo, ou conectando-se à história mítica que fez de Moisés um astrólogo. Outras vezes, Lichtenberger parece colapsar todo o conhecimento verdadeiro na revelação. Assim, por exemplo, depois de distinguir entre ‘conhecimento… dado por instrução’ e aquele obtido ‘por inspiração divina’, ele acrescenta que ‘não obstante procede de um e mesmo espírito’. Imediatamente depois, ele cita Ambrósio no sentido de que ‘toda verdade, por quem quer que seja dita, é do ‘Espírito Santo’, acrescentando que os ‘inventores das ciências’ não poderiam ter feito tantas previsões verdadeiras quanto fizeram, ‘a menos que fossem instruídos pelo Espírito Santo’. Como que em confirmação, na página anterior, uma xilogravura retrata Deus nos céus abençoando e enviando raios de iluminação para cinco figuras: Ptolomeu, Aristóteles, ‘Sibylla’, Brígida e Reinhard (Fig. 3). Esta origem divina de toda verdade garantia, para Lichtenberger, que a razão (Aristóteles), a astrologia (Ptolomeu) e a profecia (Sibylla, Brígida e Reinhard) eram fundamentalmente intercambiáveis.

À medida que os estudiosos humanistas abraçavam o conhecimento antigo, e com ele a noção de uma prisca theologia revelada a figuras como Hermes Trismegisto e Moisés, a busca pelo sincretismo garantia a contínua mistura de material astrológico e sibilino de tal forma que validava ambos como fontes de verdadeiro conhecimento religioso. Tanto Hermes quanto as Sibyllas aparecem no pavimento da catedral de Siena; sibilas e profetas do Antigo Testamento alinham-se nas paredes da Capela Sistina. Para Marsilio Ficino, a astrologia era de maneira semelhante mais uma maneira pela qual os gentios chegaram a um conhecimento dos mistérios cristãos. Em seu sermão “De stella magorum”, a estrela guia os Magos até o Menino Jesus não apenas por seu brilho e movimento, mas também porque eles sabem interpretar a disposição dos céus ao redor da estrela. Para Ficino, a estrela dos Magos era um cometa, e ele se apoia em Orígenes e Calcídio para sustentar a tese de que os cometas podem às vezes sinalizar boas novas, e não apenas morte e destruição. Os Magos basearam sua interpretação num novo sinal nos céus na cor dos raios do cometa, bem como nas posições do Sol, Júpiter e Vênus em Sagitário, e da Lua na primeira face de Virgem, todas apontando para o aparecimento de um rei tanto grande quanto pobre, nascido em condições de esterilidade e virgindade. Mais adiante no sermão, Ficino também cita os versos de Albumasar sobre a imagem da donzela na primeira face de Virgem.

No sermão dos Magos de Ficino, astrologia e profecia se unem mais uma vez. Ficino, como escritores anteriores, concluiu que o cometa era de origem sobrenatural, e sugere que o anjo Gabriel em pessoa moveu o cometa para guiar os Magos, tornando-o o agente do anúncio do nascimento de Jesus tanto para Maria quanto para os Magos gentios. É verdade que os Magos foram guiados pela astrologia, mas qual foi a fonte do conhecimento astrológico dos Magos? Ficino implica que era, em última análise, divina, acenando para o passado mítico da astrologia na forma da conclusão de Maimônides de que o profundo conhecimento das estrelas por Abraão o levou à adoração do ‘Única Causa Verdadeira de Tudo’. E não apenas esta confirmação independente da verdade cristã oferece a Ficino o que Roger Bacon chamou de ‘grande consolo em nossa fé’, mas o discernimento astrológico dos Magos sobre o nascimento de Cristo oferece uma validação importante para a astrologia e toda a prisca theologia, assim como a fusão do texto da Virgem de Albumasar com a profecia da Sibylla também confirmou a ciência das estrelas.

Astrologia, as Sibyllas, Hermes Trismegisto e a profecia bíblica mutuamente se reforçaram e se cruzaram de maneira que validou o conhecimento não revelado, ao mesmo tempo que turvava as fronteiras entre razão e revelação. Mais revelador ainda, no início do século XVI, Heinrich Cornelius Agrippa von Nettesheim justificou sua própria mistura de magia, cabala, ciência antiga, teologia cristã e filosofia neoplatônica ao insistir que ele não fazia nada diferente do que as Sibyllas antigas haviam feito, escrevendo que ‘as sibilas eram magas’. Nas palavras de Salvatore Settis, nos tempos de Agrippa existia ‘uma tradição divinatória que reconhecia nas Sibyllas um modelo insuperável de vaticínio “natural”, verdadeiro, exercido entre os gentios, mas capaz, no entanto, de captar no mundo os presságios da Redenção e do Juízo’. Mas representar as palavras sibilinas como vaticínio natural, eu sugeriria, exigia precisamente o tipo de obscurecimento de linhas entre conhecimento natural e sobrenatural mostrado por aqueles autores que traçaram a história mitológica da astrologia até suas origens e revelação e que emparelharam astrólogos e sibilas como testemunhas gentias da verdade cristã.

O tipo de análise astrológica da religião que venho discutindo muitas vezes faz parte de uma história maior, a saber, a da ascensão do que foi chamado de ‘naturalismo’ na filosofia medieval tardia. Historiadores frequentemente leêm o escopo crescente da filosofia natural medieval, incluindo a astrologia, a partir do século XII, em termos de um ‘desencantamento’ weberiano da natureza. O exemplo da astrologia e das sibilas, no entanto, sugere que essa narrativa é simplista demais. Os defensores do uso das estrelas para falar verdades cristãs visavam não tanto desencantar o natural quanto sacralizá-lo de duas maneiras principais. A primeira era sacralizando a própria natureza, insistindo que Deus havia escrito sua mensagem em sua criação. E a segunda era sacralizando a ciência, alegando que os métodos disponíveis aos humanos para analisar a natureza, incluindo a astrologia, eram eles mesmos de origem divina. Esta postura não era única dos astrólogos na Idade Média tardia. Uma amalgamação de naturalismo e profecia pode ser vista em figuras como João de Rupescissa e Arnald de Villanova, junto com a sensação de que o conhecimento sobre a natureza era, em última análise, de origem divina. Alquimistas como Rupescissa e Petrus Bonus ensinaram de maneira semelhante que sua arte não foi simplesmente revelada por Deus, mas que poderia levar seus adeptos a verdades religiosas. Para vários pensadores medievais tardios, o natural e o divino não eram categorias separadas, mas estavam profundamente entrelaçados.

As implicações dessa mistura de categorias foram enormes. Fortalecida pela interligação com as figuras conhecidas e respeitadas dos Magos e das sibilas, a análise astrológica da fé cristã provaria ser imensamente poderosa e popular nos séculos XVI e XVII, como vários estudiosos têm mostrado. Frequentemente, essa astrologização da religião assumiu a forma de uma mistura de material astrológico com prognósticos apocalípticos, como João de Legnano fez em partes do “De adventu Christi” e em seu tratado sobre a conjunção de 1365. Mas a astrologia também foi colocada a serviço da simples defesa da fé. Quando a astrologia e as sibilas (e seu frequentemente associado irmão Hermes Trismegisto) eram vistos em pé de igualdade com os profetas do Antigo Testamento, o caminho estava aberto para uma teologia natural enraizada na interpretação astrológica da religião. O “De stella magorum” de Ficino, por exemplo, estava por trás de importantes e amplamente lidos textos apologéticos cristãos na Inglaterra elisabetana, que usavam a prisca theologia (incluindo a astrologia) para refutar ‘ateus’ contemporâneos. Um impulso semelhante no século XVII reuniu todo tipo de material do mundo natural em afirmação da fé. Na amálgama da astrologia e das sibilas, a Natureza, como criação de Deus, era o equivalente da revelação divina, enquanto a própria revelação fornecia as origens da ciência das estrelas. À luz disso, as ferramentas pelas quais se lia o Livro da Natureza eram tão valiosas quanto a palavra das Escrituras e da profecia.

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